Perseguida - Блейк Пирс 4 стр.


“Meu Deus,” Disse Bill, igualmente surpreendido com a notícia.

Riley conhecia bem Shane Hatcher – demasiado bem para o seu gosto. Hatcher cumpria uma pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional há várias décadas. No tempo que passara na prisão, tornara-se num perito em criminologia. Publicara artigos em revistas académicas e dera aulas nos programas académicos da prisão. Riley já o tinha visitado várias vezes na prisão em busca de conselho em casos em que estava a trabalhar.

As visitas sempre haviam sido perturbadoras. Hatcher parecia sentir uma afinidade especial por ela. E Riley sabia que, bem no fundo, também ela estava mais fascinada por ele do que era suposto. Para ela, ele era muito possivelmente o homem mais inteligente que já conhecera – e talvez também o mais perigoso.

Após cada visita, Riley jurava sempre nunca mais o ver. Agora lembrava-se bem da última vez que estivera na sala de visitas de Sing Sing.

“Não vou voltar,” Dissera-lhe ela.

“Pode não ter que cá voltar para me ver,” Respondera Hatcher.

Naquele momento, aquelas palavras pareciam perturbadoramente proféticas.

“Como é que ele fugiu?” Perguntou Riley a Meredith.

“Não sei muitos pormenores,” Disse Meredith. “Mas como provavelmente sabe, ele passava muito tempo na biblioteca da prisão e trabalha lá frequentemente como assistente. Ele estava lá ontem quando chegou um carregamento de livros. Deve-se ter escapado para a carrinha que trazia os livros. Quando os guardas deram pela falta dele ontem à noite, a carrinha foi encontrado abandonada a alguns quilómetros de Ossining. Não havia sinais do condutor.”

Meredith calou-se novamente. Riley não tinha qualquer dificuldade em acreditar que Hatcher tinha gizado tal plano de fuga. Quanto ao condutor, Riley nem queria pensar no que lhe sucedera.

Meredith inclinou-se sobre a secretária na direção de Riley.

“Agente Paige, você conhece o Hatcher melhor do que ninguém. O que nos pode dizer sobre ele?”

Ainda a recuperar do impacto que a notícia lhe causara, Riley respirou fundo e disse, “Na sua juventude, Hatcher foi membro de um gang em Syracuse. Era invulgarmente cruel até para um criminoso calejado. As pessoas chamavam-lhe ‘Shane the Chain’ porque gostava de espancar até à morte rivais de outros gangs com correntes.”

Riley fez uma pausa, tentando recordar-se do que Shane lhe dissera.

“Um determinado polícia assumiu como missão pessoal prender Hatcher. Hatcher retaliou pulverizando-o com correntes a ponto de ficar irreconhecível. Deixou o seu corpo desfigurado no alpendre da sua casa para a família o encontrar. E foi aí que Hatcher foi apanhado. Está na prisão há trinta anos. Nunca de lá sairia.”

Outro silêncio se seguiu.

“Neste momento tem cinquenta e cinco anos,” Disse Meredith. “Seria de pensar que após trinta anos na prisão, ele não fosse tão perigoso como era quando jovem.”

Riley abanou a cabeça

“Pensaria mal,” Disse ela. “Naquela altura, ele era apenas um bandido ignorante. Não tinha conhecimento do seu próprio potencial. Mas com o passar dos anos adquiriu muitos conhecimentos. Ele sabe que é um génio. E nunca demonstrou qualquer arrependimento. E desenvolveu uma personalidade polida ao longo dos anos. E comportou-se bem na prisão, o que lhe dá acesso a privilégios, mesmo que a pena não seja reduzida. Mas tenho a certeza de que ele é, neste momento, mais cruel e perigoso do que nunca.”

Riley pensou por alguns instantes. Algo a incomodava, mas não sabia bem o quê.

“Alguém sabe porquê?” Perguntou Riley.

“Porquê o quê?” Disse Bill.

“Porque é que ele fugiu.”

Bill e Meredith trocaram olhares intrigados.

“Por que é que alguém foge da prisão?” Perguntou Bill.

Riley percebeu quão estranha soava a sua pergunta. Lembrava-se de uma altura em que Bill fora com ela falar com Hatcher.

“Bill, tu conheceste-o,” Disse ela. “Pareceu-te alguém insatisfeito? Inquieto?”

Bill franziu o sobrolho enquanto pensava.

“Não, na verdade ele parecia…”

E não prosseguiu.

“Quase satisfeito, talvez?” Disse Riley, terminando o pensamento que Bill deixara incompleto. “A prisão parece assentar-lhe bem. Nunca tive a sensação de que ele desejasse a liberdade. Há quase qualquer coisa de zen a respeito dele, o seu desprendimento em relação a tudo na vida. Que eu saiba, não tem desejos. A liberdade não tem nada a oferecer-lhe. E agora está em fuga, um homem procurado. Porque é que ele decidiu fugir? E porquê agora?”

Meredith tamborilou os dedos na secretária.

“Como ficaram as coisas da última vez que esteve com ele?” Perguntou. “Despediram-se sem problemas?”

Riley mal conseguiu suprimir um sorriso irónico.

“Nunca nos despedimos sem problemas,” Disse ela.

Depois, após uma pausa, acrescentou, “Compreendo onde quer chegar. Está a pensar se eu serei o seu alvo.”

“É possível?” Perguntou Bill.

Riley não respondeu. Mais uma vez se lembrou do que Hatcher lhe tinha dito.

“Pode não ter que cá voltar para me ver.”

Seria uma ameaça? Riley não sabia dizer.

Meredith disse, “Agente Paige, não preciso de lhe dizer que este caso é de grande importância e vai implicar muita pressão. Enquanto falamos, a notícia já está em todos os meios de comunicação social. As fugas de prisões são sempre notícias de grande relevo. Até podem causar pânico generalizado. Seja o que for que ele pretenda, temos que o localizar rapidamente. Tenho pena que tenha que voltar a um caso tão perigoso e difícil como este. Sente-se preparada? Sente-se à altura?”

Riley sentiu uma estranha dormência ao ponderar aquela pergunta. Era uma sensação que se apoderava dela antes de aceitar um caso. Demorou um instante a perceber que a sensação era medo, puro e simples medo.

Mas não era medo por si. Era algo mais. Era algo inominável e irracional. Talvez fosse o facto de que Hatcher a conhecia demasiado bem. Pela sua experiência, todos os prisioneiros sempre queriam algo em troca de informações, mas Hatcher não estava interessado em banalidades como whiskey ou cigarros. O seu quid pro quo tinha tanto de simples como de profundamente perturbador.

Hatcher queria que Riley lhe contassse coisas a seu respeito.

“Algo que não queira que os outros saibam,” Dissera ele. “Algo que não quer que ninguém saiba.”

Riley tinha cumprido, talvez com demasiada facilidade. Agora Hatcher sabia todo o tipo de coisa a seu respeito – que era uma mãe com falhas, que odiava o pai e que não fora ao seu funeral, que havia tensão sexual entre ela e Bill, e que às vezes – tal como o próprio Hatcher – retirava prazer da violência e da morte.

Ela lembrava-se do que ele dissera na sua última visita.

“Eu conheço-a. Em alguns aspetos, conheço-a melhor do que você própria.”

Conseguiria ela ser tão perspicaz como aquele homem? Meredith aguardava pacientemente a resposta à sua pergunta.

“Estou tão pronta quanto me é possível estar,” Disse Riley, tentando soar mais confiante do que na realidade se sentia.

“Ótimo,” Disse Meredith. “Como devemos proceder?”

Riley pensou por alguns instantes.

“O Bill e eu temos que averiguar toda a informação que o FBI tem sobre Shane Hatcher,” Afirmou Riley.

Meredith anuiu e disse, “Já tomei a liberdade de pedir ao Sam Flores para começar a preparar tudo.”

*

Alguns minutos mais tarde, Riley, Bill e Meredith já se encontravam na sala de conferências da UAC a observar as informações multimédia que Sam Flores tinha reunido. Flores era um técnico laboratorial com óculos de aros escuros.

“Penso que tenho aqui tudo aquilo que desejam ver,” Disse Flores. “Certificado de nascimento, registos de detenções, transcrições de tribunal, tudo.”

Riley tinha que admitir que era uma compilação impressionante que não deixava muito espaço à imaginação. Havia várias fotos horríveis das vítimas de Shane Hatcher, incluindo o polícia desfigurado deixado no alpendre da sua própria casa.

“Que informações temos sobre o polícia que Hatcher assassinou?” Perguntou Bill.

Flores mostrou um conjunto de fotos que mostravam um polícia de aspeto amável.

“Trata-se do agente Lucien Wayles que tinha quarenta e seis anos quando morreu em 1986,” Disse Flores. “Era casado e tinha três filhos, fora condecorado, todos gostavam dele e era respeitado. O FBI colaborou com polícias locais e apanharam Hatcher poucos dias depois da morte de Wayles. O que é incrível é que não reduziram Hatcher a um monte ensanguentado no momento em que o apanharam.”

Olhando para a apresentação, Riley ficou atónita com as fotos do próprio Hatcher. Mal o reconhecia. Apesar do homem que conhecia poder ser intimidante, conseguia projetar uma atitude respeitável, até de académico com uns óculos de leitura sempre pendurados na ponta do nariz. O jovem Afro-Americano que surgia nas fotos de 1986 tinha um rosto duro e um olhar cruel e vazio. Riley quase tinha dificuldade em acreditar que se tratava da mesma pessoa.

Por muito detalhada e completa que a apresentação fosse, Riley sentiu-se insatisfeita. Ela pensava que conhecia Shane Hatcher melhor do que qualquer outra pessoa, mas a realidade era que ela não conhecia aquele Shane Hatcher – o cruel jovem bandido a quem deram a alcunha de “Shane the Chain.”

Tenho que o conhecer, Pensou.

Caso não o fizesse, duvidava que o conseguisse apanhar.

De alguma forma, sentia que a sensação fria e digital que a apresentação lhe transmitia trabalhava em seu desfavor. Precisava de algo mais tangível – fotografias reais com vincos e pontas dobradas, relatórios e documentos amarelados e frágeis.

Perguntou a Flores, “Posso ter acesso aos originais?”

Flores manifestou alguma incredulidade.

“Lamento, Agente Paige – mas nem pensar. O FBI destruiu todos os ficheiros em papel em 2014. Agora está tudo digitalizado. O que vê é o que temos.”

Riley libertou um suspiro de desilusão. Sim, ela lembrava-se da destruição de milhões de ficheiros em papel. Outros agentes se tinham queixado, mas na altura não lhe parecera um problema. Agora bem que desejava a antiga sensação de palpabilidade.

Mas naquele momento, o mais importante era tentar adivinhar qual o próximo passo de Hatcher. E ocorreu-lhe uma ideia.

“Quem foi o polícia que prendeu Hatcher?” Perguntou Riley. “Se ainda for vivo, o mais certo é ser o primeiro alvo de Hatcher.”

“Não foi um polícia local,” Disse Flores. “E não foi um polícia.”

Mostrou uma foto antiga de uma agente.

“Chama-se Kelsey Sprigge. Era Agente do FBI no departamento de Syracuse – na altura tinha trinta e cinco anos. Agora tem setenta, está aposentada e vive em Searcy, uma cidade perto de Syracuse.”

Riley ficou surpreendida com o facto de Sprigge ser uma mulher.

“Ela deve-se ter juntado ao FBI…” Começou Riley.

Flores continuou o seu pensamento.

“Entrou em 1972, quando o cadáver de J. Edgar mal tinha arrefecido. Foi nessa altura que as mulheres foram finalmente autorizadas a serem agentes. Anteriormente tinha sido polícia.”

Riley estava impressionada. Kelsey Sprigge tinha vivido muita história.

“O que me podes dizer sobre ela?” Perguntou Riley a Flores.

“Bem, é viúva, tem três filhos e três netos.”

“Liguem ao departamento do FBI de Syracuse e digam-lhes para mantê-la em segurança a todo o custo,” Disse Riley. “Ela está em perigo.”

Flores assentiu.

Depois voltou-se para Meredith.

“Vou precisar de um avião.”

“Porquê?” Perguntou Meredith, confuso.

Riley respirou fundo.

“Shane pode estar a caminho de matar Sprigge,” Disse ela. “E eu quero estar com ela antes que isso possa acontecer.”

CAPÍTULO SEIS

Quando o avião do FBI aterrou na pista do Syracuse Hancock International Airport, Riley lembrou-se de algo que o pai lhe tinha dito no sonho da noite anterior.

“Só és útil a quem já está morto.”

Riley ficou afetada com a ironia. Este era provavelmente o primeiro caso que lhe fora atribuído onde alguém ainda não tinha sido assassinado.

Mas é provável que mude em breve, Pensou.

Estava particularmente preocupada com Kelsey Sprigge. Riley queria conhecer aquela mulher pessoalmente e certificar-se de que estava bem. Depois, dependeria de Riley e de Bill que assim continuasse; e isso implicava localizar Shane Hatcher e prendê-lo novamente.

À medida que o avião se aproximava do terminal, Riley viu que tinham viajado até um mundo invernoso. Apesar da pista estar limpa, enormes montanhas nevadas mostravam a quantidade de trabalho que os equipamentos de limpeza tinham tido recentemente.

Era uma mudança de cenário abrupta em relação à Virginia – e uma mudança bem-vinda. Riley compreendeu naquele momento o quanto precisava de um novo desafio. Ligara a Gabriela de Quantico a explicar que estaria fora a trabalhar num caso. Gabriela ficara feliz por ela e garantiu-lhe que tomaria conta de April.

Quando o avião parou, Riley e Bill pegaram nos seus haveres e desceram as escadas rumo à pista gelada. Quando sentiu o choque do frio extremo no seu rosto, Riley não escondeu a sua satisfação por lhe terem dado um casaco bem quente em Quantico.

Dois homens abordaram-nos e apresentaram-se como Agentes McGill e Newton do departamento de Syracuse.

“Estamos aqui para ajudar no que for preciso,” Disse McGill a Bill e Riley enquanto se apressavam rumo ao terminal.

Riley fez a primeira pergunta que lhe veio à cabeça.

“Têm pessoal a vigiar Kelsey Sprigge? Têm a certeza de que ela está em segurança?”

“Alguns polícias estão à porta da sua casa em Searcy,” Disse Newton. “Temos a certeza de que está bem.”

Riley desejava ter tanta certeza.

Bill disse, “Ok, neste momento só precisamos de uma viatura para irmos até Searcy.”

McGill disse, “ Searcy não fica muito longe de Syracuse e as estradas estão limpas. Trouxemos um SUV que podem usar mas… estão habituados a conduzir condições destas?”

“Sabem, é que Syracuse ganha sempre o Prémio de Golden Snowball,” Acrescentou Newton com orgulho imoderado.

“Golden Snowball?” Perguntou Riley.

“É o prémio do estado de Nova Iorque para quem tem mais neve,” Disse McGill. “Nós somos os campeões. Temos um troféu que o comprova.”

“Talvez um de nós devesse conduzir-vos até lá,” Disse Newton.

Bill deu uma risada, “Obrigado, mas acho que conseguimos. Tive um trabalho de inverno no Dakota do Norte há alguns anos atrás. Fartei-me de conduzir por lá.”

Apesar de não se manifestar, Riley também se sentia preparada para aquele tipo de condução. Aprendera a conduzir nas montanhas da Virginia. A neve lá nunca era tão profunda como aqui, mas as estradas secundárias nunca estavam desimpedidas rapidamente. O mais certo era demorar o mesmo tempo que qualquer outra pessoa a circular naquelas estradas geladas.

Mas não se importava que Bill conduzisse. Naquele momento, estava preocupada com a segurança de Kelsey Sprigge. Bill pegou nas chaves e partiram.

“Devo dizer que me sabe bem estarmos a trabalhar outra vez juntos,” Disse Bill enquanto conduzia. “É capaz de ser egoísta da minha parte. Gosto de trabalhar com a Lucy mas não é a mesma coisa.”

Riley sorriu. Também ela se sentia bem em trabalhar novamente com Bill.

“Ainda assim, por um lado não queria que o teu regresso fosse com este caso,” Acrescentou Bill.

“Porque não?” Perguntou Riley surpreendida.

Bill abanou a cabeça.

“Tenho um mau pressentimento,” Disse ele. “Lembra-te, eu também conheci o Hatcher. É preciso muito para me assustar mas… bem, ele é qualquer coisa de diferente.”

Riley não respondeu, mas não conseguia discordar. Ela sabia que Hatcher tinha alarmado Bill no decorrer daquela visita Com o seu instinto excecional, Hatcher tinha feito observações astutas sobre a vida pessoal de Bill.

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