Na parte de trás do avião, ele se ajoelhou para destravar um dos cintos na caixa de armas. Quando a trava se soltou, ele agarrou o segundo cinto, mas a fivela estava presa, sendo puxada pela tensão. Enquanto ele lutava com a trava, uma mão segurando uma faca passou pela sua cabeça e cortou o cinto. Ele olhou para cima e viu o rosto sorridente da soldado Autumn Eaglemoon.
Eaglemoon deu um tapa na lateral de seu capacete, em cima da orelha direita. Alexander checou a chave do seu comunicador; estava desligada.
Droga, sussurrou, a porta deve ter atingido. Ele a ligou novamente. Alguém consegue me ouvir?
Vários soldados responderam.
A aeronave sacudiu para a esquerda, arremessando a caixa de armas pela traseira. A corda estática se esticou, puxando as cordas de abertura dos dois paraquedas laranjas da caixa.
Alexander sinalizou aos seus soldados para o seguirem enquanto ele pulava, mas assim que deixou a aeronave ele percebeu que havia esquecido de conectar sua corda estática ao cabo aéreo. Ele se virou de costas para ver seus soldados o seguindo como uma família de pintinhos verde militar seguindo sua mãe. Seus paraquedas ondulavam conforme se abriam um após o outro.
Deus, espero que todos consigam.
A asa direita do C-130 se soltou e girou em direção a eles. Metade dela havia se perdido, inclusive o motor de popa. O motor que restou pegava fogo, deixando uma trilha espiral de fumaça cinza.
Puta merda! Alexander assistiu horrorizado a asa em chamas girando em direção às suas tropas. Cuidado! A asa!
Os soldados esticaram os pescoços, mas seus paraquedas sacudindo bloqueavam a visão do que estava acima. Como uma ceifadeira, a asa espiralou pelo ar, passando apenas três metros abaixo de um dos soldados.
Joaquin! o soldado gritou em seu comunicador. Vire para a direita!
O soldado Ronald Joaquin puxou sua linha de controle e foi se virando lentamente para a direita, mas não foi o suficiente. A ponta quebrada da asa pegou quatro das cordas do seu paraquedas e o desviou para o lado com um puxão violento. Seu paraquedas ruiu e ele foi arrastado pela asa, que ainda girava.
Aperte a fivela para se soltar! Alexander gritou em seu comunicador.
Filho da mãe! Joaquin gritou.
Ele batia na fivela do paraquedas enquanto era arrastado pela asa. Finalmente, ele agarrou a fivela e puxou para abrir e se livrar das cordas que o prendiam à asa. Ele caiu por dez segundos, então se virou para ter certeza de que estava livre da asa antes de acionar seu paraquedas reserva. Quando o paraquedas reserva se abriu, ele começou a respirar novamente.
Ufa! Essa foi por pouco, exclamou.
Bom trabalho, Joaquin, Alexander disse.
Ele observou a asa com o paraquedas sendo arrastado atrás dela enquanto caiam em direção às árvores lá embaixo. Ele então puxou a sua corda de abertura e escutou um woosh do pequeno paraquedas piloto que puxava o principal de sua mochila, e sentiu o solavanco do paraquedas principal se abrindo.
A asa deformada atingiu a copa das árvores na diagonal, cortando os galhos superiores e caindo no chão. Um fiapo de fumaça subiu e o tanque de combustível se rompeu, liberando uma nuvem de chamas e fumaça preta que ondulava acima das árvores.
Alexander observou o horizonte. Que estranho, ele disse enquanto rodava, tentando ver seus soldados e contar os paraquedas, mas não conseguia enxergar nada além do toldo do seu próprio paraquedas. Quem está online? gritou em seu microfone. Respondam pelos números.
Lojab, ouviu em seu comunicador.
Kawalski, Kawalski gritou. Lá vai o avião, para o sudeste.
O C-130 era seguido por uma trilha de fogo e fumaça como um meteoro enquanto se inclinava para as montanhas. Um segundo depois, explodiu em uma bola de fogo.
Puta merda, Alexander resmungou. Ok, pelos números. Já contei Lojab e Kawalski.
Ele contava os soldados conforme eles diziam seus nomes. Todos os soldados tinham um número designado; o Sargento Alexander era o número um, o cabo Lojab era o número dois, e assim por diante.
Mais alguns disseram seus nomes, e então restou o silêncio. Dez? chamou Alexander, Droga! Ele puxou sua linha de controle direita. Sharakova! gritou. Ransom! Sem resposta.
Ei, Sargento, Kawalski interferiu pelo comunicador.
Sim?
O comunicador da Sharakova ainda não está funcionando, mas ela conseguiu pular. Está bem acima de você.
Ótimo. Obrigado, Kawalski. Alguém está vendo o Ransom?
Estou aqui, Sargento, Ransom respondeu. Acho que desmaiei por alguns minutos quando bati na lateral do avião, mas eu estou acordado agora.
Bom. Contando comigo, somos treze continuou Alexander. Todo mundo está online.
Eu vi três tripulantes do C-130 saírem do avião, Kawalski disse. Eles abriram os paraquedas bem embaixo de mim.
O que aconteceu com o capitão? Lojab perguntou.
Capitão Sanders, Alexander chamou em seu microfone. Esperou um momento. Capitão Sanders, está me ouvindo?
Não houve resposta.
Ei, Sargento, alguém disse no comunicador. Não íamos pular entre nuvens?
Alexander olhou para baixo a camada de nuvens não estava ali.
Era isso que estava estranho; nada de nuvens.
E o deserto? outro perguntou.
Abaixo deles não havia nada além de verde em todas as direções.
Não se parece com nenhum deserto que eu já tenha visto.
Olhe só aquele rio ao nordeste.
Nossa, é enorme.
Para mim está parecendo mais a Índia ou o Paquistão.
Eu não sei o que aquele piloto andou fumando, mas certamente ele não nos levou para o Deserto de Registan.
Chega de conversinha, interrompeu o sargento Alexander. Agora eles estavam abaixo de quatrocentos e cinquenta metros. Alguém está vendo a caixa de armas?
Nada, Ledbetter disse. Não vejo em lugar nenhum.
Não, Paxton disse. Aqueles paraquedas laranjas deveriam se destacar que nem caras brancos no gueto, mas eu não estou vendo eles.
Nenhum deles viu sinal algum da caixa de armas.
Ok, Alexander disse. Mirem para aquela clareira, setenta graus ao sudoeste.
Certo, Sargento.
Estamos logo atrás de você.
Escutem, pessoal, disse o Sargento Alexander. Assim que chegarem ao chão, estourem os paraquedas e peguem seus cassetetes.
Uuuh, adoro quando ele fala safadezas.
Cala a boca, Kawalski, ele disse. Tenho certeza de que alguém nos viu, então estejam preparados para qualquer coisa.
Todos os soldados planaram até a clareira e aterrissaram sem contratempos. Os três tripulantes que restaram da aeronave pousaram atrás deles.
Esquadrão Um, Alexander ordenou, configurem um perímetro.
Entendido.
Archibald Ledbetter, continuou , você e Kawalski vão escalar aquele carvalho alto e montar um mirante, e também arrumem armas para os três tripulantes.
Certo, Sargento. Ledbetter e Kawalski foram em direção aos tripulantes do C-130.
Certo, Sargento. Ledbetter e Kawalski foram em direção aos tripulantes do C-130.
Tudo quieto no lado leste, Paxton disse.
O mesmo aqui, Joaquin completou do outro lado da clareira.
Tudo bem, disse Alexander. Fiquem alertas. Quem quer que tenha nos derrubado certamente virá atrás de nós. Vamos sair dessa clareira. Estamos dando muita sopa aqui.
Ei, Sargento, Kawalski sussurrou em seu microfone. Tem duas pessoas indo na sua direção, e estão rápido. Ele e Ledbetter estavam na metade do carvalho.
Onde?
Atrás de você.
O Sargento Alexander se virou. É agora, ele disse em seu microfone enquanto observava as duas pessoas. Todo mundo fora de vista e preparem suas armas.
Eu não acho que eles estejam armados, Kawalski sussurrou.
Quieto.
Alexander os ouviu vindo em sua direção de trás da moita. Ele se apertou contra um pinheiro e engatilhou sua Sig automática.
Um segundo depois, eles passaram correndo por ele. Eram um homem e uma mulher, desarmados, exceto por uma forquilha de madeira que a mulher carregava. Suas roupas eram apenas túnicas curtas e esfarrapadas, e eles estavam descalços.
Não é o Talibã, Paxton sussurrou pelo comunicador.
Muito brancos.
Pra quê?
Muito brancos para serem paquistaneses ou indianos.
Eles continuam indo, Sargento, Kawalski disse de sua posição na árvore. Estão pulando troncos e pedras, correndo pra caramba.
Bem, o Sargento disse, eles definitivamente não estavam atrás de nós.
Eles nem sabem que estamos aqui.
Outro, interrompeu Kawalski.
O quê?
Tem outro vindo. Mesma direção. Parece uma criança.
Fiquem fora de vista, o Sargento sussurrou.
A criança, um garoto de uns dez anos, passou correndo. Era muito branco e vestia o mesmo tipo de túnica curta que os outros. Ele, também, estava descalço.
Tem mais, disse Kawalski. Parece uma família inteira. Estão se movendo mais devagar, trazendo algum tipo de animal.
Cabra, completou Ledbetter de sua posição ao lado de Kawalski.
Uma cabra? Alexander perguntou.
É.
Alexander deu um passo e parou na frente da primeira pessoa do grupo uma adolescente e estendeu seu braço para pará-la. A jovem gritou e correu de volta pelo caminho de onde tinha vindo, e então desviou novamente, indo por outra direção. Uma mulher do grupo viu Alexander e também se virou para correr atrás da garota. Quando chegou o homem junto com sua cabra, Alexander apontou sua pistola Sig em seu peito.
Podem parar por aí.
O homem engoliu em seco, largou a corda, e saiu correndo o mais rápido que pôde. A cabra inflou o peito e tentou morder a manga de Alexander.
A última pessoa, uma garotinha, deu um olhar curioso a Alexander, pegou a corda pela ponta e levou a cabra embora, na direção que o pai dela havia ido.
Esquisito, Alexander sussurrou.
Sim, alguém disse no comunicador. Muito esquisito.
Você viu o olhar deles? Lojab perguntou.
Sim, a soldado Karina Ballentine respondeu. Exceto pela garotinha, eles estavam apavorados.
Com a gente?
Não, Alexander disse. Eles estavam fugindo de outra coisa, e eu não pude pará-los. Eu poderia muito bem ser um índio da loja de charutos.
Uma imagem esculpida de vendedor de fumo nativo americano, a soldado Lorelei Fusilier disse.
O quê?
Não se pode mais dizer 'índio'.
Bem, merda. E que tal idiota? Alexander disse. Ofende alguma raça, credo, ou religião?
Credo e religião são a mesma coisa.
Não, não são, Karina Ballentine disse. Credo é um conjunto de crenças, e religião é a adoração de divindades.
Na verdade, preferimos deficiente mental a idiota.
Você é deficiente de personalidade, Paxton.
Dá pra vocês calarem a boca! Alexander gritou. Eu me sinto igual a um maldito professor do jardim de infância.
Instrutor dos anos iniciais da infância.
Mentor de pessoinhas.
Jesus Cristo! Alexander disse.
Agora eu estou ofendido.
Tem mais vindo, Kawalski interferiu. Um monte, e é melhor ficar fora do caminho. Eles estão com pressa.
Trinta pessoas passaram correndo por Alexander e os demais. Estavam todos vestidos da mesma forma; túnica simples e curta e sem sapatos. As vestimentas eram esfarrapadas e feitas de um tecido cinza e grosseiro. Algumas pessoas puxavam bois e cabras com eles. Alguns carregavam rudes ferramentas rurais, e uma mulher carregava uma panela de barro cheia de utensílios de cozinha feitos de madeira.
Alexander deu um passo a frente para agarrar um homem velho pelo braço. Quem são vocês, e por que a pressa?
O homem gritou e tentou empurrá-lo, mas Alexander segurou forte.
Não fique com medo. Não vamos machucar vocês.
Mas ele estava com medo; na verdade, ele estava aterrorizado. Ele continuou tentando olhar para trás, pelo ombro, tagarelando algumas palavras.
Que diabos de língua é essa? Alexander perguntou.
Nada que eu já tenha ouvido, Lojab disse, parado atrás de Alexander enquanto segurava seu rifle M16.
Eu também, Joaquin disse do outro lado de Alexander.
O homem olhava de um rosto para o outro. Estava obviamente assustado por conta destes estranhos, mas com muito mais medo de algo que estava atrás dele.
Muitos outros passaram correndo, e o homem sacudiu seu braço até ele se soltar e puxou seu boi com ele, tentando escapar.
Você quer que eu faça ele parar, Sargento? Lojab perguntou.
Não, deixe ele sair daqui antes que tenha um ataque do coração.
As palavras dele definitivamente não eram língua pachto.
Nem árabe.
Ou urdu.
Urdu?
É o que os paquistaneses falam, Sharakova respondeu. E inglês. Se eles fossem paquistaneses, provavelmente teriam entendido seu inglês, sargento.
Sim. Alexander observou as últimas pessoas desaparecerem na trilha. Foi o que pensei. E eles eram muitos brancos para serem paquistaneses.
Oh-oh, Kawalski exclamou.
O que é agora? Alexander perguntou.
Elefantes.
Definitivamente estamos na Índia.
Eu duvido que a gente estivésse tão fora de curso, Alexander disse.
Bom, Kawalski disse, você pode perguntar para aquelas duas garotas onde estamos.
Que garotas?
Em cima dos elefantes.
Capítulo Dois
Noventa por cento dos indianos falam inglês, Ledbetter disse.
Ei, Apache, Joaquin disse, Lead Butt falou indianos.
Tudo bem; eles são indianos, Eaglemoon respondeu.
Por que não nativos do subcontinente asiático?
Alexander balançou a cabeça em negação. Nós não estamos na Índia. Provavelmente fazem parte de uma trupe de circo.