Sem querer coloquei as mãos sobre a sua pele nua e ainda molhada. Era terrivelmente excitante sentir a sua pele macia e fresca.
Entretanto o seu olhar tornou-se ainda mais intenso, mas continuou impenetrável.
Queria perguntar-lhe o que estava a acontecer, mas não saiu nenhuma palavra da minha boca.
Dei-me conta de não ter nenhum autocontrolo.
Parecia que era vítima de uma força que agia sobre mim e sobre a minha mente.
Por uma fração de segundos os nossos lábios se tocaram, pegando-me fogo nas veias.
Fiz escorregar delicadamente as mãos pelo seu dorso até o seu peito, quando de repente tocou o telemóvel.
Foi como um banho de água gelada, que nos fez voltar bruscamente à realidade.
Afastamo-nos num átimo como se o contato com o outro nos tivesse escaldado.
Tinha o coração aos saltos e notei que o Blake estava ligeiramente abalado.
Pegou com demasiada força o telemóvel, enquanto lia o nome sobre o ecrã, de forma a que eu não me conseguisse aperceber.
«Marley, és tu? Finalmente! Onde estás?» responde aliviado, dirigindo-se à casa de banho.
Não consegui ouvir o resto da conversa, mas sabia que aquele homem era quem o Blake queria consultar para saber que riscos corria ao me transformar em vampira ou outra coisa qualquer.
Estava absolutamente decidida a descobrir como magoá-lo. Abatida, voltei ao quarto. A minha vida previa-se muito breve.
Mal cheguei às escadas para subir ao sótão, vi Blake vestido de negro sair a toda a velocidade do banho, pegar no impermeável e ir-se embora.
«Quando voltar, quero que estejas aqui» ordenou-me com um ar severo, antes de fechar a porta atrás de si.
A minha esperança de poder escapar desapareceu imediatamente, mal ouvi a chave girar na fechadura. Resignei-me a estar ali, a esperá-lo.
De certeza foi encontrar-se com o Marley nalgum lado.
Acendi a televisão e joguei-me no sofá, mas não tinha nenhuma vontade de ver televisão, assim depois de nem sequer meia hora, desliguei-a e fui para o quarto.
Estava preocupada com o que Blake descobriria naquele encontro, mas não queria pensar nisso.
Revistei no meio das suas coisas, mas não encontrei nada de interessante. Por fim, joguei-me na cama macia e deixei os pensamentos divagarem livres na mente, tentando esquecer onde estava.
Estava a relaxar-me, quando ouvi abrir a porta.
Seria que Blake já tinha voltado?
Debrucei-me sobre o corrimão e surge Will.
Estava sozinho e da agitação que mostrava parecia estar à procura de alguma coisa.
«Onde estás?» Sei que estás aqui.... Sinto o teu odor! Sai ou encontro-te eu!» gritou esfomeado.
Senti o sangue gelar-me nas veias.
Estava à minha procura.
Estava condenada.
O Blake não estava e de certeza que desta vez conseguiria saltar-me em cima e matar-me.
Estava a morrer de medo.
Apertei-me contra a cama na esperança que não me visse.
Da minha posição podia ver que o vampiro, cada vez mais impaciente, continuava a procurar-me por toda a casa, da cozinha à casa de banho.
Não demoraria muito a subir as escadas e a encontrar-me.
De facto, pouco tempo depois, ouvi-o subir as escadas dando risadas.
«Aqui estás!» disse, aproximando-se rapidamente com um olhar pouco tranquilizador.
Podia ver nos seus olhos a fome que tinha e o desejo de encontrar-me que lhe incendiava o corpo.
Não consegui dizer uma palavra. Estava paralisada.
Mais alguns passos e...
«Will, pára!».
Ouvi a voz sonante de Blake. Não conseguia vê-lo, porque tinha medo de desviar o olhar do Will, mas podia sentir a sua força.
Entretanto Will atirou-se sobre a cama e eu evitei-o por pouco, mas logo a seguir conseguiu segurar-me pela camisola e arrastar-me para debaixo dele.
Vi o seu rosto deformado pela ânsia e os dentes caninos que se alongavam, enquanto se aproximava cada vez mais de mim.
Gritei aterrorizada.
Já estava prestes a morder-me, quando Blake alcançou-nos no piso superior e bateu-lhe violentamente atirando-o para fora da cama, para longe de mim.
Recomeçaram a lutar de forma violenta.
Pareciam dois animais enlouquecidos, até que Blake empurrou o Will do corrimão abaixo, fazendo-o cair no piso inferior.
Debrucei-me para ver o seu cadáver esmagado lá em baixo, mas pelo contrário, vi Will levantar-se como se não fosse nada. Tinha uma força sobrenatural.
Ao meu lado, Blake atirou-se para baixo, onde recomeçou a bater-lhe ferozmente.
Só mais tarde notei a chegada de Peter, que com um salto felino lançou-se sobre as costas de Will.
«Blake, agarra a prata!».
Mesmo a tempo, Blake libertou-se de Will e correu para o sofá, levantou uma almofada branca e pegou numa grande moeda de prata.
Entretanto, desci ao piso inferior, tentando desviar-me da luta iminente. Estava terrivelmente preocupada que o Will pudesse fazer mal ao Blake.
Novamente, teria sido por minha culpa...
Entretanto Blake aproximou-se do vampiro e premiu-lhe a moeda na testa, fazendo-o gritar de dor. Após alguns segundos, vi o Will desmaiado por terra.
«Por algumas horas não nos dará mais problemas» murmurou Peter exausto.
«Obrigado, Peter. Se não me tivesses avisado, nunca chegaria a tempo».
«De nada. Não era preciso muito para perceber onde tinha intenções de ir, quando me chamou para dizer-me que não podia ir ao encontro com o Marley. Ao invés, tu surpreendeste-me! Pensava que o Will mentia quando me disse que o contato com a prata não tinha efeito sobre ti» exclamou o vampiro maravilhado.
«Pois».
«Compreendes que isto te torna único no nosso género e... Invencível!» admirou-o Peter.
«Não exageres... O que vamos fazer com ele?» Blake mudou de discurso, indicando o corpo desmaiado de Blake.
Estava por intervir e agradecer-lhes a ajuda, quando senti um frio terrível nas costas.
Voltei-me e percebi que estava mesmo em frente à porta de entrada escancarada.
Bastou-me apenas três passos e atravessei a porta. Dei por mim na estrada debaixo do céu coberto de nuvens.
Parecia que ia nevar.
Voltei a virar-me para os três vampiros em casa.
O Blake e o Peter estavam demasiado ocupados a mudar o Will de lugar para aperceberem-se de mim.
Aquela era a minha oportunidade. Tinha que fugir e procurar a minha tia.
Comecei a correr. Primeiro lentamente, pouco confiante, mas depois acelerei o passo.
Voltei-me. Ninguém me seguia.
Continuei a correr sem parar, até estar bem longe, numa estrada no centro de Dublin.
Fazia muito frio e muitas pessoas olhavam-me espantadas por eu usar apenas uma camisola.
Comecei a vaguear pela cidade sem destino. Não sabia o que fazer, nem quem podia contatar, uma vez que não tinha nenhum endereço, à exceção daquele da minha casa, agora abandonada.
Como poderia contatar alguém e fazê-los saber que estava livre e que podiam vir-me buscar?
Nem sabia onde ficava o Hotel Jolly e a cidade era enorme.
Por fim, tive uma ideia.
Dirigi-me a uma igreja qualquer.
De certeza que todos os padres conheciam o cardeal Siringer, pensei confiante.
Entrei na primeira igreja que encontrei.
Uma vez lá dentro, vi apenas uma velhota que acendia algumas velas.
«Desculpe-me, podia dizer-me onde posso encontrar o pároco da igreja» perguntei gentilmente à senhora.
«Está doente. Lamento. Se quiser falar com ele terá que esperar pela próxima semana» respondeu-me com cortesia.
Agradeci-lhe e saí da igreja desiludida.
Caminhei durante muito tempo pelas ruas.