Sete Planetas - Massimo Longo 3 стр.


- Xeri! Eis onde viste parar, pensava que te tinha feito desaparecer.

- Xam? O quer fazes aqui, meu amigo? Morreu apenas a minha alma de combatente: vi muitos jovens amigos a morrer.

- Rever-te deixa-me feliz - exclamou Xam abraçando o velho amigo.

- Eu também, mas o que vos traz aqui? Onde está Oalif?

- Se tivesse sabido que te encontras aqui não o teríamos retido na naveta.

Procuramos o mosteiro de Nativ.

- Então não vos serve ir longe, basta erguer os olhos. Encontra-se na ilha flutuante.

Os Tetramir ergueram o olhar para cima e viram que, precisamente por cima das suas cabeças, pendia uma espada de rocha enorme contendo no topo umas árvores que ocultavam a vista de toda ilha.

- Como faremos para ali chegar?

- Não fica perto como pode parecer, não se iludam, ninguém conseguiu de maneira alguma alcançá-la. Muitos tentaram inutilmente chegar ali continuou Xeri a distância que vos separa da ilha ficará sempre a mesma de todas as formas procurem de alcançá-la, é como se encontrasse numa outra dimensão.

Reparem em volta. Não projecta nenhuma sombra no solo.

Não tiveram o tempo para dirigir de novo os olhos no seu amigo, que um assobio atingiu a sua atenção. Viram cair no chão Xeri, Xam correu para o socorrer mas percebeu que era bastante tarde.

- Todos ao abrigo Gritou.

- Às armas gritou o chefe guerreiro.

De novo as bolas de bilhar espalharam-se, mas desta vez os buracos encontravam-se no mato da selva.

A batalha alastrava-se, os soldados de Mastigo tinham chegado mais rapidamente do previsto. Alguns meninos tinham ficado petrificados pelo medo no centro da aldeia.

- Devemos fazer alguma coisa disse Xam, mas não foi a tempo de terminar a frase que a Oriana já tinha-se precipitado sobre eles para protegê-los com a sua couraça envolvendo-os.

Xam cobriu o seu afastamento abrindo fogo, enquanto Ulica, subida rapidamente numa árvore graças as suas dimensões de seda, planou silenciosa sobre os soldados de Mastigo escondidos entre as moitas, como um falcão sobre a sua presa, e os atacou até a morte.

Cessados os ataques as mulheres correram para recuperar os meninos entre os braços de Zàira, Xam e Ulica precipitaram-se ao encontro dela.

A praça estava vazia, um vento levantou-se fortíssimo, como um pequeno redemoinho dirigiu-se para o centro da aldeia sem destruir nada ao longo do seu trajecto. Zàira, Xam e Ulica sentiram os seus movimentos endurecer-se e, como quem está retido por magia, não conseguiram fugir. Rodopiaram durante vários segundos antes de serem depositados no limite de um grande litoral daquela ilha flutuante.

Durante um tempinho Ulica sentiu-se suspensa no vazio. A cabeça ainda girava como quando desde criança por brincadeira, agarrando pela mão as amigas, rodeava até mais que podia, mas recuperou e procurou os seus companheiros da viagem.

Xam já tinha encontrado Zàira, que tinha perdido os sentidos, e estava ao lado dele de joelhos: os seus olhos escuros estavam cheios de tristeza, um fraco por aquela Oriana o tinha sempre acompanhado.

Ulica aproximou-se a eles e, realista como sempre, começou a controlar Zàira para perceber o que fazer, apalpou-lhe o pulso e disse:

- Batimento lento mas normal, o seu corpo esta a tentar minimizar o esforço para recuperar.

Girou-a lentamente para ver onde a teriam atingida, tirou-lhe o vestido que trazia amarrado atrás do pescoço e deixava descoberta as costas que permitia de se enrodilhar se necessário e a cingia nos flancos nas ilhargas até à metade da coxa.

- Está ferida na ilharga direita, atrás da coluna, felizmente de raspão, a sua couraça lha protegeu.

Não tinha perdido muito sangue, o laser tinha causticado em parte a ferida que não era profunda.

- Não parece que tenha atingido os órgãos vitais ou já estaria morta continuou Ulica.

Xam a reparava estupefacto, aquele homem indómito que durante a batalha não destilava uma gota de medo e piedade pelos seus inimigos, habituado aos campos de batalha onde o horror da guerra e do sangue eram algo comum, não conseguia falar.

Acenou com a cabeça que concordava.

- Devemos encontrar um lugar para cuidar a ferida sugeriu Ulica.


Xam já tinha segurado no braço de Zàira e se dirigia para aquilo que parecia um templo, no cume de uma colina verdíssima.

A sua aproximação e o seu cheiro lhe levaram outra vez à razão quando desde menino Zàira tirou-o fora do Canyon dos Cristais sobre Oria, tinha acontecido num dos poucos períodos em que deixava a academia, para ele única família conhecida.

Durante as ferias, quase todos os amigos do curso regressavam às suas famílias. Nem todos os rapazes tinham esta sorte: alguns eram órfãos, como Xam; outros permaneciam porque as suas famílias eram bastante ocupadas pelas suas necessidades laborais; outros ainda, pelo contrário, pertenciam às famílias onde realmente a demasiada carga de trabalho não permitia o seu regresso. Para todos eles vinham organizados alguns campos de verão e muitas vezes o destino era Oria.

Neste planeta, a atmosfera era rarefeito por causa das suas pequenas dimensões que comportavam uma baixa força gravitacional. Todos aqueles que não eram Orianos deviam usar um pequeno compensador de ar para obter uma oxigenação perfeita, sem o tal se sentiria como quem está no cume de uma montanha que supera os oito mil metros.

A estadia no campo estival de Oria era marcada por um monte de tarefas mas no fim das actividades diárias, Xam encontrava-se a mandriar nos arredores do campus, nas quais vizinhanças encontrava-se a fazenda do pai de Zàira e foi ali que a conheceu.

Naquele Verão a amizade deles solidificou-se. Como todos os adolescentes amavam arranjar sarilhos mais ou menos graves. Zàira, efectivamente, naquele Verão contou a Xam sobre um lugar que a ela parecia encantador, não revelou toda a verdade, manteve secreta uma parte para não estragar a surpresa e acima de tudo escondeu que os adultos o proibiam pela sua perigosidade.

Foi desta forma que arrastou o amigo naquela aventura no deserto. Pediu a Xam para calçar as botas mais pesadas que possuísse e não quis que levasse alguns amigos consigo, deveria permanecer um lugar secreto.

Caminharam muito, Xam não conseguia perceber o porquê, naquele dia de calor tórrido, Záira lhe tivesse dito para calçar aquelas malditas botas.

Zàira não era por acaso uma grande conversadora, percorreram uma boa parte do troço em silêncio até que Xam cansado lhe perguntou:

- Ainda falta muito?

- Não sejas um zero, estamos quase lá respondeu Zaíra.

- Espero que valha a pena!

- Verás que será assim. Bastar-nos-á chegar no topo daquela subida.

- Então vejamos quem chega primeiro gritou Xam começando a correr.

Zàira precipitou-se na perseguição, procurando de todas as formas de fazê-lo parar, mas Xam possuído pela corrida não a ouviu.

Conseguiu aplacá-lo só na parte mais alta do litoral.

Xam, estendido no chão cabisbaixo, maravilhado, dirigiu-se para ela:

- Por que saltaste em cima de mim?

- Não notaste nada? Disse Záira indicando com o dedo querias mergulhar dentro?

- Wow, tinhas razão, é incrível!

Diante dos olhos de Xam apresentou-se um panorama fantástico, um grande Canyon abria-se à frente deles.

Não era muito largo, mas não conseguia ver no fundo. Os flancos abriam-se com umas tonalidades horizontais brilhantes, a cor próximo do topo era clara e dourada como a areia, mais se olhava para baixo mais a cor matizava-se aproximando-se ao encarnado granada. Estava dividido em duas zonas: uma, mais distante deles, cheia de grupos de cristais de ametista que reflectiam a cor da rocha, a outra cheia de grandíssimas flores em forma de cálice dentro das quais se poderia deitar comodamente ambos/o casal. Comodamente ambos. Os cálices moviam-se incansavelmente como um fole para permitir à planta de apropriar-se de uma maior disponibilidade de oxigénio, dando vida a um dançante efeito cenográfico.

Xam, estranhamente, sentia o seu corpo mais suave que o normal e observava maravilhado, todo aquele troço lhe tinha causado fome.

- Bem, realmente um lindo lugar para passar uma pequena refeição, espero que na tua mochila haja algo de bom.

- Pensas sempre na comida - Sorriu Zàira, que tirou da mochila uma corda, sentou no chão, desfez-se das botas e as amarrou num arbusto, depois aproximou-se ao Canyon.

Xam não percebia o que a sua amiga estivesse a tramar.

Não teve tempo para lho questionar porque viu Zàira lançar-se no vazio. O terror assaltou-o e correu até à margem do precipício para ver que fim tivesse tomado.

Debruçou-se no litoral e viu Zàira a rir e esvoaçar.

Naquele instante quisera matá-la pelo medo que lhe tinha arranjado, mas ao mesmo tempo se sentiu aliviado e feliz vendo a ela.

Zàira aproximou-se rapidamente à beira e aterrou perto de Xam.

- Mas o que te saltou em mente? Pensava que tivesse sido esmagado nas rochas. Podia advertir-me! Disse um pouco agastado.

- Se to tivesse dito teria perdido a tua expressão, deverias ver como estás! Riu divertida.

- Extraordinária! Respondeu ironicamente Xam sentindo-se ridicularizado.

- Desculpa-me, não queria te assustar acrescentou Záira dando-se conta que talvés tinha exagerado.

- Deixa estar, antes o que fazes com aquelas garrafinhas de ar na mão? Perguntou Xam sorrindo, pensando em como não conseguisse ficar chateado com ela.

Eram duas garrafinhas de ar comuns utilizadas frequentemente em Oria e serviam para limpar os radiadores dos tractores que se atulhavam de arreia.

- Dão-me o impulso final que serve para o meu regresso. O ar comprimido ajuda-me para acelerar e superar impulsivamente o mínimo acréscimo de atracção gravitacional perto do litoral.

- Como consegues voar?

- Magia

- Olha, não faça disso uma brincadeira!

- Na verdade, neste ponto do Canyon, a soma entre a atracção gravitacional tão baixa e as correntes ascensional criada pelas flores gigantes, nos permite de voar. Coragem, descalça as botas e siga-me.

- Estás maluca! Exclamou sabendo que não teria resistido em segui-la naquele voo.

- O importante é ficar longe da zona com os cristais. Não estarás por acaso com medo, pois não? Espicaçou o orgulho do amigo Zàira.

Xam pôs-se a sentar no chão, descalçou as botas e amarrou-as juntamente com aquelas de Zàira e só naquele momento deu-se conta que estavam a flutuar, sem se sentir ainda mais leve, mal conseguia manter os pés no chão.

- Ponha isto no bolso disse a Oriana dando-lhe duas garrafinhas extraídas na mochila numa primeira vez mergulharemos juntos.

Aproximaram-se na margem segurando-se pelas mãos e sem excitações, apenas como os jovens podem fazer, mergulharam.

Voaram durante um tempinho juntos, até que Xam familiarizou-se com o voo, de seguida Zàira revelou uma outra surpresa.

Puxou-o até perto de uma das flores que os absorveu para dentro. Caindo num macio tapete de estames perfumados. As flores, que do exterior eram de um azul intenso, internamente eram amarelos ou cor-de-rosa claro com alguns estames enormes cor de laranja. Xam não levou muito tempo para surpreender-se, porque ambos foram cuspidos para fora da flor. Os dois amigos rebentaram a rir.

Zàira tentou esclarecer, entre uma risada e a outra, que no interior da flor emanava um fluido hilariante.

A partir daí Xam estava pronto para voar sozinho e abandonou a mão de Zàira que um momento antes a apertava fortíssimo.

O divertimento estava ao culmine e Xam continuava a entrar e a sair nas flores.

Zàira procurou aproximar-se a ele, tinha esquecido de dizer-lhe para não exagerar, o fluido hilariante podia fazer-lhe perder o contacto com a realidade.

Não passou muito tempo que isto aconteceu, Xam tinha perdido o controlo e aproximava-se perigosamente à zona proibida.

Zàira pensou em ter que intervir antes que fosse bastante tarde, as pontas dos cristais na parede o tirariam a vida. Xam contudo movia-se à sua mesma velocidade pela qual teria sido impossível alcançá-lo. Assim tirou para fora dos seus bolsos as suas duas garrafinhas e as utilizou para acelerar. Alcançou o amigo, que ria não dando-se conta do perigo, um instante antes que se despenhasse nas paredes e o puxou com ela.

Levou-o novamente para a zona das flores e não o largou mais até ao final do voo, assim que acharam a justa corrente ascensional, pediu em restituição as suas garrafinhas e, segurando-o, levou-o de novo ao abrigo à margem do Canyon.

Deram-se conta de ter arriscado a vida mas não conseguiam parar de rir. Permaneceram deitados no chão agarrados, próximos um de lado ao outro e felizes esperaram o fim do efeito do fluido hilariante antes de regressar a casa.

Terceiro Capítulo

As rugas que se apresentavam eram os olhos e a boca do ser

No momento era Zàira a estar em perigo e a distância que os separava do cume da colina para Xam parecia eterna. Ali sobressaia uma abobada branca, parecia uma colmeia, tinha uns espelhos hexagonais que contornavam todo o edifício, reflectindo a luz do sol quase cegante.

Mais se aproximavam ao mosteiro, mais um sentimento de serenidade infundia-se nos seus corações.

Xam, esgotado pelo peso da companheira, continuou caminhando até que, chegados ao templo, viram-se diante de um arco aberto que levava ao seu interior.

Assim que estiveram dentro, o corpo de Zàira ergueu-se flutuando entre os braços de Xam, que não se opôs, sentia que não havia ameaça naquilo que estava a acontecer.

Foi transportada para um largo corredor e desapareceu lentamente da sua vista.

Centenas de subtis pilares laterais sustinham uma imensa abobada transparente que se apresentava no universo, como se o mosteiro se encontrasse no espaço, Ulica e Xam viram um estranho ser com as formas um tanto insólitas no fundo da nave e aproximaram-se.

O corpo, cinzento - violeta e aproximadamente cilíndrico, era constituído pela cabeça e por quatro secções que lavavam duas patas cada uma, aquilo que parecia um nariz em forma de uma pequena tromba era preponderante no rosto mas parecia que algo ou alguém o tivesse puxado com força para dentro, as rugas que se demonstravam eram olhos e boca do ser. O seu corpo não era mais grande que um saco cheio de farinha.

- Sinto em vocês uma energia positiva, desculpem se vos arrastei até aqui, mas o gesto da vossa companheira afectou-me.

- O gesto da nossa companheira não nos maravilhou, conhecemos a sua generosidade.

Não devíamos arrastar aquelas criaturas inofensivas num embate, perdemos muito tempo vagueando pela selva, consentindo a Mastigo para intuir onde nos tivéssemos dirigido e levando os seus guardas para aquele lugar doce e sereno, erro imperdoável esclareceu Ulica.

- Teria sido impossível para os Tetramir chegar até aqui sem arrastar aquelas pobres criaturas para um embate.

- Como sabes quem somos?

Tentou perguntar Ulica, mas Xam a interrompeu bruscamente enquanto instintivamente lhe agarrava o antebraço:

- Onde foi parar Zàira? Perguntou ao frade, ainda que sentia que nada de mal pudesse acontecer à sua amiga naquele lugar.

- Não te preocupes, está seguro. Está a recuperar, brevemente estará aqui entre nós.

A resposta pareceu-lhe vaga, mas continuava a sentir aquela sensação de bem-estar e serenidade.

- Como sabes quem somos? Repetiu Ulica que queria perceber quem estivesse à frente deles.

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