Canções De Natal Na Velha América - Patrizia Barrera 4 стр.


Este foi o único grande milagre do nascimento de Rudolph: o resto é apenas uma lenda. Evelyn não morre na véspera de Natal de 1938, como dito muitas vezes. Naquela época, ela estava em coma, hospitalizada em um quarto de hospital muito comum, onde, no entanto, seus entes queridos costumavam visitá-la. Ela morre em julho do ano seguinte, entre uma menina chorando e um copywriter que ainda não tinha encontrado a força para terminar sua história. Ele terá sucesso alguns meses depois em tempo recorde em função do aluguel não pago e do perigo de ser despejado.

E Rudolph não foi a súbita "revelação" que operou milagres no terrível diretor de vendas, Sewel Avery. Na verdade, Rudolph com aquele nariz vermelho que lembrava o de um bêbado, foi imediatamente descartado não só uma, mas duas vezes! Temos de compreender isto: o eco do proibicionismo ainda se fazia sentir, e apresentar ao público infantil uma imagem pseudo-alcoólica não parecia conveniente para as lojas Ward, ainda que fossem progressistas. Mas Bob, agora determinado a seguir em frente e receber a abençoada promoção, tirou da manga sua cartada triunfal: pede a ajuda do ilustrador jovem e promissor Denver Gillen, muito talentoso e ambicioso. O jovem fez exatamente o que fazem os grandes atores fazem quando entram completamente no papel: teve uma conversa com a pequena Barbara (verdadeira inspiradora do personagem), e logo percebe que aquele nariz vermelho não era uma pura invenção, mas um detalhe em um certo tipo de cervo que a menina tinha visto há muito tempo no zoológico. Ao passear pelo zoológico, ele logo percebeu que se tratava do caribu, um animal dócil cujo filhote parece frágil e indefeso e que, ao nascer, apresentam um nariz rosa escuro muito particular. Seus desenhos foram capazes de capturar aquela ternura instintiva que, apesar do aspecto não muito feliz, os pequenos sabem como infundir em sua própria espécie; conseguiu trazer leveza a uma história triste, bem adequada para um Natal reflexivo e, com isso, finalmente conseguiu conquistar o terrível Sewel Avery, diretor de vendas Ward.


FOTO 12. Esse é o esboço original da pequena rena em 1939, tal qual apresentado por Denver Gillen. As características do personagem não eram bonitas, mas a fragilidade do desenho, que parecia sair diretamente de um mundo de contos de fadas, conquistou a todos.

Vários nomes foram descartados, entre eles Rollo e Reginaldo. Por fim, a pequena rena ganhou o nome de Rudolph, que evocava uma imagem certamente mais "masculina" que os anteriores. Depois de uma campanha publicitária impressionante, a ideia pegou e, só em dezembro de 1939, vendeu-se mais de dois milhões de cópias, alçando a história da pequena rena ao reino dos clássicos.

O que se seguiu foi uma enxurrada de acessórios de arrepiar os cabelos até mesmo da própria Disney: bonecos, broches, acessórios para crianças, canecas... e até mesmo enfeites de Natal traziam a nova moda da rena de Nariz Vermelho. A América, feliz e contente, foi literalmente invadida e durante 7 anos Rudolph foi o protagonista absoluto das festas sagradas. Não havia nenhum teatro itinerante que não encenasse com seus bonecos Rudolph, e não havia nenhuma mãe que não fizesse o filho dormir ao embalo dessa fábula querida.

Estavam todos felizes então? Não é bem assim. Nosso Bob, depois de um breve momento de glória, não se encontrava melhor do que antes. Ward tinha todos os direitos sobre a história e seu protagonista e, como dizem, sugava tudo enquanto May estava sobrecarregado com contas e mais contas. O jovem também casou-se novamente com uma colega, ex-secretária do mesmo Avery, a doce Virginia Newton com quem teve mais cinco crianças! Em 1946, portanto, Ward tinha vendido seis milhões de cópias livro sozinho, aos quais devem ser adicionados os recursos provenientes da venda de acessórios. Enquanto isso, Bob seguia adiante com seu único salário como empregado. E agora começa a lenda: falam que, por um motivo misterioso em 1947, o temível Sewel Avery, evidentemente tocado por graça divina, cede 100% dos direitos ao seu criador, Bob May, que em apenas dois anos se torna multimilionário e, com isso, consegue viver de rendimento pelo resto da vida. A maioria não sabe explicar este súbito arrependimento as lojas Ward que, ao que parece, mudou de ideia e renunciou à renda bilionária que tinha aumentado seu poder na bolsa de valores. Não se falou disso durante anos, até que, pouco antes do fracasso da grande cadeia em 2001, veio à tona os detalhes.

Vocês devem saber que em 1944 a fábula de Rudolph, a rena do nariz vermelho, apareceu em um curta-metragem de desenho animado feito pelo pioneiro da animação Max Fleisher, em nome da Jam Handy Corporation. Se tratava de dois gigantes da indústria cinematográfica em ascensão: Fleisher, inventor da primeira técnica de animação que daria vida ao império dos desenhos animados, propondo personagens míticos como Betty Boop e Popeye. Foi amplamente conhecido como o pioneiro de uma técnica de animação claramente mais sofisticada e moderna do que a da Disney, rival acirrado. A Jam Handy Corporation, propriedade de Henry Jamison Handy, era um gigante em ascensão no campo da comunicação social. Muito próxima do exército dos Estados Unidos por ter produzido vários filmes promocionais e didáticos, também desfrutava do apoio político e econômico de clientes ilustres como a General Motors e o famoso Bray Studios, além de ter um contato íntimo com a Paramount. Farejando o negócio e conhecendo as condições de vida precárias de Bob May, Fleisher entrou em contato com o artista, oferecendo-lhe apoio concreto na possibilidade de processar as lojas Ward, que por anos não reconheceu qualquer percentual sobre o direito autoral de Bob, e enriqueceu de maneira exponencial nas suas costas. Bob concordou e rapidamente agendou uma reunião privada com Sewel Avery, na qual ameaçou fazer um belo escândalo na convocação em tribunal, o que teria um impacto direto na cotação da Montgomery Ward na Bolsa de Valores. Foi assim que May obteve 100% dos direitos de Rudolph, mesmo que a sua condição de empregado da grande cadeia tornasse duvidoso a atribuição na sua totalidade. É evidente que este não era um presente de Natal, mas uma manobra para poder produzir um novo filme de animação, que faria muito sucesso e traria muito dinheiro ao bolso de todos os protagonistas. Produziram então um filme de 8 minutos muito bem feito que, em 1947, deixou milhões de americanos em êxtase. Em seguida, várias alterações foram feitas, transformando gradualmente a imagem e fábula de Rudolph, privando-a da sua originalidade e nivelando-a ao popular estilo Disney. Ainda digno de nota foi o livro infantil de 1951 com desenhos de Richard Scarry, republicado depois pela Golden Books em 1958 em uma edição revisada e corrigida, e até um pouco sentimental.


FOTO 13. Esse é o lindo desenho de Scarry de 1951, que se manteve inalterado até 1958. Após essa data, o estilo foi infelizmente se modificando de forma gradativa.

A alteração do personagem ficou evidente no especial de 1964, em que Rudolph se transforma em um cachorro alienado que foge de casa, e onde aparecem outros personagens de apoio, também excluídos como ele. A nova história perdeu completamente aquela luz de amor e esperança que é tão central na figura da pequena rena, e é agora aclamada como um clássico... infelizmente, esse é um reflexo dos novos tempos.

Me calo a respeito dos remakes subsequentes, que culminam em um filme horrível de 1998, que se demora no retrato do assédio sofrido pelo pequeno Rudolph em uma atmosfera de gosto vagamente sádico. Me sinto até mal em falar sobre o filme Rudolph, a rena do nariz vermelho - Na ilha dos brinquedos roubados de 2001, em que a magia de fato desaparece. A consagração definitiva de Rudolph, com isso, se deu em 1949, se tornando assunto familiar. Entre livros, acessórios e filmes, faltava uma última coisa: uma canção simbólica que lhe garantiria para sempre o seu lugar no Olimpo. A proeza foi da Columbia, que, talvez para dar um impulso extra para a campanha de publicidade, confiou a tarefa de extrair da fábula uma canção ao próprio cunhado de Bob May: o talentoso Johnny Marks.

Até aquele momento, Marks era apenas uma bela promessa. Embora tivesse contato com a rádio e tivesse os características de um bom compositor, ele não havia escrito nada de excepcional até então; todavia, Rudolph expõe a alma de verdadeiro artista que havia dentro dele. Ele compõe em dois meses uma canção agradável de texto leve, que em poucos minutos torna perfeita a atmosfera da fábula de Natal.

Vejam o texto:

Rudolph, the red-nosed reindeer

had a very shiny nose.

And if you ever saw him,

you would even say it glows.

All of the other reindeer

used to laugh and call him names.

They never let poor Rudolph

join in any reindeer games.

Then one foggy Christmas Eve

Santa came to say:

Rudolph with your nose so bright,

wont you guide my sleigh tonight?

Then all the reindeer loved him

as they shouted out with glee,

Rudolph the red-nosed reindeer,

youll go down in history.

Rudolph, a rena do nariz vermelho.

Rudolph, a rena do nariz vermelho

tinha um nariz muito brilhante.

X E se algum dia o visse,

ainda diria que era cintilante!

Todas as outras renas

zombavam dele e faziam uma quebradeira.

Nunca deixavam o pobre Rudolph

participar de nenhuma brincadeira

Então, uma noite de Natal cheia de neblina

Papai Noel disse:

"Rudolph, com seu nariz tão luminoso,

gostaria de conduzir meu trenó esta noite?

Então

todas as renas o acolheram

e gritaram cheios de glória:

"Rudolph, a rena do nariz vermelho

ficará para sempre na história!

Muito bem escrito! Agora precisava apenas encontrar alguém, uma verdadeira estrela da música, que a tornasse sua e conseguisse transmitir sua beleza para cair nas graças do público. Columbia imediatamente contatou o ícone de músicas natalinas da vez, o rei do chororô, o onipresente Bing Crosby, mas ele torce o nariz e recusa. Depois do grande sucesso do White Christmas que o colocou no universo das estrelas, ele tinha medo de arruinar sua reputação interpretando uma fábula infantil. Ninguém ficou surpreso com a rejeição: o querido "Bing" não se destacava por suas qualidades intuitivas.

No entanto, no caso de Rudolph, Crosby foi inflexível e, com isso, a gravadora passa para o plano B. A escolha recai sobre outra das estrelas do momento, um cantor-ator que jovens e adultos gostavam e que encarnava perfeitamente a imagem do Bom Americano: estou obviamente falando de Gene Autry. O ator havia se estabelecido graças a alguns filmes de faroeste de alcance nacional popular, em que ele aparecia como um cowboy bonito e sempre bem penteado, com a intenção de lutar contra os bandidos, flertar com belas donzelas e cantar canções country ao lado da fogueira. Durante anos apareceu em um especial de rádio da CBS em que, direto de seu rancho, dava "lições" para jovens ouvintes que queriam imitá-lo. O programa continuou por cerca de 16 anos com um índice de aprovação muito alto. Além disso, foi um herói da Segunda Guerra Mundial e campeão de rodeio. Em resumo, todos os americanos queriam ser como ele, e todas as mulheres sonharam com um homem como ele. Mas Autry torceu o nariz para o caso Rudolph por outra razão, muito mais compreensível: apenas alguns anos antes ele havia interpretado uma canção sobre o Natal, Here Comes Santa Claus, que não foi muito bem sucedida, e foi tema de críticas impiedosas. No entanto, o ator confiava muito em sua esposa Ina, que tinha um gosto musical afiado. Ela tanto disse e tanto fez, que eventualmente convenceu Autry. O single Rudolph, a rena do nariz vermelho foi lançado em 1949 e foi o maior sucesso de sua vida. A canção, doce sem ser triste, vendeu em um único mês dois milhões de cópias, 230 milhões até hoje, ficando em segundo lugar entre as maiores canções de todos os tempos imediatamente após... White Christmas.

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