Steven estava na porta, olhando para os dois. No entanto, o hematoma escurecido na bochecha de Jewel fez Steven ver em vermelho. âVocês dois precisam vir comigo.â
Os joelhos de Jewel enfraqueceram vendo o homem misterioso ainda vivo. Ela tinha pensado sobre ele sendo morto por vampiros tantas vezes desde que fugiu dele. Várias vezes até lamentava correr até o ponto de chorar. Agora que podia respirar mais facilmente, queria gritar.
Por que todas as vezes que ele vinha falar com o padre em confidência, eles tinham uma emergência? Ela estava com menos medo desse transmorfo do que tinha da arma de seu noivo a tocando e até que ela ouvisse alarmes de incêndio ou visse um rosto com presas, ela não iria a lugar nenhum.
âNão dessa vez,â Jewel informou cruzando os braços sobre o peito.
âEu não posso simplesmente deixar a igreja sem vigilância,â o velho começou, mas Steven o interrompeu rapidamente.
Ele deu passos deliberados para perto da mesa enquanto falava, âVocê fez um acordo com o diabo e decidiu alimentar sua paróquia para os vampiros? Você está queimando seus corpos em sua sala de caldeira?â Quando o padre apenas abriu a boca, mas não disse nada, Steven continuou, âOu são os pecadores que você prega que cometeram assassinato em massa em seu porão e cavaram um túnel para escapar por ele?â
âOh, meu Deus,â o velho lançou um olhar sombrio para Steven. âSe eu deixar a igreja, quanto tempo será que demoro a poder voltar?â
âDê-me o seu número de celular. Ligo para você em algumas horas. Não volte até que deixemos tudo limpo.â Ele suspirou sabendo que tinha ganhado a discussão quando o velho começou a procurar em suas gavetas até pegar coisas que considerava importantes o suficiente para levar com ele.
Jewel tentou permanecer perfeitamente calma enquanto se dirigia até a porta ainda aberta. Liberdade... por que ela sempre se encontrava fugindo de loucos?
âNão me faça caçar você,â Steven disse entre os dentes conforme sacudia a cabeça para o lado e fixava seu olhar com o dela. âEu disse que ele poderia ir para casa, não você.â
Os lábios de Jewel se separaram quando ela congelou no meio do movimento. Como ele ousa lhe dar uma ordem? Ela rangeu os dentes, percebendo que tinha obedecido ele de qualquer forma. Ela ergueu o queixo em desafio quando chegou a uma conclusão. No momento em que conseguisse escapar, continuaria correndo... de todos, inclusive de seu pai.
âO que você vai fazer com ela?â perguntou o padre, indignado.
âEu vou fazer o que você não pode fazer... mantê-la segura.â Steven gritou, não querendo brigar por isso. O machucado no rosto de Jewel literalmente tinha despedaçado seus nervos e ele estaria condenado se tivesse enviado ela de volta para o homem que fez isso.
âEu não preciso de outro protetor,â Jewel se virou para sair, mas parou ao ver os dois homens de aparência perigosa bloqueando a entrada.
Dean sentiu a angústia de Steven desde as escadas e agora que ele estava olhando para a garota que estava causando isso, ele podia ver por quê. Lendo sua alma, ele captou um olhar fugaz do elusivo anjo da morte.
âVocê está errado.â Ele se moveu tão rápido, mesmo com os dois transmorfos na sala perdidos. âVocê precisa de um protetor.â
Jewel sufocou um grito quando a palma do homem pressionou sua bochecha dolorida e seus olhos ficaram com uma cor de mercúrio. A mão fria que tinha sido fechada em torno de seu coração com dedos gelados por tanto tempo derreteram. De repente, ela se lembrou de sentimentos que tinha esquecido que existiam... calor, segurança... amor.
O padre se recostou contra a mesa quando a sombra das asas surgiu nas costas do homem, piscou brilhantemente e depois desapareceu.
âEstarei lá embaixo,â disse Dean quando o vento se precipitou para preencher o vazio de onde ele desapareceu.
Steven não sabia por que Dean tinha escolhido aquele momento para revelar seu poder, mas estava feliz que o caÃdo tivesse feito isso. A bochecha de Jewel estava curada e o padre parecia que tinha acabado de ver a luz.
âPrecisamos ir... agora,â Nick disse na porta.
Steven agarrou a mão de Jewel e se dirigiu para a porta, contente que o choque tivesse acabado com a briga com ela por um momento.
âEspere,â o padre chamou, fazendo com que Steven e Nick parassem para olhar para ele. âIsso foi...?â ele hesitou, apontando para o local onde Dean tinha estado momentos antes.
Steven sorriu genuinamente diante a excitação nos olhos do velho padre. âSim... foi.â
O padre sorriu quando Steven e Nick saÃram da sala com Jewel junto. Ele acenou com a cabeça uma vez e começou a reunir as ferramentas que precisaria. Em sua mente, Deus estava preparando a terra para o Seu retorno.
Steven e Nick saÃram da igreja, mas Steven puxou Jewel para que ele pudesse olhar para a janela do escritório. Respirou um suspiro de alÃvio quando viu a luz do escritório se apagar.
âParece que o velhote está seguindo seu conselho,â disse Nick.
Steven balançou a cabeça, âMais do que quando ele viu Dean como era e está tendo algum tipo de experiência religiosa. Ele me deu o seu número de telefone, vou ligar para ele quando a costa estiver livre.â
âEu não acho que algumas horas serão tempo suficiente,â informou Nick.
âà o que tem.â Steven respondeu. âAgora, vamos voltar para o clube para podermos dar a notÃcia a Warren e Quinn.â
Dean se sentou no telhado da catedral e sorriu para o trio quando eles deixaram a igreja para trás. Ele tinha dado a Steven toda a ajuda que podia, mas o feitiço calmante que tinha colocado na menina não duraria para sempre. Ele podia sentir a escuridão sob o edifÃcio começando a crescer, conforme os vampiros começavam a emergir de seu túnel.
Ao contrário daqueles da outra noite, estes estavam sendo influenciados por algo ainda mais sombrio, mais sinistro do que Dean jamais havia encontrado.
Dean franziu a testa se perguntando por que ele não tinha percebido quando eles limparam o primeiro grupo que tinha feito resistência aqui. Essa influência era muito antiga e muito poderosa. Tão repentino como sentiu, a escuridão se foi e somente a presença do vampiro podia ser sentida.
O caÃdo ganhou acesso de volta para a igreja para verificar o velho e ter certeza de que ele saiu vivo.
CapÃtulo 4
Trevor e Kat haviam rastreado o vampiro que tinham descoberto no meio da cidade.
âO que diabos ele está fazendo?â Kat sussurrou, começando a ficar desconfiada.
âParece que ele vai à s compras,â respondeu Trevor quando o vampiro parou na frente de uma vitrine e olhou para a tela escurecida.
Esse vampiro era jovem, mal tinha dezoito anos de idade. Ele tinha cabelos pretos e lisos e usava óculos de aro redondo. Com o cabelo puxado para trás, ele pareceria quase apresentável, exceto por sua pele pálida.
Os dois aumentaram o ritmo quando o vampiro se afastou abruptamente da janela e começou a andar pela rua novamente. Mesmo com as lojas fechadas, as calçadas estavam ocupadas a essa altura da noite.
Eles descobriram o corpo da última vÃtima do vampiro deitado em um gramado bem cuidado. Com seu senso de olfato, eles tinham sido capazes de alcançar o sanguessuga assim como o vampiro chegou ao Rodeo Drive. De lá, Trevor teve que segurar Kat um pouco, explicando que havia muitas pessoas ao redor para simplesmente correrem no escuro.
Agora, aqui estavam eles, seguindo um vampiro a pé e nenhum deles com vontade de conversar. A próxima coisa que eles sabiam é que estavam em um ônibus da cidade sem realmente prestar atenção ao seu destino. Finalmente, o vampiro estendeu a mão e puxou o cordão para sair. Kat e Trevor desceram na próxima parada e saÃram antes de retomarem a perseguição. O vampiro continuou andando e Kat grunhiu em frustração.
âEstou começando a achar que esse vampiro está drogado. Nós quase fizemos um cÃrculo completo.â Ela reclamou. âEstamos a poucos quarteirões do clube.â
âLá vai ele!â Trevor exclamou e correu em direção a um beco onde o vampiro desapareceu abruptamente.
As sapatilhas de Trevor fizeram um ruÃdo de derrapagem quando ele chegou à boca d beco e olhou para ele. Kat ficou ao lado dele, abaixando um pouco para que ambos pudessem espiar ao virar a esquina.
âDroga,â Trevor almadiçoou e tirou sua 9mm.
âEu ainda não entendo por que você carrega uma arma,â Kat disse, mesmo sabendo que Nick carregava uma também. Não era a arma que Nick contava... eram as balas de madeira, especialmente feitas, que a carregavam. âEssas coisas são inúteis contra vampiros.â
Trevor sorriu, âVocê esquece para quem eu trabalho. Essas balas são fabricadas especialmente para explodir no impacto, e o centro é oco e preenchido com apenas um pouco de ácido muriático. Essa merda comerá qualquer coisa.â
âPor que o ácido não come a bala então?â Kat perguntou, secretamente reunindo informações para subornar Nick.
âHá um invólucro interno, colocado dentro da bala quando é esvaziada para que o ácido não corroa completamente. Eu esqueci o nome disso agora.â Trevor explicou. âà forte o suficiente para que não seja danificado pelo ácido, mas frágil o suficiente para quebrar quando colide com alguma coisa.â
Kat se levantou lentamente, âVamos entrar?â
Trevor apertou o punho na arma e entrou primeiro, seguido por Kat, que tinha um punhal afiado em cada mão, cortesia de Trevor. Eles vasculharam o beco inteiro antes de perceberem que o vampiro tinha desaparecido.
Trevor relaxou sua postura e deixou seu braço com a arma para baixo. âEle se foi!â
Kat lançou um suspiro frustrado. âBem, já que estamos tão perto, podemos muito bem voltar para o clube.â
âPor mais que eu tenha me divertido hoje à noite levando os dois idiotas por toda a cidade,â disse uma voz atrás deles, âTenho que insistir que fiquem para o jantar.â
Kat e Trevor giraram em direção à voz e congelaram quando viram o vampiro que eles estavam perseguindo junto com outros cinco.
âO filho da puta sabia que estávamos seguindo ele,â Trevor rosnou quando trouxe a arma de volta e estabilizou.
Com a parede em três lados e os vampiros na frente deles, Kat sabia que ela e Trevor teriam que lutar para sair dali. Ela se agachou quando os vampiros rapidamente se aproximaram deles. Um com o cabelo vermelho flamejante saltou para cima, esperando cair por cima de um deles, literalmente.
Kat imediatamente se levantou de seu agachamento e atacou o vampiro no meio do salto. Suas unhas compridas pareciam garras, mesmo que nenhuma mudança tivesse ocorrido. Eles caÃram no chão, com o vampiro de costas para ela.
O sanguessuga segurou seu punho direito tão apertado que ela sentiu os ossos começarem a moer juntos dolorosamente. Engolindo a dor doentia, ela sacudiu o pulso para baixo, dirigindo a adaga no pulso do vampiro como retorno. Ganhando sua liberdade, Kat não perdeu tempo direcionando sua mão direita no peito do monstro e puxando seu coração.
Trevor apontou e disparou contra o vampiro que eles estavam seguindo a noite toda. A bala atingiu a criatura na garganta e, por um momento, ele apenas olhou para Trevor com uma expressão de descrença antes de começar a gritar e agarrar a própria garganta. O grito abruptamente parou quando o ácido liberado pela bala atingiu as cordas vocais do vampiro.
Trevor realmente não viu o que aconteceu depois, pois ele foi atacado imediatamente por outro vampiro. Eu corpo foi jogado contra a parede do beco onde ele deslizou para o chão. Sua 9mm saiu voando enquanto ele tentava não contar as estrelas que se formavam em sua visão. O outro vampiro estava se aproximando quando Trevor sentiu algo contra sua perna. Olhando para baixo, ele viu a cabeça d vampiro que ele atirou e a pegou.
Pegando a cabeça cortada pelos cabeços, Trevor jogou o objeto ainda se desintegrando no sangue que se aproximava. A criatura se esquivou e rosnou para ele, pronta para atacar. Algo brilhante passou pela sua visão e Trevor viu uma adaga longa saindo de seu peito. Virando a cabeça, Trevor viu Kat parada ali, parecendo uma confusão sangrenta.
âCuidado!â Trevor gritou.
Kat levantou a outra adaga e ofegou quando o vampiro segurou sua mão e direcionou a lâmina para baixo em um arco, diretamente em sua coxa interna. A dor em si lhe dava forças para afastar o vampiro dela. Ela rapidamente tropeçou para trás em direção a Trevor e conseguiu tirar a adaga de sua coxa. Um lÃquido quente rapidamente saiu, fazendo caminho em sua perna.
Trevor sabia que tinha que fazer alguma coisa. Ambos estavam feridos agora. Ele podia sentir a dor em suas costelas e ombros onde ele bateu na parede e estava achando difÃcil respirar. Olhando para Kat, que estava em pé em uma postura protetora na frente dele, ele pensou em seu próximo movimento.
Ele precisava mudar para algo grande e forte o suficiente para combatê-los e sobreviver. A desvantagem era que se ele mudasse, ele mostraria sua verdadeira natureza para Kat. Seu tipo nunca tinha se entendido com as outras tribos de transmorfos por causa de sua diversidade. Eles podiam se misturar com qualquer um dos clãs e desaparecer sem deixar rastros, às vezes por décadas. Eram as armas perfeitas em uma guerra.
Por causa disso, qualquer animal que ele escolhesse seria sempre dez vezes mais forte do que qualquer animal em particular. Em sua forma humana, as mesmas regras se aplicavam, mas não tinham os ajudado muito até agora. No entanto, se ele não mudasse, eles estariam perdidos.
De repente, Kat deixou cair a arma e se curvou. Por causa de seus ferimentos, a mudança aconteceu alguns segundos mais lenta do que o normal. Seu corpo se moveu até ficar de quatro. As roupas caÃram de seu corpo e um belo casaco de peles manchado de preto e bege tomou seu lugar.
Um dos vampiros restantes atacou e Kat se levantou em suas pernas traseiras, bloqueando-o com algum tipo de luta. Suas garras cravaram nos ombros da criatura e seus longos dentes estavam à mostra para ele. Sem pensar duas vezes, Trevor escolheu esse momento para mudar.
Os dois vampiros restantes sibilaram furiosamente quando o ser humano na qual estavam se aproximando se transformou em um urso Kodiak. Trevor balançou uma pata gigante no corpo mais próximo e tirou uma metade inteira do seu corpo, deixando as pernas caÃrem sem vida. Sabendo que o vampiro não estava morto, Trevor se aproximou dele de qualquer forma e esmagou sua cabeça com suas poderosas mandÃbulas.
Ele se levantou completamente para ajudar Kat quando os dois últimos vampiros o atacaram com força total. Trevor tropeçou alguns passos antes de rugir alto e jogou um para longe, no beco. Ele rugiu novamente quando o último afundou seus dentes em sua omoplata. Ele ouviu o grito de jaguar de Kat e sentiu a parede de tijolos cair do lado de sua têmpora antes de cair com o impacto.