Uma Carga de Valor - Морган Райс 5 стр.


Illepra, a curandeira real. Illepra tinha a vista baixa, seus olhos castanhos e suaves estavam cheios de preocupação enquanto ela dava água a Gwendolyn, passava um pano quente sobre sua testa e afastava o cabelo seu rosto. Ela pousou a mão sobre sua testa e Gwen sentiu uma energia curativa fluir através dela. Ela sentiu seus olhos ficarem pesados, logo ela sentiu que eles se fechavam contra sua vontade.

*

Gwendolyn não sabia quanto tempo tinha passado, até que ela abriu os olhos novamente. Ela ainda se sentia exausta, desorientada. Em seus sonhos, ela tinha ouvido uma voz e agora ela a ouvia novamente.

“Gwendolyn.” Disse a voz. Ela a ouviu ecoar em sua mente e se perguntou quantas vezes haviam chamado o nome dela.

Ela olhou para cima e reconheceu Kendrick, olhando para ela. De pé ao lado dele estava seu irmão Godfrey, junto com Srog, Brom, Kolk e vários outros. Do outro lado dela estava Steffen. Gwen odiava as expressões de seus rostos. Eles olhavam para ela como se ela fosse uma pobre coitada, como se ela tivesse retornado do mundo dos mortos.

“Minha irmã.” Kendrick disse, sorrindo. Ela podia ouvir a preocupação em sua voz. “Diga-nos o que aconteceu.”

Gwen balançou a cabeça, cansada demais para contar tudo.

“Andronicus.” Ela disse, com voz rouca, sua voz não era mais que um sussurro. Ela limpou a garganta. “Eu tentei… render-me… em troca da cidade… eu confiava nele. Estúpida…”

Ela balançou a cabeça vez após vez, uma lágrima rolou pelo seu rosto.

“Não, você é nobre.” Kendrick corrigiu apertando-lhe a mão. “Você é a pessoa mais corajosa de todos nós.”

“Você fez o que todo grande líder teria feito.” Godfrey disse dando um passo adiante.

Gwen balançou a cabeça.

“Ele nos enganou…” Gwendolyn disse. “… Ele me atacou. Ele mandou McCloud me atacar.”

Gwen não pôde mais aguentar: ela começou a chorar enquanto falava as palavras, incapaz de conter-se. Ela sabia que isso não era próprio de um líder, mas ela não podia controlar-se.

Kendrick tomou a mão dela entre as suas e a apertou suavemente.

“Eles iam me matar…” Disse ela. “… Mas Steffen salvou-me…”

Todos os homens olharam para Steffen com um novo respeito, ele estava, como sempre, lealmente ao lado de Gwen, com sua cabeça inclinada.

“O que fiz foi muito pouco e muito tarde.” Ele respondeu humildemente. “Eu era um só homem contra muitos.”

“Mesmo assim, você salvou nossa irmã e por isso, estaremos sempre em dívida com você.” Disse Kendrick.

Steffen abanou sua cabeça.

“Eu tenho uma dívida muito maior para com ela.” Respondeu ele.

Gwen chorava.

“Argon nos salvou a ambos.” Concluiu ela.

O rosto de Kendrick ficou sombrio.

“Nós vingaremos você.” Disse ele.

“Não é por mim que eu que estou preocupada.” Disse ela. “É pela cidade… pelo nosso povo… Silésia… Andronicus… ele vai atacar.…”

Godfrey deu um tapinha na mão dela.

“Não se preocupe com isso agora.” Disse ele, dando um passo à frente. “Descanse. Deixe que nós discutamos essas coisas. Você está segura agora, aqui.”

Gwen sentiu os olhos dela se fechando. Ela não sabia se estava acordada ou sonhando.

“Ela necessita dormir.” Illepra disse, dando um passo à frente com atitude protetora.

Gwendolyn ouvia tudo isso vagamente enquanto se sentia cada vez mais sonolenta. Ela entrava e saía do estado de inconsciência. Por sua mente passavam as imagens de Thor e logo as de seu pai. Ela estava tendo dificuldades para discernir o que era real e o que era um sonho e ouvia apenas trechos da conversa acima de sua cabeça.

“Que tão sérias são as suas feridas?” Disse uma voz, talvez fosse a voz de Kendrick.

Ela sentiu Illepra pousar a palma da mão em sua testa. E foram dela as últimas palavras que Gwen ouviu, antes que seus olhos se fechassem:

“As feridas do corpo são leves, meu senhor. São as feridas do seu espírito, as mais profundas.”

*

Quando Gwen acordou novamente, foi ao som de um fogo crepitante. Ela não podia dizer quanto tempo tinha passado. Ela piscou várias vezes enquanto olhava ao redor do quarto escuro. Ela viu que a multidão havia se dispersado. As únicas pessoas que permaneceram foram Steffen, sentado em uma cadeira ao lado da cama; Illepra, que estava sobre ela, aplicando uma pomada no seu pulso e apenas mais outra pessoa. Era um homem idoso e gentil que a olhava com preocupação. Ela quase o reconheceu, mas tinha dificuldade em identificá-lo. Ela sentia-se tão cansada, muito cansada, como se não tivesse dormido há anos.

“Minha senhora?” O homem idoso disse, inclinando-se. Ele segurava algo grande em ambas as mãos, ela olhou para baixo e percebeu que era um livro com uma capa de couro.

“Sou eu Aberthol.” Disse ele. “Seu antigo professor. Está me ouvindo?”

Gwen engoliu saliva e assentiu lentamente, abrindo um pouco os olhos.

“Eu estive esperando horas para vê-la.” Disse ele. “Eu a vi mexer-se inquieta.”

Gwen assentiu lentamente, lembrando-se dele, grata por sua presença.

Aberthol inclinou-se e abriu o grande livro, Gwen podia sentir o peso dele em seu colo. Ela ouviu o farfalhar de suas páginas pesadas enquanto ele as folheava.

“É um dos poucos livros que eu salvei.” Ele disse. “… Antes do incêndio da Casa dos Eruditos. É o quarto volume dos anais dos MacGils. Você o leu antes. Dentro dele há histórias de conquistas, vitórias e derrotas é claro, mas há também outras histórias. Histórias de grandes líderes feridos. De feridas do corpo e feridas do espírito. Todos os tipos de lesões que possamos imaginar, minha senhora. E eu vim aqui para dizer-lhe isto: até mesmo os melhores homens e mulheres sofreram as formas mais inimagináveis de tratamento, lesões e tortura. A senhora não está sozinha. A senhora é apenas uma partícula da roda do tempo. Há inúmeros outros que sofreram coisas muito piores do que a senhora; muitos que sobreviveram, prosseguiram e se tornaram grandes líderes.

“Não se sinta envergonhada.” Disse ele, agarrando-lhe o pulso. “É isso o que eu quero dizer-lhe. Nunca se envergonhe. Não deve haver nenhuma vergonha em sua pessoa, somente honra e coragem pelo que tem feito. A senhora é tão grande quanto qualquer líder que o Anel já viu. E isso em nada a diminui, de forma alguma.”

Gwen, tocada por suas palavras, sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto. Suas palavras eram exatamente o que ela precisava ouvir e ela se sentia muito grata por elas. Naturalmente, ela sabia e entendia que ele estava certo.

No entanto, ela ainda estava muito afetada emocionalmente e tinha dificuldades para sentir o que ele dizia. Uma parte dela não poderia deixar de sentir que de alguma forma, ela tinha sido afetada para sempre. Ela sabia que isso não era verdade, mas era assim como ela se sentia.

Aberthol sorria enquanto ele segurava um livro menor.

“Lembra-se deste aqui?” Perguntou ele, virando sua capa de couro vermelho. “Era o seu livro favorito de toda a infância. As lendas de nossos pais. Há uma história em particular aqui que eu gostaria de ler para você, para ajudá-la a passar o tempo.”

Gwen estava comovida pelo gesto, mas ela não aguentava mais. Ela balançou a cabeça tristemente.

“Obrigada.” Ela disse, com voz rouca, outra lágrima rolou pelo seu rosto. “Mas eu não posso ouvi-lo agora.”

O rosto dele refletiu sua decepção e em seguida, ele assentiu, entendendo.

“Em outra ocasião.” Disse ela, sentindo-se deprimida. “Eu preciso ficar sozinha. Eu gostaria, por favor, que me deixassem sozinha. Todos vocês.” Disse ela, virando-se e olhando para Steffen e Illepra.

Todos eles se levantaram e fizeram uma pequena reverência, em seguida, se viraram e saíram da sala apressadamente.

Gwen se sentiu culpada, mas ela não podia evitar isso; ela queria enroscar seu corpo como se fosse uma bola e morrer. Ela ouvia os passos de todos atravessando a sala, ouviu a porta fechar-se atrás deles e olhou ao redor para assegurar-se de que o quarto estivesse vazio.

Mas ela se surpreendeu ao ver que não estava: ali estava uma figura solitária, de pé na soleira, ereta, com sua postura perfeita, como sempre. Ela caminhou bem devagar, com seu andar imponente até Gwen, parou a poucos metros de sua cama e olhou para ela, com seu rosto totalmente inexpressivo.

Era sua mãe.

Gwen ficou surpresa ao vê-la parada ali, a ex-rainha, tão imponente e orgulhosa como de costume, olhando para ela com uma expressão mais fria do que nunca. Não havia nenhuma compaixão em seus olhos, nada sequer comparável à compaixão que Gwen encontrou nos olhos de outros visitantes.

“Por que está aqui?” Perguntou Gwen.

“Eu vim aqui para vê-la.”

“Mas eu não desejo vê-la.” Disse Gwen. “Eu não quero ver ninguém.”

“Eu não me importo o que você quer.” Disse sua mãe, indiferente e confiante. “Eu sou sua mãe e eu tenho o direito de vê-la quando eu quiser.”

Gwen sentiu a velha raiva contra sua mãe arder; ela era a última pessoa que ela queria ver naquele momento. Mas ela conhecia bem sua mãe e sabia que ela não iria embora antes de dizer tudo o que tinha em mente.

“Então diga o que quer.” Disse Gwendolyn. “Fale e me deixe em paz de uma vez por todas.”

Sua mãe suspirou.

“Você não sabe disso.” Disse a mãe. “Mas quando eu era jovem e tinha sua idade, eu fui atacada da mesma forma que você.”

Gwen olhou-a chocada; ela não tinha ideia.

“Seu pai sabia disso…” Sua mãe continuou. “… E ele não se importou. Ele se casou comigo mesmo assim. Na época, era como se meu mundo tivesse acabado. Mas não acabou.”

Gwen fechou os olhos, sentindo outra lágrima rolar pelo seu rosto, enquanto tentava bloquear aquele assunto. Ela não queria ouvir a história de sua mãe. Era um pouco tarde demais para que sua mãe demonstrasse ter qualquer compaixão real para com ela. Será que ela simplesmente pensava que poderia entrar ali, depois de tantos anos de tratamento cruel, oferecer uma história empática e pretender que em troca, todo o dano fosse reparado?

“A senhora já acabou?” Perguntou Gwendolyn.

Sua mãe deu um passo à frente. “Não, Eu não acabei.” Disse ela, com voz firme. “Você é a rainha agora, então já é hora de que você aja como uma.” Disse sua mãe, com uma voz tão dura como o aço. Gwen percebeu uma força na voz dela jamais sentida antes. “Você se lamenta. Mas as mulheres todos os dias, em todos os lugares, sofrem destinos muito piores do que você. O que aconteceu com você não é nada no esquema da vida. Você me entende? Nada.”

Sua mãe suspirou.

“Se você quiser sobreviver e sentir-se à vontade neste mundo, você deve ser forte. Mais forte do que os homens. Os homens terão você, de uma forma ou de outra. A vida não se trata apenas do que acontece com você – trata-se de como você percebe isso. Como você reage a isso. É sobre isso que você exerce o controle. Você pode se acovardar e morrer. Ou você pode ser forte. “Isso é o que separa as garotas das mulheres.”

Gwen sabia que sua mãe estava tentando ajudar, mas ela se ressentia da falta de compaixão de sua abordagem. E ela odiava receber um sermão.

“Eu odeio você.” Gwendolyn disse para a mãe. “Eu sempre odiei.”

“Eu sei disso.” Disse sua mãe. “E eu odeio você também. Mas isso não significa que não possamos nos entender. Eu não quero o seu amor, o que eu quero é que você seja forte. Este mundo não é governado pelos fracos e assustadiços, ele é governado por aqueles que levantam a cabeça diante da adversidade, como se ela não fosse nada. Você pode entrar em colapso e morrer, se quiser. Há tempo de sobra para isso. Mas isso seria tedioso, chato. Seja forte e viva. Verdadeiramente viva. Seja um exemplo para os outros. Porque um dia, eu lhe garanto, você vai morrer de qualquer jeito. E enquanto você estiver viva, você pode muito bem viver de verdade.”

“Deixe-me em paz!” Gwendolyn gritou incapaz de ouvir outra palavra.

Sua mãe olhou para ela friamente, então, finalmente, depois de um silêncio interminável, ela virou-se e saiu caminhando pomposamente do quarto como um pavão, batendo a porta atrás de si.

No silêncio vazio, Gwen começou a chorar, ela chorou por um longo tempo. Mais do que nunca, ela desejava que tudo aquilo acabasse.

CAPÍTULO SEIS

Kendrick estava ali no amplo patamar da borda do Canyon, observando através da névoa serpenteante. Enquanto ele olhava, seu coração estava partindo-se por dentro. Ele se sentia arrasado ao ver sua irmã daquele jeito, se sentia destroçado, como se ele próprio tivesse sido atacado. Ele podia ver nos rostos de todos os silesianos que eles consideravam Gwen como mais do que apenas um líder, todos eles a viam como parte de sua família. Eles estavam desanimados, também. Era como se Andronicus tivesse ferido a todos.

Kendrick sentia-se culpado. Ele deveria ter calculado que sua irmã mais nova faria algo assim, já que ele sabia o quanto ela era corajosa; o quanto ela era orgulhosa. Ele deveria ter previsto que ela iria tentar entregar-se antes que qualquer um deles tivesse a chance de detê-la. Ele deveria ter encontrado uma maneira de impedi-la de fazer isso. Ele conhecia a natureza dela, sabia como ela era confiável, conhecia seu bom coração e ele, como um guerreiro também sabia, melhor do que ela, da brutalidade de certos líderes. Ele era mais velho e mais sábio do que ela e ele sentia que a havia decepcionado.

Kendrick também se sentia culpado por tudo aquilo, aquela situação terrível era uma carga pesada demais para ser colocada na cabeça de uma única pessoa: um governante recém-coroado, uma garota de dezesseis anos de idade. Ela não devia ter suportado o peso daquela situação sozinha. Tal decisão de peso teria sido difícil até mesmo para sua própria cabeça, até mesmo para a cabeça de seu pai. Gwendolyn fez o melhor que podia ser feito naquelas circunstâncias, e, talvez melhor do que qualquer um deles teria feito. O próprio Kendrick não tinha tido a menor ideia de como lidar com Andronicus. Nenhum deles tinha.

Kendrick pensou em Andronicus e seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele era um líder sem moral, sem princípios, sem humanidade. Estava claro para Kendrick que se eles se rendessem naquele momento, todos iriam ter o mesmo destino: Andronicus iria matar ou escravizar todos e cada um deles.

Algo havia mudado no ar. Kendrick podia ver nos olhos de todos os homens e podia senti-lo em si mesmo. Os silesianos já não tinham apenas a intenção de sobreviver; de simplesmente defender-se. Agora eles queriam vingança.

“SILESIANOS!” Gritou uma voz.

A multidão se acalmou e olhou para cima. Ali, na cidade alta, na borda do Canyon, olhando para eles, estava Andronicus, cercado por seus capangas.

“Dou-lhes uma alternativa!” Ele trovejou. “Devolvam Gwendolyn e eu permitirei que vocês vivam! Senão, a partir do pôr-do-sol eu vou fazer chover fogo sobre vocês,  um fogo tão intenso que nenhum de vocês sobreviverá a ele.”

Ele fez uma pausa, sorrindo.

“É uma oferta muito generosa. Não demorem muito para ponderá-la.”

Com isso, Andronicus virou-se e foi embora.

Todos os silesianos se viraram e se entreolharam gradualmente.

Srog deu um passo adiante.

“Companheiros silesianos!” Trovejou Srog para uma enorme e crescente multidão de guerreiros, com uma seriedade que Kendrick jamais tinha visto nele. “Andronicus atacou o nosso melhor e mais estimado líder. A filha do nosso amado rei MacGil, uma grande rainha em seu pleno direito. Ele atacou todos e cada um de nós. Ele tentou colocar uma mancha em nossa honra, mas ele simplesmente manchou a sua própria!”

“APOIADO!” Gritava a multidão, os homens se mexiam inquietos; cada um segurava os punhos de suas espadas, um fogo ardia em seus olhos.

“Kendrick.” Srog disse, virando-se para ele. “O que propõe que façamos?”

Kendrick lentamente olhou nos olhos de todos os homens diante de si.

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