Rastro de um Assassino - Блейк Пирс 4 стр.


Keri deu uma olhada no quarto. Era enorme, maior que sua casa-barco inteira. A cama king size com dossel estava arrumada. Um tecido leve e delicadamente decorado a envolvia, fazendo-a parecer uma nuvem quadrada. A varanda grande, com a porta bem aberta, era voltada para o oeste, com vista para o Oceano Pacífico.

Uma imensa TV de tela plana, com cerca de 75 polegadas, pendia da parede. As outras paredes eram decoradas com bom gosto com pinturas e fotos do feliz casal. Keri caminhou até uma delas.

Eles pareciam estar de férias, em algum lugar tropical, com o mar ao fundo.

Jeremy usava uma camisa de botões rosa fora da calça, impecável, com uma bermuda xadrez combinando. Ele usava óculos de sol e seu sorriso era um pouco amarelo e forçado, o sorriso de um homem desconfortável ao tirar uma foto.

Kendra Burlingame usava uma canga turquesa com sandálias de salto, amarradas ao redor dos tornozelos. Sua pele bronzeada se destacava contra o tecido. Seu cabelo negro estava amarrado num rabo de cavalo frouxo e seus óculos escuros descansavam sobre a cabeça. Ela tinha um sorriso largo, como se tivesse acabado de conter uma risada. Era tão alta quanto o marido, com pernas longas e olhos azuis que combinavam com o mar atrás de si. Os braços dele envolviam casualmente a cintura da esposa, apoiando-a. Kendra era incrivelmente bonita.

"Então, qual a última vez em que viu sua mulher?" Keri perguntou. Ela estava de costas para Burlingame mas podia ver seu reflexo na moldura de vidro.

"Aqui", ele disse, seu rosto preocupado sem esconder nada, pelo que ela podia dizer. "Foi ontem de manhã. Tinha que sair mais cedo para ir até San Diego supervisionar um procedimento complicado. Ela ainda estava na cama quando lhe dei um beijo de despedida. Era provavelmente por volta de 6h45".

"Ela estava acordada quando você saiu?" Brody perguntou.

"Sim. A TV estava ligada. Ela estava assistindo ao noticiário local para ver como estaria o tempo para o evento de hoje à noite".

"E essa foi a última vez em que a viu, ontem de manhã?" Keri perguntou novamente.

"Sim, detetive", ele disse, parecendo levemente aborrecido pela primeira vez. "Já respondi a isso várias vezes. Posso fazer uma pergunta?"

"É claro".

"Sei que temos que pasar por tudo metodicamente aqui. Mas, enquanto isso, você poderia pedir ao seu pessoal para checar o GPS no celular e no carro de Kendra? talvez isso possa ajudar a localizá-la".

Keri estava esperando que ele fizesse essa pergunta. É claro que Hillman havia ordenado que os especialistas em tecnologia na delegacia começassem o processo no momento em que abriram ocaso. Mas ela vinha segurando esse detalhe para este momento. Queria avaliar a reação dele à sua resposta.

"É uma boa ideia, Dr. Burlingame", ela disse, "tanto que já fizemos isso".

"E o que descobriram?" Burlingame perguntou, esperançoso.

"Nada".

"Como assim, nada?"

"Parece que o GPS foi desligado, tanto no telefone quanto no carro".

Keri, completamente, alerta, observava a reação de Burlingame de perto.

Ele ficou olhando para ela, atônito.

"Desligado? Como isso é possível?"

"Só é possível se foi feito intencionalmente, por alguém que não queria que o celular ou que o carro fossem encontrados".

"Isso significa que foi um sequestrador que não queria que ela fosse encontrada?"

"É possível", Brody respondeu. "Ou pode ser que ela não quisesse ser encontrada".

A expressão de Burlingame passou de atônita para incrédula.

"Você está sugerindo que minha mulher foi embora por conta própria e tentou esconder aonde estava indo?"

"Não seria a primeira vez", Brody disse.

"Não. Isso não faz nenhum sentido. Kendra não é o tipo de pessoa que faz isso. Além do mais, ela não tinha motivos. Nosso casamento é bom. Amamos um ao outro. Ela adora o trabalho na fundação. Ama aquelas crianças. Não iria apenas fugir e abandonar tudo. Eu saberia se houvesse algo errado. Eu saberia".

Para o ouvido de Keri, ele parecia quase suplicar, como um homem tentando convencer a si mesmo. Parecia totalmente perdido.

"Tem certeza disso, doutor?" ela perguntou. "Às vezes, escondemos coisas, mesmo daqueles que amamos. Haveria mais alguém em quem ela confiasse, além de você?"

Burlingame parecia não estar ouvindo-a. Ele sentou na borda da cama, meneando lentamente a cabeça, como se, de alguma forma, isso fosse afastar a dúvida de sua mente.

"Dr. Burlingame?" Keri perguntou novamente, com calma.

"Hã... sim", ele disse, voltando a si. "Sua melhor amiga é Becky Sampson. Elas se conhecem desde a faculdade. Foram a um encontro de ex-alunos do ensino médio juntas há umas duas semanas e Kendra voltou um pouco perturbada, mas não disse por quê. Ela mora perto da Robertson Boulevard. Talvez, tenha mencionado algo para ela".

"Certo, vamos entrar em contato", Keri garantiu. "Enquanto isso, uma unidade designada para a cena do crime virá fazer uma busca minuciosa em sua casa. Vamos entrar em contato sobre a última localização conhecida do carro e celular de sua esposa antes do GPS ser desligado. Está me ouvindo, Dr. Burlingame?"

O homem parecia ter entrado num torpor, olhando para um ponto à frente. Ao ouvir seu nome, ele piscou e pareceu voltar a si.

"Sim, unidade fará uma busca pela casa, conferir GPS. Eu compreendo".

"Também precisaremos verificar tudo sobre seu paradeiro ontem, incluindo seu período em San Diego", Keri disse. "Vamos contactar todo mundo com quem o senhor falou enquanto esteve lá".

"É apenas parte do nosso trabalho", Brody acrescentou, numa tentativa desajeitada de ser diplomático.

"Eu compreendo. Tenho certeza de que o marido é geralmente o principal suspeito quando uma mulher desaparece. Faz sentido. Farei uma lista de todo mundo com quem interagi e darei a vocês seus números de telefone. Vocês precisam disso agora?"

"Quanto antes, melhor", Keri disse. "Não quero ser grosseira, mas você está certo, doutor, o marido é, geralmente, o principal suspeito. E quanto antes pudermos eliminar essa possibilidade, mais rápido podemos passar para outras teorias. Alguns policiais virão isolar toda a área. Enquanto isso, gostaria que o senhor e Lupe se juntassem a nós no pátio onde o detetive Brody e eu estacionamos. Vamos esperar lá até a chegada de reforço e que a CSU possa começar a processar a cena do crime".

Burlingame assentiu e saiu vacilante do quarto. Então, de repente, levantou a cabeça e fez uma pergunta.

"Quanto tempo ela tem, detetive Locke, supondo que tenha sido raptada? Eu sei que cada segundo conta nesses casos. Realisticamente, quanto tempo você acha que ela tem?"

Keri o encarou. Não havia malícia na expressão dele. Ele parecia estar sinceramente querendo algo racional e factual no qual se agarrar. Era uma boa pergunta e uma que ela precisa responder para si mesma.

Keri fez um rápido cálculo mental. Os números que encontrou não eram bons. Mas ela não podia ser tão franca com o marido de uma vítima em potencial. Então, suavizou um pouco sem mentir.

"Veja, doutor. Não vou mentir para você, cada segundo conta. Mas ainda temos uns dois dias antes do rastro de evidências começar a ficar frio. E vamos dedicar nossos principais recursos para encontrar sua esposa. Ainda há esperança".

Mas, internamente, os cálculos eram desencorajadores. Geralmente, 72h era o limite máximo. Supondo que ela tivesse sido levada em algum momento da manhã de ontem, eles tinham pouco menos de 48h para encontrá-la. E isso era uma estimativa otimista.

CAPÍTULO CINCO

Keri caminhava pelo corredor do Centro Médico Cedars-Sinai o mais rápido que seu corpo dolorido permitia. A casa de Becky Sampson ficava a poucas ruas de distância do hospital, então, ela não sentiu muita culpa por fazer uma rápida parada e checar como Ray estava.

Mas ao se aproximar do quarto dele, podia sentir o recente nervosismo familiar crescendo dentro de si. Como eles fariam as coisas voltarem ao normal entre eles, quando havia esse silêncio secreto que compartilhavam, mas não podiam assumir? Enquanto chegava ao quarto, Keri decidiu pelo que ela esperava ser uma solução temporária. Ela iria fingir.

A porta estava aberta e ela podia ver que Ray estava dormindo. Não havia mais ninguém no quarto. O mais recente contrato com a prefeitura estipulava que policiais hospitalizados ficariam em apartamentos sempre que estivessem disponíveis, então, ele estava confortável.

O quarto tinha uma vista para as montanhas de Hollywood e uma grande TV de tela palna, que estava ligada, mas no mudo. Algum filme antigo com Sylvester Stallone lutando num ringue enchia a tela.

Agora eu sei por que ele caiu no sono.

Keri se aproximou e estudou seu parceiro adormecido. Deitado na cama, vestido com uma bata floral de hospital, Ray Sands parecia muito mais frágil. Normalmente, o afro-americano com mais de 1,90 m de altura, pesando pouco mais de cem quilos, era intimidante, com sua cabeça completamente careca. Ele mais que merecia o apelido de "Big".

Com os olhos fechados, seu olho direito de vidro, o que ele havia perdido numa luta de boxe há anos, não era possível de notar. Ninguém iria imaginar que o homem de 40 anos que agora estava deitado num leito de hospital com uma tigela intocada de gelatina vermelha ao lado já foi um dia Ray "The Sandman" Sands, um medalhista olímpico de bronze e competidor profissional peso-pesado considerado um dos favoritos para ganhar o título. É claro, isso foi antes de um subestimado canhoto com um gancho de esquerda brutal ter destruído seu olho e encerrado sua carreira aos 28 anos, com um único soco.

Após se debater por um tempo, Ray encontrou a carreira policial e foi progredindo até se tornar um dos mais reconhecidos investigadores de Pessoas Desaparecidas do departamento. E com a aposentadoria iminente de Brody, ele estava na fila para assumir sua posição no departamento de Roubos e Homicídios.

Keri olhou para as montanhas a distância, se perguntando como estaria a situação deles em seis meses, quando não fossem mais parceiros ou nem mesmo colegas trabalhando na mesma unidade. Ela afastou esse pensamento, sem querer imaginar viver sem a única influência sólida em sua vida desde que Evie foi levada.

Subitamente, sentiu que estava sendo observada. Ela olhou para baixo e viu que Ray estava acordado, olhando para ela em silêncio.

"Como está indo, Smurfete?" ele perguntou, brincalhão. Eles adoravam provocar um ao outro sobre sua dramática diferença de tamanho.

"Bem, como está se sentindo hoje, Shrek?"

"Um pouco cansado, para ser honesto. Eu fiz uma bateria intensa de exercícios há pouco. Caminhei até o fim do corredor inteiro e voltei. Usain Bolt tem que se cuidar, porque estou logo atrás dele".

"Eles deram alguma previsão de quando você terá alta?" ela perguntou.

"Disseram que talvez no final desta semana, se as coisas continuarem a progredir. Então, seriam duas semanas de repouso em casa. Se isso der certo, poderei desempenhar tarefas administrativas numa base limitada. Supondo que me mate de tédio antes disso".

Keri ficou em silêncio por um momento, avaliando como continuar. Parte dela queria dizer a Ray para ir devagar, não se esforçar demais para voltar ao trabalho. É claro, dizer isso seria hipócrita, já que foi exatamente o que ela havia feito. E ela sabia que ele chamaria sua atenção sobre esse ponto.

Mas ele havia levado um tiro enquanto ajudava a salvar a vida dela. Keri se sentia responsável. Queria protegê-lo. E sentia outras coisas sobre as quais não estava bem preparada para pensar no momento.

Por fim, decidiu que dar a ele uma distração na qual se focar poderia ser uma maneira melhor de proceder do que lhe dar um sermão.

"Falando nisso, você poderia me ajudar num caso que acabo de assumir. Que tal misturar um pouco de análise com sua gelatina?" ela perguntou.

"Primeiro que tudo, parabéns por voltar à ativa. Em segundo lugar, e se pulássemos a gelatina e fossemos direto ao caso?"

"Certo. Aqui está o básico. Kendra Burlingame, socialite de Beverly Hills, esposa de um cirurgião plástico bem-sucedido. Não dá notícias desde a manhã de ontem..."

"Quando foi ontem mesmo?" Ray interrompeu. "Os analgésicos me deixam um pouco confuso quando se trata de... você sabe... dias da semana".

"Ontem foi segunda-feira, Sherlock", Keri disse, irônica. "O marido diz que a viu pela última vez às 6h45 da manhã, antes de partir para San Diego para supervisionar uma cirurgia. Agora, são 14h40 da terça-feira, então, já são cerca de 32 horas desaparecida".

"Supondo que o marido está dizendo a verdade. Você conhece a primeira regra quando se trata de esposas desaparecidas: foi o marido".

Keri estava irritada porque todo mundo, incluindo seu parceiro aparentemente iluminado, parecia constantemente lembrá-la disso. Quando ela respondeu, não pôde evitar o tom de sarcasmo em sua voz.

"É mesmo, Ray, essa é a primeira regra? Vou escrever isso porque é a primeira vez que ouço. Alguma outra pérola de sabedoria que você queira me oferecer, oh, grande sábio? Talvez, que o sol é quente? Ou que couve tem gosto de papel alumínio?"

"Só estou dizendo..."

"Acredite, Ray, eu sei. E o cara é, atualmente, o suspeito número um. Mas ela também pode ter simplesmente fugido. Acho que, como um profissional da lei, pode ser válido perseguir outras teorias, não acha?"

"Acho. Assim, você terá argumentos quando for prendê-lo".

"É bom vê-lo usar suas afiadas habilidades investigativas ao invés de apenas tirar conclusões infundadas", Keri disse, zombeteira, tentando não sorrir.

"É assim que funciono. Então, o que mais?"

"Estou indo ver a melhor amiga de Kendra quando sair daqui. A casa dela fica perto. O marido disse que Kendra estava estranha depois que as duas voltaram de um encontro de ex-alunos do ensino médio".

"Alguém está conferindo a viagem do médico a San Diego?"

"Brody está indo para lá agora".

"Você foi designada para ser parceira de Frank Brody nesse caso?" Ray disse, tentando abafar o riso. "Não surpreende que prefira passar seu tempo com um inválido. Como está lidando com isso?"

"Por que você acha que não reclamei quando ele se ofereceu para ir a San Diego? Os caras de lá poderiam muito fazer o serviço, mas ele insistiu e eu imaginei que isso poderia manter tanto ele quanto aquela atrocidade marrom que ele chama de carro fora do meu caminho por um tempo. Prefiro passar meu tempo na companhia de um triste saco surrado, fraco e acamado como você do que com Brody, sempre".

O desabafo brincalhão havia deixado Keri à vontade demais e ela percebeu, muito tarde, que o último comentário dela havia enviando os dois diretamente de volta para aquela sensação desconfortável. Ray ficou em silêncio por um momento, então, abriu a boca para falar, mas Keri se adiantou.

"De toda forma, tenho que ir. Deveria estar me encontrando com a amiga de Kendra neste momento. Volto para cá mais tarde. Pegue leve, entendeu?"

Ela saiu sem esperar por uma resposta. Enquanto caminhava apressada pelo corredor para pegar o elevador, ela continuou repetindo a mesma palavra várias vezes.

Idiota. Idiota. Idiota.

CAPÍTULO SEIS

Ainda sentindo o rosto arder levemente de vergonha, Keri dirigiu a curta distância até a casa de Becky Sampson. Ela viu o rubor do seu rosto no retrovisor e desviou o olhar rapidamente, tentando pensar em qualquer outra coisa a não ser sobre como tinha encerrado a conversa com Ray. Ocorreu-lhe que ela havia saído tão rápido que esqueceu de contar a ele sobre a ligação anônima em relação a Evie e sua ida ao armazém abandonado.

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