Um Juramento de Irmãos - Морган Райс 5 стр.


Thor segura o punho da espada, preparado. Aconteça o que acontecer, ele pretende enfrentar o que for preciso em uma batalha e matar o que surgir em seu caminho.

Mas o que ele realmente teme são as coisas que ele não consegue ver, a devastação invisível que os demônios podem causar. O que ele mais teme são os espíritos desconhecidos, os espíritos que atuam com discrição.

Thor ouve passos, sente seu pequeno barco balançar e, ao se virar, vê Matus em pé ao lado dele. Matus fica parado com uma expressão triste em seu rosto, olhando para o horizonte com Thor. É um dia escuro e cinzento e enquanto eles olham para longe é difícil dizer se é manhã ou tarde, pois o céu está uniforme, como se aquela parte do mundo estivesse de luto.

Thor pensa na rapidez com que Matus havia se tornado um dos seus amigos mais próximos.  Agora, com Reece fixado em Selese, Thor sente o distanciamento de seu  amigo e a proximidade de Matus com mais intensidade. Thor se lembra de como Matus havia salvado sua vida mais de uma vez lá em baixo e se sente ainda mais leal a ele, como se ele sempre tivesse sido um dos seus próprios irmãos.

"Esta embarcação," Matus diz suavemente, "não foi feita para o mar aberto. Se enfrentarmos uma boa tempestade, todos seremos mortos. Esse é apenas um bote do navio de Gwendolyn, ele não foi feito para cruzar os mares. Temos que encontrar um barco maior."

"E a terra firme," O'Connor entra na conversa, aproximando-se de Thor pelo outro lado, "e provisões."

"E um mapa," Elden interrompe.

"Qual é o nosso destino, afinal?" Indra pergunta. "Onde estamos indo? Você tem alguma ideia de onde seu filho pode estar?"

Thor examina o horizonte, como já tinha feito mil vezes, e reflete sobre todas aquelas perguntas. Ele sabe que eles estão certos e está se fazendo aquelas mesmas perguntas. Um vasto mar está diante deles e eles estão uma pequena embarcação, sem provisões. Eles estão vivos e ele se sente grato por isso, mas a sua situação é precária.

Thor balança a cabeça lentamente. Enquanto ele fica ali, perdido em seus pensamentos, ele começa a detectar algo no horizonte. À medida que seu barco se aproxima, ele começa a enxergar melhor e tem certeza de que está realmente vendo alguma coisa e que não são seus olhos pregando uma peça nele. Seu coração bate acelerado de excitação.

O sol sai de trás das nuvens e um raio de sol ilumina uma pequena ilha no horizonte. É um pequeno monte de terra no meio de um vasto oceano, sem nada mais ao redor dele.

Thor pisca, perguntando-se se aquilo é real.

"O que é aquilo?" Matus faz a pergunta que está na mente de todos eles, que ficam em pé olhando para o horizonte.

Quando eles chegam mais perto, Thor vê uma névoa em torno da ilha, brilhando sob a luz, e sente uma energia mágica naquele lugar. Ele olha para cima e vê que aquele é um lugar austero, repleto de falésias com dezenas de metros de altura, uma ilha estreita, íngreme e implacável, com ondas arrebentando nas rochas que a cercam, emergindo do mar como animais antigos. Thor sente, com cada centímetro de seu ser, que é para lá que eles devem ir.

"Aquela é uma subida íngreme," diz O'Connor. "Se é que seremos capazes de escalar aquilo."

"E nós não sabemos o que nos aguardo no topo," acrescenta Elden. "Pode ser algo hostil. Não temos qualquer arma, com exceção de sua espada. Não podemos ter uma batalha aqui."

Mas Thor observa o lugar e pensa, sentindo algo forte ali. Ele olha para o alto, vê Estófeles circulando a ilha e tem ainda mais certeza de que aquele é o lugar.

"Nenhum lugar deve ser ignorado em nossa busca por Guwayne," Thor fala. "Nenhum lugar é muito remoto. Esta ilha será a nossa primeira parada," ele diz. Thor aperta ainda mais as mãos em torno de sua espada. "Hostil ou não."

CAPÍTULO SEIS

Alistair se vê em pé em uma paisagem estranha que ela não reconhece. O lugar é uma espécie de deserto e quando ela olha para baixo o chão se transforma, mudando de preto para vermelho, secando e rachando sob os seus pés. Ela olha para cima e, ao longe, avista Gwendolyn diante de um exército desorganizado, com apenas algumas dezenas de homens, membros da Prata que Alistair um dia havia conhecido, com os rostos sangrentos e as armaduras rachadas. Nos braços de Gwendolyn há um pequeno bebê e Alistair sente que aquele é seu sobrinho, Guwayne.

"Gwendolyn!" Alistair grita, aliviada ao vê-la. "Minha irmã!"

Mas enquanto Alistair observa, ela de repente ouve um som horrível, o som de um milhão de asas batendo cada vez mais alto, seguido por um grande grasnar. O horizonte escurece e um bando de corvos surge no céu, voando em sua direção.

Alistair assiste com horror à medida que os corvos se aproximam, descem como uma parede negra e arrancam Guwayne dos braços de Gwendolyn. Corvejando, eles o levam embora.

"NÃO!" Gwendolyn grita, estendendo a mão para o céu ao mesmo tempo em que eles a atacam.

Alistair assiste impotente, sem poder fazer nada exceto assistir enquanto os corvos levam embora o bebê que chora. O chão trincado do deserto seca ainda mais e começa a rachar até que, um por um, todos os homens de Gwen desabam para dentro dele.

Apenas Gwendolyn permanece ali parada, olhando para ela com uma expressão de assombro que Alistair gostaria de nunca ter visto.

Alistair pisca e se vê em pé a bordo de um grande navio, navegando em um oceano com ondas que arrebentam ao seu redor. Ela olha ao seu redor e vê que ela é a única pessoa a bordo do navio; ao olhar para a frente ela vê outro navio diante dela. Erec está em pé na proa, de frente para ela, acompanhado por centenas de soldados das Ilhas do Sul. Ela fica angustiada ao vê-lo em outro navio, navegando para longe dela.

"Erec!" ela grita.

Ele olha para trás e estende o braço na direção dela.

"Alistair!" ele grita. "Volte para mim!"

Alistair assiste com horror à medida que os navios se afastam ainda mais e o navio de Erec é levado para longe dela pelas marés. O navio dele começa a girar na água, girando cada vez mais rápido ao mesmo tempo em que Erec estende a mão para ela; Alistair não pode fazer nada exceto assistir enquanto seu navio é sugado para baixo por um redemoinho, girando cada vez mais até desaparecer por completo.

"EREC!" Alistair exclama.

Ela ouve outro gemido igual ao seu e, ao olhar para baixo, Alistair vê que está segurando um bebê, o filho de Erec. O bebê é um menino e seu choro abafa o barulho do vento, da chuva e dos gritos dos homens.

Alistair acorda gritando. Ela se senta na cama e olha ao seu redor, se perguntando onde ela está e o que havia acontecido. Respirando com dificuldade, ela lentamente se acalma e, após vários instantes, ela percebe que tudo aquilo tinha sido apenas um sonho.

Ela se levanta e, ao ouvir o chão rangendo sob seus pés, Alistair se lembra de que ainda está no navio. As lembranças surgem em sua mente: sua partida das Ilhas do Sul e sua missão para libertar Gwendolyn.

"Minha senhora?" diz uma voz suave.

Alistair olha para trás e vê Erec em pé ao seu lado, olhando para ela com uma expressão preocupada no rosto. Ela fica aliviada ao vê-lo.

"Outro pesadelo?" ele pergunta.

Ela assente sutilmente e desvia o olhar, sentindo-se envergonhada.

"Os sonhos são mais vívidos no mar," afirma outra voz.

Alistair se vira e vê o irmão de Erec, Strom, que está por perto. Então ela vê centenas dos habitantes das Ilhas do Sul a bordo do navio e se lembra de tudo. Alistair se recorda de ter deixado Dauphine para trás, no comando das Ilhas do Sul ao lado da mãe de Erec. A partir do momento em que haviam recebido aquela mensagem, eles haviam se preparado para zarpar rumo ao Império para procurar Gwendolyn e todos os outros sobreviventes do Anel, sentindo que é seu dever sagrado salvá-los. Eles sabem que aquela é praticamente uma missão impossível, mas nenhum deles se importa. Esse é o seu dever.

Alistair esfrega os olhos e tenta sacudir os pesadelos de sua mente. Ela não sabe há quantos dias eles estão navegando naquele mar sem fim e quando ela olha para longe, estudando o horizonte, ela não consegue ver muita coisa. Tudo esta encoberto pelo intenso nevoeiro.

"Essa neblina está nos seguindo desde as Ilhas do Sul," diz Erec, observando o olhar dela.

"Vamos torcer para que isso não seja um presságio," acrescenta Strom.

Alistair acaricia suavemente a barriga, assegurando-se de que está tudo bem, de que seu bebê está bem. Seu sonho tinha parecido muito real. Ela faz isso de forma rápida e discreta, sem querer que Erec perceba. Ela ainda não havia lhe contado nada. Uma parte dela quer dizer-lhe logo, mas outra parte dela prefere esperar pelo momento certo, quando tudo parecer perfeito.

Ela segura a mão de Erec, aliviada ao vê-lo vivo.

"Estou feliz que você esteja bem," ela fala.

Ele sorri para ela, puxando-a para perto para beijá-la.

"E por que não eu estaria?" ele pergunta. "Seus sonhos são apenas fantasias noturnas. Para cada pesadelo, há também um homem que está perfeitamente bem. Eu estou tão seguro aqui, com você, meu irmão leal e meus homens, quanto eu poderia sonhar estar."

"Até chegarmos ao Império, pelo menos," Strom acrescenta com um sorriso. "Então estaremos tão segura quanto possível, considerando que seremos uma pequena frota contra dez mil navios." Strom sorri ao dizer aquilo, parecendo antecipar com prazer a luta por vir.

Erec dá de ombros com uma expressão séria no rosto.

"Com os deuses apoiando a nossa causa," ele diz, "não podemos perder. Quaisquer que sejam as chances."

Alistair se afasta e franze a testa, tentando compreender tudo aquilo.

"Eu vi você sendo sugado para o fundo do mar com o seu navio. Eu vi você a bordo do navio," ela explica. Ela quer acrescentar a parte sobre o filho deles, mas ela se contém.

"Os sonhos não são sempre o que parecem ser," ele responde. No entanto, no fundo dos olhos dele, ela vê um lampejo de preocupação. Erec sabe que ela consegue ver as coisas e ele respeita as suas visões.

Alistair respira fundo, olha para a água do mar e sabe que ele está certo. Afinal, eles estão todos ali, estão todos bem. Ainda assim, seu sonho tinha sido muito real.

Enquanto e fica ali, Alistair se sente tentada a levar a mão até sua barriga para acariciá-la mais uma vez e sentir a criança que está crescendo dentro dela. No entanto, com Erec e Strom por perto, ela não pode dar bandeira.

Um alarme suave atravessa o ar, tocando de forma intermitente para alertar os outros navios em sua frota de sua presença no nevoeiro.

"Esse alarme pode entregar nossa posição," Strom fala para Erec.

"Para quem?" Erec pergunta.

"Não sabemos o que se esconde por trás da névoa," responde Strom.

Erec balança a cabeça.

"Pode ser," ele responde, "mas o maior perigo agora não é o nosso inimigo, mas nós mesmos. Podemos colidir contra um dos nossos próprios navios e  destruir a nossa frota. Nós teremos que soar os alarmes até o nevoeiro se dissipar. Todos os nossos navios podem se comunicar dessa maneira e, além disso, não se afastarão demais um do outro."

No meio do nevoeiro, outro alarme soa a partir de outro navio da frota da Erec, confirmando a sua localização.

Alistair olha para a neblina e começa a pensar. Ela sabe que eles terão que ir muito longe, que eles estão do outro lado do mundo em relação ao Império, e começa a se perguntar como eles conseguirão chegar até Gwendolyn e seu irmão a tempo. Ela pensa em quanto tempo os falcões tinham levado para entregar aquela mensagem e se pergunta se eles ainda estão vivos. Ela também se pergunta o que havia acontecido com o seu amado Anel. Que maneira terrível de morrer, ela pensa, em uma terra estrangeira, longe de sua terra natal.

"O Império fica do outro lado do mundo, meu senhor," Alistair fala para Erec. "Essa será uma longa viagem. Por que você fica aqui no convés? Por que você não desce e dorme um pouco? Você não dorme há dias," ela fala, observando as olheiras sob os olhos dele.

Erec balança a cabeça.

"Um comandante nunca dorme," ele responde. "E, além disso, estamos quase chegando ao nosso destino."

"Nosso destino?" ela pergunta intrigada.

Erec assente e olha para a névoa.

Ela segue a direção de seu olhar, mas não vê nada.

"A Ilha de Boulder," ele explica. "Essa será a nossa primeira parada."

"Mas por quê?" ela pergunta. "Por que parar antes de chegar ao Império?"

"Precisamos de uma frota maior," Strom entra na conversa, respondendo por ele. "Não podemos enfrentar o Império apenas com algumas dezenas de navios."

"E você vai encontrar esta frota na Ilha de Boulder?" pergunta Alistair.

Erec assente. "É possível," ele diz. "A Ilha de Boulder tem navios e homens – mais do que nós. Eles desprezam o Império e já ajudaram o meu pai no passado."

"Mas por que eles irão ajudá-lo agora?" ela pergunta com curiosidade. "Quem são esses homens?"

"Mercenários," responde Strom. "Homens rudes forjados por uma ilha difícil cercada por mares agitados. Eles lutam por aquele que der o maior lance."

"Piratas," diz Alistair em tom de desaprovação, percebendo quem são os habitantes daquela ilha.

"Não exatamente," explica Strom. "Piratas vivem pela recompensa. Os habitantes da Ilha de Boulder vivem para matar."

Alistair olha para Erec e percebe pela expressão em seu rosto que o que Strom diz é verdade.

"É nobre lutar por uma causa verdadeira e justa com a ajuda de piratas?" ela pergunta. "Mercenários?"

"É nobre ganhar uma guerra," Erec responde, "e lutar por uma causa justa como a nossa. Os meios de travar tal guerra nem sempre são tão nobres quanto gostaríamos."

"Não é nobre morrer," acrescenta Strom. "E quem decide o que é nobre geralmente são os vencedores, não os perdedores."

Alistair franze a testa e Erec se vira para ela. "Nem todo mundo é tão nobre quanto você, minha senhora," ele fala. "Ou como eu. Essa não é a maneira como o mundo funciona. Essa não é a maneira como as guerras são vencidas."

"E podemos confiar nesses homens?" ela pergunta.

Erec suspira e olha para o horizonte com as mãos nos quadris, se perguntando a mesma coisa.

"Nosso pai confiava neles," ele finalmente diz. "E seu pai antes dele. Os homens da Ilha de Boulder nunca falharam com eles."

"E isso significa que eles não nos trairão agora?" ela pergunta.

Erec analisa o horizonte e, ao fazer isso, de repente o nevoeiro se dissipa e o sol aparece por trás das nuvens. A vista muda drasticamente e o coração de Alistair começa a bater acelerado quando ela avista terra firme ao longe. No horizonte distante, há uma ilha formada por penhascos íngremes onde parece não haver lugar para desembarque, nenhuma praia e nenhuma entrada. Então Alistair olha para cima e vê um arco, uma porta aberta na própria montanha; é uma entrada grande e imponente, guardada por uma ponte levadiça de ferro, uma parede de rocha sólida com uma porta no meio. Aquilo é diferente de tudo que Alistair já tinha visto.

Erec olha para o horizonte, observando a porta iluminada pelos raios de sol, e tem a impressão de que aquela é a entrada para outro mundo.

"A confiança, minha senhora," ele finalmente responde, "nasce da necessidade – e é uma coisa muito precária atualmente."

CAPÍTULO SETE

Darius fica em pé no meio do campo de batalhas segurando uma espada feita de aço e olha ao seu redor, absorvendo a cena. Tudo aquilo lhe parece surreal. Mesmo ao ver a cena com seus próprios olhos, ele não consegue acreditar no que tinha acabado de acontecer. Eles haviam derrotado o Império. Ele e algumas centenas de aldeões, sem qualquer tipo de arma de verdade – com a ajuda de algumas centenas dos homens de Gwendolyn – haviam derrotado aquele exército profissional de centenas de soldados do Império. Eles tinham armaduras e armas da melhor qualidade e também a ajuda de zertas. E ele, Darius, praticamente desarmado, havia liderado a batalha e desarmado todos eles – a primeira vitória contra o Império em toda a história do reino.

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