- Senhor, a lenha! ao mesmo tempo em que apontava para a lenha caída.
José a recolheu e colocando-a no alto do cavalo disse ao velho:
- Indique o caminho e irei levá-lo em casa!
Ele indicou e quando chegaram viu que tinha uma oficina que um dia foi importante por causa do seu tamanho, mas que agora parecia completamente arruinada. Tudo estava por cair!
E saiu uma mulher que mal ficava em pé e que se assustou muito e perguntou o que havia acontecido. E o velho contou tudo enquanto José não dizia nada.
Quando a mulher se acalmou um pouco, José pegou o velho em seus braços e ajudado pelo cajado que ele tinha, entrou na casa. Na verdade, ele nunca esteve em uma casa tão grande e tão miserável ao mesmo tempo. Ele perguntou para a mulher:
- Onde fica o lugar onde ele descansa? pois não se atreveu a dizer cama já que não sabia se havia alguma.
Ela respondeu que eles dormiam no chão, em umas esteiras e algumas peles que havia ali.
Quando deixou o velho em cima das esteiras, fez intenção de ir embora, mas o velho disse:
- Já que você tem bom coração e é bondoso, faça a caridade completa. Pegue água no poço já que minha mulher não tem força para subir o balde e era eu quem fazia isso e agora não posso.
José fez o que lhe pediam e tirou a água do poço. Ele tirou um balde e como o poço era profundo, estava pesado. E segurando o balde, ele disse a mulher:
- Diga-me, onde coloco a água? Na verdade, ele não me explicou. Como seu marido consegue tirá-la pois é extremamente pesado.
- Muito mais pesam os anos que temos e a ingratidão das pessoas e inclusive a sua, embora sem saber. Pois desde que entrou aqui, só pensou em ir embora e não em curar a ferida que seus amigos causaram -respondeu a mulher.
- Mulher, você lê meus pensamentos e eu peço perdão por isso. Mas como ainda há tempo de reparar o que não fiz, deixe-me fazê-lo respondeu José envergonhado, pois ela dizia a verdade.
E dizendo isso, ajoelhou-se ao lado do velho, descobriu sua perna e olhou para ela. Ele pensou que não havia remédio, pois, a perna estava esmagada e por ser ossos velhos, estavam destruídos. José voltou a se dirigir a mulher, dizendo:
- Não sei nada sobre como curar isso. Diga-me você o que tenho de fazer e tentarei fazê-lo da melhor maneira possível!
E a velha disse que fosse ao bosque, procurasse algumas ervas; depois pegasse alguns galhos, limpasse uma árvore e mais algumas coisas.
O menino apressado foi para o bosque, fez o que lhe haviam dito e voltou carregado com tudo. Ele estranhou não ver o velho deitado e meio que morrendo. Ele estava muito melhor e com a perna que não parecia a mesma, pois quase não tinha nenhum machucado. E o que havia parecia ser superficial. E dirigindo-se à mulher, ele perguntou surpreso:
- O que você deu para ele que realizou tal maravilha, pois a perna que eu vi estava em tal estado que quase não tinha remédio e agora vejo que amanhã ele poderá caminhar e isso só pode ser obra do céu.
- Preste atenção no que estou dizendo, sua bondade, seu bom coração e sua generosidade são o melhor remédio que eu poderia ter. Deixe tudo naquele lugar e siga-me! disse o ancião.
Ele se levantou sem nenhum esforço e José não saia do seu espanto. E o velho disse:
- Venha que vou te mostrar uma carpintaria e você verá como se pode fazer maravilhas com ela.
Ele foi mostrando todos os instrumentos, que embora velhos, os conservava em bom estado. Ele mostrou algumas peças que ainda conservava como amostras para demostrar o que sabia fazer. Ele disse:
- Se você quiser, com um pouco de esforço, em pouco mais de um ano você poderá conseguir maravilhas, pois tudo depende da força de vontade que cada um coloca e o empenho em consegui-lo. E assim, aquele que se entrega por completo a uma obra consegue totalmente, produz cem por cento e não se cansa nada além do que é justo. Mas aquele que se entrega pela metade não consegue nada e a única coisa que faz é perder tempo. Se você quiser, eu lhe ensino a arte da madeira, que como todas as artes, não depende apenas da força de cada um, mas daquilo que se aprende com paciência e ouvindo os bons conselhos.
José estava impressionado com tudo que estava acontecendo e disse:
- Meu senhor pois o respeito havia lhe chegado de repente sou uma pessoa inútil, pois nasci como príncipe da casa de Davi, e ele não deixou muito dinheiro de herança, mas honras e além de saber que um dos seus descendentes seria o MESSIAS. Mas também nos deixou sem saber fazer nada e ficar o dia inteiro ocioso - e o próprio José estava surpreso com as palavras que saiam da sua boca, pois nunca havia pensado assim e continuou: - Se você quiser vamos fazer uma coisa. Venho todos os dias e você me ensina sem dizer nada a ninguém, pois se ficarem sabendo dão por encerrado o que pretendemos.
- Se quer aprender e você parece bem disposto, poderia ficar com tudo isso já que nós só queremos um lugar como este onde descansar e eu poderia instruí-lo em tudo que você precisa saber para ser um carpinteiro de primeira classe - disse o velho.
O menino considerou isso adequado, mas disse:
- Deixe-me pensar!
- Daqui a uma semana vou esperar por você. Se você não vier, entendo que não quer e vou procurar outro menino que pareça melhor disse o velho.
- Não, vou responder em dois dias! José o corrigiu.
Quando se dirigia para a porta encontrou a mulher e olhando em seus olhos descobriu uma bondade tão grande que encheu seu coração de alegria e ele disse:
- Já vi estes olhos antes, mas não me lembro onde! ele se despediu.
- Olha o velho disse antes dele ir embora - para que não se esqueça, vou te dar algo que pode ser útil para você ele deu seu cajado e continuou É de uma madeira muito especial e eu entendo disso, pois trabalhei com madeira durante toda minha vida e tem a virtude de dar força quando falham, de apoiar quando alguém cai e de ajudar a se levantar quando se está caído no chão. Além disso o defende, dá segurança e protege de todo mal que possa vir de fora e dá justiça àquele que quer desonrá-lo e você verá por si mesmo que tem muito mais propriedades que lhe serão reveladas quando levá-lo na mão e tiver um carinho especial por ele como eu tenho, mas eu o deixo com você até que você retorne pois como não posso caminhar por estar machucado, não tem nenhuma utilidade para mim agora. Mas se você voltar, eu o darei a você como um presente para sempre e você vai descobrir que, através dele, chegará aonde não conseguiria sem ele e assim o velho se despediu.
A velha estava na porta e quando ia embora, ela disse:
- Deixe-me segurar sua mão! e ao fazê-lo, o menino sentiu o mesmo calor de quando aquela jovenzinha havia segurado sua mão e pensou ter reconhecido seus olhos na mesma velha que tinha diante dele.
Quando chegou em casa seus amigos estavam esperando por ele e quando o viram chegar com um feixe de lenha em cima do cavalo, suas mandíbulas quebraram de tanto rir. É que José não se deu conta de descarregar a lenha que havia recolhido do velho e disse aos seus amigos:
- Deixem-me em paz que já causaram danos só por rir.
E neste momento saiu o pai de José que ouviu o comentário e perguntou o que estava acontecendo. Os meninos explicaram que no caminho haviam atropelado um ancião carregado de lenha e que José ficou para ajudá-lo e agora vinha com lenha em cima do cavalo.
O pai questionou o filho e ele respondeu dizendo que seus amigos haviam contado somente meias-verdades e que por causa da sua zombaria o ancião havia sido atropelado. E que ele o levou até a casa que o velho tinha, não distante do lugar onde ocorreu o incidente e que havia ajudado a curar seus ferimentos. E quando começava a contar sobre as maravilhas que acabara de presenciar, a prudência o fez calar e ele ignorou o resto e disse:
O pai questionou o filho e ele respondeu dizendo que seus amigos haviam contado somente meias-verdades e que por causa da sua zombaria o ancião havia sido atropelado. E que ele o levou até a casa que o velho tinha, não distante do lugar onde ocorreu o incidente e que havia ajudado a curar seus ferimentos. E quando começava a contar sobre as maravilhas que acabara de presenciar, a prudência o fez calar e ele ignorou o resto e disse:
- Veja o que ele me deu de presente. Ele o considera como um bom amigo e mostrou o cajado ao seu pai.
Ele o pegou, examinou e viu que era muito especial e disse:
- Creio que conheço este cajado pois se parece com um que vi há muitos anos. Era de um homem que também encontrei no caminho e se me lembro corretamente me disse algo sobre uma carpintaria. Eu era um menino naquela época, mas me lembro do cajado pois eu o peguei para entregá-lo e assim pude ver que era igual a este. Ele tinha gravado os nomes dos nossos antepassados e isso me surpreendeu muito. Veja José, aqui tem vários gravados que vão até Davi e depois vários que chegam a um que diz O MESSIAS e depois tem vários outros e no final coloca uma linha e nada mais. E isso é muito estranho, pois as pessoas que descendem de Davi e que estão gravadas até aqui onde diz MESSIAS, são todas da mesma linhagem que foi esculpida no cajado.
O pai mostrou ao seu filho e os outros também conseguiram ver. O pai continuou dizendo:
- Aqui diz como cada um morre e aqui diz quantos anos tinham. E onde diz MESSIAS, tem a palavra crucificado e, por último, ao lado da palavra MESSIAS tem uma seta apontando na direção oposta e isso não compreendo e ele continuou mas são os sacerdotes do tempo que saberão ler isso, pois isso - e apontou para o cajado é a maneira como as informações eram transmitidas dos pais aos seus filhos. E o maior tesouro que era transmitido era um cajado que tivesse gravado todos seus antepassados e aqueles que eram da casa real tinham um cajado especial, de uma madeira que segundo diziam tinha grandes poderes para aquele que o tivesse.
E enquanto José ouvia seu pai, lembrava de tudo que que o velho tinha dito sobre o cajado sendo especial. E todos compreenderam que o cajado tinha um grande valor e exclamaram:
- Que sorte! e foram embora invejando a sorte que seu companheiro teve.
José ficou a tarde inteira meditando e no dia seguinte apresentou-se no templo procurando um sacerdote entre aqueles que ensinavam a doutrina deixada por Abraão. E que, como seus irmãos, os mulçumanos das areias, receberam a responsabilidade de instruir a todos que passassem pelas suas cidades.
Para este fim, nasceu em Israel uma casta especial de sacerdotes que se dedicavam a ensinar e responder a todos aqueles que queriam saber. José foi até um deles e apresentou-se. Pegando o cajado, o sacerdote o estudou como não conhecia bem todos os símbolos, chamou alguém que era considerado o sacerdote entre os sacerdotes. E o mesmo aconteceu com ele, pois disse:
- É um cajado especial e deve ser muito valioso por causa da maneira como foi esculpido. Sua madeira deve ter mais de dez mil anos e, no entanto, parece nova e sem nenhum arranhão. Ele disse a José: Deixe-o no Templo para que possamos estudá-lo e assim aprender com ele.
- Não é meu. Foi deixado comigo e em alguns dias tenho de devolvê-lo respondeu José.
- É um homem velho? perguntou o sacerdote.
Surpreso, José respondeu que sim e o sacerdote disse:
- Dizem que uma vez na vida de cada um dos descendentes diretos de Davi aparece um velho com alguns símbolos especiais. Lembro que algo semelhante foi dito ao seu pai, assim como ao pai dele antes dele, mas ninguém sabe o que o velho quer nem de onde vem. Mas é singular que ele apareça para todos os descendentes e que ninguém mais tenha mencionado algo assim e então disse a José: - Ouça um conselho. Pergunte ao velho qual é o significado do cajado e certifique-se de que ele lhe dê uma resposta. Depois venha e nos conte o que ele disse e permitiu que José fosse embora.
José, cada vez mais atônito, foi embora. E quando chegou em casa contou ao seu pai o que lhe disseram. Seu pai disse:
- Na verdade, eu me lembro que em determinada ocasião meu pai me contou algo assim. José, tenha cuidado pois ninguém sabe quem ele é ou se é humano pois ninguém poderia viver por tantos anos. Você precisa desconfiar. Vá até ele e com prudência, questione. E você, que por natureza é prudente e reservado, use estas habilidades pois ouvindo se aprende mais do que falando e foi isso que seu pai disse. E ele não havia comentado com ninguém sobre a velha.
No dia seguinte, José levantou muito cedo e pegando o cajado foi ver os velhos. Com todas as confusões que aconteceram, não havia perguntado ao seu pai se ele permitiria que ele aprendesse o ofício de carpinteiro.
Quando chegou na casa, viu que o velho estava tirando água do poço e José disse para si mesmo: - É realmente surpreendente como ele se curou. Embora não compreenda muito bem, seu ferimento era tão significativo que se tivesse acontecido com qualquer outra pessoa, ela não poderia fazer mais nada pelo resto da sua vida.
E pensando nisso, aproximou-se de onde o velho estava e disse:
- Bom dia, meu senhor!
- Bom dia e louvores sejam dados ao ALTÍSSIMO, pois todos os dias ELE nos dá o céu, a terra, o sol e tudo que pode ser visto por aqui ele respondeu.
José considerou isso adequado, mas não respondeu. Naquele momento a velha saiu e olhou para ele. Ele sentiu em seu olhar um calor igual àquele que havia sentido quando segurou sua mão. Ele ficou atordoado, mas disse:
- Bom dia!
- Louvado seja! Mas me diga seu nome que ainda não sei e também se você comeu esta manhã pois como acordou muito cedo provavelmente não o fez respondeu à velha.
- Não, eu realmente não me lembrei de comer respondeu o menino e depois disse seu nome. E ela olhando atentamente sorriu para ele.
José foi convidado a entrar na casa e quando o fez ,viu que o interior havia mudado. Havia uma mesa e algumas banquetas. Ele não tinha visto nada disso antes e também havia um fogo onde fazer bolos. Os bolos já estavam prontos e havia mel e leite. Ele não se lembrava de ter visto nenhuma cabra ou ovelha. Ele observou tudo, mas não disse nada e aguardou. O velho aproximou-se com o balde e quando o viu, ficou corado de vergonha e disse:
- Meu senhor, perdoe-me! Ao obedecer a sua mulher me esqueci de ajudá-lo.
Mas o velho, que carregava o balde cheio de água com uma mão como se fosse algo leve, respondeu:
- Não se preocupe. Quando se é jovem e alguém fala sobre comer, você se esquece de tudo. Mas antes que você coma, vou lhe dizer algo e se você concordar, poderá fazê-lo. Tudo que se come nesta casa não é comida deste momento e faltará em outro quando chegar a hora e será você quem sentirá sua falta pois já deve ter percebido que o fato do meu nome ser igual ao seu não é uma coincidência. Nós somos o homem e a mulher que um dia serão marido e algo parecido. Somos você no futuro e estamos aqui porque se não o corrigimos vamos perdê-lo e não poderá realizar uma missão para a qual foi convocado.
- Meu senhor, diga-me primeiro e depois determinarei se posso comer ou não - disse José.
- Meu nome é José e sou carpinteiro em uma cidade que se chamará Nazaré. Lá tenho isso que você vê agora - disse o velho enquanto mostrava a carpintaria.
José olhou ao redor e viu que tudo havia mudado e disse assombrado:
- Ontem parecia tudo velho e hoje tudo está em bom estado!