O que ia fazer agora? Ele vagou sem rumo pelo Texas, depois pelo Novo México. Ele não tinha certeza do porquê. Cada lugar o lembrava do olhar frio nos olhos de Naomi quando ele fora embora.
Quando se viu voando em direção a Nevada, a voz de Gabrielle sussurrou no fundo de sua mente, o alertando. Então, ele partiu para o lugar que mais se sentia em casa: Kauai.
Uma brisa soprou e o cheiro de comida flutuou no ar, fazendo seu estômago roncar. Ele prometeu permanecer em sua forma humana enquanto estivesse na ilha. Ele queria ser anjo o mínimo possível, mas isso também significava que tinha que se alimentar constantemente.
Seu coração tremeu ao se lembrar das bochechas gordinhas de Sammy sorrindo enquanto lambia os dedos ao comer seus tacos especiais de uma carne misteriosa.
Agora tudo sumiu. Talvez ele devesse ficar do outro lado da ilha, não sabia por que queria ficar ali.
Ele soltou um suspiro frustrado enquanto passava a mão pelos cabelos soprados pelo vento.
Claro que ele sabia o porquê. Ele queria checar Sammy e Leilani. Ele queria ter certeza de que estavam bem.
Foi estúpido, pensar que a cabana ainda estaria ali. Claro que não. Quem poderia assumir o lugar depois da morte de Lani e Samuel? Sammy e Leilani eram apenas crianças.
Seu estômago roncou novamente.
Tudo bem, tudo bem. Hora do jantar. Ele deu um tapinha no estômago enquanto se dirigia ao restaurante.
Quando se aproximou da entrada, ele riu da enorme placa na parede ao lado das portas duplas.
Ao lado das palavras Restaurante da Candy havia uma caricatura de Candy Hu em um traje de hula. Um balão de texto saindo de sua boca dizendo: "Você vai amar a nossa comida!"
Ele esperava que Leilani não soubesse nada sobre esse lugar. Talvez eles tivessem sorte e sua tia os tivesse levado para morar em outro lugar, a mataria ver isso.
Aloha! Bem-vindo ao Candy! Disse uma recepcionista vestindo uma blusa e um sarongue enquanto corria em sua direção. Você pode esperar o resto da sua turma no bar.
Sou só eu.
Oh, sério? Ela tocou a corda do seu biquíni.
Sim.
Bem, só me seguir, então. Ela piscou antes de se virar, indo para o restaurante. Vou levá-lo para a melhor mesa da casa. Fica bem na frente do palco. Temos um show de hula hoje à noite. Você vai adorar ela disse, enquanto se dirigiam para a varanda.
Espera. Se você não se importa, eu gostaria de algo mais particular. Talvez uma mesa atrás?
Ela adorou isso, agitando os cílios. Claro.
Droga. Ela provavelmente pensou que ele queria ficar a sós com ela.
Levou algumas manobras e fingir estar absorvido pelo menu antes que a garota finalmente entendesse a dica e o deixasse em paz. Felizmente, o garçom foi eficiente e trouxe sua refeição rapidamente.
Ele mordeu o hambúrguer. Era bom, mas não tão bom quanto os hambúrgueres que a mãe de Sammy fazia.
Seus olhos examinaram a multidão. O lugar estava cheio de famílias, principalmente turistas. Todos estavam sorrindo e se divertindo. Ele era o único sentado sozinho. Por alguma razão, isso o incomodou.
Ele deu outra mordida na comida. Bem, ele tinha que se acostumar a ficar sozinho agora. Não havia como ele voltar para casa.
Ele ouviu uma risada aguda e familiar e quase se engasgou.
Candy está aqui?
Ele se levantou e viu Candy Hu conversando com um grupo de rapazes perto do palco. Claro que ela estava lá, o restaurante tinha o nome dela. Ele observou a parte de cima do biquíni justo que mal a cobria.
Bem, ela certamente cresceu.
Seu coração bateu mais rápido. Se Candy estava aqui, talvez, apenas talvez
Afastando-se de sua mesa, ele examinou a área com cuidado, desta vez procurando pelos familiares cabelos espetados e olhos castanhos.
Música saia pelos alto-falantes perto de sua mesa. Candy gritou, correndo para o palco. A música mudou e uma voz cantou. Candy dançou pelo palco, seguida por um grupo de garotas. As meninas estavam vestidas da mesma forma, vestindo um sarongue vermelho e uma flor branca escondida atrás da orelha direita. O movimento dos braços e o balanço dos quadris eram encantadores.
Leilani deveria estar lá em cima. Ela deveria estar no centro do palco.
Sim, gata! Um dos caras na mesa gritou.
Pensando melhor
Jeremy franziu a testa enquanto olhava para a mesa de rapazes que Candy estava flertando. Ele se sentiu mal pelas meninas. Os idiotas cheios de testosterona não apreciavam a beleza de sua dança. A música, a luz, o movimento era angelical.
Ele engoliu em seco, empurrando o nó na garganta. Elas eram como anjos, seus braços como asas. Elas eram tão graciosas, do jeito que seus braços se erguiam e caíam como se dançassem no ar, especialmente no final.
Eu a conheço! Ele deu um passo à frente, mantendo os olhos na jovem.
Não poderia ser ela.
Poderia?
Ele ficou congelado ao lado de um par de tochas flamejantes enquanto a voz cantava sobre o amor de Kalua. O torso esbelto da jovem balançava enquanto braços delicados acenavam, imitando as ondas do oceano. Cabelos grossos e escuros repousavam em seu ombro, brilhando como seda preta. Seus lábios de rubi estavam ligeiramente abertos, como se estivessem prontos para um beijo. Ela estava perdida na música, olhando para baixo como se estivesse perdida em um sonho.
Ele esfregou os olhos, sabendo perfeitamente que não havia nada de errado com sua visão angelical. Ele podia ver todos os cílios escuros, todas as curvas sensuais de seus lábios e todos os poros em seu adorável rosto.
Ele esperou com a respiração suspensa enquanto a jovem levantava a cabeça. Cílios longos se ergueram lentamente e olhos castanhos cheios de alma olhavam para a platéia.
Leilani.
Ela conseguiu. Ela estava fazendo o que sempre quis fazer, estava dançando.
Ele ficou hipnotizado. Mesmo quando ela voltava para trás, permitindo que Candy ocupasse o centro do palco, ele não conseguia tirar os olhos de Leilani. Algo dentro dele se mexeu.
Não. Isso não.
Imediatamente ele deu um passo para trás, sacudindo os sentimentos malucos que corriam desenfreados através dele.
Ele estava apenas solitário. Sim, era isso que estava sentindo. Leilani fora uma boa amiga e Sammy também. Ele estava lá apenas para garantir que eles estavam bem. Agora que viu que ela estava bem, ele poderia ir. Leilani nunca deixaria nada acontecer com seu irmãozinho.
A música parou e a multidão rugiu com aplausos.
Pronto. Acabou. Estava na hora de ele partir, no havia razão para ficar. Ele viu o que precisava ver.
Ele virou-se, pronto para seguir para o outro lado da ilha, quando um garoto magro com olhos azuis bebê e manchas de chocolate nos cantos da boca o bloqueou.
Jeremy?
3
O coração de Jeremy deu um pulo. Sammy não era mais um garotinho. Suas bochechas gordinhas estavam esbeltas agora. Havia um punhado de sardas na ponta do nariz, e ele estava pelo menos trinta centimetros mais alto.
Ele se parece com o pai.
Sammy esfregou os olhos como se não pudesse acreditar no que estava vendo.
Ei amigo. Sou eu, Jeremy.
Olhando mais perto, Sammy cutucou seu bíceps. Você é real. Você não era um amigo imaginário.
Claro que sou o que você está fazendo? Ele perguntou quando Sammy deu a volta e deu um tapinha nas omoplatas. Ele ficou rígido quando percebeu o que Sammy estava fazendo.
Ele está procurando minhas asas. Ele se lembra.
Claro que sou o que você está fazendo? Ele perguntou quando Sammy deu a volta e deu um tapinha nas omoplatas. Ele ficou rígido quando percebeu o que Sammy estava fazendo.
Ele está procurando minhas asas. Ele se lembra.
Eu sabia Sammy sussurrou com voz rouca, encarando-o novamente. Eu sabia que você era real.
Pegando a mão dele, Sammy pressionou a palma da mão na dele, encarando as mãos como se elas fossem desaparecer a qualquer momento.
Tão real quanto o chocolate. Jeremy pegou um guardanapo da mesa e passou ao lado da boca de Sammy. Vejo que você ainda gosta de comer Sammiche.
O rosto de Sammy congelou e ele soltou a mão de Jeremy.
Jeremy estremeceu quando percebeu o que havia feito. Ele não precisava ler mentes para saber o que Sammy estava pensando. A expressão entristecida em seu rosto dizia tudo. Ele era um lembrete do passado doloroso de Sammy.
Droga! Por que eu estou aqui? Tudo o que ele fazia era trazer dor às pessoas com quem se importava. Era óbvio que Leilani e Sammy haviam seguido em frente. Ele deveria tê-los deixado em paz, em vez de ser um lembrete do pior dia de suas vidas.
Sinto muito, Sammy. Eu não quis
Houve um barulho alto e um baque seguido de um coro de risadas. Alguém gritou o nome de Leilani, que foi seguido por uma série de maldições. A platéia riu mais alto.
Os olhos de Jeremy subiram para o palco. Candy estava deitada de costas, com os braços e as pernas se agitando. Atrás dela estava Leilani, com a boca ligeiramente aberta enquanto ela o encarava e Sammy.
Emoções inundaram seu rosto. Choque, felicidade, tristeza e outra coisa.
Aquele olhar. Aqueles olhos.
O atraia para ela.
Ele queria abrir caminho através da multidão rindo, esquecer que ele era um arcanjo e tirar ela e Sammy de lá.
Aquele olhar em seu rosto era desejo.
Ela estava desejando ele.
Pare com isso! Ele cravou as unhas na palma da mão.
Ela era uma garota jovem e impressionável. Ele era uma representação de um passado que ela havia perdido. Ela ansiava por esse passado, não por ele. Tinha que se lembrar que eram amigos. O mínimo que ele podia fazer era garantir que ela estivesse bem.
Ele acenou, sorrindo.
Leilani piscou, e então seu rosto se franziu em uma carranca. Um fogo acendeu em seus olhos que o deixarou sem fôlego. Ele agarrou a cadeira ao lado dele, mal ciente do assento de metal entortando sob a pressão de seus dedos.
Leilani marchou para fora do palco, ignorando o olhar mortal de Candy e passando por um homem mais velho vestindo uma camisa havaiana.
Vamos aplaudir essas belas moças disse o homem. E, claro, um agradecimento especial a nossa adorável Candy Hu.
Candy ficou entre encarar Leilani e sorrir para a multidão quando saiu do palco.
Candy não era a única com olhos prontos para destruir.
Uh, oh. Leilani está chateada Sammy disse enquanto seguia direto para eles. Corra, Jeremy.
Se não fosse um arcanjo, ele seguiria o conselho de Sammy. Quanto mais perto ela chegava, mais assustadora ela parecia.
Eu acho que pode ser um pouco tarde para isso, amigo.
O que diabos você está fazendo aqui, Garoto de Ouro? Los Angeles ficou chata para você?
Aloha para você também disse ele, dando-lhe o sorriso mais charmoso.
Ela fez uma pausa. Os olhos dela vidrados se suavizando. Era a mesma expressão que a maioria das mulheres usava sempre que ele soltava todo o seu charme.
Eu estava tendo um tempo de folga e pensei em dar uma olhada em você e Sammy. Parece que vocês dois estão indo muito bem. Então, você está dançando agora?
Houve um silêncio desconfortável enquanto ela o olhava inexpressivamente.
Leilani? Ele acenou com a mão na frente do rosto dela.
O que havia de errado com ela? Ele nunca a viu tão quieta.
Seu rosto ficou vermelho e mais vermelho. Sua respiração saiu em suspiros ásperos. Os lábios rubis se moveram, mas nenhuma palavra estava saindo.
Corra, agora Sammy sussurrou. Ela vai explodir.
Ótimo? Você realmente acha que estamos indo muito bem? ela cuspiu, sua voz subindo com cada palavra que ela falava. Garoto, como você é sem noção. Eu deveria saber melhor. Não acredito que cai na sua conversa mole. Amigos. Certo. Ela deu uma risada.
O que você quer dizer? Eu sou seu amigo.
Claro que você não sabe. Como você pode? Você não é um de nós. Você vem para a ilha fingindo ser um amigo. Você fez Sammy gostar de você, minha família gostou de você. E eu Pausando, ela mordeu o lábio trêmulo.
Leilani. Ele estendeu a mão para tocar sua bochecha.
Ela se afastou da mão dele, encarando-a. Você fez todo mundo gostar de você e então, no minuto seguinte, você se foi. Simples assim. Ela estalou os dedos.
Ele foi ao hospital disse Sammy.
Já falamos sobre isso antes, Sammy. Você estava confuso ela disse suavemente, afastando os cabelos da testa suada.
Eu não estava confuso. Diga a ela, Jeremy. Você estava lá.
Bem
Viu o que você fez? Ela retrucou. Você fez um menino de cinco anos alucinar sobre você. Ele queria tanto que você estivesse lá que te imaginou lá! Ela então se virou para Sammy, abaixando a voz e falando com ele calmamente. Você estava tomando muitos medicamentos. Ele não estava lá.
Jeremy abriu a boca, prestes a dizer que estava lá. Ele esteve ao lado deles a cada segundo, mas não podia deixar que soubessem quem ele realmente era.
Eu sinto muito. Eu não sabia sobre o acidente. Eu tive que ir por causa de negócios da família ele finalmente disse.
Tanto faz. Eu não posso lidar com você agora, tenho que voltar ao trabalho. Sammy, eu disse para você esperar na cozinha.
Eu posso olhar ele disse Jeremy. Podemos colocar a conversa em dia.
Sim! O rosto de Sammy se iluminou.
Não, não vamos cair nessa de novo.
Ah, vamos lá, Leilani. Por favor Sammy implorou.
Tenho certeza de que ele tem outras coisas que precisa fazer. Talvez em outra ilha?
Ela estava chateada, e com razão. Ele sabia que tinha que ir, mas não queria, não com ela brava assim. Ele estava prestes a defender sua causa quando alguém gritou, e o som da bateria soou nos alto-falantes.
A platéia gritou e berrou enquanto cinco homens vestidos com sarongues vermelhos na altura da coxa corriam pela platéia.
Enquanto corriam para o palco, um deles com uma tatuagem tribal cobrindo o braço estava no centro, girando um bastão de fogo. Ele parou de segurar o fogo bem acima da cabeça e levou-o aos lábios. Ele cuspiu líquido e o fogo soprou acima de sua cabeça. A platéia rugiu de alegria.
Não vá embora ainda, Jeremy. Você tem que ver Kai fazer sua dança do fogo. Eu o ajudei a aprender alguns movimentos disse Sammy, parecendo orgulhoso.
Esse é o Kai?
Ele olhou com admiração para o homem quase do mesmo tamanho que ele, girando dois cajados de fogo. Ele os girava tão rápido que se turvavam em um grande círculo de fogo.
Aquele era o garoto que Leilani chamava de Chucky? Ele não era mais um garoto. Ele era um homem.
Os outros dançarinos flanquearam o lado de Kai, fazendo as meninas da platéia gritarem ainda mais. Eles pareciam pequenos em comparação com o corpo maciço de Kai.
Eles trabalhavam em harmonia enquanto o fogo girava sobre suas cabeças, ao redor de seus corpos e sob as pernas.