Ainda mais importante, eles terão que chamá-la de Deusa.
A ideia a faz sorrir. Ela pretende erguer estátuas de si mesma em cada cidade, diante de cada fortaleza; ela criará feriados em sua homenagem e fará as pessoas honrarem o seu nome até que o Império não se lembre de nenhum outro nome, exceto o dela.
Volúsia caminha diante de seu exército sob os sóis da manhã, examinando as portas douradas da Capital e percebendo que aquele será um dos momentos mais importantes de sua vida. Liderando o caminho diante de seus homens, ela se sente invencível, especialmente agora que todos os traidores em suas fileiras tinham sido mortos. Que tolos eles haviam sido, ela pensa, ao supor que ela seria ingênua e presumir que ela cairia em sua armadilha apenas por ser jovem. Aquilo havia resultado apenas em uma morte prematura, uma morte precoce por subestimar sua sabedoria – uma sabedoria ainda maior do que a deles.
Ao mesmo tempo, enquanto Volúsia analisa os corpos dos homens do Império esparramados pelo deserto, um sentimento crescente de preocupação começa a incomodá-la. Ela percebe que não há tantos corpos quanto ela havia pensado. Há talvez alguns milhares de corpos, não as centenas de milhares que ela havia esperado; aquela não é o corpo principal do exército do Império. Por acaso aqueles líderes não haviam levado todos os seus homens com eles? E se é esse o caso, onde eles podem estar?
Ela começa a se perguntar sem com seus líderes mortos, a Capital do Império ainda oferecerá resistência.
Quando Volúsia se aproxima dos portões da Capital, ela faz um sinal para que Vokin prossiga avançar e para que seu exército pare de avançar.
Juntos, todos eles param atrás dela e, finalmente, o silêncio toma conta do deserto e não há qualquer ruído exceto o som do vento, da poeira subindo no ar e de um espinheiro rolando em torno deles. Volúsia avalia as enormes portas fechadas, o ouro esculpido em padrões ornamentados, sinais e símbolos que contam as histórias das antigas batalhas das terras do Império. Aquelas portas são famosas por todo o Império e há boatos de que cem anos tinham sido necessários para esculpi-la, com seus três metros de espessura. Ela é um sinal de força, representando todo o território do Império.
Volúsia, a quase quinze metros de distância, nunca tinha estado tão perto da entrada da Capital antes e teme aquelas portas – e o que elas representam. Aquele não é apenas um símbolo de força e estabilidade, mas também uma obra-prima, uma obra de arte antiga. Ela anseia em se aproximar e tocar aquelas portas douradas, passando suas mãos ao longo das imagens esculpidas, mas ela sabe que aquele não é o momento. Enquanto ela continua observando a entrada da Capital, uma crescente sensação de mau agouro começar a surgir dentro dela. Algo está errado. Seu exército está fora de formação e tudo está muito quieto.
Volúsia olha para cima e, em cima dos muros, montando guarda sobre os parapeitos, vê milhares de soldados do Império surgindo lentamente, em formação e olhando para baixo com arcos e lanças em riste.
Um general do Império está no meio deles, olhando para Volúsia e seu exército.
"Você é tola por chegar tão perto," ele dispara com sua voz ressoante. "Vocês estão ao alcance de nossos arcos e lanças. Com um único gesto, eu posso matá-la em um instante."
"Mas eu vou lhe conceder a misericórdia," ele acrescenta. "Diga aos seus soldados para abaixarem suas armas e eu permitirei que você continue viva."
Volúsia olha para o general cujo rosto está obscurecido pelo sol, um comandante solitário que havia sido deixado para trás para defender a Capital, e olha para os seus homens, todos com os olhos fixos nela e com arcos em suas mãos. Ela sabe que o general não está blefando.
"Eu vou lhe dar uma oportunidade para abaixar as suas armas," ela grita de volta, "antes que eu mate todos os seus homens e queime a Capital até que só restem escombros."
Ele ri e ela percebe quando ele e todos os seus homens abaixam os visores de seus capacetes, preparando-se para a batalha.
Rápido como um raio, Volúsia de repente ouve o som de um milhar de setas sendo lançadas e de mil lanças sendo arremessadas, e quando ela olha para cima, Volúsia vê o céu escurecido pelas armas atiradas em sua direção.
Volúsia fica ali, paralisada no mesmo lugar e sem demonstrar medo, sem ao menos pestanejar. Ela sabe que nenhuma daquelas armas pode alvejá-la. Afinal, ela é uma deusa.
Ao lado dela, o Vok ergue uma única mão, comprida e verde, e, ao fazer isso, uma esfera verde irradia dele e flutua no ar diante de Volúsia, criando um escudo de luz verde a alguns metros acima da cabeça dela. Um momento depois, as flechas e lanças ricocheteiam sem causar danos e caem no chão ao lado dela, formando uma enorme pilha.
Volúsia observa com satisfação para a crescente pilha de lanças e flechas e olha para cima para ver os rostos atordoados de todos os soldados do Império.
"Eu lhes darei mais uma chance para que se rendam!" Ela grita de volta.
O comandante do Império fica parado, claramente frustrado e ponderando suas opções, mas ele não recua. Em vez disso, ele faz um gesto para seus homens e ela pode vê-los se preparando para o próximo ataque.
Volúsia acena para Vokin e ele faz um gesto para os seus homens. Dezenas de Voks se adiantam e, alinhados, levantam as mãos acima de suas cabeças com as palmas de suas mãos voltadas na direção de seus oponentes. Um momento depois, dezenas de esferas verdes preenchem o céu, subindo na direção das paredes da Capital.
Volúsia assiste com grande expectativa, esperando que as paredes sejam destruídas, à espera de ver todos os homens do Império caindo aos seus pés para que a Capital finalmente seja dela. Ela está ansiosa para sentar-se no trono, mas observa com surpresa e consternação quando as esferas de luz verde ricocheteiam nas paredes de capital sem causar danos e, em seguida, desaparecem em flashes brilhantes de luz. Ela não consegue entender: elas são ineficazes.
Volúsia olha para Vokin, que também se mostra perplexo.
O comandante do Império, em cima dos muros da Capital, começa a rir.
"Você não é a única pessoa com acesso a feitiçaria," ele diz. "Os muros da Capital não podem ser derrubados por qualquer tipo de mágica, eles têm resistido ao teste do tempo por milhares de anos, repelindo bárbaros e exércitos maiores do que o seu. Não há mágica capaz de derrubá-los, somente mãos humanas."
Ele abre um largo sorriso.
"Então você vê," ele acrescenta, "você está cometendo o mesmo erro que tantos outros pretensos conquistadores antes de você. Você pretendia usar feitiçaria na abordagem desta capital e agora você vai pagar o preço por isso."
Trombetas soam ao longo dos parapeitos e Volúsia fica chocada ao ver um exército de soldados surgindo no horizonte. Eles preenchem o horizonte com a cor preta, centenas de milhares deles, um vasto exército, maior até do que as forças que Volúsia tem atrás de si. Eles claramente haviam esperado além do muro no lado mais distante da Capital, no meio do deserto, pela ordem do comandante do Império. Ela não tinha acabado de entrar em outra batalha – aquela será uma verdadeira guerra.
Outra trombeta soa e, de repente, as enormes portas douradas diante dela começam a se abrir. Elas abrem cada vez mais e, então, um grande grito de guerra corta o ar quando milhares de outros soldados do Império surgem, partindo para cima de Volúsia e seu exército.
Ao mesmo tempo, as centenas de milhares de soldados no horizonte também começam a avançar, dividindo suas forças em torno da capital do Império e atacando-os de ambos os lados.
Volúsia mantém-se firme, levanta um único braço e, em seguida, volta a abaixá-lo.
Atrás dela, seu exército emite um grande grito de guerra e começa a correr ao encontro dos homens do Império.
Volúsia sabe que aquela será a batalha que decidirá o destino da Capital e até mesmo o destino do próprio Império. Seus feiticeiros a tinham decepcionado, mas seus soldados não o farão. Afinal, ela pode ser mais brutal do que qualquer outro homem e não precisa de feitiçaria para atingir seus objetivos.
Ela vê os homens aproximando-se dela e mantém sua posição, pronta para matar ou morrer.
CAPÍTULO SEIS
Gwendolyn abre os olhos ao bater a cabeça e observa os seus arredores, sentindo-se desorientada. Ela percebe que está deitada de lado em uma plataforma de madeira dura e que o mundo está se movendo ao seu redor. Gwen ouve um lamento e sente algo molhado em sua bochecha. Ao olhar para o lado, ela vê Krohn deitado ao seu lado, lambendo-a, e seu coração se enche de alegria. Krohn parece doente, faminto e exausto, mas ao menos ele está vivo. Isso é tudo o que importa. Ele também havia sobrevivido.
Gwen lambe os lábios e percebe que eles não estão tão secos quanto antes; ela fica aliviada por ser capaz de lambê-los, pois sua língua tinha estado muito inchada até mesmo que ela a movesse. Ela sente uma corrente de água fria entrar em sua boca e ela observa pelo canto do olho um daqueles nômades do deserto parado sobre ela, segurando um saco e acima dela. Ela engole a água avidamente, dando vários goles, até que ele começa a se afastar.
Quando ele afasta a mão, Gwen estende o braço, agarra o seu pulso e o dirige para Krohn. No início, o nômade parece perplexo, mas então ele percebe e, estendendo o braço, derrama um pouco de água na boca de Krohn. Gwen se sente aliviada enquanto observa Krohn absorver a água, bebendo enquanto continua deitado, ofegante, ao lado dela.
Gwen sente outra sacudida, bate a cabeça na plataforma outra vez e, ao olhar para cima, não vê nada além de nuvens passando pelo céu à sua frente. Ela sente seu corpo sendo erguido cada vez mais alto a cada solavanco e não consegue entender o que está acontecendo ou onde ela se encontra. Ela não tem a forças para se sentar, mas é capaz de erguer seu pescoço o suficiente para ver que está deitada sobre uma plataforma de madeira larga que é içada por cordas em cada uma de suas extremidades. Alguém diante dela está puxando as cordas e, a cada puxão, a plataforma sobe um pouco mais. Ela está sendo levada pela lateral de penhascos íngremes que parecem não ter fim, os mesmos penhascos que ela se lembra de ter visto antes de desmaiar, falésias coroadas por parapeitos e cavaleiros reluzentes.
Gwen se esforça para esticar o pescoço e, ao olhar para baixo, ela imediatamente se sente tonta. Eles estão a dezenas de metros acima do chão do deserto e continuam subindo.
Gwendolyn volta a olhar para cima e vê os parapeitos a trinta metros de distância, sua visão obscurecida pelo sol, e os cavaleiros olhando para baixo, chegando mais perto a cada puxão das cordas. Gwen imediatamente se vira e, ao examinar a plataforma, é inundada de alívio ao ver que todo o seu povo ainda está com ela: Kendrick, Sandara, Steffen, Arliss, Aberthol, Illepra, a bebê Krea, Stara, Brant, Atme, e vários cavaleiros da Prata. Todos eles estão na plataforma, sendo atendido por nômades que derramam água em suas bocas e rostos. Gwen sente uma onda de gratidão para com aquelas estranhas criaturas que haviam salvado as suas vidas.
Gwen fecha os olhos novamente, deita a cabeça sobre a madeira dura com Krohn aninhado ao seu lado e tem a sensação de que sua cabeça pesa centenas de quilos. Ao seu redor, um silêncio confortável preenche o ar, sem qualquer som ali em cima exceto o do vento e das cordas rangendo. Ela já tinha viajado muito, por um longo tempo, e começa a se perguntar quando tudo aquilo chegará ao fim. Logo eles chegarão ao topo e ela só torce para que os cavaleiros, quem quer que fossem, sejam tão hospitaleiros como aqueles nômades do deserto.
A cada puxão, os sóis ficam mais fortes e mais quentes, sem sombra sob a qual eles possam se esconder. Ela tem a sensação de estar queimando, como se estivesse sendo içada até o núcleo do próprio sol.
Gwendolyn abre os olhos ao sentir um solavanco final e percebe que tinha caído no sono novamente. Ela sente um movimento repentino e percebe que está sendo cautelosamente carregada pelos nômades, que colocam ela e seu povo de volta nas lonas, tirando-os da plataforma, e sendo levada até os parapeitos. Gwendolyn sente-se finalmente sendo suavemente colocada em um chão de pedra e olha para cima, piscando várias vezes contra a claridade do sol. Ela está exausta demais para levantar seu pescoço e não tem certeza se ela ainda está acordada ou se está sonhando.
Dezenas de cavaleiros vestindo cotas de malha e lindas armaduras brilhantes começam a surgir, aproximam-se dela e se reúnem ao seu redor, olhando-a com curiosidade. Gwen não consegue entender como aqueles cavaleiros podem estar ali, naquele grande deserto no meio do nada, como eles podem estar montando guarda na parte superior daquele imenso cume, sob a constante presença dos dois sóis. Como eles sobrevivem ali? O que eles estão protegendo? Onde eles haviam conseguido armaduras reais? Aquilo tudo seria apenas um sonho?
Até mesmo o Anel, com a sua antiga tradição de grandeza, tem poucas armaduras a altura das armaduras que aqueles homens estão usando. Aquela é a armadura mais intrincada que ela já tinha visto, forjada em prata, platina e algum outro metal que Gwen não consegue reconhecer, exibindo marcações intrincadas e com armamentos de igual qualidade. Aqueles homens são claramente soldados profissionais. A visão faz Gwen recordar os dias em que ela ainda era uma jovem menina e tinha o costume de acompanhou seu pai em campo; ele tinha tido o hábito de mostrar-lhe os soldados e ela havia gostado da oportunidade de vê-los alinhados com tal esplendor. Gwen se pergunta como tal beleza pode existir e como aquilo tudo pode ser possível.
Ela pensa que talvez ela tenha morrido e aquela seja a sua versão do céu, mas então ela ouve um deles dar um passo à frente, ficando na frente dos outros, remover seu capacete e olhar para ela, seus brilhantes olhos azuis cheios de sabedoria e compaixão. Ele parece ter trinta anos e sua aparência é assustadora, sua cabeça é completamente calva e ele exibe uma barba loura. Claramente, ele é o oficial no comando.
O homem volta sua atenção para os nômades.
"Eles estão vivos?" Ele pergunta.
Um dos nômades, em resposta, estende seu longo cajado e gentilmente cutuca Gwendolyn, que começa a se mover no mesmo instante. Ela quer mais do que qualquer coisa poder se sentar e conversar com eles para descobrir quem eles são, mas ela está muito cansada e com a garganta seca demais para responder.
"Incrível," diz outro cavaleiro, dando um passo adiante com as esporas tilintando à medida que cada vez mais cavaleiros se aproximam, reunindo-se em torno deles. Claramente, eles são todos objetos de grande curiosidade.
"Não é possível," afirma um deles. "Como eles podem ter sobrevivido ao Grande Deserto?"
"Eles não fizeram isso," responde outro cavaleiro. "Eles devem ser desertores e devem ter de alguma forma atravessado a cordilheira, se perdido no deserto e decidido voltar."
Gwendolyn tenta responder para dizer-lhes tudo o que havia acontecido, mas ela ainda está exausta demais para conseguir pronunciar as palavras.
Depois de um breve silêncio, o líder dá um passo adiante.