"Qual é o nome do seu despachante?" Perguntei antes que o condutor pudesse pressionar novamente a tecla de transmissão.
"Lou. Lou Mitchell", disse o taxista.
"O seu nome?"
"Tony Fisher".
Pressionei a tecla de transmissão. "Estou a falar com Lou Mitchell?"
Passaram-se alguns segundos. "Lou aqui. Quem raio está ao microfone?
Voltei a pressionar o microfone. "A Tenente Rooney, Departamento da Polícia de Chicago, Divisão de Crimes Violentos. Lou, acabei de ouvir a conversa que teve com a minha testemunha, Tony Fisher. Deixei de pressionar a tecla de transmissão e disse ao Sam, "Ei, podes chamar um daqueles agentes?"
Sam rolou a janela para baixo e fez sinal a um dos polícias para se aproximar. Quando o agente se aproximou, abri a janela para que ouvisse o que eu estava a dizer.
Pressionei a tecla de transmissão. "Lou, acabou de exigir à minha testemunha para abandonar o local de um crime. Também ameaçou extorquir-lhe dinheiro por danos a este táxi que estão fora do controlo dele. Uma vez que é exigido a todos os táxis desta cidade terem seguro, os danos estão cobertos. Só posso pensar que quer embolsar parte do dinheiro que este motorista ganhou arduamente, para seu próprio uso, além de receber também da companhia de seguros. Isso é uma tentativa para cometer fraude de seguros.
"Vou enviar o agente..." Olhei, para ler a etiqueta do nome dele. "... Petrie para o seu escritório agora. Vai prendê-lo por obstrução à justiça e tentativa de fraude de seguros. Quero que fique onde está." Larguei a tecla e virei-me para o Agente Petrie. "Vá até lá e pregue um susto ao tipo, se ainda lá estiver. Não o prenda oficialmente, mas algeme-o. E certifique-se de que quem quer que esteja na garagem o veja algemado. Fique com ele por uma meia hora, e depois tire-lhe as algemas. Diga que falou comigo e me convenceu a não o prender. Se ele já lá não está, volte aqui e veja se pode ajudar em alguma coisa. Petrie sorriu amplamente, feliz em cumprir a minha pequena piada.
Tornei a fechar a janela e ouvi o Tony e o meu parceiro a rirem-se.
"Vou ficar muito surpreendida se o Lou ainda estiver no trabalho quando Petrie lá chegar ", Disse ao Tony. "Mas aposto em como ele o vai deixar em paz."
Balançando a cabeça e rindo, Tony disse: "Obrigado, Tenente Rooney. Precisava de uma boa gargalhada, depois de quase ter sido alvejado."
"Entendo o que quer dizer. Sente-se pronto a dizer-me o que viu?"
"Sim, claro. Mas lembre-se, estava de passagem. Foi tudo muito rápido. Tony fechou os olhos. "Espere, estou a tentar reproduzir a cena."
Olhei para ele.
"Antes que faça a pergunta, é a minha maneira de recordar as coisas. Fecho os olhos e reproduzo os acontecimentos na minha mente. Lembro-me de todo o tipo de detalhes quando faço isso." Ficou quieto por um momento. "Virei a esquina na altura em que o homem disparava. O homem que atingiu estava a cair. Os olhos pousaram-se em mim, e eu sabia, de alguma forma, que ele ia começar a atirar em mim. Virou-se, e eu carreguei no acelerador e comecei a ziguezaguear para trás e para a frente do outro lado da rua."
"Viu o suficiente para conseguir descrever o atirador?"
Olhos ainda fechados, Tony disse: "Tez escura, quase como se se bronzeasse muito. Cabelo mais grisalho no geral, e uma barba maioritariamente grisalha, aparados. Casacão bonito...comprido. London Fog, ou outra marca cara, mas não era um casaco leve mais como um sobretudo grosso, com um cachecol cor de carvão. Sem chapéu. Tinha a arma na mão direita. Abriu os olhos. "É isso. É tudo o que consigo lembrar."
Fiquei impressionada. Nunca conseguiria fazer o que este homem tinha acabado de fazer, mesmo que tivesse tido mais tempo para estudar a cena.
"Incrível!"
Tony sorriu suavemente. "Ficaria surpreendida com o que se lembra quando está a ser alvejada."
Eu sabia o que isso era. Mas não o ia dizer ao Tony.
Disse ao Tony que o táxi teria de ficar ali até o pessoal do laboratório acabar a investigação. O atirador tinha atingido a bagageira do táxi pelo menos duas vezes, e precisávamos da evidência. Disse-lhe que estava livre para ir, se quisesse.
"Acho que vou para casa, Tenente", disse Tony. "Estou um pouco abalado."
Agradeci-lhe e dei-lhe um dos meus cartões, caso se lembrasse de qualquer outra coisa. Tínhamos a morada dele, se precisássemos dele.
O Sam e eu, saímos do táxi com relutância. Reparei imediatamente em duas coisas. Uma, que o M.L. tinha chegado e já tinha levantado a lona para verificar a vítima, e segunda, que estava a nevar.
Dalton McFee, barba a brilhar com pingentes de neve, voltou a colocar a lona sobre a vítima. Virou-se para nós: "Oficialmente, só pode dizer que a morte parece ser por tiro. Extra oficialmente, foi o mesmo atirador dos outros casos. Parece que alguém anda a executar traficantes de rua e a usar uma 9 mm."
Um dos agentes trazia um rádio portátil. "Tenente, é para si. Há outro caso.
"Mas que raio? " Disse eu, pegando no rádio.
***
O DETETIVE TORY MASTERSON dos Narcóticos juntou-se a nós no local do quarto homicídio. Estava a falar ao telemóvel quando eu e o Sam chegámos, enquanto os polícias vigiavam a porta.
"Bem, isso estraga completamente o nosso caso, é o que isso significa! Três meses de trabalho por água abaixo, assim! Masterson disse energeticamente. "Tinker era o único elo com as pessoas acima dele!" Ouviu por um momento, e depois disse: "Eu já conhecia os outros três traficantes, e eles também estão mortos!" Ele reparou em nós à porta do apartamento. "Senhor, a Tenente Rooney está aqui. Sim, senhor. Vou dizer-lhe, senhor. Desligou a chamada, dirigiu-se a nós e apertou-nos a mão.
Masterson já tinha sido da minha equipe, quando era detetive/terceira esquadra. Tinha sido transferido para os Narcóticos depois de mostrar que tinha talento para trabalhar disfarçado. Agora, como detetive/Primeira Classe, andava a colecionar uma data de apreensões e rumores diziam que estava a caminho de se tornar tenente. Era casado e ouvi dizer que tinha um novo bebé.
"Desculpe, Tenente, era o Capitão Phillips" disse Masterson. "Ele disse-me para lhe dizer que sou oficialmente seu até resolvermos estas mortes."
Eu sorri. "Fico feliz em tê-lo, Tory. Vou avisar o Capitão Baker. Também vai ficar feliz em tê-lo connosco. E parabéns pelo novo bebé!"
"Então, quem é a vítima desta vez, Masterson?", Perguntou Sam.
Masterson levou-nos até à vítima, que aparentava ter 50 anos, com cabelo sal e pimenta. Ele tinha sido amarrado a uma cadeira de cozinha, nu. Era óbvio que tinha sido torturado antes de ser morto. Havia várias rasuras de facadas, calculadas para sangrar e ferir e uma garrafa vazia de álcool etílico no chão ao lado da cadeira. Parecia que lhe tinham derramado o álcool sobre as feridas, mas o M.L. teria de o verificar. O cabo de um candeeiro estava também ao lado cadeira. Ainda estava ligado à tomada de corrente e o isolamento de plástico tinha sido retirado da outra extremidade, expondo os fios de cobre no interior. Havia algumas marcas no corpo que mostravam que tinham eletrificado a vítima, incluindo os testículos. Tinham-lhe enfiado um pano pela boca abaixo e usado fita adesiva para a manterem fechada. Mas a causa da morte era provavelmente os três pequenos buracos de bala no peito da vítima, possivelmente através do coração, e organizados em triângulo.
"O nome da vítima era William Joseph Smith, também conhecido como 'Tinker'. A certa altura, era reparador de relógios - mexia com velhos relógios antigos, e foi assim que ganhou a alcunha." Disse Masterson. "Nos últimos anos, era um fornecedor de categoria baixa."
Troquei um olhar com o Sam. Era ali que tínhamos ouvido o nome do Tinker.
"Alguma ideia de quem o fornecia?" Perguntei-lhe.
Masterson abanou a cabeça. "Não, ainda não chegámos tão longe." Apontou para o álcool e o candeeiro. "Mas aposto cinco dólares que quem lhe fez isto sabe. Tenho dois agentes a baterem às portas, a perguntar aos vizinhos se ouviram ou viram alguma coisa, mas as hipóteses são escassas."
"Temos uma descrição do atirador", disse eu. "Temos testemunhas." Dissemos ao Masterson o que tínhamos descoberto no último tiroteio. Quando disse o nome "Esteban Fernandez", Masterson assobiou.
"Porquê o assobio?" Perguntei-lhe. "Esse nome é familiar, mas não consigo lembra-me de onde."
"Temos sarilhos, Tenente", disse Masterson. "Fernández tem o posto de General no México, mas é também o maior chefe de cartel de drogas nesse país. Deixe-me dizer-lhe o que ele fez numa cidade do sul...."
Masterson contou-nos o que Fernandez tinha feito. Quando ele chegou à parte sobre o combate de boxe e a arena, estalei os dedos. "O John disse qualquer coisa sobre isso há uns meses! Parece que um dos lutadores tinha tentado atrasar a luta para que a bomba pudesse ser encontrada e desactivada! " Masterson acenou, e contou-nos mais. Comecei a ficar com arrepios na espinha.
Masterson começou a contar os pontos com os dedos. "Primeiro, temos um líder mexicano do cartel da droga em Chicago. Segundo, é violento. Três, é louco, o que o torna muito imprevisível. E, quatro, é federal."
Os polícias são muito territoriais sobre a jurisdição, e quando ouvi "Federal", encolhi-me interiormente..., mas com uma ponta de alívio. "O que quer dizer com "Federal"? Perguntei-lhe.
"Os Narcóticos receberam um boletim do FBI", respondeu Masterson. "Dizia que se alguma vez fossemos informados de que este Fernandez aparecia na nossa cidade, deveríamos notificá-los imediatamente. Acho que foi enviado para todo o país."
"Então vamos passar a mensagem ao Capitão Baker, e deixá-lo notificar o FBI" disse eu. "É menos uma coisa para nos preocuparmos."
Capítulo 3
A Justice Security, Incorp., tinha o seu próprio edifício numa rua arborizada na melhor parte da cidade. O edifício de seis andares ocupava grande parte de um quarteirão, com áreas de estacionamento para visitantes, e uma área verde ajardinada no lado sul. O edifício em si tinha sido construído com paredes de betão armado de 1 metro de largura. Cada janela com vidro duplo à prova de bala, incluindo a porta de entrada para visitantes. O edifício ainda se estendia por mais seis andares subterrâneos. Os três andares subterrâneos inferiores eram usados como área de armazenamento de veículos, e alojavam vários veículos, blindados e à prova de balas, que eram utilizados como equipamento de proteção para o transporte e defesa de funcionários ou clientes. O nível seguinte era o arsenal. Todos os tipos de armas eram armazenados no arsenal climatizado, desde revólveres e pistolas automáticas, a morteiros, a mísseis e lançadores terra-ar, e várias armas perfurantes. Armas e munições suficientes para derrubar o governo de um pequeno país, caso fossem contratados para tal coisa...e tinham-no feito, duas vezes, há anos atras, ao abrigo de um contrato governamental ultrassecreto. O andar acima do arsenal era o arquivo de registos. Este piso continha os ficheiros de papel, computadores, armazenamento de dados e áreas de pesquisa necessárias para executar e completar contratos com clientes. O nível subterrâneo final era a garagem para estacionamento de funcionários, e tinha acesso por uma entrada do piso térreo contida por uma porta de aço grossa e pesada embutida nas paredes de concreto do edifício.