"Um segundo," ela disse atendendo a chamada. Ela se afastou de Jones e respondeu: "Aqui é a Agente White."
“Agente White, é o Xerife Clarke. Olha, eu sei que vocês acabaram de sair daqui, mas eu realmente apreciaria se vocês se apressarem de volta para cá o quanto antes."
“Certamente. Está tudo ok?"
“Já esteve melhor," ele disse. "Eu acabo de receber essa irritante perda de espaço que é o Langston Ridgeway por aqui. Ele exigiu falar com vocês sobre o caso da mãe dele e ele está começando a fazer uma cena."
Mesmo no meio do mato você não pode escapar da política, pensou Mackenzie.
Irritada, ela fez o melhor para responder de maneira profissional. “Dê-nos cerca de dez minutos," ela disse e desligou.
"Sr. Jones, nós teremos que voltar para o xerife por agora," ela disse. "Você poderia preparar aquelas filmagens de segurança para nós, quando voltarmos?"
"É claro," disse Randall, os guiando de volta para o carro dele.
"E enquanto isso," acrescentou Mackenzie, "eu gostaria de uma lista de qualquer um sobre o qual você tenha a menor suspeita. Eu falando de funcionários e de outros residentes. Pessoas que saberiam o alcance a câmera de segurança no jardim."
Jones assentiu sombriamente. O olhar em seu rosto dizia a Mackenzie que era algo que ele próprio havia considerado, mas não se atreveu a colocar muita fé. Com aquela mesma expressão no rosto, ele deu partida no carro e os levou de volta para o Wakeman. Ao longo do caminho, Mackenzie notou novamente o silêncio da pequena cidade─não tranquila, mas mais como a calmaria antes de uma tempestade.
CAPÍTULO QUATRO
O primeiro pensamento que brotou na cabeça de Mackenzie quando ela viu Langston Ridgeway foi que ele parecia um louva-deus. Ele era alto e magro e movia os braços como estranhas pequenas pinças quando falava. O fato dos seus olhos estarem enormes de fúria enquanto gritava com todos que tentavam conversar com ele não ajudava.
O Xerife Clarke os guiou à pequena sala de conferências no fim do corredor─uma sala que não era muito maior que seu escritório. Lá, com as portas fechadas, Langston Ridgeway ficou tão alto quanto podia enquanto Mackenzie e Ellington aturavam sua ira.
"Minha mãe está morta, se foi," ele lamentou, "e eu estou inclinado a culpar a incompetência dos funcionários do maldito lar. E já que esse deplorável xerife se recusa a me deixar falar com Randall Jones pessoalmente, eu gostaria de saber o que vocês dois capangas do FBI tem intenção de fazer sobre isso.”
Mackenzie hesitou um segundo antes de responder. Ela estava tentando medir o nível de luto dele. Da forma que ele estava se comportando, era difícil dizer se sua ira era uma expressão de sua perda ou se ele realmente era apenas um homem atroz que gostava de gritar ordens para os outros. Até então, ela não conseguia dizer.
"Muito francamente," disse Mackenzie, "eu concordo com o xerife. Agora você está com raiva e machucado e parece que você está procurando passar a culpa. Sinto muito pela sua perda. Mas a pior coisa que você poderia fazer agora é confrontar o gerente do lar."
“Culpa?” Ridgeway perguntou, claramente não acostumado com as pessoas não se curvarem e concordarem com ele imediatamente. “Se aquele lugar é responsável pelo que aconteceu com minha mãe, então eu—”
“Nós já visitamos o lar e conversamos com Sr. Jones," disse Mackenzie o cortando. “Eu posso garanti-lo que o que aconteceu com sua mãe foi influência de fontes externas. E se forem internas, então certamente o Sr. Jones sabe nada sobre elas. Eu posso dizer tudo isso com absoluta confiança."
Mackenzie não tinha certeza se o olhar de choque que veio sobre o rosto de Ridgeway foi o resultado de seu desacordo com ele ou porque ela havia o interrompido.
“E você entendeu tudo isso com aquela única conversa?" ele perguntou, claramente cético.
"Sim," ela disse. “Obviamente, essa investigação ainda está muito nova, então eu não posso estar certa de coisa alguma. O que eu posso dizer a você é que é muito difícil conduzir uma investigação quando eu recebo chamadas que acabam me fazendo ter que deixar a cena de um crime apenas para escutar pessoas gritarem e reclamarem."
Ela quase podia sentir a fúria saindo dele agora. “Eu perdi minha mãe," ele disse, cada palavra como um suspiro. “Eu quero respostas. Eu quero justiça."
“Ótimo," disse Ellington. "Nós queremos a mesma coisa."
"Mas para conseguirmos," disse Mackenzie, "você precisa nos deixar trabalhar. Eu entendo que você possui influência por aqui, mas francamente, eu não ligo. Nós temos um trabalho a fazer e não podemos deixar sua raiva, luto ou arrogância ficarem no caminho."
Durante a conversa inteira, Xerife Clarke sentava-se à pequena mesa de conferências. Ele estava fazendo o seu melhor para conter um sorriso.
Ridgeway ficou quieto por um momento. Ele ia e voltava com o olhar entre os agentes e o Xerife Clarke. Ele assentiu e quando uma lágrima escorreu pela lateral de seu rosto, Mackenzie pensou que ela pudesse ser real. Mas também ainda conseguia ver a raiva nos olhos dele, logo ali na superfície.
"Tenho certeza que você está acostumado a distribuir ordens para policiais de cidadezinhas, para suspeitos e para sei lá mais quem," Langston Ridgeway disse. “Mas deixe-me dizer isso a você… se você deixar a bola cair nesse caso ou, por qualquer motivo, me desrespeitar de novo, eu farei uma ligação para DC. Eu vou falar com seu supervisor e vou enterrar você."
A parte triste é que ele acha que é completamente capaz de tal coisa, Mackenzie pensou. E talvez ele seja. Mas com certeza eu adoraria ser uma mosca na parede quando alguém como Langston Ridgeway começa a latir para McGrath.
Ao invés de agravar a situação, Mackenzie decidiu permanecer calada. Ela deu uma olhada para o lado e viu que Ellington estava abrindo e fechando o punho… um pequeno artifício ao qual ele recorria sempre que estava à beira de ficar irracionalmente nervoso.
No fim, Mackenzie disse, "Se você nos deixar fazer nosso trabalho sem obstáculos, não chegará a isso."
Estava claro que Ridgeway estava procurando por algo mais para dizer. Tudo o que ele pode elaborar foi um abafado hunf. Ele seguiu isso se afastando rapidamente e deixando a sala. O que muito lembrou Mackenzie de uma criança no meio de uma birra.
Após alguns segundos, Xerife Clarke inclinou-se para frente com um suspiro. “E agora vocês veem com o que eu venho lidando. Aquele garoto acha que o sol nasce e se põe ao redor do seu rabo mimado. E ele pode continuar falando sobre ter perdido a mãe o quanto ele quiser. Tudo com o que ele se preocupa é a mídia em grandes cidades descobrindo que ele a despejou em um lar… mesmo que seja um bem agradável. Ele se preocupa com a própria imagem mais do que qualquer outra coisa."
“Sim, eu tive essa mesma sensação," disse Ellington.
"Você acha que podemos esperar alguma outra interferência dele?" perguntou Mackenzie.
"Eu não sei. Ele é imprevisível. Ele fará tudo o que ele achar que possa melhorar suas chances de conseguir atenção pública, a qual depois se tornará votos para qualquer horizonte maldito que ele almeja."
"Então certo, Xerife," disse Mackenzie, "se você tem alguns minutos, porque não nos sentamos e repassamos o que sabemos?"
"Não vai demorar muito," ele disse. “Porque não há muito mesmo.”
"É melhor que nada," disse Ellington.
Clarke assentiu e ficou de pé. “Vamos de volta para meu escritório, então," ele disse.
Enquanto caminhavam pelo pequeno corredor, ambos Mackenzie e Ellington deram um sobressalto quando Clarke berrou, "Ei, Frances! Passe uma garrafa de café, você poderia, querida?"
Mackenzie e Ellington trocaram um olhar perplexo. Ela estava começando a ter uma sensação muito boa sobre o Xerife Clarke e a maneira que ele conduzia as coisas. E, embora eles possam ser um pouco rústicos, ela estava descobrindo que gostava um pouco dele—linguagem suja e sexismo não intencional à parte.
Com a noite avançando, Mackenzie e Ellington se aconchegaram ao redor da mesa de Clarke e repassaram o material existente no caso.
CAPÍTULO CINCO
Logo antes de Frances trazer o café, o Policial Lambert retornou. Agora que ele não estava digitando no telefone, Mackenzie viu que ele era um homem jovem, no início dos seus trinta. Ela achou estranho que um policial estivesse servindo como mão direita de Clarke, ao invés de um delegado, mas não deu muita atenção a isso.
Cidade pequena, ela pensou.
Os quatro se sentaram ao redor da mesa de Clarke repassando o material. Clarke parecia estar mais do que feliz em deixar Mackenzie conduzir. Ela estava feliz em ver que ele parecia estar se recuperando rapidamente… aceitando-a mais como um igual.
"Então vamos começar com o mais recente," ela disse. “Ellis Ridgeway. Cinquenta e sete anos de idade. Como eu estou começando a aprender, ela tem um filho muito arrogante e cheio de si. Fora o fato de ela ser obviamente cega, o que mais vocês podem me dizer sobre ela?"
"Isso é tudo, realmente," disse Clarke. "Ela era uma senhora doce. Pelo que posso concluir, todos no lar a adoravam. O que me assusta em toda essa situação é que o assassino tem que ser familiar para ela, certo? Ele tinha que saber que ela havia deixado a casa para atingi-la dessa forma".
"Meu cérebro também queria ir nessa direção," disse Mackenzie. "Mas se essas mortes estiverem conectadas─e certamente parece que estão─isso significa que para alguém local que a conheça o tenha feito, haveria muita viagem envolvida. A outra morte foi o que… duas horas e meia de distância?"
"Quase três," disse Clarke.
"Exatamente", disse Mackenzie. "Sabe, eu até imaginei por um momento que pudesse ter sido outro residente, mas eu fui informado com boa autoridade por Randall Jones que ninguém a seguiu ontem. Aparentemente, há provas em vídeo sobre isso, as quais nós ainda não vimos graças à interferência de Langston Ridgeway. E a respeito dos residentes ou funcionários deixarem o lar quando Sra. Ridgeway estava ausente, não há evidência para embasar outra pessoa saindo durante esse tempo─nem residentes, nem empregados, ninguém."
"E então, voltando para aquele primeiro assassinato," disse Ellington, "nós precisaremos ir conversar com os membros da família em breve. O que você pode nos dizer sobre a primeira vítima, Xerife?"
"Bem, foi em outro lar para cegos," ele disse. "E tudo o que eu sei sobre isso está naquele arquivo que você tem, tenho certeza. Como eu disse, fica há quase três horas daqui, quase em West Virgínia. Um lugar precário pelo que pude reunir. Não é realmente um lar, mais similar a uma escola, eu acho."
Ele deslizou uma folha de papel para ela e ela viu o breve relatório policial da primeira cena. Foi em uma cidade chamada Treston, a cerca de vinte e cinco milhas de Bluefield, West Virgínia. Kenneth Able de trinta e oito anos foi estrangulado até a morte. Havia sinais de abrasão ao redor dos olhos. O corpo foi descoberto escondido no armário do quarto no qual ele ficava a maior parte do tempo dentro do lar.
Os fatos eram muito robóticos, sem detalhes. Mesmo havendo observações sobre a investigação estar em andamento, Mackenzie duvidou que fosse algo sério.
Aposto que agora está, no entanto, ela pensou.
Essa nova morte foi muito explícita para negar. As vítimas eram muito semelhantes, bem como eram os sinais de agressão nos corpos.
"Eu pedi a Randall Jones para compilar uma lista de empregados ou de outros associados com o lar que pudessem ser, mesmo levemente, possíveis suspeitos," disse Mackenzie. "Eu acho que nossa próxima melhor aposta é falar com esse lugar em Treston para ver se há alguma ligação."
"A desvantagem aqui é que Treston fica longe para caramba," apontou Ellington. "Mesmo se isto acabar por ser moleza, vai haver algumas viagens envolvidas. Parece que nós não conseguiremos ter tudo ajeitado tão rapidamente quanto o ilustre Sr. Ridgeway gostaria."
"Quando o trabalho de perícia completa será feito na Sra. Ridgeway?" perguntou Mackenzie.
"Estou esperando ouvir algo em poucas horas," disse Clarke. "Porém, uma investigação preliminar mostrou nada óbvio. Sem digitais, sem cabelos visíveis ou outros materiais deixados para trás.”
Mackenzie assentiu e olhou de volta para os arquivos do caso. Quando ela havia acabado de começar a explorá-los propriamente, seu telefone tocou. Ela o abriu e respondeu: "Agente White."
“Randall Jones falando. Eu tenho uma lista de nomes para vocês, como você pediu. É curta e eu estou bem certo de que todos eles estão limpos."
"Quem são eles?"
"Há um cara da equipe de manutenção que não é muito confiável. Ele trabalhou o dia todo ontem, saindo logo depois das cinco. Eu perguntei por aí e ninguém o viu retornar. Há outro cara que trabalha para uma loja especial de serviços sociais. Ele vem e joga jogos de tabuleiro às vezes. Meio que vem e brinca com eles. Ele faz algumas coisas voluntariamente como serviços de limpeza ou mudar os móveis de lugar de tempos em tempos."
"Você pode me enviar por mensagem os nomes e qualquer informação de contato que você tenha?"
"Certo," disse Jones, claramente infeliz por considerar algum dos homens como suspeitos.
Mackenzie terminou a chamada e olhou de volta para os três homens na sala. "Era Jones com dois possíveis candidatos. Um trabalhador de manutenção e alguém que vai como voluntário e passa um tempo com os residentes. Xerife, ele vai me enviar os nomes por mensagem a qualquer momento. Você poderia dar uma olhada neles e─"
O telefone dela tocou ao receber a mensagem em questão. Ela mostrou os nomes ao Xerife Clarke e ele deu de ombros, derrotado.
"O primeiro nome, Mike Crews, é o cara da manutenção," ele disse. “Eu sei como fato que ele não estava matando ninguém depois do serviço na noite passada, porque eu tomei uma cerveja com ele no Rock's Bar. Isso foi depois que ele foi até a casa da Mildred Cann para consertar o ar condicionado dela de graça; Eu já posso dizer a vocês que Mike Crews não é o seu cara."
"E sobre o segundo nome?" perguntou Ellington.
"Robbie Huston," ele disse. "Eu só o vi de passagem. Estou bem certo que ele é enviado por algum tipo de loja de serviços sociais fora de Lynchburg. Mas pelo que eu entendo, ele é como um santo no lar. Lê para os residentes, é bem amigável. Como eu disse, ele está fora de Lynchburg. Fica a cerca de uma hora e meia de distância daqui─bem no caminho para Treston, de fato."
Mackenzie olhou de volta para a mensagem de Jones e salvou o número que ele havia fornecido para Robbie Huston. No melhor dos casos era uma pista frágil, mas pelo menos era alguma coisa.
Ela olhou para seu relógio e viu que era perto das seis horas. "Quando seu delegado e outros policiais vão reportar?" ela perguntou.
“Muito em breve. Mas ainda ninguém ligou com qualquer coisa. Eu os manterei atualizados se vocês quiserem sair e recolher seus pertences."
"Parece bom para mim," disse Mackenzie.
Ela pegou os arquivos do caso enquanto ficou de pé. "Obrigado por sua ajuda esta tarde," disse Mackenzie.
"É claro. Eu só queria oferecer mais assistência. Se vocês quiserem, posso chamar a Polícia Estadual até aqui para ajudar. Eles estiveram aqui nessa manhã, mas se espalharam bem rápido. Eu acho que pode haver alguns deles ficando aqui na cidade por um dia ou dois."
"Se chegar a esse ponto, eu te aviso" disse Mackenzie. "Boa noite, senhores."
Com isso, ela e Ellington saíram. O saguão da frente estava vazio agora, Frances tendo terminado o dia.
No estacionamento, Ellington hesitou por um momento ao tirar as chaves. "Hotel ou uma viagem a Lynchburg?" ele perguntou.
Ela pensou sobre isso e, apesar da forte tentação em continuar a investigação mesmo tarde da noite, sentiu que tentar entrar em contato com Robbie Huston pelo telefone produziria os mesmos resultados que uma viagem até Lynchburg. Mais do que isso, ela já estava começando a acreditar que o Xerife Clarke sabia o que ele estava fazendo─e se ele não possuía ressalvas sobre Huston, então ela confiaria nisso por enquanto. Era uma das melhores coisas em trabalhar em um caso em uma cidade pequena─quando todos se conheciam quase intimamente, as opiniões e instintos da polícia local podiam frequentemente ser bem confiáveis.