Uma Justa de Cavaleiros - Морган Райс 2 стр.


Guardas ficam a postos quando Gwen sai dos seus aposentos, empurrando a pesada porta de carvalho. Ela passa por eles, caminhando pelos corredores de pedra do castelo, ainda iluminados pelas tochas que tinham sido acesas na noite anterior.

Ela alcança o final do corredor e sobe uma escada em espiral feita de pedras, seguida por Krohn, até chegar ao andar superior, onde fica a sala do trono do Rei, já se sentindo familiarizada com o lugar. Ela atravessa outro corredor e está prestes a passar por uma abertura na parede pedras quando sente um movimento pelo canto do olho. Gwen se assusta, surpresa ao ver uma pessoa parada no meio das sombras.

"Gwendolyn?" ele diz com uma voz suave e forçada, emergindo das sombras com um sorriso presunçoso nos lábios.

Gwendolyn, surpresa, pisca os olhos e precisa de um tempo para reconhecê-lo. Ela havia conhecido tantas pessoas nos últimos dias, que suas lembranças estão confusas.

Mas aquele é um rosto que ela não teria sido capaz de esquecer. Afinal, ele é o filho do rei, o outro gêmeo, que havia se pronunciado contra ela durante o banquete.

"Você é o filho do Rei," ela diz, pensando em voz alta. "O terceiro mais velho."

Ele sorri, uma expressão astuta da qual Gwen não gosta, e dá um passo adiante.

"O segundo mais velho, na verdade," ele a corrige. "Somos gêmeos, mas eu nasci primeiro."

Gwen o observa quando ele dá mais um passo adiante e percebe que ele está impecável, com a barba feita, os cabelos penteados, usando perfumes e óleos e vestindo as roupas mais finas que ela já tinha visto. Ele exibe uma expressão presunçosa, exalando arrogância e vaidade.

"Eu prefiro não ser considerado apenas um dos gêmeos," ele continua. "Sou um homem independente. Meu nome é Mardig. Ter um irmão gêmeo é apenas um detalhe do destino, algo que eu não pude controlar. O destino, diga-se de passagem, da coroa," ele conclui filosoficamente.

Gwen não gosta de estar na presença dele, ainda afetada pelo tratamento que havia recebido dele na noite anterior, e sente Krohn tenso ao seu lado quando os pelos do pescoço dele ficam eriçados. Ela está impaciente para saber o que ele deseja.

"Você tem o costume de se esconder nas sombras desses corredores?" ela pergunta.

Mardig sorri ao dar mais um passo adiante, chegando perto demais dela.

"Esse é o meu castelo, afinal," ele responde territorialmente. "Costumo andar por aí."

Seu castelo?” Ela pergunta. "E não o castelo do seu pai?"

Sua expressão se torna mais sombria.

"Tudo no seu devido tempo," ele responde enigmaticamente, dando mais um passo adiante.

Involuntariamente, Gwendolyn dá um passo para trás, incomodada com a presença dele. Krohn começa a rosnar.

Mardig olha para Krohn com desdém.

"Você sabia que animais não dormem em nosso castelo?" ele comenta.

Gwen faz uma careta, sentindo-se irritada.

"Seu pai não me pareceu incomodado."

"Meu pai não faz cumprir as regras," ele responde. "Eu faço questão disso. E a guarda noturna está sob o meu comando."

Gwen fica frustrada.

"É por isso que você está aqui?" ela pergunta. "Para fazer o controle de animais?"

Ele também faz uma careta, percebendo, talvez, que havia encontrado alguém a sua altura. Ele a encara, olhando dentro dos olhos dela como se a estivesse avaliando.

"Não há uma única mulher em todo o Cume que não me deseje," ele declara. "Entretanto, não vejo paixão em seu olhar."

Gwen fica boquiaberta e horrorizada, finalmente percebendo o motivo de tudo aquilo.

Paixão?” Ela repete, estupefata. "E por que eu sentiria isso? Sou casada e o amor da minha vida voltará em breve para o meu lado."

Mardig cai na gargalhada.

"É mesmo?" ele pergunta. "Pelo que ouvi, ele já morreu há muito tempo. Ou está tão perdido, que jamais conseguirá voltar até você."

O rosto de Gwendolyn se contorce à medida que sua raiva se acumula.

"E mesmo que ele jamais retorne," ela fala, "eu jamais amarei outra pessoa. E muito menos você."

Sua expressão se torna mais sombria.

Ela se vira para partir, mas ele estica o braço e a segura. Krohn rosna.

"Eu não costumo pedir pelo que eu quero," ele diz. "Eu simplesmente pego. Você está em um reino estranho, à mercê do seu anfitrião. Seria inteligente de sua parte fazer a vontade de seus captores. Afinal, sem a nossa hospitalidade, você será enviada de volta ao deserto. Muitas coisas terríveis podem acontecer acidentalmente com os nossos hóspedes, mesmo com anfitriões cuidadosos e bem intencionados."

Ela o encara, tendo visto muitas ameaças reais em sua vida para temer aqueles avisos insignificantes.

"Captores?" ela exclama. "É isso que você se considera? Eu sou uma mulher livre, caso você ainda não tenha notado. Posso ir embora agora mesmo, se assim decidir."

Ele cai na risada.

"E para onde você iria? De volta para o Grande Deserto?"

Ele sorri e balança a cabeça.

"Tecnicamente, você pode ser livre para partir," continua ele. "Mas deixe-me perguntar-lhe: quando o mundo é um lugar hostil, o que lhe resta?"

Krohn rosna agressivamente e Gwen sente que ele está prestes a atacar. Ela afasta a mão de Mardig de seu braço sentindo-se indignada e coloca a mão sobre a cabeça de Krohn, impedindo-o de atacar. Então, ao encarar Mardig novamente, ela de repente faz uma constatação.

"Diga-me, Mardig," ela diz com a voz fria e dura. "Por que você não está lá fora, lutando com o seu irmão no deserto? Por que você é a única pessoa que ficou para trás? O medo tomou conta de você?"

Ele sorri, mas atrás daquele sorriso Gwen é capaz de sentir sua covardia.

"O cavalheirismo é para os tolos," ele responde. "Tolos convenientes, que abrem caminho para que nós tenhamos o que quisermos. Use a palavra 'cavalheirismo' e eles podem ser usados como marionetes. Eu não me permito ser usada com tanta facilidade."

Ela olha para ele, sentindo-se enojada.

"Meu marido e os cavaleiros da Prata ririam de um homem como você," ela diz. "Você não sobreviveria por dois minutos no Anel."

Gwen olha para a saída que ele está bloqueando.

"Você tem duas opções," ela diz. "Você pode sair do caminho agora ou meu amigo Krohn fará a refeição que tanto deseja. Acho que você tem o tamanho ideal para ele."

Ele olha para Krohn e Gwen vê seus lábios tremendo. Ele dá um passo ao lado.

Mas ela não desiste com facilidade. Em vez disso, ela dá um passo adiante, aproximando-se dele para dar-lhe um recado.

"Você pode estar no comando deste castelo," ela dispara, "mas não esqueça que você está falando com uma Rainha. Uma rainha livre. Eu nunca seguirei o seu comando ou qualquer outro enquanto eu estiver viva. Já passei dessa fase. E isso me torna muito perigosa, muito mais perigosa do que você."

O Príncipe a encara e, para sua surpresa, sorri.

"Eu gosto de você, Rainha Gwendolyn," ele responde. "Mais do que eu pensava."

Gwendolyn, com o coração aos pulos, o observa se afastar, voltando para as sombras e desaparecendo pelo corredor. À medida que os passos dele ecoam pelas paredes do lugar, Gwen se pergunta que tipos de perigo aguardam por ela naquela corte.

CAPÍTULO TRÊS

Kendrick avança através da paisagem árida do deserto com Brandt e Atme ao seu lado e meia dúzia dos cavaleiros da Prata, tudo o que resta da irmandade do Anel, cavalgando juntos como antigamente. Enquanto eles avançam, aventurando-se cada vez mais fundo no Grande Deserto, Kendrick é invadido pela nostalgia e pela tristeza; aquilo o faz pensar nos tempos áureos do Anel, quando ele vivia cercado pelos seus companheiros da Prata, dirigindo-se para mais uma batalha com milhares de seus homens. Ele havia lutado ao lado dos melhores cavaleiros do reino, todos eles guerreiros habilidosos, e por onde ele havia passado, trombetas haviam soado enquanto os habitantes do lugar se aproximavam para saudá-los. Ele e seus homens tinham sido bem recebidos em todos os lugares e costumavam ficar acordados até tarde, recontando histórias de batalhas, coragem e confrontos com monstros que viviam no Canyon ou, ainda pior, nas terras selvagens.

Kendrick pisca para tirar a poeira dos olhos e sai de seu devaneio. Aquilo tudo faz parte de seu passado e ele agora está em um lugar diferente. Ele olha para o lado e vê os homens da Prata, esperando ver milhares de outros homens atrás deles. Mas a realidade lentamente toma conta de Kendrick quando ele se dá conta de que aquilo é o resta da Prata, percebendo o quanto tudo havia mudado. Aqueles tempos de glória seriam restaurados?

A definição de um guerreiro havia mudado ao longo dos anos para Kendrick e, agora, ele sente que não é a habilidade ou a honra que fazem de um homem um guerreiro e sim a sua perseverança. A sua capacidade de seguir em frente. A vida nos impõe muitos obstáculos, calamidades, tragédias, perdas e, acima de tudo, mudanças; ele havia perdido mais amigos do que é capaz de dizer e o Rei a quem ele havia dedicado a sua vida já não está vivo. Até mesmo sua terra natal havia desaparecido. E, ainda assim, ele continua, mesmo sem saber por qual motivo. Kendrick sabe que está em busca dessa resposta. E é essa habilidade de continuar, apesar das circunstâncias, que faz um verdadeiro guerreiro, forçando um homem a resistir ao teste do tempo quando tantos outros haviam ficado pelo caminho. É isso o que separa os verdadeiros guerreiros dos soldados passageiros.

"PAREDE DE AREIA ADIANTE!" grita uma voz.

Aquela é uma voz estranha, uma voz com a qual Kendrick ainda está se acostumando, e, ao olhar para o lado, ele vê Koldo, o filho mais velho do rei. Sua pele escura se destaca entre os outros membros do grupo enquanto ele lidera o pequeno exército para longe do Cume. Durante o pouco tempo desde que Kendrick o tinha conhecido, Koldo já havia conquistado o seu respeito pela maneira como ele lidera os seus homens e pela forma como eles o admiram. Kendrick tem orgulho em cavalgar ao lado daquele cavaleiro.

Koldo aponta para o horizonte e, ao olhar naquela direção, Kendrick ouve o que ele está tentando mostrar antes de conseguir ver qualquer coisa. Ao ouvir um assobio estridente como uma tempestade de vento, Kendrick pensa no tempo que havia passado no Grande Deserto e se lembra de ter atravessado aquilo quase inconsciente. Ele se lembra das areias revoltas, girando como um tornado que nunca termina e formando uma parede sólida que se ergue em direção ao céu. Aquilo havia lhe parecido intransponível como uma parede de verdade, ajudando a esconder o Cume do restante do Império.

À medida que o assobio se torna mais intenso, Kendrick começa a temer ter que passar por aquilo de novo.

“CACHECÓIS!” Grita uma voz.

Kendrick vê Ludvig, o mais velho dos gêmeos do Rei, esticar um longo tecido branco e enrolá-lo em torno de seu rosto. Todos os outros soldados seguem o seu exemplo, fazendo o mesmo.

O soldado que havia se apresentado como Naten e por quem Kendrick havia sentido antipatia imediata se aproxima dele. O soldado não havia demonstrado respeito pela posição de comando de Kendrick e havia lhe faltado com respeito.

Naten olha com desdém para Kendrick e seus homens ao mesmo tempo em que se aproxima.

"Você acha que está liderando essa missão," ele diz, "apenas porque o Rei assim ordenou. Mas não sabe que deve proteger os seus homens da Parede de Areia."

Kendrick o observa com a mesma intensidade, vendo em seus olhos que o homem nutre um ódio inexplicável por ele. A princípio, Kendrick havia pensado que ele estivesse apenas se sentindo ameaçado por ele, uma pessoa estranha, mas agora ele percebe que aquele homem simplesmente aprecia a sensação de ódio.

"Entregue os cachecóis para ele!" Koldo grita para Naten de maneira impaciente.

Quando algum tempo se passa e eles se aproximam ainda mais da parede, Naten finalmente estende o braço e arremessa o saco de cachecóis para Kendrick, acertando o seu peito com força.

"Distribua isso entre os seus homens," ele diz, "ou então, vocês serão cortados pela parede. A escolha é sua, eu realmente não me importo."

Naten se afasta, voltando para junto de seus homens, e Kendrick rapidamente distribui os cachecóis para os seus companheiros, aproximando-se de cada um deles. Então, Kendrick enrola seu próprio cachecol em torno de sua cabeça e de seu rosto, como ele tinha visto os habitantes do Cume fazendo, dando várias voltas até sentir-se seguro e ainda capaz de respirar. Ele mal consegue enxergar através do pano, vendo um mundo desfocado e escuro.

Kendrick se prepara ao se aproximar ainda mais da parede, cercado pelo som ensurdecedor das areias. A cinquenta metros de distância, o ar já está pesado e preenchido pelo som de milhares de grãos de areia batendo contra as armaduras. Um momento depois, ele começa a senti-los.

Kendrick entra na Parede de Areia e tem a sensação de estar perdido em um mar de areia revolto. O barulho é tão intenso que ele mal consegue ouvir o som de seu próprio coração batendo em seus ouvidos quando a areia envolve cada centímetro de seu corpo, lutando para parti-lo em pedaços. A parede de areia é tão intensa que ele não consegue ver Brandt ou Atme, que estão a apenas alguns metros dele.

"CONTINUEM EM FRENTE!" Kendrick grita para os seus homens, se perguntando se alguém é capaz de ouvi-lo ao mesmo tempo em que tenta confortá-los. Os cavalos relincham como loucos, diminuindo o ritmo e agindo de maneira estranha, e, ao olhar para baixo, Kendrick vê que a areia está entrando nos olhos deles. Ele chuta o seu cavalo, torcendo para que ele não pare de andar.

Kendrick continua avançando, pensando que aquilo não terá fim até que, finalmente, eles chegam ao outro lado. Ele continua correndo, seguido pelos seus homens, de volta ao Grande Deserto, que o espera com o céu aberto e uma grande imensidão vazia. A Parede de Areia gradualmente se acalma e, à medida que eles continuam cavalgando e a paz volta a se instaurar, Kendrick nota os habitantes do Cume olhando para ele e para os seus homens com surpresa.

"Vocês não acharam que sobreviveríamos?" Kendrick pergunta para Naten, que o encara.

Naten dá de ombros.

"De qualquer forma, pouco me importo," ele diz, afastando-se com seus homens.

Kendrick troca um olhar com Brandt e Atme, voltando a se perguntar sobre as intenções daquele povo do Cume. Kendrick sente que tem um grande caminho pela frente até conquistar a confiança daqueles homens. Afinal, ele e seus companheiros são pessoas estranhas, tendo sido responsáveis por aquele rastro que havia causado tanta confusão.

"Ali!" grita Koldo.

Kendrick olha para a frente e vê, no meio do deserto, a trilha deixada por ele e pelos outros sobreviventes do Anel. Ele vê todas as pegadas que eles haviam deixado, agora endurecidas no chão de areia, seguindo até o horizonte.

Koldo para diante das últimas pegadas e, com seus cavalos ofegantes, todos eles fazem o mesmo. Eles olham para o chão, analisando as pegadas.

"Eu pensei que o deserto as tivesse apagado," diz Kendrick com surpresa.

Naten faz uma careta.

"Esse deserto não apaga nada. Nunca chova aqui e o deserto se lembra de tudo. Essas pegadas que vocês deixaram teriam levado o Império até nós, resultando na destruição do Cume."

"Pare de provocá-lo," Koldo fala para Naten com agressividade, sua voz cheia de autoridade.

Kendrick, virando-se, vê Koldo por perto e é invadido por uma onda de gratidão.

"E por que eu deveria?" retruca Naten. "Essas pessoas criaram esse problema. Eu poderia estar em casa, em segurança no Cume."

"Continue assim," diz Koldo, "e eu o mandarei de volta agora mesmo. Você será expulso de nossa missão e terá que explicar ao Rei a forma desrespeitosa como você tratou o comandante dele."

Назад Дальше