Razão Para Se Esconder - Блейк Пирс 5 стр.


- Como um sobretudo.

- Sim – Donald disse. – Isso mesmo.

Avery estava ficando sem perguntas, tendo quase certeza de que aquele interrogatório com sua única testemunha fora um fracasso. Ela tentava pensar em alguma outra pergunta quando Ramirez voltou à sala.

- Preciso ir – Ramirez disse. – Connelly precisa de mim como reforço em alguma coisa perto do Boston College.

- Tudo bem – Avery disse. – Acho que terminamos por aqui. – Ela virou-se para Donald e disse. – Senhor Greer, muito obrigado pelo seu tempo.

Donald caminhou com eles até o lado de fora do prédio e acenou quando eles entraram no carro.

- Você vai comigo? – Ramirez perguntou quando eles saíram da rua.

- Não – ela disse. – Acho que vou voltar na cena do crime.

- Kirkley Street? – Ele disse.

- Sim. Você pode ficar com o carro para fazer o que for que Connelly pedir. Vou pegar um táxi de volta para o departamento.

- Tem certeza?

- Sim. Não tenho mais nada para—

- Para o que?

- Merda!

- O que foi? – Ramirez perguntou, preocupado.

- Rose. Eu combinei de sair com a Rose essa tarde. Combinei com ela um dia de garotas. E agora parece que não vai acontecer. Vou decepcionar minha filha de novo.

- Ela vai entender – Ramirez disse.

- Não. Não vai. Eu sempre faço isso com ela.

Ramirez não teve resposta. O carro permaneceu em silêncio até eles chegarem na Kirkley Street. Ramirez estacionou o veículo no lado da rua diretamente ao lado da cena do crime.

- Tome cuidado – ele disse.

- Pode deixar – ela respondeu, e surpreendeu a si mesma quando inclinou-se e o beijou rapidamente na boca.

Depois, saiu do carro e começou imediatamente a estudar o local. Estava tão focada na área que quase não percebeu quando Ramirez foi embora atrás dela.

CAPÍTULO SEIS

Depois de olhar para o local por um tempo, Avery virou-se para olhar a rua. Seus olhos seguiram o caminho que Donald Greer possivelmente fizera, à sua direita, onde a Kirkley encontrava a Spring Street. Ela caminhou pela rua, chegou à esquina, e dobrou.

Muitos pensamentos invadiram sua mente quando ela começou a caminhar. O assassino estivera a pé todo o tempo? Se sim, por que ele viera da Spring Street—uma rua tão feia e acabada quanto a Kirkley? Ou, talvez, ele havia vindo de carro. Se fosse o caso, onde ele teria estacionado? Se a névoa estivera forte o suficiente, ele poderia ter estacionado em qualquer lugar da Kirkley e seu carro não teria sido visto.

Se o homem com o longo casaco preto fosse mesmo o assassino, ele teria caminhado pelo mesmo caminho menos de oito horas atrás. Avery tentou imaginar o local a sua volta com uma névoa forte pela manhã. Não era uma tarefa difícil já que a área era tão desolada. Enquanto caminhou devagar pelo terreno onde os ossos e estilhaços foram encontrados, manteve os olhos atentos a possíveis lugares onde o homem poderia ter sumido de vista.

Na verdade, havia muitos lugares assim. Havia seis terrenos vazios e duas ruas laterais onde o homem poderia ter se escondido. Se a névoa fora forte o suficiente, qualquer um daqueles locais teria sido um esconderijo e tanto.

Aquilo despertou uma ideia interessante. Se o homem tivesse se escondido em uma daquelas áreas, ele teria deixado Donald Greer passar sem incomoda-lo. Aquilo eliminava a possibilidade de o assassinato ter sido um ato de pura violência. A maioria das pessoas capazes desse tipo de violência não teriam deixado Donald passar tão facilmente. Na verdade, Donald teria se tornado uma vítima na maioria dos casos.

Se precisava de mais provas de que o corpo fora queimado em outro lugar, aquela ideia lhe comprovou essa hipótese. Talvez, então, o objeto que o homem estava escondendo debaixo do casaco fosse um recipiente contendo os restos que ele despejara no terreno.

Aquilo fazia sentido e, aos poucos, ela começou a sentir um sentimento crescente de que. estava chegando em algum lugar.

Caminhou pelo terreno onde os restos haviam sido encontrados. Sempre rápido e eficiente, O’Malley já havia retirado a polícia do local. Ela imaginou que ele fizera isso logo que os peritos vieram para coletar os restos.

Avery caminhou até onde os ossos e as cinzas foram derrubados e simplesmente parou ali, olhando em volta. A área pantanosa atrás do terreno era mais visível do que nunca agora. Ficava perto e era muito menos aberta do que o terreno. Então por que alguém jogaria os ossos no meio do terreno ao invés de fazer isso em um riacho infestado de ervas daninhas? Por que alguém colocaria os restos a céu aberto ao invés de esconde-los na lama e na água parada?

Eram perguntas que os policiais já tinham feito. E em sua mente, a resposta era a prova de que eles estavam lidando com um assassino em série.

Ele quer que as pessoas vejam o que ele fez. Ele é orgulhoso e talvez um pouco arrogante.

Ela pensou que ele poderia ser inteligente, também. O uso da névoa para esconder-se mostrava que ele havia planejado tudo muito bem. Ele fora persistente, monitorando o tempo para ter certeza de que encontraria uma névoa forte. Ele também teria que conhecer a área relativamente bem. Aquilo tudo teria que ter sido muito bem planejado.

E fogo... ele precisava entender muito bem de fogo. Queimar um corpo de forma tão limpa, sem carboniza-lo e sem danificar os ossos, custava muita dedicação e paciência. O assassino teria que saber muito sobre fogo e processos de queima.

Queima, ela pensou. Fogo.

Enquanto estudava o local e imaginava o assassino ali, Avery sentiu que estava deixando algo passar—alguma pista crucial estava bem a sua frente. Mas tudo o que podia ver era a área pantanosa e lameada nos fundos do terreno, bem como o pequeno espaço quadrado onde alguma pobre vítima havia sido deixada como se não fosse nada mais do que uma simples pilha de lixo.

Ela olhou em volta do terreno vazio novamente, imaginando que talvez a localização dos restos não fosse importante quanto ela pensara. Se o assassino estava usando fogo para enviar uma mensagem para alguém (a vítima ou a polícia), talvez isso era o que precisava ser focado.

Com uma ideia vindo à mente, Avery pegou seu telefone e ligou para o táxi mais próximo. Depois da chamada, olhou seus contatos e parou no nome de sua filha por cinco segundos.

Desculpe, Rose, pensou.

Apertou em “Chamar” e colocou o telefone no ouvido, com o coração partido.

Rose atendeu ao terceiro toque. Ela parecia feliz. Avery pode ouvir a música que tocava baixinho ao fundo. Ela pode imaginar Rose se arrumando para a tarde especial e odiou a si mesma por um momento.

- Oi, mãe – Rose disse.

- Oi, Rose.

- Diga.

- Rose... – ela disse. Sentiu as lágrimas vindo. Olhou para o vazio em volta, tentando se convencer de que tinha que fazer isso e de que, um dia, Rose a entenderia.

Antes que Avery falasse mais uma palavra, Rose pareceu entender a situação. Ela soltou uma pequena risada de raiva.

- Perfeito – Rose disse, agora sem alegria na voz. – Mãe, você está falando sério mesmo?

Avery escutara aquele tom de Rose antes, mas dessa vez aquilo o atingiu como um punhal no coração, pois ela sabia que merecia aquela reação.

- Rose, apareceu um caso. Um desses complicados e eu tenho que—

- Eu sei o que você tem que fazer – Rose disse. Ela não gritou. Ela quase nem levantou a voz. E de alguma maneira, isso piorou ainda mais a situação.

- Rose, eu não pude fazer nada. Eu com certeza não esperava por isso. Quando fiz aqueles planos com você, eu tinha uma programação de folga por alguns dias. Mas agora esse caso apareceu e... bem, as coisas mudaram.

- Acho que as coisas mudam às vezes – Rose disse. – Mas não com você. Com você, as coisas são sempre iguais... Quando se trata de mim, no caso.

- Rose, não é justo.

- Nem tente me dizer que não é justo agora! E quer saber, mãe? Esqueça. Essa e qualquer outra vez em que você queira tentar ser a ‘mamãe boazinha’ no futuro. Não é mais uma opção para nós.

- Rose—

- Eu entendi, mãe. Mesmo. Mas você sabe o quanto é ruim ter essa mulher como sua mãe... uma mulher foda com um trabalho tão exigente? Uma mulher que eu respeito muito... mas que está sempre me decepcionando?

Avery não tinha ideia do que dizer. E não havia mesmo o que falar, já que Rose tinha terminado.

- Tchau, mãe. Obrigado por me avisar com antecedência. Seria melhor do que não falar nada, eu acho.

- Rose, eu—

A ligação foi encerrada.

Avery colocou o telefone no bolso e respirou fundo. Uma única lágrima caiu em seu rosto, do olho direito, e ela a secou o mais rápido que pode. Depois, caminhou de propósito pela área que havia sido demarcada mais cedo e a analisou por um bom tempo.

Fogo, pensou. Talvez seja mais do que algo que o assassino está usando em seus atos. Talvez seja simbólico. Talvez esse fogo seja uma pista melhor do que qualquer outra.

Então, enquanto esperava pelo táxi, pensou sobre fogo e que tipo de pessoa o usaria para enviar algum tipo de mensagem. No entanto, era difícil pensar, porque ela sabia muito pouco sobre incêndios.

Vou precisar de mais alguém pensando nisso, pensou.

E com aquele pensamento, pegou seu telefone e ligou para o A1. Pediu para falar com Sloane Miller, a psicologista do departamento e psiquiatra dos agentes e detetives. Se alguém poderia entrar na mente de um assassino com fogo na mente, essa pessoa seria Sloane.

CAPÍTULO SETE

Avery estava de volta à sede do A1 meia hora depois. Ao entrar, ela não pegou o elevador para ir até seu escritório. Ao invés disso, permaneceu no primeiro andar e caminhou até os fundos do prédio. Ela estivera ali antes quando fora obrigada a conversar com Sloane Miller, a psicologista, durante seu último grande e assustador caso, que a havia afetado de uma maneira que ela ainda não tinha conseguido entender. Mas agora a visita tinha outro motivo... entrar na mente de um assassino. E, daquela maneira, o encontro parecia mais natural.

Ela chegou ao escritório de Sloane e ficou aliviada ao ver a porta escancarada. Sloane não tinha uma agenda definida e trabalhava mais ao estilo “por chegada” conforme a demanda da polícia. Quando Avery bateu na porta, ela pode ouvir Sloane digitando algo no notebook.

- Entre – Sloane disse.

Avery entrou, sentindo-se muito mais à vontade do que da última vez em que havia encontrado a psiquiatra. Ali em sua função, e não como paciente, as coisas eram um pouco mais formais.

- Ah, Detetive Black – Sloane disse com um cumprimento genuíno. – Que bom te ver! Fiquei muito feliz em ter notícias suas quando você ligou. Como você tem passado?

- Tudo bem – Avery disse. Mas, em sua mente, ela sabia que Sloane aproveitaria a oportunidade para analisar seus problemas com Rose e sua relação complicada com Ramirez.

- Como posso te ajudar hoje? – Sloane perguntou.

- Bem, eu queria que você me ajudasse com um tipo particular de personalidade. Estou lidando com um caso que envolve um homem que nós temos certeza que está queimando suas vítimas. Ele deixou apenas ossos e cinzas na cena do crime—ossos limpos, sem torrões ou danos. Também há uma pilha de cinzas e um leve cheiro de químicos no ar... vindos das cinzas, eu acho. Está muito claro que ele sabe o que está fazendo. Ele sabe como queimar um corpo, o que parece um conhecimento muito particular. Mas eu não acho que ele esteja usando o fogo simplesmente como uma ferramenta para seus atos. Preciso saber que tipo de pessoa usaria o fogo não apenas para queimar, mas também como algum tipo de simbolismo.

- A ideia de que ele esteja usando o fogo para simbolizar algo é uma excelente dedução – Sloane disse. – Em um caso assim, eu posso praticamente te garantir que é isso o que está acontecendo. No fundo, acho que você está lidando com alguém que tem interesse ou um passado relacionado a incêndios. Talvez ele já teve um trabalho ou um hobby que lidasse com fogo. Estudos mostram muito claramente que até crianças que são fascinadas por fogueiras ou fósforos mostram sinais de interesse em atos relacionados a incêndios.

- Você pode me dizer algo sobre esse tipo de personalidade que poderia nos ajudar a chegar até esse cara mais cedo ou mais tarde?

- Eu com certeza posso tentar – Sloane disse. – Primeiro de tudo, deve haver algum tipo de problema mental, mas nada profundo. Pode ser algo tão simples como uma tendência à raiva até nas situações mais inocentes. Ele provavelmente também não teve muita educação. A maioria das pessoas que cometem incêndios não se formaram no ensino médio. Alguns veem isso como uma maneira de se rebelarem contra um sistema que eles nunca conseguiram entender—aquela besteira toda de alguns homens apenas querem ver o mundo queimar. Alguns vão dizer que colocam fogo como um ato de revanche, mas nunca definem do que eles estão se vingando. Eles geralmente se sentem isolados ou deixados de lado pelo mundo. Então existe uma boa chance de você estar procurando um homem solteiro ou um homem que está em um casamento sem amor. Eu imaginaria que ele vive sozinho em uma pequena casa—provavelmente passa muito tempo em um escritório em casa, no porão ou na garagem, por exemplo.

- E o que acontece quando você junta toda essa descrição com alguém que claramente não vê problemas em matar pessoas?

- Acaba sendo uma pegadinha – Sloane admitiu. – Mas acho que podemos aplicar as mesmas regras. Pessoas que causam incêndios geralmente têm muito interesse em que as pessoas vejam o que eles fizeram. Colocar fogo é uma maneira de atrair atenção. Eles quase se orgulham disso, é algo que eles criaram. Seu suspeito, por exemplo, deixou restos... é um tipo estranho. Acho que podemos relacionar isso com registros de pessoas que causaram incêndios e visitaram a cena do crime para ver os bombeiros apagarem o fogo. Eles veem os bombeiros lutando contra o fogo e sentem que fizeram aquilo acontecer—a pessoa que causa um incêndio está, de alguma maneira, controlando os bombeiros.

- Então você acha que nosso suspeito pode estar por perto, assistindo tudo?

Sloane pensou por um momento, depois encolheu os ombros.

- Certamente é uma possibilidade. Mas a precisão com que ele está queimando os corpos, como você disse, deixando os ossos limpos, me faz pensar que esse cara também é paciente e organizado. Não acho que ele faria algo tão idiota como revisitar a cena do crime.

Paciente e organizado, Avery pensou. Isso se encaixa perfeitamente com o plano esquisito dele, usando névoa como cobertura para pegar as vítimas e despejar os restos.

Ela pensou na maneira em que os ossos haviam sido colocados, quase à vista, praticamente tão óbvio e chocante quanto um incêndio.

- Você já tem alguma opinião sobre o caso? – Sloane perguntou.

- Acho que ele é um assassino em série. Até onde sabemos, essa é a primeira vítima, mas a maneira flagrante em que ele deixou os restos está me irritando. Mais do que isso, tem algo de muito organizado em pegar a vítima, queima-la desse jeito e depois jogar os restos de uma maneira específica. Para mim, isso mostra tendências de um assassino em série.

- Eu concordo com você – Sloane disse.

- Queria que um dos homens que trabalham comigo fossem brilhantes assim – Avery disse, sorrindo.

- E como vai você ultimamente, Avery? Sem fugir do assunto, por favor.

- Eu estou realmente bem, considerando tudo. Pela primeira vez na vida, meus problemas parecem até normais, comparados a meu passado.

- Que tipo de problemas? – Sloane perguntou.

- Problemas com minha filha. Uma relação confusa com um cara.

- Ah, os riscos de ser uma mulher que trabalha muito.

Avery sorriu, ainda que sentisse que uma conversa mais profunda estivesse a caminho. Por isso ela suspirou internamente quando seu telefone tocou naquele exato momento. Ela puxou-o de seu bolso e viu o nome de Connelly.

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