Se Ela Visse - Блейк Пирс 2 стр.


–Sim, eu acho que é muito bom, admitiu Kate. Allen acha a ideia de namorar estranha também. Nós nos divertimos juntos, mas… Fica um pouco estranho quando as coisas começam a se inclinar para um desfecho romântico.

–Blá, blá, blá, disse Clarissa. Mas você o considera como seu namorado?

–Estamos realmente tendo essa conversa? Kate perguntou, começando a sentir-se levemente corada.

–Sim, disse Clarissa. Nós, senhoras casadas e velhas, precisamos viver através de você.

–E isso também vale para o seu trabalho, disse Jane. Como andam as coisas?

–Não há ligações há cerca de duas semanas, e a última foi apenas para ajudar em uma pesquisa. Desculpem-me, garotas… Não é tão cheio de aventuras quanto vocês esperavam.

–Então, você está de volta à aposentadoria? Perguntou Clarissa.

–Basicamente. É complicado.

Esse comentário terminou com o questionamento enquanto elas se aprofundavam em tópicos locais ─ filmes, um festival de música na cidade, obras na interestadual e assim por diante. Mas a mente de Kate se envolveu no assunto do trabalho. Era reconfortante saber que o departamento ainda a considerava um recurso, mas ela esperava ter um papel mais ativo depois de ter resolvido o último caso. Mas, até agora, ela só falou com o vice-diretor Duran uma única vez, e foi para fazer uma análise do desempenho de DeMarco.

Sabia como era estranho para suas amigas ela ainda ser, tecnicamente, uma Agente na ativa ao mesmo tempo em que também se inclinava para o papel de avó. Diabos, também era estranho para ela. Ainda por cima tinha um relacionamento que estava desabrochando lentamente com Allen, ela supunha que sua vida fosse bastante interessante para elas.

Honestamente, ela se achava sortuda. Ela completaria cinquenta e seis anos no final do mês e sabia que muitas mulheres da sua idade teriam inveja da vida que ela vive. Ela sempre dizia isso a si mesma quando sentia a necessidade urgente de ser mais ativa no trabalho. E, em alguns dias, funcionava.

E como a neta viria visitá-la pela primeira vez desde o seu nascimento, hoje era um dia daqueles.

***

Uma coisa que tornava difícil equilibrar seu novo papel de avó com o desejo de colocar as mãos em outro caso era tentar pensar como uma avó. Naquela tarde, saiu de casa e desceu até algumas das pequenas lojas no bairro de Carytown, em Richmond. Ela sentiu como se tivesse que conseguir um presente para Michelle para celebrar sua primeira noite na casa da vovó.

Era difícil ignorar armas na cintura e suspeitos para focar em bichos de pelúcia e macacões. Mas quando foi para algumas lojas, ficou um pouco mais fácil. Ela descobriu que realmente gostava de fazer compras para a neta, embora ainda não tivesse dois meses e, honestamente, não se importasse com nenhum presente que recebesse. Ela achou difícil não comprar todas as coisas fofas que encontrou. Afinal, não era responsabilidade de uma avó estragar seus netos?

Quando estava pagando suas compras na terceira loja que visitou, recebeu uma mensagem. Não perdeu tempo em verificar. Nas últimas semanas, ela tinha uma pequena esperança toda vez que recebia uma ligação ou um sms, pensando que talvez fosse Duran ou alguém do departamento. Ela se repreendeu mentalmente quando ficou desapontada ao descobrir que não era o departamento, mas Allen. Uma vez que superou a dor de não ter sido convocada pelo FBI novamente, ela percebeu que estava feliz em ouvir notícias dele ─ sempre ficava feliz em ouvi-lo, na verdade.

–Allen, você tem que me ajudar, ela brincou enquanto atendia o telefone. Estou fazendo compras para Michelle e quero comprar para ela tudo que vejo. Isso é normal?

–Eu não sei, disse Allen. Nenhum dos meus filhos sossegou e me tornou avô ainda.

–Não faça como eu. Comece a economizar.

Allen riu, um som que Kate estava começando a gostar. Então, esta noite é a grande noite, hein?

–De fato. E eu sei que já criei uma criança e sei o que esperar, mas estou um pouco apavorada.

–Ah, você é ótima. Você quer falar sobre ter medo… Então, eu vou sair para beber com meus meninos hoje à noite. E não bebo mais de dois drinques em uma saída há cinco anos.

–Divirta-se.

–Eu queria saber se você gostaria de um encontro amanhã. Podemos compartilhar nossas histórias de sobrevivência desta noite.

–Gostaria. Você quer vir para minha casa por volta das sete?

–Parece um bom plano. Divirta-se esta noite. A pequena Michelle está dormindo a noite toda ainda?

–Acho que não.

–Tá, disse Allen, e terminou a ligação.

Kate guardou o celular no bolso, fazendo malabarismos com as sacolas de compras. Ela sorriu apesar de si mesma. Estava em pé ao sol em sua parte favorita da cidade, tendo acabado de fazer compras para uma neta de dois meses de idade, da qual seria babá hoje à noite. Do jeito que o dia estava se desenrolando, ela realmente queria que a agência telefonasse?

Estava voltando para casa─ uma caminhada de três quarteirões de onde ela atendera Allen ─ quando viu uma garotinha com uma camiseta do My Little Pony. Estava andando com a mãe de mãos dadas, apenas alguns metros à frente dela. Ela tinha cinco ou seis anos de idade, seu cabelo loiro preso em um rabo de cavalo de um jeito que só o cuidado de uma mãe poderia fazer. Ela tinha olhos azuis e a ponta do nariz bem fino, parecia um pouco com uma fada. E isso enviou um pico de desespero através do coração de Kate.

Uma imagem brilhou em sua mente, uma menina que parecia quase idêntica a esta. Mas nesta imagem, a menina tinha o rosto sujo, e estava chorando. As luzes dos carros da polícia apareceram atrás dela.

A imagem era tão forte que fez com que Kate parasse de andar por um momento. Ela desviou os olhos para longe da garota, não querendo parecer assustadora ou estranha. Ela se agarrou a essa imagem em sua cabeça e fez o melhor para encontrar a memória associada a ela. Ela veio gradualmente e, quando chegou, desenrolou-se lentamente, como se estivesse lendo o relatório do caso.

Garota de cinco anos, encontrada cinco dias depois de ser dada como desaparecida. Jogada em uma cabana de pesca no Arkansas com os corpos dos seus pais mortos. Os pais foram a quinta e a sexta vítimas de um assassino em série que aterrorizava o Arkansas por boa parte dos últimos quatro meses… Um assassino que Kate eventualmente pegou, mas apenas depois de ele ter tirado a vida de um total de nove pessoas.

Kate percebeu que, de repente, estava parada como uma estátua na rua, sequer parecia se mexer. Aquele caso a assombrou por um tempo. Tantos becos sem saída, tantas pistas falsas. Estava andando em círculos, incapaz de encontrar o assassino enquanto ele continuava a aumentar sua contagem de vítimas. Só Deus sabia o que ele havia planejado para aquela garotinha.

Mas você a salvou, ela disse a si mesma. No final, você a salvou.

Lentamente, Kate começou a andar de novo. Não foi a primeira vez que uma imagem aleatória de seu trabalho anterior se chocava em sua mente e fazia com que ela se afastasse da realidade. Às vezes, elas vinham casualmente, embora do nada. Mas houve outras ocasiões em que elas vieram fortes e rápidas, como um flashback de estresse pós-traumático.

A imagem da garota do Arkansas estava em algum lugar entre os dois casos. E Kate se sentiu grata por isso. Aquele caso em particular quase a fez pedir demissão como Agente, em 2009. Foi alucinante o suficiente para Kate pedir duas semanas de folga do trabalho. E de repente, por apenas uma fração de segundo enquanto caminhava de volta para casa com presentes para a neta em sua mão, Kate sentiu como se tivesse sido empurrada para o passado.

Quase dez anos se passaram desde que ela resgatara aquela garota. Kate se perguntou onde ela estaria, imaginando se ela tinha sobrevivido ao trauma.

–Senhora?

Kate piscou, pulando um pouco ao som de uma voz desconhecida na frente dela. Havia um adolescente de pé na frente dela. Parecia preocupado, como se não tivesse certeza se deveria estar lá ou fugir.

–Você está bem? Ele perguntou. Você parece… Eu não sei. Estar passando mal. Como se você estivesse prestes a desmaiar ou algo assim.

–Não, disse Kate, sacudindo a cabeça. Eu estou bem. Obrigada.

O garoto concordou e seguiu seu caminho. Kate começou a andar novamente, arrancada de algum buraco no passado que ela assumiu que ainda não tinha se fechado. E quando ela se aproximava cada vez mais de casa, começou a se perguntar quantos desses buracos do passado haviam sido deixados descobertos.

E se os fantasmas de seu passado continuassem a assombrá-la até que ela também se tornasse um fantasma?

CAPÍTULO DOIS

Kate passou a hora seguinte arrumando a casa, embora já tivesse feito isso antes de sair para fazer compras. Ficou incomodada por estar ansiosa para receber Michelle em sua casa. Melissa havia morado nesta casa durante seus anos de ensino médio, então quando ela veio visitá-la (o que era bem raro na opinião de Kate), Kate não sentia a necessidade de estar com a casa impecável. Então, por que estava tão preocupada com a aparência do local para um bebê de dois meses?

Talvez seja algum tipo estranho de comportamento de avó, ela pensou enquanto esfregava a pia do lavabo… Um cômodo que ela estava bem ciente de que sua neta nem veria, muito menos o usaria.

Enquanto lavava a pia, a campainha tocou. Ela foi inundada com uma excitação para a qual ainda não estava pronta. Estava sorrindo de orelha a orelha quando atendeu a porta. Melissa estava do outro lado, carregando Michelle em sua cadeirinha de bebê. O bebê dormia profundamente, com um grosso cobertor ao redor das pernas.

–Ei, mãe, Melissa disse quando entrou na casa. Ela deu uma olhada rápida ao redor e revirou os olhos. Limpou muito hoje?

–Muito, Kate disse enquanto dava um abraço na filha.

Melissa colocou a cadeirinha cuidadosamente no chão e, lentamente, desafivelou Michelle. Ela pegou-a e entregou-a suavemente para Kate. Fazia quase uma semana desde que Kate visitara Melissa e Terry, mas quando ela pegou Michelle em seus braços, pareceu muito mais tempo.

–O que você e Terry planejaram para esta noite? Kate perguntou.

–Nada demais, na verdade, disse Melissa. E essa é a beleza da coisa. Nós vamos sair para jantar e beber. Talvez dançar. Além disso, mudamos de ideia sobre pedir que você fique com ela durante a noite, porque percebemos que não estamos preparados para isso. Dormir sem interrupções é muito necessário, mas eu não posso ficar longe dela por tanto tempo.

–Ah, acho que posso entender isso, disse Kate. Vocês saiam e se divirtam.

Melissa sacudiu a bolsa de fraldas do ombro e colocou-a na cadeirinha. Tudo que você precisa está aqui. Ela vai querer comer novamente em cerca de uma hora e ela irá lutar contra o sono. Terry acha bonito, mas acho que é um inferno. Se ela ficar com gases, há remédio para gases no bolso de trás e…

–Lissa… Vamos ficar bem. Eu criei uma filha, você sabe. Ela também ficou muito bem.

Melissa sorriu e surpreendeu Kate dando-lhe um beijo rápido na bochecha. Obrigada, mãe. Eu venho buscá-la por volta das onze horas. É tarde demais?

–Não, é perfeito.

Melissa deu uma última olhada para seu bebê, um olhar que fez o coração de Kate inflar. Ela pôde se lembrar de como era ser mãe e ter aquele sentimento interno de amor a preenchendo ─ um amor que se traduzia em pura vontade de fazer qualquer coisa e tudo para garantir que esse ser humano que você gerou estivesse em segurança.

–Se você precisar de alguma coisa, me ligue, Melissa disse, embora ela ainda estivesse olhando para Michelle e não para Kate.

–Ligarei. Agora vá. Divirta-se.

Melissa finalmente se virou e saiu pela porta. Quando ela a fechou, a pequena Michelle acordou nos braços de Kate. Ela deu a sua avó um sorrisinho sonolento e soltou um pequeno bocejo.

–Então, o que faremos agora? Kate perguntou.

A pergunta foi divertidamente dirigida a Michelle, mas ela sentiu um peso por trás disso que a fez se perguntar se estava simplesmente fazendo uma pergunta retórica para si mesma. Sua filha cresceu, agora ela tem sua própria filha. E aqui estava ela, chegando aos cinquenta e seis anos e com o primeiro neto nos braços. Então, o que fazemos agora?

Ela pensou sobre essa atração para voltar a trabalhar, e talvez pela primeira vez, isso pareceu irrelevante.

Algo bem menor que a menininha que agora ela segurava em seus braços.

***

Às oito da noite, Kate se perguntava se Melissa e Terry haviam simplesmente criado o bebê mais bem-comportado da história. Michelle não chorou nem uma vez, nem chegou a ficar nervosa. Estava simplesmente contente em ser carregada. Depois de duas horas nos braços de Kate, Michelle acenou para adormecer. Cuidadosamente, Kate colocou Michelle no centro de sua cama queen-size e depois ficou parada na porta por um momento para observar sua neta dormir.

Não tinha certeza de quanto tempo estava lá quando seu telefone tocou na mesa da cozinha atrás dela. Teve que tirar os olhos de Michelle, mas conseguiu chegar ao telefone em poucos segundos. Um único barulhinho significava que era um texto em vez de uma ligação e não ficou nem um pouco surpresa ao ver que era Melissa.

Como ela está? Melissa perguntou.

Incapaz de resistir, Kate sorriu e respondeu: Eu dei a ela apenas três cervejas. Saiu com um cara de moto há uma hora. Eu disse a ela para estar de volta às 11h.

A resposta veio rapidamente: Ah, não tem graça.

A brincadeira a fez quase tão feliz quanto o bebê dormindo em seu quarto. Depois que seu pai morreu, Melissa ficou retraída ─ especialmente com Kate. Ela culpou o trabalho de Kate pela morte de seu pai e, embora mais tarde tenha percebido que esse não era o caso, havia momentos nos quais Kate sentia que Melissa ainda se ressentia do tempo que passara na agência após a morte dele. Por mais estranho que pareça, porém, Melissa demonstrou algum interesse em seguir carreira no FBI… Apesar de ter uma atitude menos positiva em relação aos acontecimentos do ano anterior, em relação à aposentadoria interrompida de sua mãe.

Ainda sorrindo, Kate levou o telefone para o quarto e tirou uma foto rápida de Michelle. Ela mandou para Melissa e depois, após pensar um pouco, ela também enviou para Allen, só que a dele tinha a mensagem: Esgotada da festa!

Ela desejou que ele estivesse lá com ela. Ela havia sentido isso muitas vezes ultimamente. Não era ingênua o suficiente para pensar que o amava, mas podia se ver apaixonada por ele se as coisas continuassem do jeito que estavam. Ela sentia falta dele quando não estava por perto e sempre que ele a beijava a fazia se sentir cerca de vinte anos mais jovem.

Ela se viu sorrindo novamente quando Allen respondeu com uma foto. Era uma selfie dele com dois homens mais jovens que pareciam exatamente com ele ─ seus filhos, supostamente.

Enquanto estudava a foto, seu telefone tocou em suas mãos. O nome que apareceu na tela enviou uma onda de excitação através dela que ela foi incapaz de conter.

O vice-diretor Vince Duran estava ligando para ela. Isso teria causado uma agitação de excitação, mas o fato de que era depois das oito horas da noite de sexta-feira disparou um alarme na cabeça dela ─ sinos de alerta que ela gostava de ouvir.

Deu um tempo, ainda olhando para a pequena Michelle, e então respondeu.

–Kate Wise, disse ela, mantendo sua excitação sob controle.

–Wise, é Duran. É uma má hora pra conversarmos?

–Não é absolutamente a melhor, mas tudo bem, ela respondeu. Está tudo bem?

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