Uma Luz No Coração Da Escuridão - Amy Blankenship 7 стр.


Diminuindo a intensidade de seu olhar, Kyou balançou a cabeça e olhou novamente para o grupo. Mesmo com seus sentidos intencionalmente atenuados, ele conseguiu detectar um leve brilho rodopiante fluindo em torno das três figuras. Um leve brilho de poeira do arco-íris veio diretamente acima deles, sombreando a luz como se alguém estivesse escondendo-a de seus olhos.

Kyou revistou o céu acima deles, mas só viu a noite. Seus olhos se estreitaram compreendendo mais do que ele deveria antes de voltar seu olhar para o grupo.

Ele nunca tinha visto nada parecido em sua vida imortal. Uma leve memória prendeu sua atenção, fazendo com que ele olhasse o grupo com olhos arregalados. Ele estava se lembrando das palavras de seu irmão mais novo antes de Hyakuhei tê-lo assassinado tão cruelmente:

— Se ao menos pudéssemos encontrar o Cristal do Coração Guardião, talvez pudéssemos ficar livres da escuridão, irmão.

Kyou havia zombado, dizendo a Toya que a joia era apenas um mito e impossível de encontrar, mesmo nas lendas. Toya tinha ignorado sua réplica:

— A aura daquela que protege a joia brilhará com luz sagrada. Você não quer ser livre?

Um sentimento melancólico se instalou em Kyou com a lembrança da pergunta de seu irmão. Ele teria dado qualquer coisa para libertar seu irmão da vida que Hyakuhei o dera. A brisa veio pela janela soprando seus longos cabelos no rosto, como se lhe dissesse para ir, como se o próprio Toya lhe pedisse que ele partisse.

Recolhendo a escuridão circundante em torno de seu corpo letal, Kyou emergiu despercebido na multidão de jovens inocentes, seu olhar intenso nunca deixando o local de onde a mais suave e pura luz brilhava.

*****

Kyoko riu quando viu Suki erguer as sobrancelhas por trás de Tasuki. Suki definitivamente estava passando muito tempo com Shinbe ultimamente. Ela ficou vesga e deu a língua fazendo com que Suki quase morresse de rir, mas o olhar desapareceu instantaneamente quando Tasuki se virou para ver do que Suki estava rindo.

Isso fez com que Suki tivesse que se segurar na parede para evitar que seus joelhos cedessem enquanto Kyoko apenas deu de ombros para Tasuki dizendo:

— Quem sabe o que deu nela? Ela nunca foi normal. — Ela ergueu a sobrancelha, acrescentando: — Tenho que tirá-la do manicômio pelo menos uma vez por semana ou ela fica ainda pior e tenta roer as árvores na frente do alojamento.

Tasuki sorriu enquanto se aproximou da orelha de Kyoko como se quisesse sussurrar, mas então disse em voz alta o suficiente para que Suki ouvisse:

— Talvez durante o caminho para casa hoje, você deveria levá-la de volta.

Kyoko assentiu alegremente, então sentiu o cabelo na parte de trás do pescoço se arrepiar como se alguém a observasse. Esperando que não fosse Toya secretamente seguindo-as, ela tentou ignorar a sensação enquanto mantinha sua atenção em Suki e Tasuki.

Suki finalmente respirou o suficiente para lembrar a Kyoko que elas fariam uma festa do pijama na sala acolchoada mais tarde, então perguntou a Tasuki se ele gostaria de se juntar a elas.

— A gente até conseguiu uma camisa de força para a ocasião.

Ela deu a língua para ambos.

— Guarde essa coisa antes de machucar alguém — retrucou Kyoko e foi rapidamente recompensada quando o queixo de Suki caiu.

Quando a fila começou a andar, Kyoko olhou por cima do ombro, imaginando quem a estava observando. Ela viu apenas as luzes do estacionamento e uma horda de pessoas esperando para entrar e então zangou-se com sua própria paranoia. A sensação desconfortável de que havia alguém a observando recusava-se a ir embora e a preocupava. Ela lembrou-se do aviso de Kotaro sobre um maníaco em torno do campus e de repente desejou que ela tivesse insinuado para ele onde elas estariam hoje.

Suki agarrou sua mão e puxou-a, pois Kyoko estava atrasando a fila. Kyoko afastou a sensação ruim enquanto entraram no prédio e sua atenção foi atraída para o interior da enorme boate.

Kyou a viu virar o rosto como se ela estivesse sentindo sua presença e ele ficou surpreso com isso. Os olhos de Kyoko haviam se deslocado muito lentamente para o ponto em que ele estava parado, mas ele sabia que ela não podia vê-lo nas sombras. Sob o manto da escuridão, ele a manteve sob vigilância ao entrar no estabelecimento.

Seu olhar dourado se movia pela sala sabendo que havia mais do que seres humanos dentro dos espaços mal iluminados, mas eram pequenas ameaças e não valiam sua atenção.

Suki levou-os a uma área perto do bar para que eles não tivessem que ir longe demais para pegar bebidas e ainda ter uma boa visão da pista de dança. A música já estava tocando, mas não tão alta que você precisasse gritar para ser ouvido.

Kyoko ficou surpresa em ver como o lugar era legal. Ela estava começando a se sentir feliz por ter deixado Suki convencê-la a vir. Afinal, a vida tinha que ser mais do que estudar, o que era tudo que ela só fazia há mais de uma semana. Toda a energia no lugar era viciante e ela sorriu animada. Foi um daqueles raros momentos em que sentiu que qualquer coisa poderia acontecer.

Em vez de mesas e cadeiras, o estabelecimento tinha sofás bem acolchoados aqui e ali, com pequenas mesas de vidro para apoiar as bebidas. Roxo, azul e preto eram as principais cores da boate, dando-lhe uma pitada de mistério e magia com todas as luzes constantemente mudando de cor e criando uma sensação de pandemônio sensual. A atmosfera da boate era quase intoxicante.

Sombras profundas emprestavam privacidade àqueles que a procuraram e Kyoko corou, pensando em todas as coisas que às vezes aconteciam no escuro, coisas que ela ainda não experimentara. Sua mente voltou a se perguntar o que Kotaro estaria fazendo, antes de voltar sua atenção a seus amigos, se sentindo culpada.

Kyou sentou-se no canto mais escuro, perto da aura intensamente pura. Observando o grupo, ele agora podia ver que o brilho era proveniente de apenas um deles. Seus olhos se suavizaram pela primeira vez em inúmeros anos, por apenas um instante, enquanto a via sorrir, absorvendo a grandeza da boate. Era como assistir o nascer do sol e era algo que ele não fazia há muito tempo.

Ela era linda, com longos cabelos castanhos que fluíam, contrastados com a camisa branca sedosa que ela usava.

Seu olhar percorreu o corpo perfeito dela, absorvendo a pele exposta em sua cintura e olhando a minissaia, seguida de um par de pernas muito bem torneadas, antes de levantar seu olhar ao pescoço, que estava à mostra. Ele seguiu o arco até o rosto dela com um grunhido desaprovador. Ela estava virada em um certo ângulo e ele se viu precisando ver seus olhos, pois os olhos eram o espelho da alma.

Seus instintos estavam reagindo de um jeito que ele nunca experimentara antes. A sensação que ele não conseguia descrever o agitou e, de alguma forma, o fez lembrar de seu irmão. Ele não gostava do desconhecido.

Ele escureceu as sombras ao redor de si enquanto ela se virou, passando seu olhar além dele, mas ele tinha visto os olhos dela. A visão quase lhe tirou a respiração. Ela tinha os olhos de esmeralda envoltos em inocência, mas ele também podia ver a travessura e o poder escondidos lá.

Kyou apertou o punho tão forte que pôde sentir gotas de sangue se formando onde suas unhas afiadas haviam perfurado sua carne. Por que havia tal inocência aqui, em um lugar como este? Isso deveria ser proibido. Ele sentiu um rosnado surgir profundamente em seu peito e tentou suprimi-lo.

Kyou apertou o punho tão forte que pôde sentir gotas de sangue se formando onde suas unhas afiadas haviam perfurado sua carne. Por que havia tal inocência aqui, em um lugar como este? Isso deveria ser proibido. Ele sentiu um rosnado surgir profundamente em seu peito e tentou suprimi-lo.

Se seu palpite estava correto e Hyakuhei aparecesse, então as coisas poderiam ficar muito perigosas, muito rápido. Será que era ela quem guardava o Cristal do Coração Guardião dentro de si? As palavras de seu irmão voltaram a persegui-lo pela segunda vez.

- Irmão, se acharmos a pedra, podemos ficar livres de Hyakuhei.

Bloqueando os outros sons da boate, Kyou dirigiu todos os seus sentidos para ela, para que ele pudesse saber mais e se preparar. Seus olhos dourados assombrados quase brilhavam enquanto mergulhava nos pensamentos do grupo sentado à mesa. Ouvir o pensamento dos mortais era um recurso que ele não usara há muito tempo.

Tasuki se ofereceu para pegar a primeira rodada de bebidas, já que o barman era seu primo. Ele não iria desperdiçar sua única chance de impressionar Kyoko. Ele sabia que ela pensava nele como um amigo, mas queria ser muito mais. Quem dera que ela abrisse os olhos e visse a devoção que ele lhe oferecia! Nunca haveria um homem que pudesse amá-la mais do que ele. Não era possível.

Suki sorriu ao ouvir que ele conhecia o barman e pediu a Tasuki que trouxesse para todos um chá gelado Long Island. Tasuki deu uma piscadinha envergonhada para Kyoko, balançando a cabeça e dizendo que ele voltaria logo. Ele foi buscar as bebidas das meninas o mais rápido possível.

Os olhos de Kyoko se arregalaram quando ela olhou para Suki.

— Chá gelado Long Island? Mas somos...

Suki acenou, como que para calar Kyoko.

— Qual é, Kyoko? Viva um pouco! As provas acabaram e, além disso, já bebemos antes — Suki tentou animar Kyoko, sorrindo e revirando os olhos. Querendo mudar de assunto, acrescentou:

— Tenho que admitir, Kyoko, que com esta roupa e corpão, você não parece menor de idade. - Ela riu alto do olhar assustado no rosto de Kyoko.

Cética, Kyoko olhou para Suki.

— Duas vezes, Suki. Bebi duas vezes e quase não lembro delas, e não preciso me vestir assim para provar que sou de maior. - Kyoko corou com o que conseguiu lembrar do seu último aniversário. Por causa de Suki, ela não lembrava da sua própria festa de aniversário.

Lembrou-se da tigela gigantesca de frutas que Suki tinha entregue com um sorriso tão inocente. Ela conhecia a queda de Kyoko por frutas e se aproveitou disso. Kyoko tinha comido quase a tigela inteira sem perceber que tinha sido mergulhada em álcool.

— Ela vai me encrencar novamente... tenho certeza! — choramingou Kyoko silenciosamente consigo mesma e mentalmente admitiu sua derrota. Os outros sempre brincavam sobre aquela noite, algo sobre Kyoko se esquecendo de como andar ou falar!

Suki riu, dando de ombros.

— Então, esta é a terceira vez - sorriu feliz para Tasuki enquanto ele trazia as bebidas, agarrando uma ansiosamente para si.

Kyoko mordeu os lábios e depois murmurou algo sobre "três erros e você está fora", mas se virou e sorriu para Tasuki de qualquer maneira. Afinal, havia uma coisa chamada pressão dos colegas, e sendo a otária que era, ela cedeu.

— Três chás gelados Long Island como pedido — Tasuki sentou-se entre as meninas e tomou um gole de sua bebida. Ele sentiu que o calor de repente aumentava no ambiente porque a bebida era muito forte. Olhando por cima de Kyoko, ele avistou o primo atrás do bar. O sorriso malicioso no rosto de seu primo o deixou saber que as bebidas eram mais fortes do que o normal.

Tasuki sacudiu a cabeça e olhou para as garotas.

— Às provas finais, que possamos passar em todas com louvor — brindou. Depois, olhando nos olhos de Kyoko acrescentou: — E que nunca percamos contato uns com os outros, não importa o que aconteça.

Kyoko corou e sorriu timidamente enquanto pegava a bebida da mão estendida dele. Apressadamente tomando um gole, os olhos dela se arregalaram quando decidiu que realmente gostava do sabor.

— Se você não pode vencê-los, junte-se a eles — piscou ela para Suki com bom humor.

Ela colocou um canudo na bebida e, nos próximos dez minutos entre risos e gargalhadas, o chá gelado sumiu. A cor floresceu nas bochechas de Kyoko, pois os efeitos do álcool começaram lentamente a fluir em seu corpo.

Tasuki, tendo bebido o seu tão rápido como Kyoko, agora se sentia mais à vontade e um pouco mais ousado quando perguntou às garotas se queriam dançar. Seus olhos escureceram atrativamente quando ele pegou a mão de Kyoko e a levou para a pista de dança com Suki segurando a outra mão de Kyoko.

Ele sabia que esta noite seria a melhor noite de sua vida na faculdade e nunca esqueceria um único momento.

A poucos metros de distância, Kyou observava o jovem chamado Tasuki se aproximar e pegar a mão da menina de olhos verdes e sentiu a necessidade de arrancar os dedos ofensivos do jovem que ousava tocá-la. Os sentimentos inocentes do homem pela menina podiam ser lidos claramente em seus olhos e pensamentos, mas ele ainda não confiava nele.

Kyou já viu esta história muitas vezes observando a vida noturna. Um jovem que dá uma bebida à garota e depois se aproveita da sua ingenuidade. Seus olhos ficaram carmim enquanto observava o menino levar as garotas para a pista de dança. Kyou sentiu a necessidade de levar a menina de cabelo castanho-avermelhado e escondê-la de qualquer pessoa que a prejudicasse ou desejasse possuí-la.

Ele ficou se perguntando sobre sua própria possessividade em relação à menina. Se ela fosse a que guardava o Cristal do Coração Guardião, o que ele deveria fazer? Uma coisa Kyou sabia com certeza: antes que ele deixasse Hyakuhei tê-la, ele a mataria primeiro com suas próprias mãos.

Se a lenda fosse verdadeira e Hyakuhei pusesse as mãos no poder do Cristal do Coração Guardião, não haveria como detê-lo.

*****

Kamui sentou-se invisível, em cima de um dos grandes alto-falantes em frente ao DJ enquanto observava a pista de dança onde Kyoko e Suki estavam dançando com um jovem. Ele ergueu uma sobrancelha quando percebeu quem o homem era. Um sorriso muito secreto inclinou seus lábios vendo o tom de ametista que se apegava ao menino.

Sua atenção se voltou para o outro homem que estava perseguindo a sacerdotisa. Ele já tentou impedir a atração uma vez antes, quando Kyoko ainda estava na fila, mas o guardião mais antigo era sempre muito teimoso. As vibrações que Kyou estava provocando eram pesadas e ligeiramente tingidas.

— Kyou, no que está pensando? — perguntou Kamui a sim mesmo em voz alta sabendo que não podia ser ouvido ou visto. Observando Kyou olhando para Kyoko, ele reconheceu o destino quando o viu. O destino sempre atraiu os guardiões para a sua sacerdotisa, independentemente de qual mundo ou qual vida.

Ele secretamente desejava que pudesse ter arranjado uma situação em que Toya e Kyou se veriam, mas sabia bem que não poderia usar um de seus poderes em Kyou. Ele sentiu arrepios frios subindo em seu braço ao pensar em irritar o perigoso guardião dourado.

Seu olhar examinou a multidão novamente sabendo que Kyou não era o único com quem deveria estar preocupado. Havia outros na boate que não eram humanos, mas ele pôde sentir a verdadeira treva se aproximando a cada minuto. Ele se perguntou se Kyou também conseguia sentir.

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