"Um castelo?" Scarlet pergunta de repente. "Um castelo de verdade?"
Taylor olha para baixo, e abre um grande sorriso. Ela se aproxima e pegou a mão livre de Scarlet enquanto caminham.
"Sim, amor. Estamos levando você lá agora. Na verdade," ela diz, apontando, ao virarem uma colina, "é logo ali."
Todos param e olham, e Caitlin fica espantada com a visão. Diante deles há uma ampla vista para as colinas, montanhas, lagos e, à distância, em cima de seu próprio pequeno penhasco, há um antigo castelo, situado à beira de um enorme lago.
"O castelo de Dunvegan," Taylor anuncia. "O lar dos reis escoceses durante séculos."
"WOW!" Scarlet grita. "Mamãe, nós vamos viver em um castelo!"
Caitlin não consegue evitar um sorriso, assim como os outros, com o entusiasmo contagiante de Scarlet.
"Ruth também pode vir?” Scarlet pergunta. Caitlin olha para Taylor, que acena de volta. "É claro que ela pode, minha querida."
Scarlet grita de alegria, abraçando Ruth, e o grupo se apressa a descer a ladeira, em direção ao castelo distante.
Enquanto Caitlin inspeciona o castelo, ela sente que alguns segredos profundos estão guardados dentro de seus muros, segredos que poderiam ajudá-la em sua busca por seu pai. Mais uma vez, ela sente que ela está exatamente no lugar certo.
"Aiden está aqui?" Caitlin pergunta para Tyler.
"É exatamente isso que eu estive me perguntando por um tempo agora", responde Tyler. "Eu não o vejo há semanas. Às vezes, ele desaparece por um tempo. Você sabe como ele é.”.
Caitlin entende perfeitamente, na verdade. Ela pensa em todas as outras vezes, todos os lugares que ela tinha estado com eles. Ela precisa desesperadamente falar com ele agora, para saber mais sobre por que eles haviam desembarcado naquele lugar e tempo, para descobrir se Sam e Polly estavam bem, para saber mais sobre a última chave e, acima de tudo, se seu pai estava ali. Ela tem muitas perguntas urgentes que simplesmente precisa perguntar a ele. Tipo, o que tinha acontecido em Londres, antes de serem todos enviados de volta? Kyle havia conseguido sobreviver?
Ao se aproximarem do castelo, Caitlin olha para cima e admira a altura de quase 20 metros que se estende por muitos níveis, em formato retangular, com várias torres quadradas e parapeitos. O castelo imponente fica no topo de um penhasco, com vista para o grande lago e para o céu aberto, e ao contrário de outros castelos, é iluminado e arejado, com dezenas de janelas. O caminho até ele é impressionante, com uma ampla estrada de pedra que conduz a um portão frontal e uma imponente porta arqueada. Este claramente não é um lugar de fácil acesso, e quando Caitlin olha para cima, vê guardas humanos em todas as torres, observando-os com olhos de águia.
Quando se aproximam da entrada, de repente há um som de trombetas, seguido pelo estrondo dos cascos dos cavalos.
Caitlin se vira. Galopando ao longo do horizonte, aproximando-se rapidamente na direção deles, há dezenas de guerreiros humanos, vestidos com armadura. Um homem imponente vestindo peles os lidera. Ele tem uma grande barba laranja, é ladeado por atendentes, e exibe o comportamento de um rei. Ele tem traços suaves, e parece ser do tipo que sorri facilmente. O homem é seguido por um grande séquito de guerreiros, e Caitlin teria ficado tensa, se não fosse por Taylor e Tyler estarem tão relaxados. Claramente, aqueles eram seus amigos.
Quando os soldados param diante deles e se separam, Caitlin fica paralisada, completamente em choque.
Ali, no centro do grupo, desmontando dos cavalos, estão as duas pessoas que ela mais ama no mundo. Ela não consegue acreditar. Caitlin pisca várias vezes. São realmente eles.
De pé diante dela, sorrindo para ela, estão Sam e Polly.
*
Caitlin e Sam dão um passo à frente diante dos dois grandes grupos de guerreiros e se reúnem em um enorme abraço. Caitlin se sente aliviada por estar abraçando seu irmão, e por ser abraçada, por ver e sentir que ele está vivo, e realmente ali. Ela então se inclina e abraça Polly, Caleb também se aproxima e dá um abraço em Sam e Polly.
"Polly!" Scarlet grita, ao se aproximar correndo com Ruth latindo ao seu lado. Polly ajoelha-se e a abraça, envolvendo-a em seus braços.
"Eu achei que nunca a veria de novo!" Diz Scarlet.
Polly fica radiante. "Você não vai conseguir se livrar de mim assim, tão facilmente!"
Ruth late, e Polly se ajoelha e a abraça, enquanto Sam abraça Scarlet.
Caitlin sente-se aquecida pela presença de todos ali; sua família e entes queridos, reunidos finalmente. Ela se lembra de Londres, de todos os doentes e moribundos, uma época em que ela não poderia imaginar que uma cena feliz assim jamais fosse possível. Caitlin se sente agradecida que ao menos isso parece estar resolvido, e fica espantada com todas as experiências por que já tinha passado. Isso a faz sentir-se grata pela imortalidade. Ela não consegue imaginar o que ela faria com apenas uma vida.
"O que aconteceu com vocês?" Caitlin pergunta para Sam. "A última vez que o vi, você me prometeu que não sairia do lado de Caleb e de Scarlet. E quando eu voltei você não estava lá."
Caitlin ainda está chateada com a traição de Sam.
Sam e Polly olham para baixo envergonhados.
"Eu sinto muito," diz Sam. "A culpa foi minha. Polly foi sequestrada, e eu os abandonei para salvá-la."
"Não, a culpa é minha," emenda Polly. "Sergei havia dito que conhecia uma cura, e que eu tinha que ir com ele para consegui-la. Eu era tão estúpida que acreditei nele. Eu pensei que poderia salvá-los. Mas eu quebrei minha promessa a você. Será que você vai conseguir me perdoar?"
"E a mim?" Pergunta Sam.
Caitlin olha para ambos os seus rostos, e vê sinceridade neles. Uma parte dela ainda está chateada que eles tenham quebrou a promessa e deixado Scarlet e Caleb tão indefesos. Mas outra parte dela, uma parte que estava evoluindo, lhe diz para perdoá-los completamente e esquecer o que havia acontecido.
Ela respira fundo, e se concentra em esquecer. Ela solta o ar, e acena com a cabeça.
"Sim, eu perdoo vocês," ela fala.
Ambos sorriem de volta.
"Você pode até perdoá-los,” diz de repente o Rei McCleod, desmontando e caminhando na direção deles, "mas eu não vou perdoá-los por embaraçar meus homens dessa forma!" ele diz, soltando uma gargalhada. "Especialmente Polly. Vocês dois envergonharam meus melhores guerreiros. Claramente, temos muito a aprender com vocês, como já aprendemos com os outros. Vampiros contra seres humanos. Nunca é uma luta justa," diz ele, balançando a cabeça, com outra gargalhada.
McCleod adianta-se e se aproxima de Caitlin e Caleb. Caitlin gosta dele imediatamente. Ele é rápido para sorrir, com uma gargalhada profunda e reconfortante, e parece colocar todos ao seu redor à vontade.
"Bem-vindos à nossa ilha," ele fala, esticando o braço e pegando a mão de Caitlin para beijá-la enquanto faz uma reverência. Em seguida, ele estica o braço e aperta a mão de Caleb calorosamente entre as suas. "A ilha de Skye. Não há lugar como ele na terra. O último refúgio para os maiores guerreiros. Este castelo está na minha família há centenas de anos. Vocês ficarão conosco. Aiden ficará feliz em saber que vocês estão aqui, assim como meus homens. Eu oficialmente os recebo de braços abertos!” completa ele com um grito, e todos os seus homens aplaudem.
Caitlin se sente oprimida por toda aquela hospitalidade. Ela mal sabe como responder.
"É um grande prazer," ela diz.
"E nós lhe agradecemos por sua graciosidade," diz Caleb.
"Você é um rei?" Scarlet pergunta, adiantando-se. "Existe uma princesa de verdade aqui?"
O rei olha para baixo e cai na gargalhada, mais alta e mais profunda do que antes. "Deixe-me ver, eu sou rei, sim, é verdade, mas receio que não haja nenhuma princesa aqui. Apenas nós, os homens. Mas talvez você possa corrigir isso, minha querida!" Diz ele com uma risada, dando dois passos pra frente, ele pega Scarlet no colo e começa a girar. "E qual é o seu nome?”.
Scarlet enrubesce, de repente tímida.
"Scarlet," ela responde, olhando para baixo. "E essa é Ruth," ela completa, apontando para baixo.
Ruth late, como que em resposta, e McCleod coloca Scarlet no chão com uma risada, e acaricia o pelo de Ruth.
"Tenho certeza que todos vocês estão famintos," ele diz. "Para o castelo!" o rei grita. "É hora de comemorar!"
Todos os seus homens gritam, virando-se em grupo, e se dirigem para a entrada do castelo. Assim que fazem isso, fileiras de guardas se colocam a postos.
Sam passa o braço em torno do ombro de Polly, e Caleb em torno de Caitlin, enquanto eles caminharam juntos em direção à entrada do castelo. Caitlin sabe que não deveria, mas apesar de seus esforços, ela alimenta a esperança de que, talvez, desta vez, tivessem encontrado um lar permanente, um lugar no mundo onde todos pudessem, finalmente, ficar em paz para sempre.
CAPÍTULO SEIS
Aquela é a recepção mais calorosa e generosa que Caitlin poderia ter imaginado. A chegada deles tinha sido como uma longa celebração. Eles encontram um membro do coven após o outro, e ela vê rostos que não tinha visto pelo que parecia uma eternidade – Barbara, Cain, e muitos outros. Todos se sentam para almoçar em uma mesa de banquete enorme, no caloroso castelo de pedra, com peles sob seus pés, tochas ao longo das paredes, aquecidos pelas chamas da lareira enquanto cães correndo ao redor deles. A sala é quente e aconchegante, e Caitlin percebe que está frio para a época – o final de outubro, como Caitlin havia sido informada. 1350. Caitlin não consegue acreditar. Ela está quase a 700 anos do século XXI.
Ela sempre havia se perguntado como seria a vida nessa época, – nos tempos de cavaleiros, armaduras, castelos… Mas ela nunca tinha imaginado nada parecido. Apesar da mudança gritante na paisagem, a ausência de grandes vilas ou cidades, as pessoas ainda são muito calorosas, muito inteligentes, muito humanas. De muitas maneiras, não são muito diferentes do povo de seu tempo.
Caitlin se sente em casa neste tempo e lugar. Ela tinha passado horas a conversando com Sam e Polly, ouvindo suas histórias, sua versão do que havia acontecido com eles ainda na Inglaterra. Ela fica horrorizada ao ouvir o que tinha acontecido entre Sergei e Polly, e orgulhosa de Sam por tê-la salvo.
E durante toda a noite, ela não consegue deixar de notar que Sam mal tira os olhos de Polly. Como uma irmã mais velha, ela sente que uma grande mudança tinha acontecido dentro dele. Ele finalmente parece mais maduro, e pela primeira vez na história, verdadeiramente e totalmente apaixonado.
No entanto, Polly, desta vez, parece um pouco mais evasiva. É mais difícil para Caitlin entender como Polly se sente, e quais são seus sentimentos por Sam. Talvez seja porque Polly é mais reservada. Ou talvez seja porque desta vez, Polly realmente se importa. Caitlin sente que, no fundo, Sam significa o mundo para ela, e que ela está sendo extremamente cuidadosa para não revelar seus sentimentos, ou estragar tudo. Caitlin nota que de vez em quando, quando Sam desvia o olhar, Polly dá uma rápida espiada na direção dele. Mas então ela rapidamente desvia os olhos, para que Sam não a pegue olhando.
Caitlin sente, sem sombra de dúvida, que seu irmão e sua melhor amiga estão prestes a tornar-se um casal. A ideia a deixa emocionada. É engraçado que ambos ainda estejam negando o que estava acontecendo entre eles, e até mesmo tentando fingir que não é nada importante.
A mesa também está repleta de novos amigos humanos, e Caitlin conhece muitas pessoas por quem sente afinidade. São todos guerreiros. O rei está sentado à cabeceira, rodeado por dezenas de cavaleiros. Durante toda a tarde, eles cantam canções sobre beber, e riem alto enquanto contam histórias de batalhas e de expedições de caça. Caitlin percebe que aqueles escoceses são calorosos e amigáveis, hospitaleiros, gostam de beber, e são excelentes contadores de estórias. E ainda assim eles são muito nobres e orgulhosos, além de grandes guerreiros.
A refeição e histórias duram horas, e o almoço se estende até o final da tarde. Tochas se apagam e são acesas novamente. Várias toras de madeira são adicionadas à lareira de pedra; enormes tonéis de vinho são substituídos. Eventualmente todos os cães, cansados, adormecem sobre os tapetes. Scarlet finalmente adormece no colo de Caitlin, enquanto Ruth se deita ao lado de Scarlet. Ruth havia sido bem alimentada, graças a Scarlet, que tinha sido uma fonte inesgotável de carne. Diversos cães ficaram sentados ao redor da mesa, implorando por restos, mas todos têm o bom senso de ficar longe de Ruth. E Ruth, por sua vez, também não parece interessada em brincar com eles.
Alguns dos guerreiros, satisfeitos após tanta comida e bebida, finalmente cochilam envoltos por suas peles. Caitlin percebe que está distraída, e seus pensamentos a levam para outras épocas e lugares, outros assuntos. Ela começa a se perguntar qual seria sua próxima pista; se seu pai estaria naquele lugar e tempo; onde a sua próxima viagem a levaria. Seus olhos começam a fechar, quando, de repente, ela ouve seu nome.
É o rei, McCleod, dirigindo-se a ela em meio ao barulho.
"E o que você acha disso, Caitlin?" Ele pergunta mais uma vez.
Quando ele fala, a animada conversa ao redor da mesa termina, e as pessoas se viram e olham para ela.
Caitlin se sente envergonhada, pois não estava prestando atenção à conversa. O rei olha para ela, à espera de uma resposta. Por fim, ele limpa a garganta.
"O que você acha do Santo Graal?" Ele repete.
O Santo Graal? Caitlin se pergunta. É sobre isso que eles estavam falando?
Ela não faz a menor ideia. Ela não tinha sequer pensado no Santo Graal, e nem sequer sabe do que se trata. Ela agora gostaria de ter prestado mais atenção à conversa. Ela tenta lembrar o que é o Santo Graal, e volta a pensar nos contos de fadas, mitos e lendas de sua infância. Ela lembra as histórias do Rei Arthur. Excalibur. O Santo Graal…
Lentamente, as lembranças começam a surgir. Se ela não estiver enganada, diz a lenda que o Santo Graal é um cálice ou taça, e que dentro dele há um líquido especial… Sim, agora ela se lembra de tudo. Algumas pessoas acreditavam que o Santo Graal guarda o sangue de Cristo, e que bebê-lo as tornaria imortais. Se ela estiver correta, cavaleiros tinham passado centenas de anos procurando por ele, e arriscado suas vidas tentando encontrá-lo, até os confins da terra. E ninguém jamais o havia encontrado.
"Você acha algum dia ele será encontrado?" Pergunta McCleod novamente.
Caitlin limpa a garganta, enquanto a mesa toda continua olhando para ela à espera de uma resposta.
"Hmm…" ela começa, "Eu realmente nunca pensei nisso," responde ela. "Mas se ele realmente existe… então eu não vejo por que ele não possa ser encontrado."
Interjeições de aprovação são ouvidas na mesa.
"Você vê", diz McCleod a um de seus cavaleiros. "Ela é uma otimista. Eu também acho que ele será encontrado."
"Conto da carochinha," diz um dos cavaleiros.
"E o que você vai fazer quando encontrá-lo?" Perguntou outro cavaleiro. "Essa é a verdadeira questão."
"Mas é claro, eu me tornarei imortal", responde o rei, caindo na gargalhada.
"Você não precisa do Santo Graal para isso," diz outro cavaleiro. "Tudo que você precisa é ser transformado."
Um silêncio tenso de repente toma conta da mesa. Claramente, aquele cavaleiro tinha falado demais, ultrapassando algum limite ao mencionar um assunto tabu. Ele abaixa a cabeça, envergonhado, reconhecendo o seu erro.
Caitlin vê a expressão sombria no rosto de McCleod, e naquele instante ela percebe que ele deseja desesperadamente ser transformado. E que ele obviamente ressente o coven de Aiden por não fazer sua vontade. Claramente, aquele cavaleiro tinha tocado em um ponto sensível, um ponto de tensão entre as duas espécies.