"O que seráâ¦" Gypsy começou a falar, mas teve que calar a boca quando Lacey, de repente, estendeu a mão tocando seus lábios com as pontas dos dedos e fez um gesto pedindo silêncio.
"Onde está o nosso cristal?", Lacey quase sussurrou antes de começar a andar pela sala observando a grande quantidade de cristais que Gypsy mantinha expostos.
Gypsy sorriu, percebendo o que Lacey estava procurando e aproximou-se da mesa de seu computador, chegando até o cristal brilhante de quartzo e rubi que ali se encontrava. Quando eram crianças, elas muitas vezes usavam o cristal do sigilo para guardar segredos entre si que ninguém mais poderia ouvir⦠especialmente os adultos.
Elas tinham mantido o próprio cristal em segredo, que foi presenteado pelo avô para compartilharem. Quando cresceram, o cristal foi esquecido, pois não haveria mais nenhuma razão para usá-lo. Gypsy não sabia por que o cristal continuava com Lacey, em vez de passá-lo adiante, como seria a tendência dos cristais⦠talvez agora ela conseguisse a resposta.
Ren continuou pressionando a porta com a mão, tentando ouvir através da espessura do aço. Seus olhos se estreitaram quando a voz de Gypsy foi subitamente cortada no meio da frase.
Nick estava em pé ao lado dele com o ouvido colado no aço frio. Ele estava tendo um pouco de dificuldade, mas ainda conseguiu ouvir as mesmas coisas que Ren.
Ren franziu a testa quando ouviu Lacey perguntar a Gypsy sobre um cristal, pouco antes que a sala ficasse em total silêncio, exceto pelo som de seus passos.
"O que é que um cristal tem a ver com essa história?", perguntou Nick.
Ren lançou-lhe um olhar que basicamente mandava que ele ficasse calado, antes de fechar os olhos e concentrar-se novamente.
Gypsy e Lacey sentaram-se no sofá uma de frente para a outra e Gypsy segurou o cristal na palma da mão. Lacey colocou a mão sobre a de Gypsy, prendendo o cristal entre suas palmas, antes de dar um forte suspiro.
"Conte-me tudo que eu perdi desde quando fui embora", disse Lacey calmamente.
Ren estava ficando frustrado, esforçando-se para escutar ao mesmo tempo em que tentava aumentar sua distância de súcubo. Apenas fragmentos da conversa delas estavam sendo filtrados agora, como uma má recepção de rádio, e ele de repente percebeu que estava sendo bloqueado por algum tipo de magia. O ar ao redor dele ganhou um pouco de força e sua testa ficou ainda mais franzida, pouco antes que ele desprezasse aquela porta.
Nick afastou-se da porta confuso: "Não consigo ouvir mais nada agoraâ.
"Parece que Gypsy tem algo ali que pode proteger uma conversa pessoal", disse Ren, e seus lábios se comprimiram, agitados. "Elas estão usando magia para nos impedir de ouvi-lasâ.
Nick irritou-se com o fato de que o velho Ren tinha sido ludibriado tão facilmente: "Quer dizer que você, com todo o seu poder, não consegue arrombá-la?".
Ren movia o queixo enquanto atraÃa o poder do cristal e estendeu a proteção até onde ele estava dentro da barreira. "Eu não disse isso. Será preciso mais do que o joguinho bobo e o truque de beleza de uma garota para me deixar do lado de foraâ. Ele se inclinou um pouco mais para perto da porta e olhou para Nick com um sorriso malicioso: "Quer ouvir o que elas estão dizendo?".
"Ora essa, você acha que eu sou idiota⦠claro que quero!", respondeu Nick, também com um sorriso dissimulado. Ele não dispensava de forma nenhuma uma espionagem, quando lhe convinha. Na verdade, normalmente ele era profissional nisso.
Ren acenou-lhe e colocou uma mão no ombro do jaguar, apertando um pouco mais firme apenas por diversão.
Nick encolheu-se com o aperto forte, mas ignorou isso, enquanto levantava as sobrancelhas até o contorno do cabelo, quando, de repente, ouviu as vozes das mulheres tão claramente como se estivesse na mesma sala que elas.
"Ãtimo!", sussurrou ele com hesitação.
Gypsy sentou-se de pernas cruzadas no sofá enquanto contava a Lacey tudo o que havia acontecido, começando pela morte do avô. Não tinha demorado tanto tempo quanto ela pensou que levaria para contar a história e, na verdade, ela realmente se inclinou um pouco para frente quando começou a contar a Lacey sobre Nick, Ren e toda a confusão com Samuel. Ela ficou envergonhada quando admitiu o fato de que tinha tido uma ligeira queda por Nick durante anos.
Do lado de fora da porta, Nick deu um profundo suspiro de satisfação ao ouvir a confissão de Gypsy e fixou o olhar em Ren para ver como ele estava. Foi um pouco decepcionante descobrir que o outro cara estava inabalável.
"Cale a boca", Ren franziu a testa desejando que Nick parasse de fantasiar tanto sobre ele.
Nick sentiu muita vontade de rir, mas se conteve, querendo também ouvir o que estava acontecendo dentro da sala.
No momento em que Gypsy terminou de contar as novidades, Lacey estava esfregando a testa com a mão livre e seu semblante mostrava uma cara fechada, como se ela tivesse uma forte dor de cabeça.
"Tudo isso e você ainda está viva? E é porque vovô achava que tinha me dado a tarefa mais difÃcil. Há mais alguma coisa que eu deva saber?", perguntou Lacey cruzando os dedos para que não houvesse mais nada a dizer.
Gypsy pensou n isso por um momento e, então, lentamente balançou a cabeça: "Não, acho que isso abrange praticamente tudo o que é mais importante".
"à maravilhoso que a poção da bruxa ainda esteja surtindo efeito", sussurrou Lacey, apertando um pouco mais a mão da prima, antes de levantá-la entre as duas garotas. "E você tentou atirar em um demônio com uma bala de madeira", ela balançou a cabeça com admiração e solidariedade. Coragem e ingenuidade pareciam ser caracterÃsticas que ambas tinham em comum. "Estou tão feliz que Michael tenha sido essa pessoa com o poder de curá-la. Eu teria morrido se chegasse em casa e encontrasse você e o vovô⦠mortosâ.
"Estou bem e você está em casa agora. Você vai mesmo ficar⦠bem?", perguntou Gypsy deixando que a esperança brilhasse em seus olhos.
Lacey começou a dizer ânãoâ, mas parou, mordendo o lábio inferior enquanto tentava concentrar-se em algo que sua prima dissera. Erguendo o queixo, ela fixou o olhar em Gypsy, imaginando se ela tinha acabado de encontrar a rede de segurança que estava procurando. Se isso evitasse que os demônios a encontrassem por um pouco mais de tempo, ela não ia reclamar.
"Espere aÃ⦠você estava falando sério quando disse que os demônios não podem entrar neste prédio sem sua permissão?", perguntou ela, sabendo que, quando algo parecia bom demais para ser verdade⦠normalmente era.
"à verdade", confirmou Gypsy com entusiasmo. "Nós até testamos o feitiço apenas para conferir se funcionava e, olha⦠funciona de forma brilhanteâ. Ela tentou conter o riso quando se lembrou de Nick e Ren sendo enxotados da loja.
"Sério, essa foi a coisa mais maravilhosa que eu já ouvi durante... hmmm⦠cerca de um ano", disse Lacey com sinceridade e sentiu aliviar um pouco da tensão dos ombros e das costas. Talvez se ela ficasse, poderia adquirir um pouco mais de tempo antes de enfrentar o Carrasco. "Não me diga que este era um dos feitiços que estavam no cofre durante todo esse tempo?"
Silenciosamente, ela imaginou se ele tinha saÃdo do mesmo livro de magia que ela sabia que continha o feitiço para neutralizar o poder do sÃmbolo do demônio que ela estava usando agora. Da maneira como ela entendeu⦠ao lançar um feitiço de distorção na parte superior de seu sÃmbolo do demônio, seria quase impossÃvel rastreá-la. Isso não removeria o sÃmbolo, mas era a segunda melhor opção.
Silenciosamente, ela imaginou se ele tinha saÃdo do mesmo livro de magia que ela sabia que continha o feitiço para neutralizar o poder do sÃmbolo do demônio que ela estava usando agora. Da maneira como ela entendeu⦠ao lançar um feitiço de distorção na parte superior de seu sÃmbolo do demônio, seria quase impossÃvel rastreá-la. Isso não removeria o sÃmbolo, mas era a segunda melhor opção.
Ela precisava descobrir para onde eles haviam levado aquele livro. Seu próximo passo seria localizar a mais poderosa irmandade das bruxas na cidade e convencê-las a ajudá-la a realizar o feitiço. O problema era que⦠alguém havia retirado o maldito livro.
Gypsy inclinou a cabeça para o lado, preocupada, quando o alÃvio nos olhos de Lacey transformou-se novamente em preocupação. "Lacey, onde você esteve durante o ano passado? O que aconteceu que a impediu de voltar para casa?"
Quando Lacey não respondeu de imediato, Gypsy abaixou o olhar até onde as mãos das duas ainda estavam juntas em volta do cristal. "Você precisa saber que o vovô adoeceu de tanta preocupação quando você desapareceu. Ele tentou esconder isso de mim, mas você ficou afastada por tanto tempo que ele ficou finalmente convencido de que você jamais voltaria⦠de que algo terrÃvel tivesse acontecido com vocêâ.
Lacey fez uma cara tranquila, sabendo que seu avô era a última pessoa responsável pela confusão em que ela se meteu. Esta situação era atribuÃda apenas a ela.
Eles sempre mantiveram Gypsy fora do jogo, mas agora que o avô tinha partido, não parecia haver nada que a impedisse de contar, pelo menos, uma parte da história. Além disso, quando seu passado lhe foi revelado, pelo menos, Gypsy deveria saber o que realmente aconteceu com ela e talvez até colocasse uma placa de sepultura para homenagear o avô.
Sentia-se tranquila, pois decidiu deixar sua prima entrar nas atividades extracurriculares da famÃlia.
"Vovô sempre mandava você para leilões e locais seguros para conseguir os artefatos que ele queria para sua coleção ou precisava para satisfazer sua clientela. Esse era o seu trabalho e você era muito boa nissoâ. Ela sorriu carinhosamente para a prima antes de acrescentar: "Mas eu⦠eu era boa em algo completamente diferenteâ.
"Aonde você quer chegar?" perguntou Gypsy franzindo a testa. Ela suspeitava que não ia gostar de nada do que Lacey estava prestes a dizer-lhe.
Lacey deu de ombros como se não fosse nada demais: "Vovô mandou você ir atrás das coisas que estavam disponÃveis e fáceis de obter⦠basta fazer alguns negócios em segredo, com a ajuda de uma transação bastante procurada no mercado ou de um enorme maço de dinheiro. Ele me mandou atrás de coisas que não eram tão... fáceis de obter".
"Por exemplo?", perguntou Gypsy.
"Coisas das quais as pessoas não queriam se desfazer", complementou Lacey e viu quando sua prima ficou de queixo caÃdo.
CapÃtulo 2
"Ele mandou você roubar alguma coisa?" O tom de voz de Gypsy subiu com sua perplexidade. "Não posso acreditar que vovô a incentivaria a fazer algo tão perigosoâ.
"Como você acha que ele entrou neste negócio inicialmente?", perguntou Lacey com um leve sorriso.
"Eu só ouvi boatosâ, sussurrou Gypsy mais que um pouco surpresa com a confissão. Algumas pessoas das classes mais altas nos leilões alternativos vinham usando as dicas dela nos últimos dois anos. Ela apenas acenou gentilmente para eles com a cabeça e sorriu, depois, apagou da mente os rumores, não querendo pensar muito neles.
Ela suspirou, enquanto admitia: "Eu apenas ignorei tudo, pensando que eles estavam pegando no meu pé, pois, muitas vezes, conseguimos coisas que os outros queriam muito conseguirâ.
"Eles tinham todo o direito de ter ciúmes. Vovô era um famoso ladrão em seus primórdios e foi capaz de colocar as mãos em muitos itens valiosos durante aqueles anos", confirmou Lacey com um tom de orgulho na voz.
âSua especialidade eram objetos sobrenaturais⦠antigos livros de magia, revistas, pinturas e vários itens mágicos. Rumores clandestinos garantem que ele realmente encontrou o Santo Graal e o escondeu do homem que ele havia contratado para localizá-lo. Duvido muito que ele tenha conseguido, mas esse é apenas mais um mito atribuÃdo a Vovô".
Gypsy franziu a testa: "Como é que ele ficou vivo todos esses anos saindo em busca desses artigos perigosos?"
Lacey deu de ombros: "Quem sabe? Vovô fez muitos inimigos antes de se aposentar de seu passatempo predileto. Ninguém conseguia provar que era ele, pois havia dominado a arte do roubo. Uma das primeiras coisas que ele roubara foi um dispositivo de disfarce que o tornava completamente indetectável. Sua proteção contra a maioria dos inimigos que suspeitavam dele era o fato de que muitas das coisas que eles achavam que ele poderia ter roubado eram poderosas o suficiente para serem usadas contra eles, se houvesse retaliação".
âUm dispositivo de disfarceâ, repetiu Gypsy com os olhos arregalados. âComo a capa de invisibilidade de Harry Potter?"
âNão sei⦠eu nunca cheguei a vê-lo, já que desapareceu antes que qualquer uma de nós tivesse nascido", respondeu Lacey. âAcho que outro cara foi um ladrão ainda melhor do que Vovô".
âNão é de admirar que o restante da nossa famÃlia fosse morar em outra cidade e nos alertasse sobre a convivência com Vovô. Eu achava que era apenas porque eles presumiam que ele era louco por acreditar em fenômenos sobrenaturais e por ter uma loja como estaâ. Gypsy balançou a cabeça, lembrando-se de todas as vezes que ela o defendera. Ela ainda não havia se arrependido, mesmo assim. Ela o amava e isso era tudo que importava para ela.
"Ah, não", Lacey a contradisse. "A famÃlia não faz ideia. Ele queria assim. Ele sempre se comportava de forma estranha perto deles de propósito⦠para que eles o rotulassem como um marginal esquisito e se afastassem. caso alguém fosse atrás deleâ.
Os lábios de Lacey indicavam uma cara de preocupação, quando ela voltou a pensar na época em que ela se mudou com o avô pela primeira vez⦠exatamente para esta loja. Quando ela tinha nove anos de idade, seus pais tinham sido mortos em um estranho acidente e seu avô tinha havia aparecido para pedir sua guarda em questão de horas. Ele não tinha nenhuma maneira de saber se a ocorrência realmente foi um acidente ou não e havia confessado à neta essa preocupação secreta depois que ela ficou sabendo a verdade sobre ele.
Havia indÃcios de que seus pais poderiam ter sido assassinados por algum acessório paranormal que finalmente tinha impulsionado Lacey a querer buscar vingança contra alguém que colecionava artigos sobrenaturais, na esperança de que ela se deparasse com a pessoa que o matara. Nada havia surgido, no entanto, e ela rapidamente tornou-se viciada pela emoção do trabalho. Além do que⦠esse dinheiro não era nada mau.
âFoi minha a ideia de seguir seus passos e ele foi contra desde o inÃcioâ, ela se recordou. âMas, depois de um tempo, eu o acalmei, saindo para roubar por conta própria. Eu fiz com que ele me pegasse em flagrante de modo que não tivesse outra escolha, além de me ensinar como entrar e sair sem ser detectada. Não foi dele a ideia, mas eu não lhe deixei outra opção. Ou ele me deixava fazer isso sozinha e morrer assassinada ou me ensinava todos os seus truques e esperava pelo melhorâ.