Por fim, o senador enfiou a mão no bolso do casaco e tirou um envelope do tamanho de uma carta. Ele caminhou até a cadeira onde ela estava e lhe entregou.
"Aqui," ele disse. Em seguida, ele voltou para o sofá e sentou-se novamente.
"O que é isso?" Riley perguntou.
O senador voltou seu olhar sobre ela mais uma vez.
"Tudo o que você precisa saber," ele respondeu.
Riley estava agora completamente perplexa.
"Posso abrir?" Ela perguntou.
"Certamente."
Riley abriu o envelope. Ele continha uma única folha de papel com duas colunas de nomes. Ela reconheceu alguns deles. Três ou quatro eram jornalistas bem conhecidos no noticiário da TV local. Vários outros foram proeminentes políticos de Virgínia. Riley ficou ainda mais perplexa do que antes.
"Quem são essas pessoas?" Ela perguntou.
"Os meus inimigos," respondeu o senador Newbrough em uma voz calma. "Provavelmente não é uma lista abrangente. Mas esses são os que importam. Alguém aí é o culpado."
Riley estava completamente aturdida agora. Ela ficou ali sentada e nada disse.
"Não estou dizendo que qualquer um nessa lista matou a minha filha diretamente, cara a cara," ele falou. "Mas eles com certeza pagariam alguém para fazê-lo."
Riley falou devagar e com cautela.
"Senador, com todo o respeito, acredito que acabei de comentar que o assassinato de sua filha provavelmente não foi por motivos pessoais. Já houve um assassinato quase idêntico a este."
"Você está dizendo que a minha filha foi alvo puramente por acaso?" Perguntou o senador.
Sim, provavelmente, Riley pensou.
Mas ela sabia que não devia dizer isso em voz alta.
Antes que ela pudesse responder, ele acrescentou, "Agente Paige, eu aprendi com experiências difíceis a não acreditar em coincidências. Não sei por que, ou como, mas a morte da minha filha tem a ver com política. E, na política, tudo é pessoal. Então, não tente me dizer que é qualquer outra coisa, menos pessoal. É o seu trabalho e do Escritório encontrar quem é o responsável e trazê-lo à justiça."
Riley respirou longa e profundamente. Ela estudou o rosto do homem nos mínimos detalhes. Ela podia enxergar agora. O Senador Newbrough era um completo narcisista.
Não que eu devesse estar surpresa, ela pensou.
Riley percebeu mais uma coisa. O senador achava inconcebível que qualquer coisa em sua vida não fosse especificamente sobre ele e apenas ele. Mesmo o assassinato de sua filha tinha a ver com ele. Reba tinha simplesmente ficado presa entre ele e alguém que o odiava. Ele provavelmente acreditava mesmo nisso.
"Senhor," Riley começou, "com todo o respeito, eu não acho -"
"Eu não quero que você pense," interrompeu Newbrough. "Você tem todas as informações que precisa bem na sua frente."
Eles sustentaram o olhar do outro por vários segundos.
"Agente Paige," o senador finalmente disse: "Tenho a sensação de que não estamos na mesma sintonia. Isso é uma pena. Você pode não saber, mas eu tenho bons amigos nos escalões superiores da agência. Alguns deles me devem favores. Vou entrar em contato com eles imediatamente. Preciso de alguém nesse caso que vá fazer o trabalho."
Riley ficou ali, estupefata, sem saber o que dizer. Aquele homem estava delirando tanto assim? O senador levantou-se.
"Vou mandar alguém para acompanhá-la até a saída, agente Paige," disse ele. "Sinto muito que não tenhamos nos entendido."
O Senador Newbrough saiu da sala, deixando Riley sentada ali sozinha. Sua boca estava aberta com o choque. O homem era um narcisista, tudo bem. Mas ela sabia que havia mais do que isso.
Havia algo que o senador estava escondendo.
E não importava o que fosse, ela iria descobrir o que era.
CAPÍTULO 10
A primeira coisa que chamou a atenção de Riley era a boneca – a mesma boneca nua que ela tinha encontrado mais cedo naquela árvore perto de Daggett, exatamente na mesma pose. Por um momento, ela ficou surpresa ao vê-la deixada lá no laboratório forense do FBI, rodeada por uma variedade de equipamentos de alta tecnologia. Parecia estranhamente fora de lugar para Riley – como uma espécie de santuário doentio para uma era não-digital ultrapassada.
Agora, a boneca era apenas mais um elemento de provas, protegida por um saco plástico. Ela sabia que a equipe tinha sido enviada para recuperá-la, logo que ela ligara da cena. Mesmo assim, era uma visão chocante.
O agente especial Meredith adiantou-se para cumprimentá-la.
"Faz um longo tempo, agente Paige," disse ele calorosamente. "Bem-vinda de volta."
"É bom estar de volta, senhor," disse Riley.
Ela caminhou até a mesa para sentar-se com Bill e o técnico de laboratório, Flores. Quaisquer que fossem os escrúpulos e incertezas que ela estava sentindo, ela realmente se sentia bem em ver Meredith novamente. Ela gostava de seu estilo direto e rigoroso e ele sempre a tratou com respeito e consideração.
"Como é que foram as coisas com o senador?" Perguntou Meredith.
"Nada bem, senhor," respondeu ela.
Riley notou um tremor de aborrecimento no rosto de seu chefe.
"Você acha que ele vai nos dar algum problema?"
"Tenho quase certeza disso. Sinto muito, senhor."
Meredith assentiu com simpatia.
"Tenho certeza de que não é sua culpa," disse ele.
Riley achava que ele tinha uma boa ideia do que tinha acontecido. O comportamento do senador Newbrough era, sem dúvida, típico dos políticos narcisistas. Meredith, provavelmente, estava bastante acostumado com isso.
Flores digitou e, em seguida, imagens de fotografias macabras, relatórios oficiais e notícias surgiram em monitores grandes ao redor da sala.
"Fizemos algumas escavações e não é que você estava certa, agente Paige," disse Flores. "O mesmo assassino já apareceu antes, muito antes do assassinato em Daggett."
Riley ouviu um grunhido de satisfação de Bill e, por um segundo, Riley sentiu-se justificada, sentiu sua crença em si mesma voltar.
Mas então seu espírito afundou. Outra mulher tinha sofrido uma morte terrível. Não havia nenhum motivo para celebração. Ela, na verdade, tinha desejado não ter razão.
Por que eu não posso desfrutar a sensação de estar certa de vez em quando? perguntou-se.
Um mapa gigantesco de Virgínia se desdobrou ao longo do principal monitor de tela plana, e então enfatizou a parte norte do estado. Flores marcou um ponto alto no mapa, perto da fronteira com Maryland. "A primeira vítima foi Margaret Geraty, trinta e seis anos de idade," informou Flores. "Seu corpo foi encontrado abandonado em terras agrícolas, a cerca de 13 milhas no entorno de Belding. Ela foi morta no dia 25 de junho, há quase dois anos. O FBI não foi chamado nesse caso. A polícia local deixou o caso esfriar."
Riley olhou para as fotos da cena do crime que Flores exibiu em outro monitor. O assassino, obviamente, não tinha tentado colocar o corpo em uma pose. Ele tinha acabado de largá-lo com pressa e fugiu.
"Dois anos atrás," disse ela, pensando, concentrando-se. Uma parte dela estava surpresa por ele estar envolvido com isso há tanto tempo. No entanto, outra parte dela sabia que esses assassinos doentes poderiam operar durante anos. Eles podiam ter uma estranha paciência.
Ela examinou as fotos.
"Vejo que ele não tinha desenvolvido seu estilo," observou.
"Correto," concordou Flores. "Há uma peruca ali, e o cabelo foi cortado curto, mas ele não deixou uma rosa. No entanto, ela foi sufocada até a morte com uma fita cor de rosa."
"Ele teve pressa na preparação," disse Riley. "Seu nervosismo o atrapalhou. Foi a primeira vez dele, ele não tinha autoconfiança. Ele fez um pouco melhor com Eileen Rogers, mas só ao matar Reba Frye que ele realmente acertou seu passo."
Ela lembrou-se de algo que queria perguntar.
"Você encontrou alguma ligação entre as vítimas? Ou entre as crianças das duas mães?"
"Nada," respondeu Flores. "A verificação dos grupos de pais não teve nenhum resultado. Nenhuma delas parecia conhecer a outra."
Isso desanimou Riley, mas não a surpreendeu de forma alguma.
"E quanto à primeira mulher?" Riley perguntou. "Ela era mãe, eu suponho."
"Não," disse Flores rapidamente, como se estivesse esperando por esse questionamento. "Ela era casada, mas sem filhos."
Riley ficou pasma. Ela tinha certeza que o assassino estava objetivando mães. Como ela poderia ter começado errado?
Ela podia sentir sua crescente autoconfiança, de repente, desinflar.
Com a hesitação de Riley, Bill perguntou: "Então, quão próximos estamos para identificar um suspeito? Você foi capaz de obter algum daqueles carrapichos do Parque Mosby?"
"Não tive essa sorte," disse Flores. "Nós encontramos vestígios de couro, em vez de sangue. O assassino usou luvas. Ele parecia ser melindroso. Mesmo na primeira cena, ele não deixou qualquer vestígio ou DNA."
Riley suspirou. Ela tinha sido tão esperançosa de que havia encontrado algo que os outros tinham negligenciado. Mas agora ela sentiu que estava errada. Eles estavam de volta à estaca zero.
"Obsessivo com os detalhes," ela comentou.
"Mesmo assim, eu acho que nós estamos nos aproximando dele," acrescentou Flores.
Ele usou um ponteiro eletrônico para indicar localizações, linhas desenhadas entre elas.
"Agora que sabemos sobre este assassinato prévio, temos a ordem e uma melhor ideia de seu território," disse Flores. "Nós temos a número um, Margaret Geraty, em Belding, ao norte daqui, número dois, Eileen Rogers, perto de Daggett, mais ao sul e, número três, Reba Frye, para o oeste, no Parque Mosby."
Ao olhar, Riley viu que os três locais formaram um triângulo no mapa.
"Nós estamos olhando para uma área de cerca de mil milhas quadradas," disse Flores. "Mas isso não é tão ruim quanto parece. Estamos falando de áreas rurais na sua maioria, com algumas pequenas cidades. No Norte, você entra em algumas grandes propriedades, como a do senador. Muitos campos abertos."
Riley viu um olhar de satisfação profissional no rosto de Flores. Obviamente ele amava seu trabalho.
"O que eu vou fazer é reunir os dados de todos os criminosos sexuais registrados que vivem nesta área," disse Flores. Ele digitou um comando e o triângulo foi pontilhado com cerca de duas dúzias de marcas pequenas e avermelhadas.
"Agora vamos eliminar os pederastas," disse ele. "Podemos ter certeza de que o nosso assassino não é um deles."
Flores digitou um outro comando e cerca de metade dos pontos desapareceu.
"Agora vamos reduzir a apenas os casos graves – caras que estiveram na prisão por estupro ou assassinato ou ambos."
"Não," Riley disse abruptamente. "Isso está errado."
Todos os três homens a encararam com surpresa.
"Nós não estamos procurando um criminoso violento," disse ela. Flores resmungou.
"Até parece que não!" Ele protestou.
Um silêncio se instalou. Riley sentiu uma visão se construindo, mas ainda não tinha tomado forma em sua mente. Ela ficou olhando para a boneca, que ainda estava sentada grotescamente sobre a mesa, parecendo mais deslocada que nunca.
Se você pudesse falar, ela pensou.
Então ela começou lentamente a listar seus pensamentos.
"Quero dizer, não obviamente violento. Margaret Geraty não foi estuprada. Nós já sabíamos que Rogers e Frye também não foram."
"Todos elas foram torturadas e mortas," Flores resmungou.
A tensão encheu a sala, enquanto Brent Meredith parecia preocupado, Bill estava olhando fixamente para um dos monitores.
Riley apontou para as imagens de perto do cadáver horrivelmente mutilado de Margaret Geraty.
"Seu primeiro assassinato foi o mais violento," disse ela. "Essas feridas são profundas e feias – piores do que suas duas próximas vítimas. Aposto que seus peritos já determinaram que ele infligiu estas feridas bem rapidamente, uma após a outra."