Um Sonho de Mortais - Морган Райс 2 стр.


Angel sente sua pele tocar nas águas geladas ao mergulhar no oceano. Ela tem a sensação de que um milhão de adagas estão perfurando a sua pele. O frio é tão intenso que a assusta e ela prende a respiração a mergulhar cada vez mais fundo, abrindo os olhos nas águas turvas e procurando por Thorgrin. Ela mal consegue vê-lo na escuridão, afundando cada vez mais, e começa a bater os pés com mais força, estendendo o braço para agarrá-lo pela manga de sua camisa.

Ele é mais pesado do que ela havia pensado. Angel envolve os braços ao redor de Thor, se vira e começa a bater os pés furiosamente, usando toda a sua força para que eles parem de descer e comecem subir na direção da superfície. Angel não é grande e não é forte, mas ela tinha aprendido rapidamente que suas pernas possuem uma força que a parte superior de seu corpo não tem. Seus braços são enfraquecidos pela lepra, mas suas pernas lhe dão uma vantagem por serem mais fortes do que as pernas de um homem. Ela usa suas pernas, batendo os pés com todas as suas forças para nadar em direção à superfície. Se há uma coisa que ela tinha aprendido ao crescer em uma ilha, é a nadar.

Angel abre caminho pelas águas, subindo cada vez mais alto em direção à superfície e, ao olhar para cima ela vê a luz solar atravessando as ondas acima dela.

Vamos lá!  Ela pensa. Só mais alguns metros!

Exausta e incapaz de segurar sua respiração por muito mais tempo, ela faz um esforço para bater as penas com mais força e, com um último pontapé, chega até a superfície.

Angel irrompe com falta de ar e carrega Thor com ela, envolvendo seus braços em torno do corpo dele, usando as pernas para mantê-los à tona, dando pontapés e chutes para manter a cabeça acima da superfície. Ele ainda parece estar inconsciente e ela agora começa a se perguntar se ele havia se afogado.

"Thorgrin!" Ela grita. "Acorde!"

Angel o agarra por trás, coloca os braços ao redor de seu estômago e o puxa bruscamente em direção a ela, uma e outra vez, como ela tinha visto um de seus amigos leprosos fazer uma vez quando outro amigo havia se afogado. Ela faz a mesma coisa agora, pressionando seu diafragma com os braços trêmulos.

"Por favor, Thorgrin," Ela implora. "Por favor, viva! Viva por mim!"

Angel de repente ouve uma tosse seguida pelo barulho do vômito e fica exultante ao perceber que Thor havia despertado. Ele coloca para gora toda a água do mar que havia se acumulado em seus pulmões, tossindo sem parar. Angel é tomada pela sensação de alívio.

Ainda melhor, Thor parece ter recuperado a consciência. Todo aquele calvário parece finalmente tê-lo desertado de seu sono profundo. Talvez, ela espera, ele esteja forte o suficiente para lutar contra aqueles homens e ajudá-los a escapar para algum lugar.

Angel mal termina seu pensamento quando de repente ela sente uma corda pesada cair sobre a sua cabeça e envolver Thorgrin e ela completamente.

Ela olha para cima e vê os assassinos em pé sobre eles na borda do navio, olhando para baixo, agarrando a outra ponta da corda e puxando-os como se eles fossem peixes. Angel resiste, debatendo-se, e espera que Thor faça o mesmo, mas ao mesmo tempo em que Thor tosse, seu corpo permanece flácido e ela percebe que ele claramente ainda não tem a força necessária para se defender.

Angel sente que eles estão sendo lentamente içados pelo ar, subindo cada vez mais alto enquanto a água escorre pelos seus corpos à medida que os piratas os puxam para mais perto, de volta para o navio.

"NÃO!" Ela grita, se debatendo enquanto tenta se libertar.

Um dos assassinos estende um longo gancho de ferro, prendendo-o na rede, e os puxa na direção do convés.

Eles balançam pelo ar, os cabos são cortados e Angel sente seu corpo caindo rapidamente na direção do convés, despencando uns bons três metros até aterrissar no navio. Angel machuca suas costelas com o impacto e ela se debate sob a rede, tentando se libertar, mas é inútil. Dentro de instantes vários piratas pulam em cima deles, prendendo-os e puxando-os para fora da rede. Angel sente várias mãos ásperas agarrando o seu corpo e percebe que seus pulsos estão sendo amarrados para trás com uma corda grossa enquanto ela é colocada em pé, completamente molhada. Ela não consegue se mexer.

Angel lança um olhar preocupado na direção de Thorgrin e vê que ele também está sendo amarrado, ainda semiconsciente, mais dormindo do que acordado. Eles são rispidamente arrastados pelo convés e Angel tropeça à medida que eles avançam.

"Isso vai ensiná-la a não tentar fugir de nós," retruca um pirata.

Angel olha para cima, vê uma porta de madeira de acesso ao convés inferior sendo aberta e observa a escuridão do porão do navio. No instante seguinte, ela e Thor são jogados no porão pelos piratas.

Angel sente seu corpo caindo ao despencar de cabeça na direção da escuridão. Ela bate a cabeça com força no chão de madeira e sente o peso do corpo de Thor em cima dela ao mesmo tempo em que os dois saem rolando pela escuridão.

A porta de madeira para o deck é fechada, bloqueando toda a luz, e então trancada por uma corrente pesada, e ela fica lá, respirando com dificuldade na escuridão e se perguntando onde os piratas a tinham jogado.

No outro lado, a luz solar de repente ilumina o porão e ela percebe que os piratas haviam aberto uma escotilha coberta por barras de ferro. Vários rostos surgem acima deles, observando-os com escárnio, e alguns deles cospem antes de se afastarem. Quando a escotilha é fechada, Angel ouve uma voz reconfortante na escuridão.

"Está tudo bem. Vocês não estão sozinhos."

Angel se assusta, surpresa e aliviada ao ouvir uma voz, e fica chocada e eufórica ao se virar e ver todos os seus amigos sentados na escuridão, todos com suas mãos amarradas para trás. Lá estão Reece e Selese, Elden e Indra, O'Connor e Matus, todos eles em cativeiro, mas vivos. Ela tinha tido certeza de que eles haviam morrido no mar e é inundada por uma sensação de alívio.

No entanto, ela também tem um péssimo pressentimento: se todos aqueles grandes guerreiros tinham sido aprisionados, ela pensa, que chance eles têm de escapar vivos dali?

CAPÍTULO TRÊS

Erec fica sentado no deck de madeira de seu próprio navio, de costas para um poste e com as mãos amarradas atrás dele, e observa com consternação a visão diante dele. Os navios restantes de sua frota estão espalhados diante dele nas águas calmas do oceano, aprisionados no meio da noite e cercados pela frota de mil navios do Império. Todos estão ancorados no lugar, iluminados pelas duas luas cheias, seus navios arvorando as bandeiras de sua terra natal e os outros navios arvorando as bandeiras pretas e douradas do Império. Aquela é uma visão desalentadora. Ele tinha se rendido para poupar seus homens de uma morte certa e agora eles estão à mercê do Império, sendo tratados como prisioneiros comuns e sem nenhuma perspectiva de fuga.

Erec pode ver os soldados do Império ocupando cada um de seus outros navios da mesma forma que haviam ocupado a sua embarcação, uma dúzia de soldados do Império montando guarda em cada navio ao mesmo tempo em que calmamente observam o oceano. Erec pode ver uma centena de homens no convés de cada um de seus navios, todos alinhados e com seus pulsos amarrados para trás. Em todos os navios os guardas do Império estão em menor número, mas é evidente que eles não estão muito preocupados com isso. Com todos os homens amarrados, os guardas do Império realmente não precisam de nenhum homem para vigiá-los, muito menos de uma dúzia deles. Os homens de Erec tinham se rendido e, com sua frota cercada, claramente não há lugar para onde eles irem.

Ao observar a cena diante dele, Erec é atormentado pela culpa. Ele nunca tinha se rendido antes e, tendo sido obrigado a fazê-lo, é invadido por uma dor sem fim. Ele precisa se lembrar de que ele agora é um comandante, não um mero soldado, e tem responsabilidade sobre todos os seus homens. Em desvantagem numérica como eles haviam estado Erec não poderia ter permitido que todos fossem mortos. Eles claramente haviam caído em uma armadilha, graças a Krov, e lutar naquele momento teria sido inútil. Seu pai havia lhe ensinado que a primeira regra de um comandante é saber quando lutar e quando baixar suas armas e escolher lutar outro dia, de outra maneira. A bravata e o orgulho, ele havia dito, é o que leva à morte a maioria dos homens. Aquele tinha sido um bom conselho, mas um conselho difícil de seguir.

"Eu mesmo teria lutado," diz uma voz ao lado dele, soando como a voz de sua consciência.

Erec olha para o lado e vê seu irmão, Strom, amarrado a um poste ao lado dele, parecendo tão sereno e confiante como sempre, apesar das circunstâncias.

Erec franze a testa.

"Você teria lutado e todos os nossos homens teriam sido mortos," responde Erec.

Strom dá de ombros.

"Vamos morrer de qualquer maneira, meu irmão," ele responde. "O Império não tem nada, exceto crueldade. Pelo menos, da minha maneira, teríamos morrido com glória. Agora vamos ser mortos por esses homens, mas não estaremos em pé e sim no chão, com suas espadas em nossas gargantas."

"Ou pior," diz um dos comandantes de Erec, amarrado a um poste ao lado de Strom, "seremos levados como escravos e nunca viveremos como homens livres novamente. É por isso que nós o seguimos?"

"Você não sabe de nada," retruca Erec. "Ninguém sabe o que o Império vai fazer. Pelo menos estamos vivos. Pelo menos temos uma chance. A outra opção certamente teria resultado em nossa morte."

Strom olha para Erec com decepção.

"Não é a decisão que nosso pai teria tomado."

Erec enrubesce.

"Você não sabe o que o nosso pai teria feito."

"Não?" Strom rebate. "Eu vivi com ele, cresci com ele nas Ilhas durante toda a minha vida, enquanto você passeava pelo Anel. Você mal o conheceu e eu estou lhe dizendo que nosso pai teria lutado."

Erec balança a cabeça.

"Estas são palavras fáceis para um soldado," ele responde. "Se você fosse um comandante, suas palavras seriam completamente diferentes. Eu conheço nosso pai o suficiente para saber que ele teria protegido os seus homens a qualquer custo. Ele não era um homem imprudente ou impetuoso. Ele tinha orgulho, mas não era orgulhoso. Nosso pai, o soldado de infantaria, em sua juventude, assim como você, talvez tivesse lutado; mas o nosso pai, o rei, teria sido prudente e teria escolhido viver para lutar outro dia. Existem coisas que você só será capaz de entender, Strom, quando você crescer e se tornar um homem."

Strom enrubesce.

"Eu sou mais homem do que você."

Erec suspira.

"Você realmente não entende o que significa uma batalha," ele fala. "Não até que você tenha perdido uma. Não até que você veja os seus homens morrendo diante de seus olhos. Você nunca perdeu. Você viveu protegido nas Ilhas durante toda a sua vida e isso o tornou arrogante. Eu o amo como um irmão, mas não como um comandante."

Um silêncio tenso recai sobre eles, uma espécie de trégua, e Erec olha para a noite, apreciando as estrelas infinitas e fazendo um balanço de sua situação. Ele realmente ama seu irmão, mas eles sempre haviam discutido sobre tudo; eles simplesmente não enxergam as coisas da mesma maneira. Erec dá a si mesmo um tempo para se acalmar, respira fundo e finalmente volta a olhar para Strom.

"Eu não pretendo me render," ele acrescenta com mais calma. "Não seremos prisioneiros e não nos tornaremos escravos. Você deve ter uma visão mais ampla: a rendição às vezes é apenas o primeiro passo na batalha. Você nem sempre deve enfrentar um inimigo com sua espada em punho: às vezes, a melhor maneira de combatê-los é de braços abertos. Você sempre pode empunhar sua espada mais tarde."

Strom olha para ele, parecendo intrigado.

"E então, o que você pretende fazer para nos tirar dessa enrascada?" Ele pergunta. "Entregamos as nossas armas. Estamos todos presos, amarrados e incapazes de nos mover. Estamos cercados por uma frota de mil navios. Nós não temos qualquer chance."

Erec balança a cabeça.

"Você não está analisando toda a situação," ele explica. "Nenhum de nossos homens foi morto. Ainda temos os nossos navios. Podemos estar presos, mas vejo poucos guardas do Império em cada um dos nossos navios, o que significa que nós estamos em número muito maior. Tudo o que precisamos é de uma faísca para acender a chama. Nós podemos pegá-los de surpresa e podemos escapar."

Strom balança a cabeça.

"Nós não podemos vencê-los," ele diz. "Estamos amarrados e impotentes, por isso esses números não significam nada. E mesmo se fizéssemos alguma coisa, continuaríamos cercados e seríamos esmagados pela frota que nos rodeia."

Erec se vira, ignorando o seu irmão, desinteressado em seu pessimismo. Ao invés disso, ele olha para Alistair, que está sentada a vários metros de distância, amarrada em um poste do outro lado do navio. Seu coração se parte quando ele a examina; ela está sentada, amarrada, graças a ele. Erec não se importa em ser um prisioneiro, esse é o preço que se paga por uma guerra, mas vê-la naquela situação parte o seu coração. Ele é capaz de fazer qualquer coisa para não vê-la assim.

Erec sente que tem uma dívida com ela. Afinal, ela tinha salvado sua vida mais uma vez, na Espinha do Dragão, contra aquele monstro do mar. Ele sabe que ela ainda está esgotada pelo esforço, sabe que ela é incapaz de reunir toda a sua energia. No entanto, Erec sabe que ela é sua única esperança.

"Alistair," ele chama mais uma vez, como tinha feito durante toda a noite de poucos em poucos minutos. Ele se inclina e, com o pé, cutuca a perna dela suavemente. Ele seria capaz de fazer qualquer coisa para desfazer suas amarras para poder ir até ela, abraçá-la e libertá-la. Estar ao lado dela, incapaz de fazer qualquer coisa para ajudá-la, o faz sentir-se impotente.

"Alistair," ele grita. "Por favor. É Erec. Acorde. Eu lhe imploro. Eu preciso você – nós precisamos de você."

Erec espera, como tinha feito durante toda a noite, perdendo a esperança. Ele não sabe se ela será capaz de voltar para ele depois de seu último esforço.

"Alistair,"  ele implora sem parar. "Por favor, acorde. Faça isso por mim."

Erec espera, observando-a, mas ela não se move. Ela está deitada tão imóvel, inconsciente, linda como sempre à luz do luar. Erec deseja ardentemente que ela volte para a vida.

Erec desvia o rosto, abaixa a cabeça e fecha os olhos. Talvez tudo esteja mesmo perdido, afinal. Não há simplesmente mais nada que ele possa fazer naquele momento.

"Eu estou aqui," diz uma voz suave, atravessando o silêncio da noite.

Erec olha para cima com esperança, vê Alistair olhando para ele e seu coração bate mais rápido, sobrecarregado com amor e alegria. Ela parece exausta e seus olhos estão quase fechados quando ela olha para ele.

"Alistair, meu amor," ele diz com urgência. "Eu preciso de você, apenas esta uma última vez. Eu não posso fazer isso sem a sua ajuda."

Ela fecha os olhos por um longo tempo e depois volta a abri-los, apenas um pouco.

"O que você precisa?" Ela pergunta.

"Nossas amarras," ele explica. "Nós precisamos que você nos liberte. Todos nós."

Alistair volta a fechar os olhos e um longo tempo se passa durante o qual Erec não ouve nada, exceto o vento acariciando o navio e o suave marulhar das ondas contra o casco. Um pesado silêncio preenche o ar e, à medida que o tempo passa, Erec tem certeza de que ela não voltará a abri-los novamente.

Назад Дальше