Razão Para Temer - Блейк Пирс 5 стр.


Ramirez bateu à porta. Não levou tempo algum até que Nguyen atendesse. Ele parecia ter quase sessenta anos. Vestia uma camiseta do Boston Celtics e shorts de academia. Parecia casual, calmo e até feliz.

Como já tinham se apresentado pelo telefone, Nguyen os convidou a entrar. Eles entraram em um hall elaborado que levou até uma grande sala. Parecia que Nguyen havia se preparado para recebe-los. Ele colocou roscas e xícaras de café no que parecia ser uma mesa de café muito cara.

- Por favor, sentem – Nguyen disse.

Avery e Ramirez sentaram no sofá olhando para a mesa de café, enquanto Nguyen sentou em uma poltrona, no lado oposto.

- Sirvam-se – Nguyen disse, apontando para o café e as roscas. – Agora, o que posso fazer por vocês?

- Bem, como eu disse no telefone – Avery disse – nós falamos com Hal Bryson e ele nos disse que você saiu do seu trabalho na Esben Technologies. Você poderia nos falar um pouco sobre isso?

- Sim. Infelizmente, eu estava colocando muito tempo e energia no trabalho. Comecei a ter visões duplas e dores de cabeça fortes. Trabalhei oitenta e seis horas por semana por cerca de sete meses seguidos. Fiquei obcecado pelo meu trabalho.

- Por qual aspecto do trabalho, exatamente? – Avery perguntou.

- Olhando para trás, eu sinceramente não sei te dizer – ele disse. – Era apenas por saber que nós estávamos perto de criar temperaturas no laboratório que imitariam algo que alguém poderia sentir no espaço. Encontrar maneiras de manipular elementos com temperaturas... tem algo divino nisso. Pode ser viciante. E eu não percebi até que fosse tarde.

A obsessão dele pelo trabalho certamente bate com a descrição de seja quem for que nós estivermos procurando, Avery pensou. Ainda assim, mesmo tendo falado com Nguyen por apenas dois minutos, ela tinha certeza de que Bryson estava certo. Não havia chances de Nguyen estar envolvido naquilo.

- Em que exatamente você estava trabalhando quando saiu? – Avery perguntou.

- É complicado – ele disse. – E desde então, eu deixei aquilo para trás. Mas, essencialmente, eu estava trabalhando em livrar-se do excesso de calor causado quando átomos perdem seu impulso durante processos de resfriamento. Estava lidando com unidades quânticas de vibração e fótons. Agora, pelo que eu entendo, isso está sendo aperfeiçoado pelos nossos amigos em Boulder. Mas naquele tempo, eu estava trabalhando como um louco!

- Além do trabalho que você está fazendo para jornal e as coisas na faculdade, ainda está fazendo algum trabalho? – Ela perguntou.

- Faço umas coisas aqui e ali – ele disse. – Mas só coisas aqui em casa. Tenho meu pequeno laboratório próprio em uma sala alugada a algumas quadras daqui. Nada sério. Você gostaria de ver?

Avery sabia que eles não estavam sendo enganados. Nguyen era claramente apaixonado pelo trabalho que costumava fazer. E quanto mais ele falava sobre o que havia feito, mais ele os colocava em um mundo de mecânica quântica—um mundo que com certeza estava longe do mundo de um assassino louco jogando um corpo em um rio congelado.

Avery e Ramirez se olharam. Um olhar que Avery encerrou quando baixou a cabeça.

- Bem, senhor Nguyen – ela disse, - nós agradecemos pelo seu tempo. Mas deixe-me fazer só mais uma pergunta: durante o tempo que você trabalhou no laboratório, você conheceu alguém—colegas, alunos, qualquer pessoa—que parecia muito excêntrica ou um pouco louca?

Nguyen levou alguns momento para pensar, mas depois balançou a cabeça.

- Não que eu lembre agora. Mas eu repito, nós cientistas somos todos um pouco excêntricos no trabalho. Mas se eu lembrar de alguém, eu lhe aviso.

- Obrigada.

- E se vocês mudarem de ideia e quiserem ver meu laboratório, é só me avisar.

Apaixonado pelo trabalho e solitário, Avery pensou. Porra... Eu era assim até uns meses atrás.

Ela podia enxergar essa relação. E por isso, aceitou feliz o cartão de Nguyen quando ele a ofereceu na porta, que ele fechou quando Avery e Ramirez seguiram pelas escadas em direção ao carro.

- Você entendeu alguma palavra do que ele disse? – Ramirez perguntou.

- Muito pouco – ela disse.

Mas a verdade é que ele havia dito uma coisa que ainda permanecia em sua mente. Algo que não a fez querer investigar Nguyen mais a fundo, mas a deu uma ideia sobre como pensar sobre o assassino.

Encontrar maneiras de manipular elementos com temperaturas, Nguyen dissera. Tem algo divino nisso.

Talvez nosso assassino está agindo achando que é um deus, ela pensou. E se ele pensa como um deus, ele pode ser mais perigoso do que nós achamos.

CAPÍTULO OITO

O hamster parecia um bloco de gelo peludo quando ele o tirou do congelador. Estava gelado como um bloco de gelo, também. Ele não pode evitar uma risada quando ouviu o som que o animal fez quando foi colocado forma. Suas pernas estavam penduradas no ar—bem diferente do modo como ele havia andado de um lado a outro em pânico quando fora colocado no congelador.

Isso fora três dias atrás. Desde então, a polícia havia descoberto o corpo da garota no rio. Ele ficara surpreso com quão longe o corpo havia ido. Todo o caminho até Watertown. E o nome da garota era Patty Dearborne. Soava pretencioso. Mas porra, aquela garota era linda.

Ele pensou, futilmente, em Patty Dearborne, a garota que levara dos subúrbios do campus da Boston University, enquanto passava os dedos pela barriga gelada do hamster. Ele ficara muito nervoso, mas havia sido muito fácil. Claro, ele não tinha a intenção de matar a garota. As coisas saíram do controle. Mas então... então tudo se desencadeara para ele.

A beleza poderia ser tomada, mas não em algum tipo mortal. Até mesmo quando Patty Dearborne estava morta, ela ainda era linda. Uma vez que ele pegou Patty nua, ele a tinha encontrado quase impecável. Havia um sinal na pele na parte inferior das costas e uma pequena cicatriz na parte superior do tornozelo. Mas fora isso, ela estava impecável.

Ele havia jogado Patty no rio e quando ela bateu na água gelada, já estava morta. Ele assistira a cena com grande expectativa, pensando se eles seriam capazes de trazê-la de volta... pensando se o gelo que a havia mantido por aqueles dois dias a preservariam de alguma forma.

Era óbio que não.

Eu fui desleixado, ele pensou, olhando para o hamster. Vai levar um tempo, mas eu vou descobrir.

Ele estava pensando que o hamster poderia ser uma parte da descoberta. Com os olhos ainda em seu pequeno corpo congelado, pegou duas almofadas térmicas no balcão da cozinha. Eram do tipo de almofada térmica usada em atletas para soltar os músculos e relaxar as partes mais tensas do corpo. Ele colocou uma das almofadas abaixo do corpo e a outra sob suas pernas rígidas e frígidas.

Ele tinha certeza que seria necessário esperar. Ele tinha muito tempo... não tinha nem um pouco de pressa. Estava tentando enganar a morte e sabia que a morte não iria a nenhum lugar.

Com este pensamento na cabeça, preencheu o apartamento com uma risada parecida com a de uma bruxa. Dando um último olhar ao hamster, caminhou para seu quarto. Estava bem arrumado. Foi até o banheiro e lavou suas mãos com a eficiência de um cirurgião. Então, olhou para o espelho e olhou para seu rosto – um rosto que ele, algumas vezes, pensava ser de um monstro.

Havia um dano irreparável no lado esquerdo do seu rosto. Começava logo abaixo do seu olho e alcançava seu lábio superior. Enquanto a maior parte da pele e tecido havia se recuperado em sua juventude, havia cicatrizes permanentes e descoloração naquele lado da face. Sua boca sempre parecia estar congelada. Uma carranca permanente.

Aos trinta e nove anos de idade, havia deixado de se preocupar em quão ruim aquilo parecia. Era a ajuda que ele recebera. Uma ajuda de merda havia resultado num rosto desfigurada. Mas estava tudo bem... ele estava trabalhando em consertá-lo. Olhou para o reflexo deformado no espelho e sorriu. Poderia levar anos para conseguir, mas estava tudo bem.

- Hamsters custam apenas cinco dólares cada um – ele disse no banheiro vazio.

Ele havia feito algumas leituras, principalmente em fóruns de enfermeiros e estudantes de medicina. Para saber se o experimento com o hamster estava funcionando, as almofadas térmicas precisariam ficar nele por mais ou menos quarenta minutos. Seria um descongelamento lento, que não poderia ser interrompido nem chocar o coração congelado.

Ele passou aqueles quarenta minutos assistindo às notícias. Viu algumas coisas rápidas sobre Patty Dearborne. Viu que Patty estudava na Boston University e havia rumores de se tornar uma conselheira. Ela tinha um namorando e também tinha pais que a amavam. Viu os pais dela na TV, se abraçando e chorando juntos enquanto falavam com a mídia.

Ele desligou a TV enquanto caminhava para a cozinha. O cheiro do hamster descongelando estava começando a tomar conta da sala... um cheiro que ele não estava esperando. Correu de volta ao pequeno corpo e tirou as almofadas térmicas dele.

A pele estava chamuscada e a barriga, até então congelada, estava levemente carbonizada. Ele empurrou aquele pequeno corpo peludo. Quando caiu no chão da cozinha com pequenos trilhos de fumaça saindo da sua pele, ele gritou.

Ele correu pelo apartamento por alguns instantes, furioso. Como era de se esperar, sua raiva e absoluta fúria eram guiadas por memórias de um queimador de forno... queimando suas memórias de infância com cheiro de carne queimada.

Seus gritos diminuíram e se tornaram uma cara feia e soluços em menos de cinco minutos. Então, como se nada fora do comum tivesse acontecido, foi para a cozinha e pegou o hamster. Jogou-o na lixeira como se fosse um pedaço de lixo e lavou suas mãos na pia da cozinha.

Estava sussurrando quando terminou. Quando pegou suas chaves no gancho perto da porta, como de costume, correu sua mão livre pela cicatriz do lado direito do seu rosto. Fechou a porta, trancou, e foi para a rua. Lá, no meio de uma manhã de inverno absolutamente linda, entrou em sua van vermelha e começou a descer pela rua.

Quase casualmente, olhou para si mesmo no espelho retrovisor.

Aquela carranca permanente estava ainda lá, mas não deixou que aquilo o intimidasse.

Ele tinha trabalho a fazer.

***

Sophie Lentz estava de saco cheio da fraternidade. Aliás, ela estava quase desistindo da universidade também.

Vaidosa ou não, ela sabia como era. Havia garotas mais bonitas do que ela, com certeza. Mas ela tinha uma veia latina que a favorecia, os olhos escuros e os cabelos pretos brilhosos. Poderia também mudar seu sotaque quando precisasse. Havia nascido nos Estados Unidos, crescido no Arizona, mas de acordo com sua mãe, a veia Latina nunca a deixara. A veia Latina nunca deixara seus pais também... nem mesmo quando se mudaram para New York na semana depois que Sophie foi aceita na Emerson.

No entanto, aquela veia era mais gritante em sua aparência do que nas suas atitudes e personalidade. E aquilo a ajudara no Arizona. Na verdade, também a ajudara na universidade. Mas apenas no ano de caloura. Ela havia aproveitado, mas não como sua mãe provavelmente pensara. E aparentemente, a história havia se espalhado: Sophie Lentz não demorava muito para ir para a cama, e quando ela ia, você tinha que estar preparado.

Ela supunha que haviam reputações piores. Mas aquilo havia explodido em sua cara nesta noite. Algum cara – ela achava que o nome dele era Kevin – tinha começado a beijá-la e ela deixou. Mas quando eles estavam sozinhos e ele não aceitou um não como resposta...

A mão direita de Sophie ainda doía. Ainda havia um pouco de sangue em seus dedos. Ela os limpou em seu jeans apertado, lembrando o som do nariz daquele babaca batendo contra o seu punho. Ela estava furiosa, mas, no fundo, se perguntava se merecia isso. Ela não acreditava em karma, mas talvez o lado megera que ela havia usado no semestre passado estava se voltando contra ela. Talvez ela estivesse colhendo o que plantou.

Caminhava pelas ruas que cortavam a Emerson College, voltando para o seu apartamento. Sua colega de quarto certinha estaria, sem dúvidas, estudando para algum teste do dia seguinte, então pelo menos ela não estaria sozinha.

Estava a três quarteirões do seu apartamento quando começou a sentir uma sensação estranha. Olhou para trás, certa de que estava sendo seguida, mas não havia ninguém. Ela podia ver as sombras de algumas pessoas em um pequeno café a alguns metros atrás dela, mas era só. Teve um pensamento sobre qual tipo de idiotas bebiam café às onze e meia da noite, ainda irritada sobre Kevin ou qualquer que fosse o nome daquele cara.

Na frente de um semáforo, alguém estava tocando um terrível hip hop. O para choque traseiro do carro estava tremendo e o som parecia miserável. Você está sendo uma verdadeira vadia esta noite, não está? Ela disse a si mesma.

Ela olhou para sua mão direita ligeiramente inchda e sorriu. Sim. Sim, estou.

Quando chegou ao cruzamento onde estava o carro, a luz havia mudado e o carro acelerou. Ela virou à direita no cruzamento e seu prédio já estava à vista. Mais uma vez, porém, sentiu aquela estranha sensação. Virou-se para olhar para trás e, de novo, não havia nada. Um pouco abaixo, na rua, um casal caminhava de mãos dadas. Havia vários carros estacionados na rua e uma única van vermelha andando na direção do semáforo pelo qual ela acabara de passar.

Talvez ela apenas estivesse sendo paranoica porque um babaca havia, basicamente, tentado estupra-la. Aquela adrenalina adicional que estava fluindo por ela era uma combinação insalubre. Ela apenas precisava ir para casa, tomar um banho e ir para a cama. Aquela porcaria de fazer festas tinha que acabar.

Ela se aproximou do apartamento, esperando que sua colega de quarto não estivesse em casa. Ela faria milhares de perguntas do porquê ela chegara cedo em casa. Fazia isso porque era intrometida e não tinha uma vida própria... e não porque se importava.

Ela subiu os degraus do prédio. Quando abriu a porta e entrou, olhou para a rua, com aquela sensação de estar sendo observada novamente. No entanto, as ruas estavam vazias; a única coisa que viu foi um casal se beijando com força na frente de um prédio próximo ao dela. Ela também viu a mesma van vermelha. Estava estacionada no semáforo, numa espécie de marcha lenta. Sophie se perguntou se havia algum babaca dirigindo, assistindo a pegação na frente do outro prédio.

Com uma série de arrepios, Sophie entrou. A porta se fechou, deixando a noite atrás dela. Mas aquele sentimento inquietante permaneceu.

***

Ela acordou quando sua colega de quarto saiu na manhã seguinte. A chata barulhenta estava, provavelmente, saindo para comprar mais mangas ou mamãos para seus pretenciosos smoothies de fruta. Sophie tinha certeza que sua colega de quarto não tinha aulas naquela manhã. Ela olhou para o relógio e viu que eram dez e meia

Merda, ela pensou. Ela teria aula em uma hora e não conseguiria chegar a tempo. Precisava que tomar banho, comer algo e então ir para o campus. Ela suspirou, pensando em como havia permitido se tornar aquele tipo de garota. Seria assim agora? Deixaria seu drama pessoal atrapalhar sua educação e melhora de vida? Ela estava—

Uma batida na porta interrompeu suas reflexões internas. Ela resmungou e saiu da cama. Vestia apenas calcinhas e uma camiseta fina de algodão, mas aquilo não importava. Tinha quase certeza que era sua colega de quarto. A idiota provavelmente havia deixado sua carteira. Ou chaves. Ou alguma coisa...

Outra batida, macia, mas insistente. Sim… era sua colega de quarto. Só ela tinha aquele jeito irritante de bater.

Назад Дальше