A Carícia da Morte - Блейк Пирс 6 стр.


“O que o faz pensar isso?” Perguntou a Dra. Shankar.

“Porque temos um suspeito infalível da morte de Margaret Jewell,” Disse ele. “Ela era casada com outra mulher chamada Barbara Bradley. Os amigos e vizinhos do casal afirmam que as duas estavam a ter problemas, discussões aos gritos que acordavam os vizinhos. Na verdade, Bradley até tem cadastro criminal. As pessoas dizem que tem um feitio difícil. Foi ela. Temos a certeza.”

“Então porque é que não a prenderam?” Exigiu saber o Agente Sanderson.

O Chefe McCade ficou na defensiva.

“Interrogámo-la em casa,” Disse ele. “Mas ela é uma pessoa dissimulada e ainda não temos qualquer prova para a deter. Estamos a construir o caso. Está a demorar algum tempo.”

O Agente Sanderson sorriu.

Disse, “Bem, enquanto estiveram a construir o vosso caso, parece que a vossa suspeita infalível matou outra pessoa. O melhor é não perderem o comboio. Pode estar a preparar-se para o fazer novamente neste preciso momento.”

O rosto do Chefe McCade começou a ficar vermelho de raiva.

“Está completamente enganado,” Disse ele. “Garanto-vos que a morte de Margaret Jewell foi um incidente isolado. Barb Bradley não tinha qualquer motivo para matar Cody Woods ou qualquer outra pessoa segundo conseguimos apurar.”

“Segundo conseguiram apurar,” Acrescentou Sanderson num tom de gozo.

Riley conseguia sentir as tensões subjacentes virem à superfície. Ela esperava que a reunião terminasse sem pancadaria.

Entretanto, o seu cérebro já tentava apanhar toda a informação que lhe chegara até ao momento.

Perguntou ao Chefe McCade, “Jewell e Bradley estavam bem financeiramente?”

“Nem por isso,” Disse ele. “Classe média-baixa. Na verdade, pensamos que a pressão financeira pode ter sido parte do motivo.”

“Qual a profissão de Barb Bradley?”

“Faz entregas,” Disse McCade.

Riley sentiu um palpite a formar-se na sua mente. Pensou que um assassino que usava veneno seria provavelmente uma mulher. E como pessoa que faz entregas, poderia ter acesso a várias instalações de saúde. Não havia dúvidas de que era alguém com quem gostaria de falar.

“Gostava que me dessem a morada de Barb Bradley,” Disse Riley. “Eu e o Agente Jeffreys queremos interrogá-la.”

O Chefe McCade olhou para ela como se tivesse enlouquecido.

“Acabei de lhe dizer, já fizemos isso,” Disse ele.

Parece que não muito bem, Pensou Riley.

Mas reprimiu o desejo de verbalizar esta ideia.

Bill falou, “Concordo com a Agente Paige. Devemos voltar a falar com Barb Bradley.”

O Chefe McCade sentia-se nitidamente insultado.

“Não o vou permitir,” Disse ele.

Riley sabia que o chefe da equipa do FBI, o Agente Sanderson, podia fazer prevalecer a sua posição se quisesse. Mas quando olhou para Sanderson para obter apoio, este olhava-a de forma pouco amistosa.

Percebeu a situação de imediato. Apesar de Sanderson e McCade se odiarem, eram aliados no seu ressentimento por Riley e Bill. Na opinião de ambos, os agentes vindos de Quantico não tinham nada que estar ali no seu território. Quer o compreendessem ou não, os seus egos eram mais importantes do que o próprio caso.

Como é que eu e o Bill vamos conseguir fazer alguma coisa? Interrogou-se Riley.

Em contraste, a Dra. Shankar parecia tão fria e controlada como sempre.

Ela disse, “Gostava de saber porque é que se trata de uma ideia tão má os agentes Jeffreys e Paige interrogarem Barb Bradley.”

Riley ficou surpreendida com a audacidade da Dra. Shankar em manifestar-se. No final de contas, mesmo como Chefe de Medicina Legal, estava a ultrapassar as suas competências.

“Porque tenho a minha própria investigação a decorrer!” Disse McCade, agora quase a gritar. “O mais certo é estragarem tudo!”

A Dra. Shankar sorriu aquele seu sorriso inescrutável.

“Chefe McCade, está mesmo a questionar a competência destes dois agentes de Quantico?”

Depois, virando-se para o chefe de equipa do FBI, acrescentou, “Agente Sanderson, o que tem a dizer sobre isto?”

McCade e Sanderson olharam para a Dra. Shankar num silêncio espantado.

Riley reparou que a Dra. Shankar lhe sorria. Riley não conseguiu evitar retribuir-lhe o sorriso com admiração. Ali no seu próprio edifício, Shankar sabia como projetar a sua presença autoritária. Não importava quem mais pensava que mandava. Ela era um osso duro de roer.

O Chefe McCade abanou a cabeça resignado.

“OK,” Disse. “Se querem a morada, nós damos a morada.”

O Agente Sanderson acrescentou rapidamente, “Mas quero que alguns dos meus homens vão com vocês.”

“Parece-me justo,” Disse Riley.

McCade anotou a morada e entregou-a a Bill.

Sanderson deu a reunião por terminada.

“Jesus, alguma vez tinhas visto um par tão arrogante de idiotas na tua vida?” Perguntou Bill a Riley enquanto se dirigiam para o carro. “Como é que vamos conseguir fazer alguma coisa?”

Riley não respondeu. A verdade era que não sabia. Ela pressentia que aquele caso ia ser suficientemente duro sem terem que lidar com a política de poderes locais. Ela e Bill tinham que agir rapidamente antes que mais alguém morresse.

CAPÍTULO NOVE

Hoje o seu nome era Judy Brubaker.

Ela gostava de ser Judy Brubaker.

As pessoas gostavam de Judy Brubaker.

Movia-se energicamente em redor da cama vazia, arranjando os lençóis e ajeitando as almofadas. Ao fazê-lo, sorria para a mulher sentada num confortável cadeirão.

Judy ainda não decidira se a matava.

O tempo está a esgotar-se, Pensou Judy. Tenho que me decidir.

O nome da mulher era Amanda Somers. Judy encarava-a como uma criaturinha estranha, tímida e reservada. Estava a ser tratada por Judy desde o dia anterior.

Continuando a fazer a cama, Judy começou a cantar.

Longe de casa,

Tão longe de casa-

Este bebé pequenino está longe de casa.


Amanda juntou-se a Judy com a sua vozinha.

Definha

De dia para dia

Demasiado triste para rir, demasiado triste para brincar.


Judy ficou algo surpreendida. Amanda Somers não tinha demonstrado qualquer interesse na canção de embalar até àquele momento.

“Gosta desta canção?” Perguntou Judy Brubaker.

“Penso que sim,” Disse Amanda. “É triste e acho que se adequa à minha disposição.”

“Porque é que está triste? O seu tratamento já terminou e vai para casa. A maioria dos pacientes fica feliz ao saber que vai para casa.”

Amanda suspirou e não disse mais nada. Juntou as mãos em posição de oração. Ao manter os dedos juntos, movia as palmas para longe uma da outra. Repetiu o movimento algumas vezes. Era um exercício que Judy lhe ensinara para ajudar no processo de cura depois da cirurgia de Amanda ao túnel do carpo.

“Estou a fazer isto bem?” Perguntou Amanda.

“Quase,” Disse Judy, ajoelhando-se a seu lado e tocando-lhe nas mãos para corrigir os seus movimentos. “Precisa de manter os dedos alongados para que se inclinem para fora. Lembre-se, as suas mãos devem parecer uma aranha a fazer flexões num espelho.”

Amanda agora já fazia os movimentos e forma correta. Sorriu, parecendo estar muito orgulhosa de si.

“Sinto mesmo que está a ajudar,” Disse ela. “Obrigada.”

Judy observou Amanda a prosseguir os seus exercícios. Judy odiava a pequena e feia cicatriz que se estendia na parte inferior da mão direita de Amanda.

Cirurgia desnecessária, Pensou Judy.

Os médicos aproveitaram-se da confiança e credulidade de Amanda. Ela tinha a certeza de que tratamentos menos drásticos teriam funcionado tão bem ou melhor. Talvez algumas injeções de corticoides. Judy tinha visto demasiados médicos a insistir em cirurgias, quer fossem realmente necessárias ou não. Era algo que a enfurecia.

Mas hoje Judy não estava apenas aborrecida com os médicos. Sentia-se impaciente com a doente também. E não sabia bem porquê.

Esta é difícil de entender, Pensou Judy ao sentar-se na borda da cama.

Durante todo o tempo em que permaneceram juntas, Amanda deixara que fosse apenas Judy a falar.

Judy Brubaker tinha muitas coisas interessantes de que falar é claro. Judy não era muito parecida com a agora desaparecida Hallie Stillians que tinha a personalidade caseira de uma tia de visita.

Judy Brubaker era a um tempo mais franca e mais extravagante, e geralmente vestia roupa de corrida e não vestuário mais convencional. Ela adorava contar histórias acerca das suas aventuras – Voo livre, skydiving, scuba diving, escalada e outras atividades semelhantes. Ela andara à boleia por toda a Europa e grande parte da Ásia.

E claro que nenhuma dessas aventuras tinha realmente acontecido, mas davam histórias magníficas.

A maior parte das pessoas gostava de Judy Brubaker. As pessoas que poderiam considerar Hallie um pouco enjoativa e adocicada, gostavam da personalidade mais direta de Judy.

Talvez Amanda não confie em Judy, Pensou.

Por alguma razão, Amanda não lhe tinha contado quase nada de si. Tinha quarenta e tal anos, mas nunca falara do seu passado. Judy ainda não sabia qual era a profissão de Amanda ou sequer se tinha profissão. Não sabia se Amanda já fora casada – apesar da ausência de uma aliança de casamento indicar que naquele momento não era casada.

Judy estava desapontada pela forma como as coisas estavam a decorrer. E o tempo estava realmente a esgotar-se. Amanda podia levantar-se e partir a qualquer momento. E ali estava Judy, ainda a tentar decidir se a envenenaria ou não.

Parte da sua indecisão era prudência. As coisas tinham-se alterado bastante no decorrer dos últimos dias. As suas duas últimas mortes estavam agora nos jornais. Parecia que algum médico-legista inteligente detetara tálio nos corpos. Era um desenvolvimento preocupante.

Ela tinha uma saqueta de chá preparada com uma receita alterada que usava um pouco mais de arsénico e um pouco menos de tálio. Mas a deteção era sempre um perigo. Ela não fazia ideia se as mortes de Margaret Jewell e Cody Woods tinham sido relacionadas às suas permanências em centros de reabilitação ou às pessoas que os tinham assistido. Este método de matar estava a tornar-se mais arriscado.

Mas o verdadeiro problema era que tudo aquilo parecia não fazer sentido.

Ela não conseguira estabelecer qualquer relacionamento com Amanda Somers.

Nem sentia que a conhecia.

Propor “brindar” à partida de Amanda com uma chávena de chá soaria forçado, até vulgar.

De qualquer das formas, a mulher ainda ali estava, a exercitar as mãos, não demonstrando qualquer inclinação para se ir embora, pelo menos para já.

“Não quer ir para casa?” Perguntou Judy.

A mulher suspirou.

“Bem, sabe, eu tenho problemas físicos. Por exemplo, as costas. Estão a piorar com a idade. O meu médico diz que preciso de ser operada. Mas não sei. Não consigo deixar de pensar que talvez a terapia seja o suficiente para melhorar. E você é uma excelente terapeuta.”

“Obrigada,” Disse Judy. “Mas sabe, não trabalho aqui a tempo inteiro. Sou freelancer e hoje é o meu último dia aqui por agora. Se ficar aqui durante mais tempo, já não será assistida por mim.”

Judy ficou alarmada com o olhar melancólico de Amanda e já não era a primeira vez que a olhara daquela forma.

“Não sabe como é que é,” Disse Amanda.

“O quê?” Perguntou Judy.

Amanda encolheu os ombros, olhando Judy nos olhos.

“Estar rodeada de pessoas em quem não pode confiar completamente. Pessoas que parecem preocupar-se consigo, e talvez se preocupem, ou por outro lado, talvez não. Talvez só queiram algo de si. Usuários. Usurpadores. Muitas pessoas na minha vida são assim. Não tenho família e não sei quem é meu amigo. Não sei em quem posso confiar.”

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