A Carícia da Morte - Блейк Пирс 2 стр.


“Quem limpa a casa? Quem cozinha?” Perguntou Jilly. Depois acrescentou ansiosamente, “Não cozinho lá muito bem.”

“A nossa empregada, Gabriela, trata disso tudo. Ela é da Guatemala. Vive connosco, num apartamento na cave. Vais conhecê-la não tarda nada. Ela vai tomar conta de ti quando eu tiver que me ausentar.”

Outro silêncio.

Então Jilly perguntou, “A Gabriela vai-me bater?”

Riley ficou abismada com aquela pergunta.

“Não. É claro que não. Porque é que ela faria uma coisa dessas?”

Jilly não respondeu. Riley tentou compreender o significado daquela questão.

Tentou convencer-se de que não deveria ficar surpreendida. Riley ainda se lembrava do que Jilly lhe tinha dito quando a encontrou na cabina do camião e lhe disse que tinha que ir para casa.

“Eu não vou para casa. O meu pai bate-me se volto.”

Os serviços sociais de Phoenix já tinham retirado a custódia de Jilly ao pai. Riley sabia que a mãe de Jilly estava em parte incerta há muito tempo. Jilly tinha um irmão algures, mas ninguém sabia notícias dele há algum tempo.

Partiu-se-lhe o coração perceber que Jilly receava receber um tratamento semelhante na sua nova casa. Parecia que a pobre rapariga nem conseguia imaginar algo melhor na vida.

“Ninguém te vai bater, Jilly,” Disse Riley, com a voz a tremer um pouco de emoção. “Nunca mais. Vamos tomar bem conta de ti. Percebes?”

Mais uma vez, Jilly não respondeu. Riley desejava que ela ao menos dissesse que percebia e que acreditava no que Riley lhe transmitia. Mas em vez disso, Jilly mudou de assunto.

“Gosto do teu carro,” Disse. “Posso aprender a conduzir?”

“Claro, quando fores mais velha,” Disse Riley. “Agora vamos é instalar-te na tua nova vida.”

*

Ainda caía alguma neve quando Riley estacionou o carro em frente à sua casa e ela e Jilly saíram da viatura. O rosto de Jilly contraía-se um pouco quando os flocos de neve lhe tocavam na pele. Parecia não gostar daquela nova sensação. E tremia freneticamente de frio.

Temos que lhe arranjar umas roupas mais quentes imediatamente, Pensou Riley.

A meio caminho entre o carro e a porta de entrada, Jilly estacou. Olhou para a casa.

“Não posso fazer isto,” Disse Jilly.

“Por que não?”

Jilly calou-se durante alguns instantes. Parecia um animal acossado. Riley suspeitava que o mero pensamento de viver num lugar tão aprazível a oprimia.

“Vou atrapalhar a April, não vou?” Perguntou Jilly. “Quero dizer, a casa de banho é dela.”

Parecia procurar desculpas, agarrar-se a razões para que tudo parecesse um projeto votado ao fracasso.

“Não vais atrapalhar a April,” Disse Riley. “Agora entra.”

Riley abriu a porta. No interior, à espera, estavam April e Ryan, o ex-marido de Riley. Os rostos eram sorridentes e acolhedores.

April foi logo ter com Jilly e deu-lhe um grande abraço.

“Chamo-me April,” Disse. “Estou tão feliz por teres vindo. Vais gostar muito de cá estar.”

Riley ficou alarmada com a diferença entre as duas raparigas. Ela sempre considerara April magra e desengonçada, mas ao lado de Jilly parecia robusta. Riley atribuiu a extrema magreza de Jilly ao facto de, ao longo da sua vida, ter passado fome em alguns momentos.

Tantas coisas que ainda não sei, Pensou Riley.

De repente, Gabriela surgiu da cave, apresentando-se com um amplo sorriso.

“Bem-vinda à família!” Exclamou Gabriela, dando um abraço a Jilly.

Riley reparou que a pele da robusta mulher Guatemalteca era apenas ligeiramente mais escura do que a de Jilly.

“Vente!” Disse Gabriela, pegando na mão de Jilly. “Vamos até lá acima. Vou mostrar-te o teu quarto!”

Mas Jilly afastou a mão e ficou parada a tremer. Começaram a correr-lhe lágrimas pelo rosto. Sentou-se nas escadas e chorou. April sentou-se a seu lado e colocou-lhe um braço à volta dos ombros.

“Jilly, o que é que se passa?” Perguntou April.

Jilly abanou a cabeça lastimosamente.

“Não sei,” Soluçou. “É só que… Não sei. É tudo demasiado.”

April sorriu amorosamente e deu-lhe uma palmadinha carinhosa nas costas.

“Eu sei, eu sei,” Disse. “Vem até lá acima. Vais-te sentir em casa num instante.”

Jilly levantou-se obedientemente e seguiu April. Riley ficou agradada por constatar a forma graciosa como a filha estava a lidar com a situação. É claro que April sempre dissera que queria ter uma irmã mais nova. Mas April tinha passado por momentos difíceis que a tinham traumatizado gravemente.

Talvez, Pensou Riley esperançosa, a April seja capaz de compreender a Jilly melhor do que eu.

Gabriela olhou compassivamente para as duas raparigas.

“¡Pobrecita!” Disse. “Espero que fique bem.”

Gabriela voltou para a cave, deixando Riley e Ryan sozinhos. Ryan ficou a olhar para as escadas, parecendo algo atordoado.

Espero que não esteja arrependido, Pensou Riley. Vou precisar do apoio dele.

Muito tinha acontecido entre ela e Ryan. Nos últimos anos do seu casamento, fora um marido infiel e um pai ausente. Tinham-se separado e divorciado. Mas ultimamente Ryan parecia outro homem e passavam cada vez mais tempo juntos.

Tinham conversado sobre o desafio de introduzir a Jilly nas suas vidas. Ryan parecera entusiasmado com a ideia.

“Ainda concordas com isto?” Perguntou-lhe Riley.

Ryan olhou para ela e disse, “Sim. Mas vai ser duro, muito duro.”

Riley anuiu e seguiu-se um silêncio incómodo.

“Penso que talvez seja melhor eu ir embora,” Disse Ryan.

Riley sentiu-se aliviada. Deu-lhe um beijo leve, ele vestiu o casaco e foi-se embora. Riley preparou uma bebida e sentou-se sozinha na sala de estar.

No que é que nos meti? Interrogou-se.

Ela esperava que as suas boas intenções não dividissem novamente a sua família.

CAPÍTULO DOIS

Riley acordou apreensiva na manhã seguinte. Aquele ia ser o primeiro dia da vida de Jilly na sua nova casa. Tinham muito que fazer e Riley esperava que tudo corresse pelo melhor.

Na noite anterior apercebera-se que a transição de Jilly para a sua nova vida envolveria trabalho árduo de todos. Mas April tinha intervido e ajudara Jilly a instalar-se. Tinham escolhido roupas para Jilly usar no dia de hoje – não das que trouxera consigo num saco de compras, mas das coisas novas que Riley e April lhe tinham comprado.

Jilly e April tinham ido para a cama, por fim.

Riley também tinha ido, mas o seu sono fora perturbado e agitado.

Agora levantara-se e vestira-se, e dirigia-se para a cozinha onde April ajudava Gabriela a preparar o pequeno-almoço.

“Onde está a Jilly?” Perguntou April.

“Ainda não se levantou,” Disse April.

Riley ficou preocupada.

Dirigiu-se ao fundo das escadas e gritou, “Jilly, é altura de te levantares.”

Nenhuma resposta lhe chegou. De repente, foi dominada pelo pânico. Teria Jilly fugido durante a noite?

“Jilly, ouviste-me?” Chamou. “Temos que te matricular na escola agora de manhã.”

“Estou a ir,” Respondeu Jilly.

Riley respirou de alívio. O tom de Jilly era soturno, mas pelo menos estava ali e a colaborar.

Em anos recentes, Riley ouvira com frequência aquele mesmo tom de April. Agora April parecia ter passado essa fase, embora ainda tivesse recaídas de tempos a tempos. Riley interrogou-se se estaria mesmo à altura da tarefa de criar outra adolescente.

E naquele preciso momento, alguém bateu à porta. Quando Riley abriu a porta, deparou-se com o seu vizinho Blaine Hildreth.

Riley estava surpreendida por vê-lo, mas não desagradada. Blaine era alguns anos mais novo do que ela, um homem atraente e encantador, proprietário de um restaurante sofisticado na cidade. Na verdade, ela sentira uma inconfundível mútua atração entre eles que impossibilitava qualquer hipótese de restabelecer a ligação com Ryan. Mas mais importante do que tudo, Blaine era um vizinho maravilhoso e as filhas de ambos, melhores amigas.

“Olá Riley,” Cumprimentou Blaine. “Espero que não seja demasiado cedo.”

“De maneira nenhuma,” Disse Riley. “O que se passa?”

Blaine encolheu os ombros com um sorriso triste.

“Vim cá para me despedir,” Disse ele.

Riley ficou perplexa.

“O que é que queres dizer com isso?” Perguntou.

Ele hesitou e antes de responder, Riley viu um enorme camião estacionado em frente à sua casa. Homens transportavam mobília da casa de Blaine para o camião.

Riley ainda não conseguia acreditar no que via.

“Vais-te mudar?” Perguntou.

“Pareceu-me o melhor a fazer,” Disse Blaine.

Riley quase não conseguiu evitar perguntar, “Porquê?”

Mas era fácil adivinhar. Viver como vizinho de Riley provara ser perigoso e aterrador, tanto para Blaine como para a filha, Crystal. O penso que ainda ostentava no rosto provava-o. Blaine fora gravemente ferido quando tentara proteger April do ataque de um assassino.

“Não é o que estás a pensar,” Disse Blaine.

Mas Riley conseguia perceber pela sua expressão que se tratava exatamente daquilo em que ela estava a pensar.

Ele prosseguiu, “Chegámos à conclusão que este lugar não era o mais conveniente. Fica muito longe do restaurante. Encontrei uma casa bem agradável mais perto. Tenho a certeza que compreendes.”

Riley sentia-se demasiado confusa e aborrecida para responder. Memórias do terrível incidente regressaram numa torrente arrasadora.

Ela estava em Nova Iorque a trabalhar num caso quando soubera que um assassino brutal estava à solta. Chamava-se Orin Rhodes. Dezasseis anos antes, Riley fora obrigada a abater a namorada num tiroteio e ele fora preso. Quando Rhodes foi finalmente libertado de Sing Sing, jurara vingar-se de Riley e de todos os que ela mais amava.

Antes de Riley conseguir chegar a casa, Rhodes invadiu a sua casa e atacou April e Gabriela. Na casa ao lado, Blaine apercebera-se da luta e interviera para ajudar. O mais certo era ter salvo a vida de April. Mas fora gravemente ferido ao tentar.

Riley visitara-o duas vezes no hospital. Da primeira vez fora devastador. Ele ainda estava inconsciente com tubos intravenosos nos dois braços e uma máscara de oxigénio. Riley culpara-se amargamente do que lhe acontecera.

Mas quando o visitou pela segunda vez, ficou mais animada. Ele estava alerta e alegre, e até brincara com um pouco de orgulho da sua imprudência.

Acima de tudo, ela lembrava-se do que ele lhe dissera na altura…

“Eu faria qualquer coisa por ti e pela April.”

Era óbvio que já não tinha tanta certeza. O perigo de ser vizinho de Riley provara ser um fardo demasiado pasado para ele e agora ia-se embora. Ela não sabia se se devia sentir magoada ou culpada. De uma coisa tinha a certeza: sentia-se desiludida.

Os pensamentos de Riley foram interrompidos pela voz de April atrás dela.

“Oh meu Deus! Blaine, vocês vão-se mudar? A Crystal ainda está cá?”

Blaine anuiu.

“Tenho que lá ir dizer-lhe adeus,” Disse April.

April desatou a correr porta fora em direção à porta do lado.

Riley ainda estava a tentar organizar as suas próprias emoções.

“Peço desculpa,” Disse ela.

“Desculpa porquê?” Perguntou Blaine.

“Tu sabes.”

Blaine assentiu. “A culpa não foi tua Riley,” Disse ele com um tom de voz carinhoso.

Riley e Blaine fitaram-se durante um momento. Por fim, Blaine forçou um sorriso.

“Ei, eu não vou propriamente abandonar a cidade,” Disse ele. “Podemos sempre encontrar-nos quando quisermos. E as miúdas também. E elas ainda vão frequentar a mesma escola. Será como se nada tivesse mudado.”

Um sabor amargo apoderou-se da boca de Riley.

Isso não é verdade, Pensou. Tudo mudou.

E nessa altura a desilusão começou a dar lugar à fúria. Riley sabia que não estava certo sentir-se zangada. Ela não tinha esse direito. Ela nem sequer sabia porque é que se sentia assim. Tudo o que sabia era que não o conseguia evitar.

E o que deviam fazer agora?

Dar um abraço? Apertar as mãos?

Ela tinha a sensação de que Blaine sentia a mesma estranheza e indecisão.

Conseguiram trocar um adeus conciso. Blaine voltou para casa e Riley regressou para dentro da sua. Encontrou Jilly a tomar o pequeno-almoço na cozinha. Gabriela já colocara o pequeno-almoço de Riley na mesa por isso, sentou-se à mesa e comeu com Jilly.

“Então, estás entusiasmada com o dia de hoje?”

A pergunta de Riley saiu antes de perceber quão desajeitada soara.

“Acho que sim,” Disse Jilly, espetando um garfo nas panquecas. Nem olhou para Riley.

*

Um pouco mais tarde, Riley e Jilly entravam na Brody Middle School. O edifício era atraente com cacifos com portas de cores coloridas alinhados no corredor e arte de estudantes visível em todo o lado.

Uma aluna educada e agradável ofereceu ajuda e direcionou-as para o gabiente principal. Riley agradeceu-lhe e continuou a percorrer o corredor, segurando nos papéis de matrícula de Jilly com uma das mãos e segurando na mão de Jilly com a outra.

Anteriormente, tinham-se registado no gabinete central. Tinham levado a papelada que os Serviços Sociais de Phoenix tinham reunido – boletim de vacinas, transcrições escolares, a certidão de nascimento de Jilly e uma declaração de que Riley era a tutora oficial de Jilly. Jilly tinha sido retirada da custódia do pai, apesar dele ter ameaçado contestar essa decisão. Riley sabia que o caminho para finalizar e legalizar uma adoção não seria rápido ou fácil.

Jilly apertou com força a mão de Riley. Riley teve a sensação de que a rapariga se sentia muito pouco à vontade. Não era difícil imaginar porquê. Por muito dura que tivesse sido a vida em Phoneix, era o único lugar onde Jilly jamais tinha vivido.

“Porque é que não posso ir para a escola com a April?” Perguntou Jilly.

“No próximo ano vais estar no mesmo liceu,” Disse Riley. “Mas primeiro tens que terminar o oitavo ano.”

Encontraram o gabinete principal e Riley mostrou os papéis à rececionista.

“Gostaríamos de ver alguém para matricular a Jilly na escola,” Disse Riley.

“Tem que se encontrar com um orientador escolar,” Disse a rececionista com um sorriso. “Venham por aqui.”

Ambas precisamos de alguma orientação, Pensou Riley.

A orientadora era uma mulher na casa dos trinta anos com um cabelo castanho encaracolado. Chamava-se Wanda Lewis e o seu sorriso era tão terno quanto um sorriso pode ser. Riley pensou que ela podia realmente ajudar. Com certeza que uma mulher naquela posição já teria lidado com outros alunos com passados problemáticos.

Wanda Lewis fez-lhes uma visita guiada à escola. A biblioteca era impecável, organizada e bem fornecida de computadores e livros. No ginásio, raparigas jogavam basquetebol com alegria. A cantina era limpa e reluzente. Tudo parecia absolutamente perfeito para Riley.

Durante todo aquele tempo, Wanda Lewis colocou a Jilly várias perguntas acerca da sua anterior escola e sobre os seus interesses. Mas Jilly quase não disse nada em resposta e não colocou quaisquer perguntas. A sua curiosidade pareceu espevitar um pouco quando espreitou para a sala de arte. Mas mal se prosseguiu, voltou ao seu silêncio e indiferença.

Riley interrogou-se do que poderia estar a passar pela cabeça da rapariga. Ela sabia que as suas notas mais recentes haviam sido fracas, mas já tinham sido ótimas em anos anteriores. A verdade era que Riley quase não sabia nada sobre a experiência escolar passada de Jilly.

Talvez até odiasse a escola.

Esta nova devia ser assustadora, um lugar onde Jilly não conhecia ninguém. E claro, não ia ser fácil recuperar o atraso nos estudos quando só faltavam algumas semanas para o fim do período.

No fim da visita guiada, Riley conseguiu persuadir Jilly a agradecer a Wanda Lewis. Concordaram que Jilly começaria as aulas no dia seguinte. Depois Riley e Jilly saíram para o exterior rumo ao frio cortante de Janeiro. Uma fina camada da neve do dia anterior repousava no parque de estacionamento.

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