A Carícia da Morte - Блейк Пирс 4 стр.


Bill já tinha chegado. Ainda parecia extremamente ansioso. Riley esperava compreender em breve porquê.

Mal Riley se sentou, Meredith debruçou-se sobre a secretária na sua direção com aquele seu rosto amplo e angular de Afro-Americano sempre desafiador.

“Comecemos pelo início Agente Paige,” Disse ele.

Riley esperou que ele dissesse algo diferente – que fizesse uma pergunta ou desse uma ordem. Mas em vez disso, limitou-se a olhar para ela.

Demorou apenas um momento para Riley perceber onde é que Meredith queria chegar.

Meredith estava a ter o cuidado de não colocar a pergunta. Riley apreciou a sua descrição. Um assassino ainda estava à solta e o seu nome era Shane Hatcher. Ele fugira de Sing Sing e o caso mais recente de Riley fora capturar Hatcher.

Riley falhara. Na verdade, ela nem sequer tentara e agora outros agentes de FBI tinham a tarefa de o capturar. Até ao momento, não o tinham conseguido.

Shane Hatcher era um génio do crime que se tornara num respeitado perito em criminologia durante a sua longa permanência na prisão. Riley tinha-o visitado algumas vezes na prisão para obter conselhos sobre os seus casos. Conhecia-o suficientemente bem para ter a certeza de que não constituía um perigo para a sociedade naquele momento. Hatcher tinha um código moral estranho mas rígido. Matara um homem desde a sua fuga – um velho inimigo que era, ele próprio, um criminoso perigoso. Riley tinha a certeza de que ele não mataria mais ninguém.

Naquele momento, Riley compreendia que Meredith precisava de saber se ela sabia alguma coisa de Hatcher. Era um caso de grande importância e parecia que Hatcher se estava rapidamente a tornar em algo semelhante a uma lenda urbana – um mestre do crime famoso capaz de tudo.

Riley apreciava a descrição de Meredith em não lhe colocar abertamente a pergunta mas a verdade era que Riley não sabia nada das atuais atividades de Hatcher ou o seu paradeiro.

“Não há nenhuma novidade,” Disse Riley em resposta à pergunta não pronunciada de Meredith.

Meredith anuiu e pareceu descontrair um pouco.

“Então muito bem,” Disse Meredith. “Vou direto ao assunto. Vou enviar o Agente Jeffreys a Seattle por causa de um caso. Ele quer que você seja a sua parceira. Preciso de saber se está disponível para o acompanhar.”

Riley tinha que dizer que não. Ela tinha tanta coisa com que lidar naquele momento na sua vida que assumir um caso numa cidade distante parecia completamente fora de questão. Ainda experimentava ataques ocasionais do SPT de que sofria desde que fora capturada por um criminoso sádico. A sua filha April sofrera às mãos do mesmo homem e agora April tinha que lidar com os seus próprios demónios. E agora Riley tinha uma nova filha que também tinha passado pelos seus próprios terríveis traumas.

Se ela pudesse ficar fora de ação durante algum tempo e dar algumas aulas na Academia, talvez conseguisse estabilizar a sua vida.

“Não posso aceitar,” Disse Riley. “Não agora.”

Virou-se para Bill.

“Tu sabes aquilo com que estou a lidar,” Disse ela.

“Eu sei, só esperava…” Disse Bill com uma expressão implorativa nos olhos.

Chegara o momento de saber o que se estava a passar.

“Que caso é este?” Perguntou Riley.

“Ocorreram pelo menos dois envenenamentos em Seattle,” Disse Meredith. “Parece ser um caso de assassino em série.”

Naquele momento, Riley compreendeu porque é que Bill estava tão abalado. Quando ele era criança, a mãe fora envenenada. Riley não sabia pormenores mas sabia que o seu assassinato fora uma das razões pela qual ele se tornara agente do FBI. Assombrara-o durante anos. Aquele caso abria velhas feridas.

Por isso, quando ele lhe dissera que precisa dela, era porque precisava mesmo dela.

Meredith prosseguiu, “Até ao momento só temos conhecimento de duas vítimas – um homem e uma mulher. Pode ter havido outros e ainda se podem seguir outros.”

“Porque é que nos chamaram?” Perguntou Riley. “Existe um departamento do FBI em Seattle. Eles não podem tratar do assunto?”

Meredith abanou a cabeça.

“A situação por lá é bastante disfuncional. Parece que o FBI local e a polícia local não concordam em nada a respeito deste caso. Por isso somos necessários. Posso contar consigo Agente Paige?”

De repente, a decisão de Riley tornou-se clara. Apesar dos seus problemas pessoais, ela era mesmo necessária neste caso.

“Contem comigo,” Disse por fim.

Bill assentiu e suspirou audivelmente de alívio e gratidão.

“Ótimo,” Disse Meredith. “Voam para Seattle amanhã de manhã.”

Meredith tamborilou os dedos na mesa por um momento.

“Mas não esperem uma receção calorosa,” Acrescentou. “Nem os polícias, nem os agentes federais vão gostar de vos ver.”

CAPÍTULO SEIS

Riley receava o primeiro dia de aulas de Jilly quase tanto como receava alguns casos. A adolescente parecia bastante sombria e Riley interrogava-se se faria uma cena no último momento.

Estará ela preparada para isto? Não parava Riley de se perguntar. Estarei eu preparada para isto?

Para além de tudo, o momento não parecia o mais adequado. Riley estava preocupada por ter de voar para Seattle naquela mesma manhã. Mas o Bill precisava de ajuda e isso para ela era suficiente. Jilly parecera bem quando conversaram sobre o assunto em casa, mas Riley não sabia muito bem o que esperar naquele momento.

Felizmente, não teve que levar Jilly para a escola sozinha. Ryan tinha-se oferecido para as levar e tanto Gabriela como April também estavam presentes para oferecer apoio moral.

Quando todos saíram do carro no parque de estacionamento da escola, April pegou na mão de Jilly e caminhou com ela na direção do edifício. As duas jovens esguias usavam calças de ganga, botas e casacos quentes. No dia anterior Riley fora fazer compras com elas e deixara Jilly escolher um novo casaco, uma colcha, cartazes e algumas almofadas para personalizar o seu quarto.

Riley, Ryan e Gabriela seguiam atrás das raparigas, e Riley enterneceu-se ao observá-las. Depois de anos de taciturnidade e rebelião, April de repente parecia incrivelmente madura. Riley interrogou-se se April não precisara de algo semelhante desde sempre – tomar conta de alguém.

“Olha para elas,” Disse Riley a Ryan. “Estão a criar laços.”

“Maravilhoso, não é?” Disse Ryan. “Parecem mesmo irmãs. Foi isso que te atraiu nela?”

Era uma pergunta interessante. Quando ela trouxe Jilly para casa, Riley fora surpreendida pelas diferenças entre as duas raparigas. Mas agora apercebia-se cada vez mais de parecenças. April era a mais pálida das duas com olhos cor de avelã como a mãe e Jilly tinha olhos castanhos e uma compleição mais morena.

Mas naquele momento em que as duas cabeças de cabelo escuro se moviam juntas, eram muito parecidas.

“Talvez,” Disse Riley, respondendo à pergunta de Ryan. “Não parei para pensar. Só sabia que ela tinha problemas graves e que talvez eu pudesse ajudar.”

“O mais certo é teres-lhe salvado a vida,” Disse Ryan.

Riley sentiu um nó na garganta. Aquela possibilidade não lhe tinha ocorrido e era um pensamento de humildade. Riley sentia-se tanto entusiasmada como assustada por esse novo sentimento de responsabilidade

Toda a família se dirigiu ao gabinete da orientadora escolar. Carinhosa e sorridente como sempre, Wanda Lewis cumprimentou Jilly com um mapa da escola.

“Vou levar-te já para a tua sala,” Disse Wanda.

“Percebe-se que é um bom lugar,” Disse Gabriela a Jilly. “Vais ficar bem aqui.”

Agora Jilly parecia nervosa, mas feliz. Abraçou-os a todos, depois seguiu Wanda pelo corredor.

“Gosto desta escola,” Disse Gabriela a Ryan, Riley e April quando se encaminhavam para o carro.

“Ainda bem que é do teu agrado,” Disse Riley.

E disse-o com sinceridade. Gabriela era muito mais do que uma empregada. Ela era um verdadeiro membro da família. Era importante que ela se sentisse bem com as decisões da família.

Entraram todos no carro e Ryan ligou a ignição.

“Para onde vamos agora?” Perguntou Ryan com alegria.

“Tenho que ir para a escola,” Disse April.

“Depois casa logo a seguir,” Disse Riley. “Tenho que apanhar um avião em Quantico.”

“Entendido,” Disse Ryan, saindo do parque de estacionamento.

Riley observou o rosto de Ryan enquanto ele conduzia. Parecia realmente feliz – feliz por fazer parte do mundo delas e feliz por ter um novo membro na família. Ele não fora assim durante grande parte do seu casamento. Parecia mesmo um homem mudado. E em momentos como aquele, Riley sentia-se grata.

Virou-se e olhou para a filha que se encontrava no banco de trás.

“Estás a lidar com tudo isto muito bem,” Disse Riley.

April pareceu surpreendida.

“Estou a empenhar-me,” Disse. “Ainda bem que notaste.”

Por um momento, Riley foi apanhada de surpresa. Estava ela a ignorar a filha por estar preocupada em instalar devidamente o novo membro da família?

April calou-se durante uns instantes e depois disse, “Mãe, ainda estou contente por a teres trazido para casa. Acho que é tudo mais complicado do que eu pensava que seria ter uma nova irmã. Ela passou muito mal e por vezes não é fácil comunicar com ela.”

“Não quero que isto seja difícil para ti,” Disse Riley.

April sorriu fracamente. “Fui dura contigo,” Disse ela. “Eu sou suficientemente dura para lidar com os problemas da Jilly. E a verdade é que começo a gostar de a ajudar. Nós vamos ficar bem. Não te preocupes connosco.”

Riley ficou mais tranquila por perceber que deixaria Jilly ao cuidado de três pessoas em quem confiava absolutamente – April, Gabriela e Ryan. Ainda assim, incomodava-a ter que partir naquele preciso momento. Esperava que não fosse por muito tempo.

*

O chão afastou-se quando Riley olhou pela janela do pequeno avião da UAC. O avião subiu acima das nuvens em direção ao nordeste pacífico – quase seis horas. Dali a poucos minutos, Riley já via a paisagem a rolar debaixo deles.

Bill estava sentado a seu lado.

Ele disse, “Voar pelo país desta forma faz-me sempre pensar em outros tempos em que as pessoas tinham que caminhar, cavalgar ou andar de comboio.”

Riley anuiu e sorriu. Era como se Bill tivesse lido os seus pensamentos. E não era raro isso acontecer entre eles.

“O país devia parecer enorme para as pessoas nessa altura,” Disse ela. “Os colonos demoravam meses a atravessar o país.”

Um silêncio familiar e confortável caiu entre eles. Ao longo dos anos, ela e Bill tinham tido a sua conta de desentendimentos e discussões, e houvera momentos em que a sua parceria parecia à beira do fim. Mas agora ela sentia-se mais próxima dele por causa desses tempos difíceis. Ela confiava totalmente nele e sabia que da parte de Bill era recíproco.

Em momentos como aquele, ela ficava feliz por ela e Bill não terem cedido à atração que sentiam um pelo outro. Momentos houve em que tinham estado perigosamente próximos.

Teria estragado tudo, Pensou Riley.

Tinham sido inteligentes em se manterem afastados desse perigo. A perda da sua amizade seria muito difícil de imaginar. Ele era o seu melhor amigo.

Passado um bocado, Bill disse, “Obrigado por vires Riley. Preciso mesmo da tua ajuda desta vez. Acho que não conseguia lidar com este caso com outro parceiro. Nem mesmo a Lucy.”

Riley olhou para ele e não disse nada. Ela não teve que lhe perguntar em que pensava. Ela sabia que ele lhe ia finalmente dizer a verdade sobre o que tinha sucedido com a mãe. Então ela compreenderia quão importante e perturbador aquele caso era para ele.

Ele olhava em frente, recordando-se.

“Aconteceu quando eu tinha nove anos,” Disse ele. “Já te tinha dito que o meu pai era professor de matemática do liceu e que a minha mãe trabalhava como caixa num banco. Com três filhos, vivíamos sem dificuldades. Tínhamos uma vida feliz até que…”

Bill parou por um momento.

“Aconteceu quando eu tinha nove anos,” Prosseguiu. “Mesmo antes do Natal, o pessoal no banco da minha mãe deu a sua festa de Natal anual, trocando presentes e comendo bolo e todas aquelas coisas normais nestas situações. Quando a minha mãe voltou para casa nessa tarde, parecia que se tinha divertido e estava tudo bem, mas à medida que a noite avançou, ela começou a ter um comportamento estranho.”

O rosto de Bill contraiu-se com a simples recordação.

“Ficou tonta e confusa, e a fala era desarticulada. Era quase como se estivesse bêbeda. Mas a minha mãe nunca bebia muito e para além disso não tinham servido álcool na festa. Nós não fazíamos ideia do que se estava a passar. As coisas pioraram rapidamente. Começou a ficar nauseada e a vomitar. O meu pai levou-a às urgências e nós fomos com eles.”

Bill calou-se novamente. Riley sabia que se estava a tornar mais difícil para ele contar-lhe o sucedido.

“Quando chegámos ao hospital, o coração dela estava a mil e estava a hiperventilar e a pressão sanguínea estava descontrolada. Depois entrou em coma. Os rins começaram a falhar e teve uma falência cardíaca congestiva.”

Os olhos de Bill fecharam-se com força e o seu rosto demonstrava toda a dor desses momentos. Riley interrogou-se se talvez fosse melhor ele não contar o resto da história. Mas ela pressentiu que seria errado dizer-lhe para parar de a contar.

Bill disse, “Na manhã seguinte, os médicos descobriram o que estava errado. Ela sofria de um grave envenenamento por etilenoglicol.”

Riley abanou a cabeça. Aquilo parecia-lhe familiar mas não sabia porquê.

Bill explicou tudo rapidamente, “O ponche na festa tinha sido enriquecido com anticongelante.”

Riley ficou chocada.

“Meu Deus!” Disse ela. “Como é que isso foi possível? Quero dizer, será que o sabor…?”

“O que se passou foi que a maior parte dos anticongelantes têm um sabor doce,” Explicou Bill. “É fácil de misturar com bebidas açucaradas sem ser notado. É muito fácil de ser usado como veneno.”

Riley tentava abarcar aquilo que estava a ouvir.

“Mas se o ponche estava contaminado, não houve outras pessoas afetadas?” Perguntou.

“Essa é que é a questão,” Disse Bill. “Mais ninguém foi envenenado. Não estava na taça de ponche. Estava só no copo da minha mãe. Alguém queria atacá-la de forma específica.”

Bill manteve-se em silêncio durante algum tempo.

“Nessa altura, já era tarde demais para fazer o que quer que fosse,” Disse ele. “Ela ficou em coma e morreu na Véspera de Ano Novo. Estávamos todos junto à cama dela.”

De alguma forma, Bill conseguiu não se desfazer em lágrimas. Riley calculou que já tivera a sua dose de choro ao longo dos anos.

“Não fazia sentido,” Disse Bill. “Toda a gente gostava da minha mãe. Ela não tinha inimigos. A polícia investigou e tornou-se claro que ninguém que trabalhava no banco fora responsável. Mas vários colegas de trabalho se lembravam de um homem estranho que ia e vinha durante a festa. Ele parecia amável e toda a gente partiu do princípio de que era convidado de alguém, um amigo ou um parente. Foi-se embora antes de a festa terminar.”

Bill abanou a cabeça amargamente.

“O caso foi arquivado. Penso que nunca se saberá a verdade. Depois de tantos anos, nunca será resolvido. Foi horrível nunca ter descoberto quem o fez, nunca o levar à justiça. Mas o pior de tudo foi não saber porquê. Parecia uma coisa tão sem nexo e cruel. Porquê a minha mãe? O que é que ela fez para fazer com que alguém praticasse um ato tão infame? Ou talvez não tenha feito nada. Talvez fosse apenas algum tipo de brincadeira cruel. Não saber foi uma tortura. Ainda é. E claro, essa foi uma das razões que me levou a…”

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