“Você não causará mais nenhum dano à garota.” Disse Argon calmamente. “Você vai aceitar sua rendição.” Disse ele, dando um passo para mais perto, com seus olhos hipnotizantes brilhando. “Você vai deixá-la se retirar para o seu povo. E você vai permitir que o seu povo se renda, se eles desejar. Eu só vou dizer isto uma vez. Seria sábio da sua parte aceitar.”
Andronicus encarou Argon e piscou várias vezes, como se estivesse indeciso.
Então, finalmente, ele inclinou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Foi o riso mais alto e mais sinistro que Gwen tinha ouvido, ele preencheu todo o campo, parecia que havia chegado ao mais alto dos céus.
“Os seus truques de feiticeiro não vão funcionar comigo, meu velho.” Disse Andronicus. “Eu sei bem do Grande Argon. Houve um tempo em que você era poderoso. Mais poderoso do que o homem, do que os dragões, que o próprio céu; ou pelo menos isso é o que dizem. Mas o seu tempo já passou. Agora vivemos um novo tempo. Agora estamos na era do grande Andronicus. Agora, você não passa de uma relíquia, um remanescente de outros tempos, de quando os MacGils governavam, de quando a magia era forte, de quando o Anel era imbatível. Mas seu destino está ligado ao Anel. E agora, o Anel é vulnerável. Tal como você.
“Você é um tolo por me confrontar, velho. Agora você vai sofrer. Agora você vai conhecer a força do Grande Andronicus.”
Andronicus fez um gesto de desprezo e levantou novamente sua espada para Gwendolyn, desta vez olhando diretamente para Argon.
“Eu vou matar a garota lentamente, diante de seus olhos.” Disse Andronicus. “Logo depois eu vou matar o corcunda. Em seguida, eu vou mutilar você, mas vou deixá-lo vivo como um símbolo ambulante do poder da minha grandeza.”
Gwendolyn se preparou e se encolheu quando Andronicus baixou a espada sobre a sua cabeça.
De repente, algo aconteceu. Ela ouviu um som, semelhante ao de mil fogos cortando o ar, seguido pelo grito de Andronicus.
Ela abriu os olhos em total descrença para ver Andronicus com o rosto contorcido de dor, soltar sua espada e ajoelhar-se no chão. Ela observou Argon dar um passo adiante e logo depois outro, enquanto mantinha a palma de sua mão voltada para cima, dela emanava uma bola de luz violeta. A bola ficava cada vez maior e envolvia Andronicus enquanto Argon continuava caminhando para a frente sem nenhuma expressão em seu rosto; ele se aproximava cada vez mais de Andronicus com a palma de sua mão estendida.
Andronicus se enrolou em uma bola no chão, quando a luz o envolveu.
Um suspiro irrompeu entre seus homens, mas nenhum se atreveu a aproximar. Ou eles estavam com medo, ou Argon tinha lançado-lhes algum tipo de feitiço para torná-los impotentes.
“FAÇA COM QUE PARE!”Andronicus gritou, levando as mãos até as orelhas e cobrindo- as. “EU IMPLORO!”
“Você não fará mais nenhum mal à jovem.” Argon disse lentamente.
“Eu não farei mais nenhum mal à jovem!” Andronicus repetia como se estivesse em transe.
“Você vai libertá-la agora e permitir que ela volte ao seu povo.”
“Eu vou libertá-la agora e permitir que ela volte ao seu povo!”
“Você dará ao povo dela a chance de se render.”
“Eu vou dar ao seu povo uma chance de se render!” Andronicus gritou. “Por favor! Eu farei qualquer coisa!”
Argon respirou fundo, e então, finalmente parou. A luz desapareceu de sua mão quando ele baixou lentamente o braço.
Gwen olhou para ele em estado de choque; ela nunca tinha visto Argon em ação, ela mal podia compreender o seu poder. Era como ver os céus se abrirem.
“Se nos encontrarmos de novo, grande Andronicus…” Disse Argon lentamente, olhando para baixo enquanto Andronicus jazia ali no chão choramingando. “… Será no seu caminho para os reinos mais escuros da morte.”
CAPÍTULO DOIS
Thor lutava no chão enquanto era fortemente imobilizado pelos soldados do Império. Ele assistia impotente enquanto Durs, o homem que ele uma vez havia tido como um irmão levantava sua espada para matá-lo.
Thor fechou os olhos e se preparou, sabendo que sua hora tinha chegado. Ele estava furioso consigo mesmo por ter sido tão estúpido, tão confiante. Seus irmãos o haviam estado enganando o tempo todo, como um cordeiro levado ao matadouro. Pior ainda, como Thor era o líder, os outros rapazes tinham seguido sua orientação. Ele não tinha decepcionado apenas a si mesmo, ele tinha decepcionado todos os outros também. Sua ingenuidade e sua natureza confiante, haviam posto todos eles em perigo.
Enquanto Thorgrin lutava, ele tentou com toda sua alma invocar seu poder, derivar de algum lugar dentro de si, apenas o poder suficiente para se libertar de suas amarras e poder defender-se.
No entanto, por mais que ele tentasse, o poder não surgia. Sua própria força não era suficiente para ajudá-lo a se libertar de todos os soldados que o mantinham preso ao chão.
Thor sentiu o vento acariciar seu rosto enquanto Durs baixava a espada. Ele se preparou para o impacto iminente do aço. Ele ainda não estava pronto para morrer. Em sua mente, ele viu Gwendolyn no Anel esperando por ele. Ele sentiu que a havia decepcionado também.
Thor ouviu um barulho repentino de corpos que se chocavam entre si, ele abriu os olhos e ficou surpreso ao sentir que ainda estava vivo. O braço de Durs estava congelado ali, no ar, seu pulso estava sujeito pela mão de um enorme soldado do império, o qual superava Durs em altura, o que era bastante inusual, tomando em conta a altura de Durs. Ele segurava o pulso de Durs a apenas alguns centímetros de distância de Thor, impedindo que ele o traspassasse.
Durs virou-se para o soldado do Império, com uma expressão de surpresa em seu rosto.
“Nosso líder não quer vê-los mortos.” O soldado murmurou sombriamente para Durs. “Ele os quer vivos. Como prisioneiros.”
“Ninguém nos disse isso.” Durs protestou.
“O acordo era que teríamos de matá-los!” Dross acrescentou.
“Os termos do acordo mudaram.” O soldado respondeu.
“Vocês não podem fazer isso!” Drake exclamou.
“Ah, não podemos?” Ele respondeu sombriamente, voltando-se para ele. “Nós podemos fazer o que quisermos. Na verdade, vocês agora são nossos prisioneiros, também. “O soldado sorriu. “Quanto mais membros da Legião nós tivermos para o resgate, melhor será.”
Durs olhou para o soldado, seu rosto refletia sua indignação, um momento depois, o caos explodiu quando os três irmãos se lançaram contra dezenas de soldados do Império, os quais logo derrubaram e imobilizaram os três irmãos no chão e em seguida amarraram seus pulsos.
Thor aproveitou o caos, virou-se e procurou Krohn. Logo ele o viu a apenas alguns metros de distância, à espreita nas sombras, Krohn permanecia, lealmente, sempre por perto.
“Krohn, ajude-me!” Thor gritou. “AGORA!”
Krohn entrou em ação com um grunhido, voando pelo ar e pousando suas presas na garganta do soldado do Império que estava segurando o pulso de Thor. Thor conseguiu soltar-se enquanto Krohn pulava de um soldado para outro, mordendo e arranhando-os até que Thor pudesse libertar-se e pegar sua espada. Então Thor virou-se e com um único golpe, decepou a cabeça de três deles.
Thor correu para Reece, quem se encontrava mais próximo e apunhalou seu captor no coração, libertando-o e permitindo-lhe desembainhar sua espada e juntar-se à luta. Os dois se espalharam e correram para os seus irmãos da Legião, atacando seus captores e liberando Elden, O’Connor, Conval e Conven.
Os outros soldados estavam distraídos detendo Drake, Durs e Dross e quando eles se viraram e descobriram o que estava acontecendo, já era tarde demais. Thor, Reece, O’Connor, Elden, Conval e Conven estavam livres e todos com armas nas mãos. Eles ainda estavam amplamente superados em número e Thor sabia que a luta não seria fácil. Mas pelo menos ele sabia que todos tinham uma chance de lutar. Destemidos, todos eles avançaram contra o inimigo, com total entrega.
Os cem soldados do Império atacaram e de repente, Thor ouviu um grito lá no alto do céu, ele olhou para cima e viu Estopheles. Seu falcão desceu voando em picada e arranhou os olhos do soldado líder do Império, o qual caiu no chão debatendo-se. Então Estopheles voltou sua atenção para vários outros soldados, arranhando-os e derrubando-os, um de cada vez.
Enquanto eles avançavam, Thor colocou uma pedra em sua funda e atirou, ele acertou um soldado na têmpora e derrubou-o antes que ele pudesse alcançá-los; O’Connor conseguiu disparar duas flechas e ambas acertaram o alvo com precisão mortal, Elden arremessou uma lança, atravessando dois soldados, os quais caíram aos seus pés. Era um bom começo, mas ainda restava uma centena de soldados para matar.
Eles se encontraram no meio com um grande grito de guerra. Tal como tinha sido ensinado, Thor enfocou-se em um soldado em particular, ele escolheu o maior e mais cruel que poderia encontrar, enquanto erguia sua espada, bem alto. Houve um grande estrondo de metal quando a espada de Thor foi bloqueada pelo escudo do homem, que imediatamente desceu um martelo em direção à cabeça de Thor.
Thor se esquivou e o martelo despencou no solo, então Thor puxou o punhal da cintura e apunhalou o soldado; imediatamente ele caiu morto.
Thor levantou o escudo a tempo de bloquear os golpes de espada de dois atacantes, então ele defendeu-se com sua própria espada, matando um deles. Ele estava prestes a atacar o outro, quando vislumbrou uma espada vindo por trás dele; ele teve de girar ao redor e bloqueá-la com seu escudo.
Thor estava sendo atacado por todos os lados e se encontrava em franca desvantagem numérica. Tudo o que ele conseguia fazer era aparar os golpes que choviam sobre ele. Ele não tinha tempo nem energia para atacar, somente para defender-se. Os soldados continuavam vindo por ele, cada vez mais.
Thor olhou e viu que os seus irmãos da Legião estavam na mesma situação: cada um deles tinha conseguido matar um ou dois soldados, mas estavam amplamente superados em número, eles tinham pagado um alto preço por isso, já que todos tinham sofrido pequenos ferimentos por todos os lados. Thor poderia dizer que eles estavam perdendo terreno, mesmo com Krohn saltando e atacando e mesmo com a ajuda de Indra, ela pegava pedras e as jogava no grupo de soldados. Seria apenas uma questão de tempo até que todos eles fossem cercados e liquidados.
“Libertem-nos!” Ouviu-se uma voz.
Thor se virou para ver Drake atado com cordas, junto com seus irmãos, a poucos metros de distância.
“Libertem-nos!” Drake repetiu. “E nós vamos ajudá-los a lutar contra eles! Nós lutamos pela mesma causa!”
Thor levantou o escudo para bloquear mais um grande golpe, o qual provinha de um machado de guerra, então ele percebeu que ter mais três pares de mãos ajudaria muito. Sem elas, eles claramente não tinham nenhuma chance de derrotar todos aqueles soldados. Thor não sentia que podia voltar a confiar nos três irmãos, mas naquele momento ele pensou que não tinha nada a perder tentando. Afinal, os três irmãos também tinham motivação para lutar.
Thor bloqueou mais um golpe de espada, em seguida, dobrou os joelhos e rolou por vários metros no meio da multidão, até chegar aos três irmãos. Ele levantou-se e cortou as cordas, uma de cada vez, protegendo-os ao mesmo tempo contra os golpes, enquanto cada um sacava sua espada e metia-se na luta.
Drake, Dross e Durs avançaram contra a multidão espessa de soldados do Império e atacaram desferindo golpes, empurrando e apontando. Cada um deles era grande e habilidoso. Eles pegaram os soldados do Império desprevenidos, matando vários deles imediatamente e incrementando suas probabilidades de êxito. Thor tinha sentimentos encontrados por libertá-los depois do que tinham feito, mas dadas as circunstâncias, parecia ter sido a escolha mais sábia. Havia sido melhor do que a morte.
Agora, havia nove deles contra os oitenta ou mais soldados restantes. As chances ainda eram escassas, mas pelo menos agora eram melhores do que antes.
Os irmãos da Legião recorreram as suas habilidades de treinamento, às práticas inculcadas neles durante a Centena, eles recordaram as inúmeras vezes que haviam sido treinados para lutar enquanto estivessem cercados e em menor número. Eles fizeram tal como Kolk e Brom os tinham treinado: eles recuaram e formaram um círculo apertado e de costas um para o outro, lutavam contra os soldados invasores do Império como uma unidade. Eles foram encorajados pela chegada dos três lutadores extras, cada um recobrou forças e lutou com mais vigor do que antes.
Conval extraiu seu mangual e o fez girar com toda sua extensão golpeando o inimigo vez após vez e conseguindo abater três soldados do Império antes que a corrente fosse arrancada dele. Seu irmão Conven usava uma maça regular, ele apontava para baixo e golpeava as pernas dos soldados com a bola de metal cheia de puas. O’Connor não podia usar seu arco a uma distância tão curta, mas ele conseguiu extrair duas adagas de arremesso de sua cintura e as atirou no meio da multidão, matando dois soldados. Elden empunhou seu martelo de guerra de duas mãos ferozmente, fazendo chover grandes golpes a sua volta. Enquanto isso, Thor e Reece bloqueavam golpes e se defendiam habilmente com suas espadas. Por um momento, Thor estava se sentindo otimista.
Em seguida, Thor detectou com o canto do olho algo que o perturbou. Ele viu um dos três irmãos dar a volta e cruzar todo o círculo da Legião; Thor se virou e viu Durs. Ele estava investindo, mas não investia contra um soldado do Império, Durs avançava diretamente contra ele. Contra Thor. Ele vinha diretamente para suas costas.
Tudo aconteceu muito rapidamente e Thor, quem se achava lutando contra dois soldados do Império diante dele, não pôde virar-se a tempo.
Thor sabia que estava prestes a morrer. Prestes a ser apunhalado pelas costas por um rapaz a quem ele tinha uma vez considerado como um irmão, por um garoto em quem ele, ingenuamente, confiou duas vezes.
De repente, Conval apareceu na frente de Thor, para protegê-lo.
E quando Durs baixou sua espada, ao invés de encontrar um alvo nas costas de Thor, ele encontrou o peito de Conval. Thor virou-se e gritou: “CONVAL!”
Conval ficou ali, paralisado, seus olhos se arregalaram em um olhar mortal quando ele olhou para a espada mergulhada em seu coração. O sangue jorrava pelo torso dele.
Durs ficou ali, olhando também, igualmente surpreso.
Conval caiu de joelhos, o sangue jorrava de seu peito. Thor assistiu em câmera lenta, quando Conval, um querido irmão da Legião, um garoto a quem ele amava como um irmão, caiu de cara no chão, morto. Tudo isso para salvar a vida de Thor.
Durs ficou de pé por cima dele, olhando para baixo, parecendo chocado com o que tinha acabado de fazer.
Thor avançou para matar Durs, mas Conven chegou primeiro. O irmão gêmeo de Conval correu e brandiu sua longa espada, decapitando Durs, cujo corpo mole caiu no solo.
Thor ficou parado ali, sentindo um enorme vazio por dentro, totalmente destroçado pela culpa. Ele tinha cometido demasiados erros de julgamento. Se ele não tivesse libertado Durs, Conval poderia estar vivo naquele momento.
Com suas costas voltadas para os soldados do Império, os membros da Legião deram-lhes uma oportunidade para atacar. Todos eles irromperam pelo círculo aberto, foi quando Thor sentiu um martelo de guerra golpeá-lo na parte de trás do ombro; a força do golpe o derrubou de cara, no chão.
Antes que ele pudesse levantar-se, vários soldados se lançaram sobre ele; Thor sentia os pés deles chutando suas costas; em seguida, ele sentiu um soldado aproximar-se, agarrar seu cabelo e inclinar-se sobre ele com um punhal.