â Eu estava me arrumando para ir lá e ver se eu a encontrava.
Kotaro suspirou enquanto Toya começava a vociferar algo sobre garotas idiotas. Não querendo perder tempo, ele se virou para a porta.
â Obrigado, Shinbe â disse ele sobre o ombro enquanto saÃa agora mais preocupado do que nunca. Ele só esperava que Kamui estivesse com ela, protegendo-a de alguma forma.
Shinbe inclinou a cabeça para o lado olhando sobre o ombro de Toya quando Kotaro partiu, e então ele se endireitou para franzir a testa para Toya.
â O que está acontecendo e por que Kotaro estava aqui? â A preocupação brilhou em seus olhos de ametista. Ele sempre gostou de Kotaro, mas não podia confessar isso a Toya sem ser rotulado como um traidor.
Toya tirou as chaves do bar enquanto respondeu:
â Vou te contar no caminho.
Ele virou-se e partiu para a porta, sequer se preocupando se Shinbe estava indo atrás. Ele odiava estar sem Kyoko. Isso sempre fazia com que ele se sentisse confuso. Era hora de encontrá-la e colocá-la de volta no seu lugar: ao lado dele.
CapÃtulo 5
Kyoko não gostou da forma como Yohji estava reagindo ao rubor dela e sentiu seu ressentimento começar a surgir. Empurrando o máximo que pôde com as palmas das mãos pressionadas contra o peito dele, seus olhos dispararam faÃscas irritadas enquanto tentava novamente fazê-lo soltá-la.
â Olha, quero que me solte agora, Yohji! Estou aqui com alguém. â Seus olhos se arregalaram quando ele simplesmente deu uma olhada presunçosa e a prendeu de novo.
â Merda! - Kyoko enfureceu-se e pisou forte com o pé, tentando atingir o dedo do pé de Yohji.
Do outro lado do salão, Tasuki levava um chá normal de volta à mesa. Olhando para a porta para ver se ele podia detectar Kyoko, seus olhos escureceram ao notar que Yohji a assediava. A maioria das pessoas que o conhecia acreditava que Tasuki era um tÃpico americano, meigo, companheiro e o mais popular na escola, mas ele tinha um temperamento oculto.
Yohji estava à beira de testemunhar isso se ele não tirasse as mãos de Kyoko.
A ira de Tasuki estava estampada em seu rosto enquanto ele atravessava o salão para resgatar sua doce Kyoko. Ele sabia, depois de ouvir outros conversarem na faculdade, que Yohji e seu irmão eram agressivos com as meninas e até foram acusados de estupro mais de uma vez.
Quando ele se aproximou deles, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ao lado dele, mas Tasuki não deixou que isso o impedisse. Aqueles dois caras eram venenosos e ele sabia disso. Os olhos de Tasuki ganharam uma sombra iluminada de ametista enquanto avançava. Sua adrenalina estava alta e ele travou os dentes ao ver Kyoko lutar para se libertar.
A sobrancelha de Kyoko começou a se contrair quando a mão de Yohji percorreu suas costas e segurou sua bunda firmemente, forçando-a a encaixar-se nele. Ela podia sentir sua lascÃvia enquanto ele sorriu maliciosamente para ela.
â Chega! â Ela ergueu a mão com tanta rapidez que Yohji nem viu, até que ele ouviu o estalar em sua orelha.
O irmão de Yohji, Hitomi, ouviu o som e se virou para olhar o rosto vermelho de seu irmão. Ele sorriu, entendendo, mas depois olhou por cima de Yohji e viu o menino chamado Tasuki vindo em direção a seu irmão com um olhar lÃvido no rosto.
Sabendo que seu irmão poderia cuidar da menina relutante sozinho, Hitomi deu um passo para frente e ficou diretamente no caminho de Tasuki.
â Onde pensa que está indo, garotinho?
Tasuki olhou além de Hitomi, seus olhos se chocando com os de Yohji. Ele podia ver a mão de Yohji acariciando Kyoko. Sem pensar, ele jogou todo o seu peso no soco dado no estômago de Hitomi. Para seu espanto, o outro menino mal se moveu.
Sendo muito maior do que o calouro da faculdade, Hitomi deu um soco em Tasuki, fazendo-o voar em direção à parede do corredor. Ele encolheu os ombros, imaginando que o garoto não voltaria e se voltou para ver o seu irmão curtir seu novo brinquedo.
Ver a luta da menina para se soltar trouxe um sorriso aos lábios de Hyakuhei.
â Então, essa garota não é fácil de ser domada. Terei prazer em amansá-la. â Olhando para o jovem que tinha vindo defender a honra de Kyoko, Hyakuhei decidiu quem ele queria como seu mais novo recruta.
Ele rapidamente pegou o garoto chamado Tasuki antes que ele se chocasse com a parede.
Seus sentidos lhe disseram que o menino ainda era puro, virgem. Que estranho. Rapidamente escondendo-os na escuridão para evitar que os outros vissem, Hyakuhei olhou para ele. Ele havia observado como Tasuki interagia com esta menina e várias outras. Ele seria uma boa escolha.
â Bem-vindo à escuridão, meu filho â sussurrou enquanto afundava suas presas na veia de Tasuki. Os olhos de Hyakuhei se arregalaram com o sabor do sangue do menino. Um poder escondido? Tinha gosto de ametista. Ele agarrou o menino mais apertado, querendo mais.
Tasuki tomara o golpe no rosto com segurança, já que tinha tanta adrenalina pulsando dentro de si. Ele planejou revidar, mas, como havia braços o envolvendo por trás, tudo ficou escuro e ele se sentiu paralisado por um medo imediato. Uma voz suave e quase sedutora deu-lhe as boas-vindas à escuridão.
Ele ofegou quando sentiu dentes afiados em seu pescoço. à medida que sua vida se esvaÃa, seus últimos pensamentos foram em Kyoko e o quanto ele precisava chegar até ela. Ele estava estendendo a mão em uma última tentativa de ir até ela quando o esquecimento veio, tomando seu último suspiro.
*****
A mão de Kyoko ainda queimava do impacto que tinha feito com o rosto de Yohji. Ela queria se encolher agora que podia sentir muitos olhos curiosos sobre ela. Não ajudou nada o fato da bofetada ter soado como um tiro.
Dane-se tudo! Isso foi o que ela tentou evitar, mas não, Yohji tinha que ser um idiota. Falando em idiotas, ele ainda não havia tirado as mãos de cima dela. Ela lentamente olhou de volta para ele. Pelo olhar irritado nos olhos dele, ela viu que ele não planejava soltá-la.
Ela devolveu o olhar enfurecido, esperando para ver se ele revidaria ou a soltaria. Se ela fosse apostar, escolheria a primeira opção.
Kyou sabia que o pequeno tapa de uma garota não era compatÃvel com a lascÃvia que vinha do cara que a segurava com tanta força. Ele mentalmente destruiu o pervertido por ousar tocar o que ele pretendia reivindicar como sua posse. De repente, tomou uma decisão, não se importando mais se Hyakuhei o detectou ou não. Assim que Kyou se moveu para sair das sombras, com a intenção de afastá-la do assediante, ele ouviu um grunhido profundo.
Momentaneamente atordoado, Kyou sabia que esse tipo de rosnado só pertencia a um licantropo. Seus olhos dourados seguiram o som para sua origem. O som continuava a vibrar da entrada, a apenas alguns metros da menina. A raiva do lobo inundou o corredor cheio de gente.
Os olhos de Kyou se estreitaram na cena, imaginando se ele podia confiar em uma força atemporal estando tão perto da garota. Ele não via um licantropo desde que havia sido transformado pela primeira vez e, depois, ele apenas se distanciou. Se lembrou de ter dito uma vez para Toya que vampiros e lobisomens não se misturavam. Toya perguntou-lhe por que, mas ele não havia respondido porque só estava repetindo as palavras de Hyakuhei e não sabia o motivo.
Kotaro deu uma olhada em Yohji tateando "sua mulher" e enlouqueceu. Num piscar de olhos, Yohji foi arremessado contra a parede com a mão de Kotaro em sua garganta, levantando-o vários centÃmetros no ar. Ele havia lidado com os irmãos pervertidos antes e onde um estava, o outro sempre seguia.
Seus sentidos estavam em alerta quando sentiu o cheiro de Hitomi e sabia que ele estava vindo por trás. Com um chute bem colocado, Kotaro fez Hitomi voar, para depois cair como um amontoado no chão do corredor. As pessoas se espalharam e o corredor rapidamente ficou vazio.
Kyoko sentou-se no chão com os olhos arregalados, mal acompanhando o que acabava de acontecer, já que foi tudo muito rápido. Seu olhar foi do corpo amassado de Hitomi para a forma furiosa de Kotaro, que segurava o pescoço de um Yohji que estava ficando azul.
Sabendo que ela tinha que parar Kotaro antes que ele realmente machucasse alguém, Kyoko ofegou e começou a se levantar. Ao pressionar as mãos no chão, ela tropeçou atrás de Kotaro, pousando uma mão no ombro dele enquanto tentava acalmá-lo.
â Obrigada, Kotaro, mas estou bem agora, então você pode soltar o Yohji, tá? âSua voz era suave, mas seu pânico aumentou quando os dedos de Kotaro apertaram a garganta de Yohji. Kotaro virou o rosto para Kyoko e ela deu um passo assustado para trás, vendo o tom vermelho em torno dos olhos azuis dele.
â Vi onde as mãos dele estavam, Kyoko, e acho que é hora de levar o lixo para fora. â Kotaro resmungou quando ele se voltou para Yohji e ouviu com um fascÃnio mórbido quando o menino fazia sons guturais e assumia uma tonalidade azul assustadora.
O temperamento de Kotaro estava satisfeito com a cor mais escura, dando-lhe o controle suficiente para perceber que Kyoko o estava olhando chocada. Precisando aliviar o medo dela, ele agarrou Yohji pela gola da camisa e se dirigiu para a porta para ensinar ao bastardo alguns bons modos. Ela não precisava ver o resto.
Kyoko piscou quando a porta se fechou atrás de Kotaro. Perplexa, ela ainda estava em um torpor devido ao choque. Nossa! Kotaro podia ser realmente assustador quando estava bravo. Ela até sentiu pena de Yohji naquele momento.
Olhando por cima do ombro, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ainda deitado onde Kotaro o tinha deixado no chão. Pela primeira vez, ela não se importou que Kotaro fosse seu protetor. Ela estremeceu e tentou não pensar no que poderia ter acontecido se Kotaro não tivesse aparecido na hora.
Kyou observou ela roer o lábio inferior como se estivesse incerta sobre o que fazer. Quando o olhar dela viajou de volta à porta, ele pensou. Então, ela tem a proteção do licantropo. Ele se perguntou que outros mistérios cercavam a menina. Este não era um lobo normal, aquele que ela chamara de Kotaro, ele podia sentir que era tão velho quanto ele.
Kyoko aproximou-se das portas de vidro olhando para o estacionamento escuro, imaginando onde Kotaro tinha ido. Colocando a mão na maçaneta, ela começou a abrir a porta, mas um jovem entrou na frente dela, bloqueando seu caminho. Ela permaneceu imóvel por um momento quando o garoto fixou seus olhos nos dela. Foi o sentimento mais esquisito que já experimentara.
O menino tinha cabelos brancos sólidos e um tom de pele que era quase igual aos cabelos. Mas essa não era a pior parte. Seus olhos eram tão negros que pareciam continuar para sempre, dando a Kyoko a sensação de que ela estava mergulhando neles. O garoto sorriu suavemente, mal descobrindo suas presas desumanas e por um momento, Kyoko realmente acreditava que as viu.
Uma mão saiu do nada e agarrou o ombro de Kyoko fazendo com que um grito aterrorizado ficasse preso em sua garganta quando ela se virou para ver de quem era a mão.
*****
Kyou saiu da escuridão quando viu o servo de Hyakuhei do outro lado da vidraça. Ele sabia do menino enganador. O mais jovem que parecia tão inocente era muitas vezes o mais mortal.
Avançando atrás de Kyoko, seus olhos sangraram e suas presas se alongaram, deixando o fantasma do menino saber que ele não morderia essa garota sem perder sua própria vida imortal.
A mão de Kyoko se acalmou na porta sem ter certeza se queria abri-la. Algo sobre o jovem estava realmente lhe dando medo. Assim que ela começou a dar um passo para trás, uma mão pesada saiu do nada e agarrou seu ombro. Um grito aterrorizado subiu sua garganta enquanto se virava para ver quem era.
Kyoko esqueceu de respirar quando olhou para os olhos dourados. Os longos cabelos brancos moldavam o rosto e os ombros. Ele era poucos anos mais velho e seu cabelo estava perdendo a cor escura em meio às mechas prateadas, mas ele quase se parecia...
â Toya? â sussurrou Kyoko hesitantemente, sabendo que estava errada, mas o mais importante, por que o salão estava girando?
Assim que seus olhos se chocaram, Kyou sentiu-se atraÃdo por eles. Ela estava olhando para ele como se ela o conhecesse. Mas isso não era tão perturbador quanto ela sussurrar o nome de seu irmão morto. Os braços dele a envolveram, vendo-a ficar tonta sob a influência do lÃquido contaminado que ela havia consumido anteriormente.
Quando suas mãos deslizaram por sua pele nua, onde sua blusa era muito curta para cobrir, ele sentiu uma agitação dentro de seu sangue de vampiro, sussurrando para que ele a protegesse.
A visão de Kyoko não estava boa o suficiente agora. Parecia desafiar sua vontade quando o homem começou a ficar desfocado enquanto ela olhava para ele com curiosidade. Mesmo não conseguindo ver bem, ela ainda podia sentir o corpo dele apoiando-a.
Elevando os dedos para tocar no rosto dele, ela falou:
â Você não é o Toya. Quem é você? â Antes que ela pudesse obter uma resposta, Buda ou qualquer outro deus que continuasse fazendo piada com ela apagou as luzes e ela mergulhou no inconsciente.
Kyou a apertou fortemente quando o corpo dela ficou imóvel em seus braços. Ela desmaiou, mas pelo menos não foi nos braços de um inimigo. Sua cabeça caiu para trás, expondo a suave curva alva de sua garganta e Kyou lutou contra seus instintos. Ele silenciosamente se perguntou se ela não estava mesmo nos braços do inimigo. Suas presas começaram a alongar-se e ele dominou a tentação. Este era um ser muito puro para aquela escuridão.
Ele então sentiu sua cólera se acender contra a garota ingênua. Se ele não estivesse aqui para protegê-la, o que teria acontecido com ela? Ele, convenientemente, esqueceu seus próprios impulsos apenas alguns momentos antes. Se o lobo tivesse sido um protetor adequado, ele não a teria deixado. Ele olhou em volta percebendo que os amigos com quem tinha estado antes também a abandonaram.
Expandindo seus sentidos, Kyou ainda podia sentir seu próprio inimigo, Hyakuhei, dentro do prédio. Sentindo o mal vindo de algum lugar acima, ele sabia que Hyakuhei estava no segundo andar.
*****
Shinbe saltou do carro ainda em movimento. Uma coisa o empurrou para frente e levou-o direto para a entrada principal da boate em disparada. Ele não conseguiu tirar da cabeça a ideia de Suki e Kyoko se tornando uma dessas garotas desaparecidas e isso estava aterrorizando-o.
Toya havia contado sobre o que Kotaro lhe havia dito e, quando ele pusesse as mãos em Suki, ele não a soltaria nunca mais. Onde no corpo dela ele iria pôr a mão ele não conseguia dizer, mas ele tinha que encontrá-la primeiro.