Um Reinado de Rainhas - Морган Райс 2 стр.


Ele está vazio.

O mundo de Thor se desfaz, e ele fica parado ali – completamente entorpecido.

Ele olha para dentro do vulcão e vê as chamas erguendo-se de dentro dele. E sabe naquele momento que seu filho está morto.

"NÃO!" Thor grita.

Thor cai de joelhos gritando para os céus; ele chora convulsivamente e dá um grito que ecoa pela montanha – o grito primitivo de um homem que acaba de perder o único motivo pelo qual ainda continua vivo.

“GUWAYNE!”

CAPÍTULO DOIS

Bem acima da ilha solitária no meio do oceano, um único dragão voa sozinho; ele ainda é pequeno – não está completamente desenvolvido, e seu grito estridente dá sinais do grande dragão que ele um dia se tornará. Ele voa triunfante com suas escamas brilhantes – crescendo a cada minuto, batendo suas asas e segurando em suas garras o bem mais precioso que ele já tinha visto em sua curta vida.

O dragão olha para baixo sentindo o calor entre suas garras e observa sua preciosa posse. Ele ouve o choro e sente sua carga se movimentando, tranquilizando-se ao ver que o bebê ainda está a salvo e intacto em suas garras.

Guwayne, o homem havia gritado.

O dragão ainda pode ouvir os gritos ecoando pelas montanhas ao voar bem acima das nuvens. Ele está exultante por ter salvado o bebê a tempo, antes que aqueles homens pudessem tê-lo matado com suas adagas. Ele havia arrancado Guwayne de suas mãos apenas alguns segundos antes do golpe fatal. Ele tinha realizado – com sucesso, a tarefa que lhe tinha sido atribuída.

O dragão voa cada vez mais alto sobre a ilha, atravessando as nuvens e já fora do campo de visão dos humanos abaixo dele. Ele sobrevoa a ilha, passando por cima de vulcões e cadeias de montanhas, atravessando nevoeiros e distanciando-se cada vez mais.

Logo ele está voando acima do oceano, deixando a ilha para trás. Diante dele, há apenas a imensidão do oceano e do céu, nada além da monotonia por um milhão de quilômetros.

O dragão sabe exatamente onde ele está indo. Ele sabe onde deve levar aquela criança – aquela criança que ele já ama mais do que seria capaz de dizer.

Um lugar muito especial.

CAPÍTULO TRÊS

Volúsia observa o corpo inerte de Romulus no chão com uma expressão de satisfação no rosto enquanto o sangue dele escorre sobre os dedos de seus pés e sob suas sandálias. A cena lhe proporciona enorme prazer. Ela não consegue se lembrar de quantos homens – mesmo com sua pouca idade – ela já havia matado, quantos ela já havia surpreendido daquela forma. Eles sempre a subestimavam – e mostrar como ela poderia ser brutal é um de seus maiores prazeres na vida.

E agora, ela havia matado o Grande Romulus – e com suas próprias mãos, e não pelas mãos de um de seus homens – o Grande Romulus, a grande lenda, o guerreiro que havia matado Andronicus e assumido o seu lugar no trono. O Líder Supremo do Império.

Volúsia sorri com grande prazer. Ali está ele, o líder supremo, reduzido a uma poça de sangue aos seus pés – e por suas próprias mãos.

Volúsia se sente entusiasmada. Ela sente um fogo pulsando em suas veias, ardendo para destruir tudo à sua frente. Ele sente as forças do destino agindo dentro dela. Sua hora havia chegado. Ela sabe, com a mesma certeza que havia tido de que um dia mataria a mãe com suas próprias mãos, que um dia lideraria todo o Império.

"Você matou nosso mestre!" diz uma voz trêmula. "Você matou o Grande Romulus!"

Volúsia olha para cima e vê o rosto do comandante de Romulus parado diante dela, encarando-a com um misto de choque, medo e admiração.

"Você matou," ele diz abatido, "o Homem que Não Pode ser Morto."

Volúsia o encara com frieza, e vê atrás dele centenas dos homens de Romulus vestindo suas melhores armaduras – alinhados no navio, esperando para ver o que ela faria em seguida. Todos esperando para atacar.

O comandante de Romulus aguarda nas docas com uma dúzia de seus homens, aguardando suas ordens. Atrás de Volúsia, ela sabe, milhares de seus homens esperam por ela. O navio de Romulus, por melhor que seja, está em terrível desvantagem – e seus homens estão em menor número. Eles estão encurralados. Aquele é o território de Volúsia, e eles sabem disso. Eles sabem que qualquer ataque – e qualquer fuga, está fora de cogitação.

"Este não é um ato que possa ficar sem uma resposta," o comandante continua. "Romulus tem um milhão de homens leais a ele aguardando suas ordens nesse momento no Anel. Ele tem mais um milhão de homens leais a ele no Sul, na capital do Império. Quando eles ficarem sabendo do que você fez, eles se mobilizarão e marcharão até aqui. Você pode ter matado o Grande Romulus, mas não matou seus homens. E seu exército de milhares, mesmo que nos supere em número hoje, não será nada contra um milhão dos homens dele. Eles buscarão vingança, e a vingança será deles."

"É mesmo?" Volúsia pergunta sorrindo e dando um passo na direção dele, sentindo a lâmina na palma de sua mão – ao mesmo tempo em que se imagina cortando a garganta dele e já sentindo vontade de fazer exatamente isso.

O comandante olha para a lâmina nas mãos dela – a lâmina que havia matado Romulus, e engole em seco, como se estivesse lendo seus pensamentos Ela pode ver o medo real em seus olhos.

"Deixe-nos ir," ele fala para ela. "Deixe que meus homens continuem seu caminho. Eles não fizeram nada contra você. Dê-nos um navio cheio de ouro, e você terá o nosso silêncio. Eu levarei nossos homens até a capital, e direi a todos que você é inocente. Direi que Romulus tentou atacá-la. Eles a deixarão em paz, você pode ter paz aqui no norte – e eles encontrarão um novo Líder Supremo para o Império."

Volúsia abre um grande sorriso, divertindo-se.

"Mas você já não está olhando para a sua nova Líder Suprema?" ela pergunta.

O comandante olha para ela surpreso, e então finalmente não consegue mais segurar e cai na gargalhada.

“Você?” ele diz. "Você não passa de uma garota, com alguns milhares de homens. Apenas por ter matado um homem, acha mesmo que poderia enfrentar o exército de um milhão dos homens de Romulus? Você tem sorte em escapar com vida depois de ter feito o que fez aqui hoje. Estou lhe oferecendo um presente. Acabe logo com essa conversa tola, aceite minha oferta com gratidão e mande-nos embora antes que eu mude de ideia."

"E seu eu não quiser permitir que sigam o seu caminho?"

O comandante olha nos olhos dela e engole em seco.

"Você pode nos matar aqui mesmo," ele responde. "A escolha é sua. Mas se fizer isso, estará apenas matando a si mesma e ao seu povo. Você será destruída pelo exército que virá."

"Ele diz a verdade, minha comandante," sussurra uma voz no ouvido dela.

Ela vira e vê Soku, seu comandante geral – um homem alto de traços fortes, com cabelos vermelhos curtos e enrolados – aproximar-se dela.

"Mande-os para o sul," ele fala. "Dê-lhes o ouro que eles tanto querem. Você matou Romulus e agora deve negociar uma trégua. Nós não temos escolha."

Volúsia volta a olhar para o homem de Romulus. Ela o encara por um longo tempo, saboreando o momento.

"Farei o que você pede," ela diz, "e o enviarei à capital."

O comandante sorri satisfeito e está prestes a partir quando Volúsia dá um passo adiante e completa:

"Mas não para esconder o que eu fiz," continua ela.

Ele para e a observa, confuso.

"Eu o enviarei à capital para entregar um recado: quero que diga a eles que eu sou a nova Líder Suprema do Império, e que se todos se curvarem diante de mim agora, é possível que continuem vivos."

O comandante olha para ela horrorizado, e então balança lentamente a cabeça e sorri.

"Você é tão louca quanto diziam que sua mãe costumava ser," ele fala, e então se vira e começa a marchar pela longa rampa de volta ao seu navio. "Coloque o ouro no convés inferior," ele ordena, sem se importar em olhar para ela ao dar o comando.

Volúsia olha para o seu comandante, que está parado ao seu lado aguardando pacientemente as suas ordens, e faz um pequeno sinal.

O comandante imediatamente se vira e sinaliza para os seus homens, e o som de dez mil flechas sendo acesas, armadas e atiradas é ouvido.

Elas preenchem o céu – escurecendo-o – e atravessam o ar formando um arco em chamas até caírem no navio de Romulus. Tudo acontece rápido demais para que seus homens reajam, e logo todo o navio está em chamas; homens gritam – sobretudo o comandante – tentando fugir e sem terem para onde ir, ao mesmo tempo em que tentam apagar o fogo.

Mas é inútil. Volúsia acena com a cabeça mais uma vez, e repetidas saraivadas de flechas atravessam o ar, atingindo o navio em chamas. Os homens gritam ao serem atingidos, alguns caindo no convés e outros no mar. É uma completa chacina sem nenhum sobrevivente.

Volúsia fica ali parada e sorri, assistindo com satisfação à medida que o navio é lentamente consumido pelas chamas até a base do mastro – e logo nada mais resta exceto os restos queimados de madeira.

Tudo se silencia quando os homens de Volúsia param de atirar, alinhados e olhando para ela, pacientemente aguardando o seu comando.

Volúsia dá um passo adiante, ergue sua espada e corta a corda grossa que segura o navio às docas. Ela se parte, libertando o navio da costa, e Volúsia ergue uma de suas sandálias banhadas a ouro e empurra o navio com força.

Volúsia assiste quando o navio começa a se movimentar, levado pelas correntezas – pelas correntes que irão levá-lo ao sul, direto para o coração da capital. Todos veriam o navio incendiado, os corpos queimados de Romulus e de seus homens e as flechas Volusianas – e saberiam quem tinha sido responsável por aquele ataque. Eles saberiam que a guerra havia começado.

Volúsia olha para Soku, parado ao seu lado com a boca aberta, e sorri.

"É assim," ela diz, "que eu negocio uma trégua."

CAPÍTULO QUATRO

Gwendolyn se ajoelha na proa no navio agarrando-se à borda, os nós de seus dedos brancos por causa do esforço enquanto ela junta forças suficientes apenas pra olhar para o horizonte. Seu corpo inteiro treme – enfraquecido pela falta de comida – e enquanto olha para fora, Gwen se sente tonta. Ela fica em pé, encontrando forças de alguma forma, e observa encantada a cena diante de seus olhos.

Gwendolyn olha através da névoa e se pergunta se aquilo seria verdade ou apenas uma miragem.

Ali no horizonte, há uma costa interminável, e no centro dela há um centro movimentado com um porto enorme e dois grandes pilares brilhantes de ouro enquadrando uma cidade que se ergue atrás deles até o céu. Os pilares e a cidade apresentam um tom verde amarelado à medida que o sol se movimenta. Gwen percebe que as nuvens se movimentam com mais rapidez ali. Ela não sabe se isso se deve ao fato do céu ser tão diferente naquela parte do mundo, ou se é por que ela ainda não está completamente consciente.

Há milhares de navios enormes no porto da cidade – com os maiores mastros que ela já tinha visto, todos banhados a ouro. Aquela é a cidade mais próspera que ela já tinha visto, construída bem na costa e espalhando-se até onde seus olhos conseguem enxergar – uma cidade cercada pelo mar que arrebenta em torno de sua vasta metrópole. Aquele lugar faz a Corte do Rei parecer uma pequena vila. Gwen não sabe como tantos prédios podem existir em um só lugar. Ela se pergunta que tipo de gente vive ali. Aquela dever ser uma grande nação, ela pensa. A nação do Império.

Gwen de repente sente um vazio no peito ao perceber que as correntes estão levando o seu navio para perto da cidade; logo eles seriam sugados para o vasto porto, e estariam cercados por todos aqueles navios, e seriam inevitavelmente aprisionados – se não fossem mortos. Gwen pensa em como Andronicus tinha sido cruel, em como Romulus tinha sido cruel, e pensa que se aquele é o costume do Império; talvez tivesse sido melhor ter morrido no mar.

Gwen ouve o barulho de passos no convés e vê Sandara – tonta de fome, mas orgulhosamente em pé diante da grade do navio e segurando uma grande relíquia dourada no formato de chifre de touro e movendo-a para que ela reflita a luz do sol. Gwen vê os raios do sol sendo refletidos na relíquia, e percebe que o objeto emite um sinal incomum para o lado oposto da costa. Sandara não envia o sinal na direção da cidade, e sim mais ao norte, rumo ao que parece ser um bosque isolado no litoral.

À medida que os olhos de Gwen começam a se fechar e ela começa a perder a consciência – enquanto ela cai em direção ao convés, imagens passam em sua mente. Ela não tem mais certeza do que é real e do que é fruto de sua imaginação. Gwen vê canoas – dezenas de canoas, surgindo da densa selva em direção ao mar aberto, remando rumo ao seu navio. Ela vê quando eles se aproximam e se surpreende ao perceber que não se trata da raça do Império, que aqueles não são os impressionantes guerreiros com chifres e pele vermelha, mas sim uma raça diferente. Ela vê homens e mulheres orgulhosos, com pele cor de chocolate e olhos amarelos brilhantes, rostos compassivos e inteligentes remando ao encontro dela. Gwen vê Sandara olhando para eles com reconhecimento nos olhos, e percebe que aquele é o seu povo.

Ela ouve um barulho oco no navio, vê ganchos no convés e cordas sendo lançadas e presas ao navio. Ela sente o navio mudando de direção e, ao olhar para baixo, vê o grupo de canoas rebocando o grande navio, levando-o através da correnteza na direção oposta da cidade do Império. Gwen lentamente percebe que o povo de Sandara tinha vindo ao seu resgate, para guiar o seu navio na direção de outro porto, longe daquela cidade.

Gwen sente o navio sendo rebocado rumo ao norte, na direção de uma folhagem densa onde ela logo vê um pequeno porto escondido. Ela fecha os olhos e é inundada pela sensação de alívio.

Logo Gwen abre os olhos e se vê em pé, debruçada sobre a borda do navio, observando enquanto ele é rebocado. Tomada pela exaustão, Gwendolyn percebe que está se apoiando demais sobre a borda; seus olhos se arregalam de repente quando ela perde o equilíbrio e está prestes a cair do navio. Gwen tenta se segurar, mas é tarde demais, ela já está caindo.

O coração de Gwen bate acelerado pelo medo; ela mal pode acreditar que depois de tudo pelo que haviam passado, ela morreria daquela forma, despencando para uma morte silenciosa justamente quanto todos estão tão próximos da terra firme.

Quando começa a cair, Gwen ouve um rosnado repentino e, subitamente, ela sente dentes fortes morderem a parte de trás de sua camisa e ouve um gemido ao mesmo tempo em que se sente sendo puxada para trás, para longe do abismo e de volta para o convés. Ela cai de costas na plataforma de madeira com um barulho – sã e salva.

Gwen olha para cima e vê Krohn em cima dela, e seu coração se enche de alegria. Krohn está vivo, e ela fica radiante ao vê-lo. Ele está bem mais magro que da última vez que ela o tinha visto, e ela percebe que o tinha perdido de vista no meio de toda aquela confusão. A última vez que ela se lembra de tê-lo avistado tinha sido durante uma tempestade particularmente forte, quando ele havia descido para o convés inferior. Ela agora percebe que ele deve ter ficado escondido todo esse tempo, passando fome para que os outros tivessem o que comer. Assim é Krohn, sempre tão altruísta. E agora que eles estão chegando à terra firme mais uma vez, ele havia reaparecido.

Krohn geme e lambe o rosto dela, e Gwen o abraça com o pouco de força que ainda possui. Ela volta a se deitar e Krohn deita ao seu lado – gemendo e colocando a cabeça em cima dela, aconchegando-se como aquele fosse seu último refúgio no mundo.

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