Gypsy franziu a testa para a superproteção de Nick, mas algo na expressão impassiva em seu rosto o impediu de exigir o envelope. Pela forma como as coisas estavam indo por aqui, por tudo o que ela sabia, isso era uma ameaça de morte, embora ela tivesse que admitir que estava curiosa demais.
Nick deu uma volta até o outro lado do balcão onde estava Gypsy e retirou a 9 mm que estava sob a camisa. Ele manteve a arma abaixada para que ninguém mais no recinto pudesse ver a troca atrás do balcão, exceto o homem que estava em pé diretamente do outro lado. O batimento cardÃaco do homem era uniforme, como também era sua respiração, de forma que Nick percebeu que não se tratava muito de uma ameaça, mas ele queria que Gypsy ficasse precavida, ser fosse o caso.
"Voltarei logo. Não convide ninguém para entrar na loja, enquanto eu estiver ausente e atire em qualquer um que se aproximar", a voz de Nick trazia um tom de alerta enquanto ele cruzava o olhar com o outro homem.
"O que", perguntou Gypsy em um sussurro transtornado e olhou para Nick como se ele tivesse perdido a cabeça. "O que diz a carta?"
"à apenas um convite, mas tenho a sensação de que será do interesse de Ren. Confirmarei com você assim que ele tiver vistoâ, respondeu Nick e dirigiu-se até para o quarto dos fundos.
Gypsy redirecionou o olhar para o homem na frente dela de forma inquisitiva e delicadamente solicitou: âQue tipo de convite?"
Ela segurava a arma atrás do balcão, mas a mantinha nivelada sobre ele. Ela não podia deixar de ficar envergonhada, sabendo que, se puxasse o gatilho naquele exato momento, a bala iria atingi-lo em um local onde nenhum homem queria ser ferido. Com sorte, ele levaria isso em consideração e não tentaria nada de estúpido.
"Para um importante leilão decisivoâ, respondeu o homem com um sorriso sexy.
Os olhos de Gypsy se iluminaram ao ouvir a palavra leilão, mas depois ele franziu a testa imaginando por que Nick achava que Ren gostaria de ver o convite para um leilão, mesmo que fosse para um do tipo clandestino. Esta não era a primeira vez que ela tinha recebido um convite através de mensageiro.
"Qual o nÃvel de importância?", perguntou ela completamente intrigada.
"Se eu puder fazer-lhe uma pergunta primeiro", perguntou o homem. "Você por acaso tem alguma relação com Lacey?"
Os lábios de Gypsy se separaram enquanto ela instintivamente intensificou o aperto na arma e deu um passo para trás, agora compreendendo por que Nick tinha levado o convite para Ren.
"Quem é você?", perguntou ela, apreensiva.
Os lábios de Ren sugeriram um sorriso, mas ele não respondeu.
Ren olhou em direção à porta do abrigo quando ouviu os passos de Nick quase correndo ao descer as escadas. Ele observou que o jaguar deu os últimos saltos agarrando um envelope nas mãos e levantou uma sobrancelha, deslocando-se para encontrar-se com Nick na porta.
"Não faça perguntas; apenas leiaâ, disse Nick apressadamente enquanto entregava o envelope a Ren.
Ren abriu-o e retirou o convite, lendo-o completamente. Os músculos da mandÃbula dele flexionaram-se enquanto ele lutava contra o impulso de amassar o papel em seu punho. Seu corpo relaxou quando, de repente, ele mudou de ideia e olhou para Lacey por cima do ombro, que observava de perto.
"Parece que nós vamos a um leilão", Ren informou a ela.
"Um leilão", repetiu Lacey enquanto se recostava no sofá e fingia pensar sobre isso durante cerca de dois segundos, antes de virar-se. "Não estou disposto a fazer isso; não, o obrigadoâ.
"Você não tem muita escolha", disse Ren, olhando para o convite. "Parece que o principal item do bloco de leilão é uma alma marcada e a proposta inicial para essa alma marcada é uma esfera espiritual. O leilão vai ocorrer esta noite à meia-noite⦠até a opção correta a partir daquiâ.
Ele já podia sentir o cheiro do medo da moça aumentando, mas não tinha intenção de colocá-la em risco. A parte dela no cÃrculo do roubo acabaria esta noite⦠ele deveria certificar-se disso.
Lacey se sentiu como se estivesse andando sobre pernas de borracha quando se aproximou de Ren e pegou o papel que ele estava lhe oferecendo. O olhar dela foi imediatamente atraÃdo para o sÃmbolo na parte inferior onde normalmente haveria uma assinatura e seu coração afundou na cavidade do estômago, de tanto pavor. Ela rapidamente levantou o olhar e inspecionou as palavras.
"Bem, para o inferno com isso! Se eu não sair deste prédio, eles estarão perdendo seu principal item e o pequeno leilão deles vai ser um fracasso", disse Lacey entregando o papel de volta a Ren. "Você viu aquele carimbo na parte inferior? à o carimbo do cÃrculo para o qual eu trabalhava. Se eu for a esse leilão⦠eles vão me matar".
âLaceyâ, disse Ren calmamente, sabendo que ela estava com um medo bobo no momento. "Se eles estiverem tão perto assim, já saberão onde você está. Você não pode se esconder aqui para sempre. Além disso, parece que temos algo que eles queremâ.
"Sim... euâ, disse Lacey sem se preocupar em esconder o medo na voz enquanto ela o encarava. "Já sei que eles vão me matar, mas isso não significa que eu preciso facilitar as coisas para elesâ.
Nick se virou e começou a subir novamente as escadas, não querendo deixar Gypsy sozinha por muito tempo com o estranho. Sem olhar para trás, ele lhes disse: âQuando você decidir o que você vai fazer, tem um cara lá em cima esperando a resposta e dois demônios esperando por ele do lado de fora da loja".
Ren baixou o olhar para Lacey quando ouviu o batimento cardÃaco da moça começar a acelerar de repente e ela disparou pelas escadas acima, atrás de Nick. A expressão e os pensamentos dele ficaram obscuros. Era melhor que aquele estranho não fosse o bastardo britânico que a havia metido em toda aquela encrenca, antes de mais nada.
Lacey virou a esquina até a sala principal, apenas alguns segundos depois de Nick. Seus lábios se separaram vendo Vincent ali em pé, ali olhando tranquilamente para Gypsy do outro lado do balcão. O olhar dela baixou ao ver a arma na mão de Gypsy e ela quis dar uma risadinha pela inutilidade da ameaça, mas conteve-se, sabendo que ela seria a única a entender a piada.
Vincent virou a cabeça e fixou o olhar na garota que ele estivera procurando. "Agora é a garotaâ, respirou ele, percebendo que sentira falta dela mais do que ele pretendera também.
Em segundos, Lacey passou os braços em volta da cintura de Vincent e encostou o rosto no peito dele.
Ele retribuiu o abraço dela e evitou olhar para os demônios lá atrás, do lado de fora, sabendo que eles já a haviam visto, embora ele tivesse mesmo a intenção de virá-la de tal modo que ele ficasse bloqueando a imagem sangrenta deles.
Gypsy piscou para o afetuoso reencontro e abaixou a arma, agradecida. Ele não podia ser de todo ruim se é que a forma com que seus olhos tinham suavizado na fração de segundo durante o qual ele tinha visto Lacey fosse alguma indicação. Ela devolveu a arma a Nick quando ele se juntou a ela atrás do balcão. Um cliente escolheu aquele momento para aparecer e fazer a ela uma pergunta e ela olhou para Nick, sem ter certeza se ela deveria sair por enquanto.
"Posso ouvir Ren chegando para que você possa relaxar; vamos cuidar disso", disse Nick, garantindo à moça que isso era proveitoso, caso ela precisasse cuidar de seus negócios.
"Posso ouvir Ren chegando para que você possa relaxar; vamos cuidar disso", disse Nick, garantindo à moça que isso era proveitoso, caso ela precisasse cuidar de seus negócios.
Concordando com a cabeça, Gypsy passou perto de Nick e proporcionou a Ren uma grande amplitude quando ela observou o olhar furioso no rosto quando ele saiu do quarto dos fundos. Ela olhou quando ele lançou contra os demônios um reflexo, antes de ignorá-los completamente e voltando a atenção para o balcão.
"Vá vigiar quem Gypsy convida para este lugar. Deixe isso comigo", pediu Ren, aparecendo atrás de Nick.
Nick sentiu um arrepio frio percorrer-lhe a espinha e rapidamente dirigiu-se até a frente da loja. Até mesmo o jaguar dentro dele estava feliz por não ser aquele que estava com os braços em volta de Lacey agora. Ren tinha jogado sujo quando surgiu a disputa por Gypsy, mas tinha a sensação de que isso não tinha sido nada em comparação com o inferno em que este sujeito britânico tinha se metido.
Vincent olhou para cima vendo o homem de olhar intimidante que vinha em direção a eles com passos acelerados e irritados. A primeira coisa que ele observou foi que o homem não estava olhando exatamente para ele⦠ele estava olhando para as costas de Lacey, onde seus braços estavam firmemente enlaçados ao redor dela.
Ele pode não ter nenhum poder sobrenatural, mas, depois de viver por tantos séculos, ele conseguia identificar um cara ciumento a 1 km de distância. Vincent sorriu interiormente, imaginando o que Lacey pensava sobre o relacionamento⦠se é que havia mesmo algum. Durante o último ano, ele havia sido o único homem a tocá-la e eles não tinham ficado separados por tempo suficiente para que ela simplesmente se entregasse a outro amante. Ela era muito exigente para isso.
Com um sorriso irritado destacando-se nos lábios, Vincent intensificou o aperto em apenas um toque para ver se o outro homem se opunha. Afinal de contas⦠seu passatempo favorito era aborrecer pessoas.
Ele conhecia sua pequena parceira o bastante para saber que a ideia de obsessão e possessividade dela era reservada somente para os acessórios que eles tinham o hábito de furtar⦠não para o sexo oposto. Essa era uma das coisas que ele gostava nela: o fato de que ambos eram favoráveis à cláusula de não comprometimento.
Sabendo que ele simplesmente não poderia afastá-la do outro homem, Ren forçou-se a parar menos de 60 cm atrás de Lacey, que era uma distância de captura, caso surgisse a necessidade. Ele já detestava esse idiota, mas era inteligente o suficiente para conter seu impulso de estrangular Vincent para que ele pudesse ouvir a razão pela qual o homem trouxera demônios para cá.
Ren deslizou a mão direita para dentro da gabardine para esconder o fato de que ele estava com o punho tão cerrado que podia sentir as unhas cravando na palma da mão de forma dolorida. Se Vincent pensou que estava levando Lacey de volta ao circo demonÃaco que eles chamavam de cÃrculo do roubo, ele faria o que fosse preciso para dar ao punk algo muito mais doloroso para se preocupar.
CapÃtulo 5
"Eu estava tão preocupada com vocêâ, murmurou Lacey dentro da camisa de Vincent, tentando em vão segurar as lágrimas de gratidão por vê-lo inteiro. Os pesadelos que ela tivera com ele sendo enterrado vivo em algum lugar, ou pior que isso, perderam seu poder sobre ela à medida que ela se apegava a ele⦠seu amigo que tinha morrido muitas vezes. O coração dela havia parado naquela noite e essa memória ainda tinha o poder de fazê-la tremer.
Ela enrolou o material da camisa dele no punho dela: âMasters⦠a mão daquela maldita bastarda percorreu todo o trajeto até você. Como você conseguiu fugir?"
Ouvindo o ligeiro tremor na voz dela, Vincent dispensou o homem enfurecido por trás dela e desistiu do abraço antagonizante dele para que ele pudesse apalpar os membros superiores dela. Ele gentilmente afastou-a para trás e abaixou o olhou para ver as bochechas molhadas da moça. Droga⦠ele dissera a ela que jamais se preocupasse com ele⦠muito menos que chorasse.
Ele endureceu a voz: âVocê está esquecendo, meu bem⦠que eu gosto disso. De tudo isso. Morrer não é nada mais que um jogo para mimâ. As lágrimas bobas dela tinham o poder de machucá-lo muito mais do que uma mão através do coração dele. "Por isso, guarde suas lágrimas infernais para alguma coisa que valha a pena", retrucou ele, sabendo que esse era o caminho mais rápido para enxugar os olhos dela⦠aborrecê-la.
Lacey levantou os olhos para Vincent. Ele simplesmente fizera isso de propósito. "Não importa o idiota, basta me dizer que diabos aconteceuâ, disse ela, fazendo o jogo de retração dele.
"Assim é melhor", sorriu Vincent maliciosamente para o temperamento da moça. Isso foi realmente encantador. "No momento em que eu renasci, estava de volta à propriedade de Master, cercado por um monte de demônios irritados que estavam se divertindo enquanto se revezavam me matando com lesões que saravam rapidamente para que eles pudessem ter o prazer de fazer isso várias vezes. Bastardos monótonosâ.
Lacey deu um suspiro profundo e aguçado e seus olhos se arregalaram enquanto ela olhava fixamente para ele. Sua imaginação entrou em sobrecarga enquanto uma infinidade de formas aleatórias pelas quais os demônios poderiam matá-lo percorreu toda a visão dela como um filme de terror.
Vendo seus olhos brilharem com novas lágrimas, Vincent rapidamente acrescentou: âEles não foram os únicos a se divertir na festa e nem sequer bateram meu recorde de mortes dentro de um perÃodo de quarenta e oito horas, pois não ficaram calados por tempo suficienteâ.
"Foi minha culpa. Desculpe-me⦠lamentamos muito. Eu deveria ter levado seu corpo comigo de alguma forma", disse Lacey, desejando poder voltar no tempo. "Você se sacrificou para me salvar novamente e eu⦠eu simplesmente deixei você deitado ali. Algum tipo de parceiro eu me torneiâ.
"Você estava fazendo exatamente o que eu lhe mandei fazer", corrigiu Vincent sem rodeios.
Ele estendeu a mão e deu um tapinha na parte superior da cabeça da moça, como um cachorrinho, simplesmente porque ele sabia que ela odiava isso. Quando ela retirou o braço dele com raiva, ele ficou novamente satisfeito que ela não ia passar mal na frente dele. Ele relevara o suficiente suas próprias palavras durante o ano anterior por causa dela e não achava que poderia suportar vê-la chorar nesse exato momento, sem revelar seus verdadeiros sentimentos.
"Mas você deve ter ficado longe deles ou não estaria em LA⦠certo?", perguntou Lacey, buscando os olhos dele. "Você pode deixá-los agora e ficar aqui comigo⦠onde é seguro".
"Minha pombinha desejada", Vincent inclinou a cabeça em direção à frente da loja para chamar a atenção da moça para seus obcecados fãs de olhos negros que até agora estavam observando cada movimento que ele fazia. "Minha escolta está esperando por mim para trazer-lhes sua respostaâ.
Lacey mal evitou um olhar irritado para os dois homens que estavam logo além do vidro, antes de dar de ombros corajosamente. "Eles não podem entrar na Witch's Brew. Os demônios não podem entrar aqui sem a permissão de meu primo ou sem a minha; por isso, eles podem ficar lá fora mesmo e apodrecer, se depender de mimâ.