Caravana - Stephen Goldin 4 стр.


Honon deu de ombros. Não me importo eles se matando e tudo mais. Penso que que a raça só irá melhorar quando o fanatismo for removido do pool genético.

Onde fica esse seu Monastério?

Oh, fica por ai, em algum lugar. Honon acenou com a mão em uma direção mais ou menos a leste. Temo não poder ser mais específico. É segredo, e por um bom motivo. Vivemos muito bem a ponto de gerar inveja em pessoas do lado de fora. Se soubessem onde estamos, iriam nos destruir. É por isso que não posso contar para as pessoas da caravana aonde vamos exatamenteno caso de eles nos deixarem ou ficarem separados, não serão capazes de contar a outros.

Mas se você planeja uma colônia interestelar, você deve ter um monte de gente

Quase cinco mil, na última contagem.

Peter assoviou. Mas é impossível esconder tantas pessoas.

Nós damos um jeito, sorriu Honon.

Mas tirar essa quantidade de pessoas da Terra seria um enorme problema. Como você propõe fazê-lo?

Para começar, nem todo mundo irá. Alguns de nós temos um sentimento de apego a esse velho mundo, e gostariam de ficar aqui tentando reabilitá-lo se possível. Somente uns três mil farão a viagem.

Mas mesmo assim, o combustível necessário

Propulsão nuclear, o que permite grande energia com poucos gastos. O desenvolvimento do programa espacial nos últimos anos foi suprimido por outros assuntos nas reportagens e na imprensa. Tudo do que se falava eram guerras e carências. Não foi testado ainda em missões tripuladas, mas experimentos em terra foram promissores.

Não vou fingir ser um engenheiro espacial, mas lembro-me de ter visto em um planetário que levaria milhares de anos para ir daqui até à estrela mais próxima. Você não pode esperar que os colonizadores vivessem isso tudosomente a comida para três mil pessoas encheria diversas naves.

O que você viu foi baseado em velocidades constantes. Motores nucleares, por sua vez, aceleram constantementedez milésimos de um G, para ser preciso. Eu sei que não parece muito, mas vai se acumulando. As últimas estimativas dizem que se pode fazer a viagem em apenas seiscentos e cinquenta anos.

Mas, mesmo assim

Lembra o que eu disse mais cedo sobre as técnicas de criogenia? Os colonizadores serão congelados momentos antes da decolagem e, exceto pela tripulação, não acordarão até que estejam em sua nova casa. Vai poupar suprimentos e espaço, já que não vão andar pela espaçonave.

Peter ficou parado por um instante, considerando as possibilidades. Ou você é louco, disse ele afinal, ou o sonhador mais desesperado que eu conheço.

Um pouco de ambos, espero. Estamos vivendo uma era realista, sem sonhos, e olhe a confusão em que as coisas estão. Não há nada mais realista que tentar continuar vivo, que é o que todos estão fazendo. Para eles é um negócio vitalício. Não há tempo para sonhar. Como resultado, eles têm vidas no limite da sobrevivência e fica cada vez pior. Quanto a mim, insisto em olhar o céu de vez em quando e perguntar se as coisas poderiam ser melhores. A fantasia pode ser ligeiramente insana, mas nenhuma criatura inteligente pode durar muito sem ela.

Além disso, acrescentou, apontando um dedo acusador para Peter, você é muito bom em criticar. Não ache que eu não consigo ver atrás da máscara de cínico que você usa como se fosse um ator grego. Mark Twain, quando acusado de ser um pessimista em sua velhice, destacou que em vez disso ele foi um otimista que não chegou. Se você não idealizar, se você não ver o mundo tal como deve ser, você nunca poderia ter reunido em seu livro todo o fogo e a cólera que sentiu.

É mesmo? perguntou Peter surpreso. Muitas pessoas tinham tentado psicanalisar ele através de seu livro, com variado sucesso.

Um cínico é apenas um otimista frustrado. Você tem que ter ideais em primeiro lugar para depois ficar desiludido com o fato de elas não terem sido alcançadas. Você, Peter Stone, é um construtor de utopias sem um bom suprimento de madeira.

E é por isso que você quer que eu me junte a vocêporque eu sou uma falha aqui e quer me dar outra chance? Peço desculpas por ser cínico, mas não acredito.

Honon balançou a cabeça negativamente. Não só por isso. Quero dar outra chance para a humanidade, e acho que você pode ajudar. Você pensa sobre fenômenos sociais. Você vê alternativas onde outras pessoas são cegas, e você não tem medo de falar sobre elas abertamente. Vamos precisar de um bom observador de alternativas e um crítico social se esperamos chegar a algum lugar. Prontoeis a regras e a descrição do trabalho. Preciso de uma resposta, um compromisso a partir de agora, porque não vou voltar a este caminho novamente. Você quer o trabalho?

Peter nem sequer hesitou. Bem, o pagamento é ruim, mas os benefícios extras parecem bons. Se você cortar um pedaço desse sonho para mim, eu acho que posso engoli-lo.

CAPÍTULO 3

Bilhões de dólares foram gastos nos últimos anos para melhorar a aplicação da leiainda assim o crime tem continuado a aumentar e muitos americanos estão preocupados se será possível controlá-lo

Patrick V. Murphy, um antigo agente da polícia em Washington e Nova Iorque, diz o seguinte: Temos de encarar os fatos. Há muita instabilidade nas nossas cidades. Enquanto tivermos desemprego, subemprego, lares quebrados, alcoolismo, drogas e problemas mentais, teremos também o crime.

U.S. News & World Report

10 de junho de 1974

* * *

O crime é uma saída que muitos adotam para adaptarem-se a uma sociedade cuja complexidade cresceu acima dos limites. Em sua última tentativa de se manter unida, prevejo que nossa cultura atravessará seu último e monstruoso espasmo de lei e ordem. Tudo o que for diferente da norma será sujeito a variados meios de repressão nas desesperadas tentativas da sociedade de se manter à tona.

A verdadeira tragédia disso tudo são os efeitos colaterais que a polícia terá na sociedade pós-Colapso. A repressão suscitada agora vai prolongar-se, como a perna de um sapo que continua chutando mesmo depois do corpo estar morto

Peter Stone

Colapso do Mundo

* * *

Peter passou a noite na cabine do caminhão blindado com Honon. Eles conversaram um pouco mais, comparando experiências que cada um teve em suas viagens pelo país. Peter descobriu que Honon esteve viajando pela nação regularmente nos últimos quatro anos, conduzindo essas caravanas. O quadro que pintou não era muito agradável. Miséria, fome e conflito eram onipresentes nos Estados Unidos. A praga ainda não tinha começado a cobrar seu preço, mas as condições das cidades estavam colaborando para a quebra do saneamento e a dispersão de doenças.

De certo modo, disse Honon, é vantajoso que o Colapso seja global. Se as guerrilhas judaicas não tivessem começado sua luta na Rússia há cinco anos, os russos poderiam ter levado vantagem da nossa fraqueza e nos invadido. Mas com os judeus dentro, os chineses a sua volta e uma tremenda falta de recursos, eles acabaram ficando pior que a gente.

Com o passar do tempo a dor no braço de Peter e a exaustão das atividades do dia foram se acumulando. Ele recostou-se no assento de couro e teve sua primeira boa noite de sono em dias.

Honon o acordou logo após o nascer do sol sacudindo seu ombro bom. Acorde bela adormecida, disse ele amigavelmente. Está na hora do café da manhãe hora também de conhecer o resto das pessoas com quem vai dividir essa viagem.

Peter desceu da cabine e teve sua primeira boa visão da caravana inteira. Os primeiros dois veículos eram caminhões blindadose depois que Honon contou sobre como as condições do país estão no momento, Peter concordou que a caravana deveria estar preparada para tudo. O próximo na fila era um trailer, ao lado do qual um grande grupo de pessoas estava reunido. Atrás do trailer uma van Volkswagen azul e branca, e atrás dela três carros compactos. Formando um desfile interessante, pensou Peter.

Enquanto Honon o levava até o trailer, Peter sentia o olhar frio dos membros da caravana. Eles já deviam estar a par do nome de seu notório novo companheiro. Imaginou quantos deles já o odiavam.

Pessoal, reúnem-se, chamou Honon, e as conversas privadas cessaram. Quero que conheçam nossa nova aquisição, Peter Stone. Todos devemos gratidão a ele, eu acho, porque foi o seu livro que fez com que nosso pessoal se mexesse. Sem ele, não haveria Monastério e nenhum plano de espaçonave. Não hesitem em mostrar a ele quão gratos nós estamos.

Peter ficou surpreso com aquela apresentação, e mais surpreso ainda quando as pessoas atenderam ao pedido de Honon. Ficaram paradas por um momento, meio inseguras de si, mas então vieram em pequenos grupos dar boas-vindas à caravana. Homens e mulheres vieram cumprimentá-lo, e crianças sorriam timidamente para ele.

Desculpe, não posso ficar e apresentar a todos, disse Honon. Vou pegar um café rápido e ver se consigo recrutar um sapateiro.

Um sapateiro?

Sim, um bom homem que foi recomendado por alguém do Monastério. Ele vive no centro de Los Angeles. Honon viu a confusão na cara de Peter e explicou mais um pouco. Veja bem, se você for lotar uma colônia vai pegar os sujeitos mais inteligentes e intelectuais que encontrar, certo? Mas digo agora mesmo que isso não vai funcionar. Alguns intelectuaisaté mesmo muitos intelectuaissão necessários, com certeza, mas você não pode construir um mundo só de doutores e físicos nucleares. A primeira vez que o encanamento falhar, você terá um problemão. Tenho que recrutar pessoas que seriam úteis em uma situação de limites. Pessoas que já foram treinadas para produzir o que precisamos. Aonde estamos indo não haverá fábricas fazendo roupas para você em uma linha de montagem; precisaremos de artesões que podem fazer bons calçados do nada. As pessoas dessa viagem serão uma mistura esquisita, claro; mas estamos tentando salvar a Humanidade, e a Ela em si já é uma mistura esquisita. Pense nisso.

Honon foi até o trailer e, depois de um momento, voltou com um cantil, dois pedaços de bolo de trigo e algumas frutas desidratadas. Vejo você mais tarde, falou a Peter. Enquanto isso, tente conhecer o pessoal um pouco. Penso que achará esse grupo interessante. Ele foi até o caminhão blindado, pegou uma motocicleta de dentro e saiu com ela até a cidade.

Enquanto Peter esperava na fila para o café da manhã, foi conhecendo membros da caravana que vinham se apresentar. Conheceu Dominic e Gina Gianelli de Oakland, um casal na casa dos trinta anos de idade. Dom, como o homem preferia ser chamado, era carpinteiro e um fã de futebol americano. Mas não parece que teremos mais jogos por enquanto. Peter concordou. Os Gianellis tinham cinco filhos, indo de dois a dez anos de idade; apesar de ter sido apresentado a todos eles, Peter teve problemas para memorizar a ordem correta e os nomes, exceto por Mary, a de oito anos, que foi a garota que lhe trouxe comida na noite anterior.

Conheceu Bill e Patty Lavochek de San Luis Obispo. Os Lavocheks, ambos com seus vinte e poucos anos, estavam casados fazia apenas quatro meses, e estavam encarando essa empreitada como se fosse uma grande aventurae um bom modo de começar vida nova. Bill, um maquinista, tinha certeza que seus talentos teriam alta demanda no Monastério e no novo mundo.

Peter também conheceu Harvei e Willa Parks. Harv, um encanador de San Francisco, era um homem pequeno experiente em seus quase quarenta anos. Tinha modos bruscos, mas uma disposição amistosa. Willa era cerca de dez anos mais nova que ele. Muito tímida e quieta, mas que sempre fazia tudo que lhe era pedido sem reclamar. Possuíam dois filhos, uma garota de sete e um garoto de quatro.

Antes de se tornar o primeiro da fila a médica, Sarah Finkelstein, veio perguntar como seu braço estava. Peter disse a ela que o braço estava rígido, mas usável, e ela pediu que avisasse se a situação mudasse.

Em frente a fila, servindo os membros, estava o casal japonês, Charlie e Helen Itsobu, ambos na casa dos quarenta anos. Charlie foi colocado nos afazeres culinários porque era um chef profissionalchefe de cozinha, na verdade, no que era o restaurante japonês favorito de Peter em San Francisco. Peter deu-se conta de quão habilidoso Charlie deveria sernão é comum um jovem chegar tão alto nos círculos da culináriae cumprimentou ele. Charlie sorriu e pediu desculpas por servir algo não tão elegante como gostaria. Com uma piscadela, deu a Peter um bolo de trigo a mais.

Enquanto Peter se afastava do trailer, os Gianellis acenaram, convidando-o para sentar e comer com eles. Peter fez isso com alegria; já fazia tanto tempo que ele teve companhia e agora estava ficando bêbado de camaradagem. Kudjo lhe deu um tapa nas costas quando se sentou, saudou o resto de pessoal, e então pegou uma segunda motocicleta do caminhão líder e saiu com ela. Onde ele está indo? perguntou Peter.

Oh, ele é nosso batedor, disse Dom Gianelli. Vai na frente, dá uma olhada na situação, garante que nossa rota está segura. Era isso que ele estava fazendo ontem quando encontrou você.

Peter acenou. Faz sentido.

Bom homem, esse Kudjo. Aposto que teria sido um excelente jogador de futebol americano. Um wide receiver5 natural, pelo jeito dele.

Posso me juntar a vocês? veio uma voz feminina por trás. Não posso deixar passar a notável chance de conhecer um bacharel.

Sim, sente-se, sorriu Gina Gianelli.

A garota que se sentou ao lado de Peter era baixa e meio corcunda, com um cabelo castanho desgrenhado e olhos grandes. Sua característica mais aparente era seu nariz, que dominava sua face a ameaçava tomar o controle completamente. Sou Marcia Konigsburg, vinte e quatro e solteira. Não que eu esteja medindo você para um bolo de casamento, mas acho que é bom deixar as coisas claras o quanto antes. Desenho roupas para boutiques, e também faço fantasias para o teatro. Acho que é por isso que Honon pediu para que eu viesseseja lá onde vamos parar, acho que precisaremos de alguém que faça as roupas certas para a ocasião.

Peter gostou dela instantaneamente. Ela era amigável, quase grudenta, mas cujo charme superava a impressão inicial de falta de elegância. Li seu livro, sabe, ela prosseguiu.

Então você é a única.

Ei, você é engraçado também. Sim, ele realmente me impressionou. Estava no segundo grau do colégio na época, e acho que tudo me impressionava. David Hume, Aleister Crowley e você eram meus três favoritos.

Certamente fazemos um trio estranho.

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