Escrava, Guerreira e Rainha - Морган Райс 2 стр.


Stefanus era a escolha óbvia, o maior dos senhores de combate e provavelmente o mais forte; no entanto, ele não era tão calculista quanto Brennius ou alguns dos outros guerreiros que ela tinha visto.

Nesos deu uma gargalhada.

"Dar-te-ei a minha espada boa se for esse o caso."

Ela olhou para a espada agarrada à sua cintura. Ele não tinha ideia dos ciúmes com que ela tinha ficado quando ele recebera aquela obra-prima de arma como presente de aniversário da Mãe três anos antes. A espada dela era uma sobra antiga que o seu pai tinha atirado para o monte da reciclagem. Oh, as coisas que ela seria capaz de fazer se ela tivesse uma arma como a de Nesos.

"Não vou deixar que te esqueças do que estás a dizer, sabes", disse Ceres, sorrindo, embora, na realidade, ela nunca fosse ficar com a espada dele.

"Eu não esperaria menos", ele sorriu.

Ela cruzou os braços à frente do peito e um pensamento sombrio passou-lhe pela cabeça.

"A mãe não o iria permitir", disse ela.

"Mas o Pai sim", disse ele. "Ele tem muito orgulhoso em ti, tu sabes."

O comentário simpático de Nesos apanhou-a desprevenida e, sem saber exatamente como o aceitar, baixou os olhos. Ela amava o seu pai do fundo do seu coração e sabia que ele a amava. No entanto, por algum motivo, o rosto da sua mãe aparecia diante de si. Tudo o que ela queria era que a sua mãe a aceitasse e amasse tanto quanto aos seus irmãos. Mas por muito que tentasse, Ceres sentia que nunca seria suficiente boa aos seus olhos.

Sartes grunhiu ao dar os últimos passos, subindo atrás deles. Ele era cerca de uma cabeça mais baixo do que Ceres e tão magro como um grilo, mas ela estava convencida de que ele iria germinar como um rebento de bambu a qualquer momento. Tinha sido isso que tinha acontecido com Nesos. Agora ele era um galã musculado, com seis vírgula três pés de altura.

"E tu?", Ceres virou-se para Sartes. "Quem é que achas que vai ganhar?"

"Estou contigo. Brennius. "

Ela sorriu e despenteou-o. Ele dizia sempre tudo o que ela dizia.

Ouviu-se outro ribombar, a multidão aumentou e ela sentiu-se compelida pela urgência.

"Vamos", disse ela, "não há tempo a perder."

Sem esperar, Ceres desceu do muro, atingiu o chão e desatou a correr. Mantendo em vista o chafariz, ela atravessou a praça, ansiosa por chegar até Rexus.

Ele virou-se e os seus olhos arregalaram-se deleitados quando ela se aproximou. Ela correu para ele, sentindo os seus braços a envolverem a sua cintura, enquanto ele pressionava a sua bochecha por barbear contra a dela.

"Ciri", disse ele com uma voz baixa e rouca.

Um arrepio percorreu-lhe o corpo e ela virou-se e olhou para os olhos azuis cobalto de Rexus. Com seis pés vírgula um, ele era quase uma cabeça mais alto do que ela, loiro, com cabelo grosso a emoldurar o seu rosto em forma de coração. Ele cheirava a sabão e a ar livre. Céus, era bom vê-lo novamente. Apesar de ela conseguir cuidar de si mesma em quase qualquer situação, a presença dele trazia-lhe uma sensação de calma.

Ceres ergueu-se sobre as pontas dos pés e enrolou os braços à volta do seu largo pescoço. Ela nunca o tinha visto como mais do que um amigo até o ouvir falar da revolução e do exército ilegal de que ele era membro. "Vamos lutar para nos libertar do jugo da opressão", tinha-lhe dito ele anos atrás. Ele tinha falado com tanta paixão sobre a rebelião que, por um momento, ela tinha realmente acreditado que derrubar a família real era possível.

"Como foi a caça?", perguntou ela com um sorriso, sabendo que ele já se tinha ido embora há dias.

"Senti falta do teu sorriso." Ele acariciou o seu longo cabelo ouro-rosa. "E dos teus olhos cor de esmeralda."

Ceres também tinha sentido a falta dele, mas não se atrevia a dizer. Ela tinha demasiado medo de perder a amizade que eles tinham se alguma coisa viesse a acontecer entre eles.

"Rexus", disse Nesos, aproximando-se, com Sartes nos seus calcanhares, agarrando-lhe o braço.

"Nesos", disse ele com a sua voz profunda e autoritária. "Temos pouco tempo se quisermos entrar", acrescentou, acenando para os outros.

Apressaram-se todos, fundindo-se com a multidão que ia em direção ao Stade. Os soldados do Império estavam por toda parte, incitando as multidões para a frente, às vezes com bastões e chicotes. Quanto mais se aproximavam da estrada que levava ao Stade, mais a multidão aumentava.

De repente, Ceres ouviu um clamor numa das barracas e, instintivamente, virou-se na direção do som. Ela viu que um generoso espaço se tinha aberto à volta de um menino pequeno, ladeado por dois soldados do Império e um comerciante. Alguns mirones fugiram, enquanto outros reuniram-se em círculo.

Ceres correu para a frente para ver um dos soldados a arrancar uma maçã das mãos do miúdo enquanto o agarrava pelo braço, sacudindo-o violentamente.

"Ladrão!", rosnou o soldado.

"Misericórdia, por favor!", gritou o miúdo, com lágrimas a escorrerem-lhe pelas suas sujas e encovadas bochechas. "Eu estava... com tanta fome!"

Ceres sentiu o seu coração a explodir de compaixão, uma vez que ela já havia sentido a mesma fome - e ela sabia que os soldados seriam nada menos do que cruéis.

"Deixem o miúdo ir-se embora", disse calmamente o comerciante corpulento, fazendo o gesto com uma mão, com o seu anel de ouro a captar a luz solar. "Eu posso dar-me ao luxo de lhe dar uma maçã. Tenho centenas de maçãs". Ele riu-se um pouco, como que para aliviar a situação.

Mas a multidão reuniu-se à volta e calou-se quando os soldados se viraram para confrontar o comerciante, com a sua brilhante armadura a chocalhar. Ceres temia pelo comerciante – ela sabia que ninguém se arriscava a enfrentar o Império.

O soldado aproximou-se ameaçadoramente do comerciante.

"Defendes um criminoso?"

O comerciante olhava para um e para outro, parecendo agora inseguro. O soldado, seguidamente, virou-se e deu um estalo ao miúdo fazendo um barulho nauseante, provocando um arrepio a Ceres.

O rapaz caiu no chão com um baque e a multidão susteve a respiração.

Apontando para o comerciante, o soldado disse: "Para provar a tua lealdade para com o Império, vais segurar o rapaz enquanto nós o açoitamos."

Os olhos do comerciante endureceram-se e a sua testa ficou suada. Para surpresa de Ceres, ele manteve-se firme.

"Não", respondeu ele.

O segundo soldado deu dois ameaçadores passos em direção ao comerciante e a sua mão dirigiu-se para o punho da espada.

"Fá-lo ou ficas sem cabeça e incendiamos a tua loja", disse o soldado.

O rosto redondo do comerciante ficou sem vida. Ceres podia dizer que ele estava derrotado.

Ele caminhou lentamente até ao rapaz e agarrou-lhe os braços, ajoelhando-se na frente dele.

"Por favor, perdoa-me", disse ele com lágrimas a transbordarem-lhe dos olhos.

O menino choramingava, tendo começado a gritar de seguida, enquanto tentava libertar-se dele.

Ceres via que a criança estava a tremer. Ela queria continuar a ir em direção ao Stade, para evitar testemunhar aquilo, mas, em vez disso, os seus pés ficaram congelados no meio da praça, com o seu olhar colado à brutalidade.

O primeiro soldado rasgou a túnica do miúdo, enquanto o segundo soldado fez girar um chicote por cima da sua cabeça. A maioria dos mirones incentivava os soldados, embora alguns murmurassem e se fossem embora de cabeça baixa.

Nenhum defendeu o ladrão.

Com uma expressão ávida, quase louca, o soldado batia com o chicote contra as costas do rapaz, fazendo-o gritar de dor enquanto eles o açoitavam. O sangue escorria pelas recentes lacerações. Uma e outra vez, o soldado continuou a chicotear o menino até a sua cabeça ficar vergada para trás e ele já não gritar.

Ceres sentia um forte impulso em avançar e salvar o menino. No entanto, ela sabia que fazer isso significaria a sua morte e a morte de todos aqueles que ela amava. Ela estava desolada, sentindo-se desesperada e derrotada. No seu íntimo, ela decidiu que um dia iria vingar-se.

Ela arrancou Sartes para o pé de si e cobriu-lhe os olhos, querendo desesperadamente protegê-lo, dar-lhe mais alguns anos de inocência, embora não houvesse inocência possível de manter naquela terra. Ela obrigou-se a não agir por impulso. Como homem, ele precisava de ver aqueles exemplos de crueldade, não só para se adaptar, mas também para um dia ser um forte candidato na rebelião.

Os soldados tiraram o miúdo das mãos do comerciante e, em seguida, atiraram o seu corpo inerte para a parte traseira de um carro de madeira. O comerciante apertou o seu rosto com as mãos, chorando a soluçar.

Em poucos segundos, o carro estava a caminho e, o que antes tinha sido um espaço aberto, estava novamente cheio de pessoas a serpentearem-se pela praça como se nada tivesse acontecido.

Ceres sentiu uma enorme sensação de náusea bem por dentro de si. Era injusto. Naquele momento, ela conseguia identificar uma meia dúzia de carteiristas, homens e mulheres que tinham aperfeiçoado a sua arte tão bem que nem mesmo os soldados do Império conseguiam apanhá-los. A vida daquele pobre menino estava agora arruinada por causa da sua falta de habilidade. Se capturados, os ladrões, jovens ou velhos, perdiam os seus membros ou mais, dependendo de como os juízes se sentissem nesse dia. Se ele tivesse sorte, a sua vida seria poupada e ele seria condenado a trabalhar nas minas de ouro para o resto da vida. Ceres preferiria morrer a ter de suportar ser presa assim.

Eles continuaram ao longo da rua, com o seu humor arruinado, ao lado uns dos outros, enquanto o calor aumentava de uma forma quase insuportável.

Uma carruagem dourada passou ao lado deles, forçando todos a desviarem-se do caminho, empurrando as pessoas para as casas nas laterais. Empurrada violentamente, Ceres olhou para cima e viu três raparigas adolescentes com vestidos coloridos de seda, com alfinetes de ouro e jóias preciosas que adornavam os seus intrincados cabelos apanhados. Uma delas, a rir-se, atirou uma moeda para a rua e um punhado de plebeus baixou-se, colocando-se de gatas, lutando por um pedaço de metal que alimentaria uma família por um mês inteiro.

Ceres nunca se baixou para apanhar qualquer esmola. Ela preferia morrer de fome a receber doações que dependessem da vontade das pessoas.

Ela viu um homem apossar-se da moeda e um homem mais velho atirá-lo ao chão, apertando com força o seu pescoço com a mão. Com a outra mão, o homem tirou à força da mão do rapaz a moeda.

As jovens adolescentes riram-se, apontando, antes de a sua carruagem continuar a serpentear pela multidão.

As entranhas de Ceres comprimiram-se com repugnância.

"No futuro próximo, a desigualdade vai desaparecer para sempre", disse Rexus. "Eu vou fazer por isso."

Ouvindo-o falar, o peito de Ceres inchou. Um dia ela iria lutar lado a lado com ele e os seus irmãos na rebelião.

Mais perto do Stade as ruas eram mais largas. Ceres sentia que podia respirar fundo. O ambiente era vibrante. Ela sentiu que iria rebentar de excitação.

Ela passou por uma das dezenas de entradas em arco e olhou para cima.

Milhares e milhares de cidadãos enchiam o magnífico Stade. A estrutura oval tinha colapsado no topo do lado norte e a maioria dos toldos vermelhos estavam rasgados, fornecendo pouca proteção contra o sol escaldante. Feras selvagens rosnavam atrás de portões de ferro e alçapões, e ela conseguia ver os lordes de combate prontos atrás dos portões.

Ceres estava boquiaberta, assimilando tudo maravilhada.

Ceres olhou para cima e percebeu que, sem dar por isso, tinha ficado para trás de Rexus e dos seus irmãos. Ela correu para a frente para recuperar o atraso mas, ao fazê-lo, quatro homens corpulentos cercaram-na. Ela sentiu o cheiro a álcool, a peixe podre e a odor corporal quando eles se aproximaram muito perto, girando à sua volta, boquiabertos com os dentes podres e sorrisos feios.

"Tu vens connosco, miúda bonita", disse um deles enquanto estrategicamente todos se chegavam para cima dela.

O coração de Ceres acelerou. Ela olhou para a frente à procura dos outros, mas eles já estavam perdidos no meio da imensa multidão.

Ela confrontou os homens, tentando colocar a sua expressão mais brava.

"Deixem-me ou eu..."

Eles desataram-se a rir.

"O quê?", troçou um deles. "Uma miúda pequenina como tu dar conta de nós os quatro?"

"Nós poderíamos levar-te daqui, contigo aos pontapés e a gritar, e nem uma alma iria reparar", acrescentou outro.

E era verdade. De soslaio, Ceres observava as pessoas passarem a correr, fingindo não reparar que aqueles homens a estavam a ameaçar.

De repente, o rosto do líder ficou sério e, com um movimento rápido, ele agarrou-lhe nos braços e puxou-a. Ela sabia que eles poderiam levá-la para longe, para nunca mais ser vista novamente, e esse pensamento aterrorizava-a mais que tudo.

Tentando ignorar o bater do seu coração, Ceres girou, libertando o seu braço da fortaleza dos dele. Os outros homens vaiavam divertidos, mas quando ela fez embater a base da palma da sua mão contra o nariz do líder, atirando a sua cabeça para trás, eles remeteram-se ao silêncio.

O líder colocou as suas mãos imundas sobre o nariz e resmungou.

Ela não se arrependeu. Sabendo que tinha uma hipótese, ela pontapeou-o no estômago, lembrando-se dos seus dias de treino, e ele caiu com o empurrão.

Imediatamente, porém, os outros três atiraram-se a ela, com as suas mãos fortes a agarrarem-na, afastando-a.

De repente, eles cederam. Ceres, aliviada, viu Rexus a aparecer e a esmurrar um no rosto, derrubando-o.

De seguida surgiu Nesos, agarrando outro e dando-lhe uma joelhada no estômago antes de lhe dar um pontapé que o atirou para o chão, deixando-o no solo vermelho.

O quarto homem avançou em direção a Ceres, mas precisamente no momento em que ele estava prestes a atacá-la, ela baixou-se, girou e pontapeou-o por trás, fazendo-o voar de cabeça contra um pilar.

Ela ficou ali, respirando com dificuldade, assimilando tudo.

Rexus colocou uma mão no ombro de Ceres. "Estás bem?"

O coração de Ceres estava ainda acelerado, mas um sentimento de orgulho lentamente substituía o seu medo. Ela tinha-se saído bem.

Ela assentiu e Rexus envolveu um braço ao redor dos seus ombros e eles continuaram, esboçando um sorriso.

"O quê?", perguntou Ceres.

"Quando vi o que estava a acontecer, eu queria percorrer a minha espada por cada um deles. Mas então vi como te defendeste a ti própria". Ele abanou a cabeça e riu-se. "Eles não estavam à espera."

Ela sentiu as suas bochechas a corar. Queria dizer que não tinha tido medo, mas a verdade é que tinha tido.

"Eu estava nervosa", ela admitiu.

"Ciri, nervosa? Nunca". Ele beijou Ceres no topo da cabeça e eles continuaram para dentro do Stade.

Encontraram alguns lugares vazios ao nível do solo e sentaram-se. Ceres estava encantada por não ser demasiado tarde e já tinha colocado todos os acontecimentos do dia atrás das costas, permitindo-se deixar levar pelo entusiasmo da multidão.

"Consegues vê-los?"

Ceres seguiu a direção do dedo de Rexus, olhou para cima e viu uma dúzia de adolescentes sentados num camarote a beber vinho em taças de prata. Ela nunca tinha visto roupas tão boas, tanta comida numa mesa, tantas jóias cintilantes em toda a sua vida. Nenhum deles tinha a cara encovada ou barrigas côncavas.

"O que é que eles estão a fazer?", perguntou ela, quando viu um deles a recolher moedas para dentro de uma tigela de ouro.

"Cada um deles é dono de um lorde de combate", disse Rexus, "e eles fazem apostas sobre quem vai ganhar."

Ceres zombou. Ela percebeu que aquele era apenas um jogo para eles. Obviamente, os adolescentes mimados não se preocupavam com os guerreiros ou com a arte do combate. Eles só queriam ver se o seu lorde de combate ganharia. Para Ceres, porém, aquele evento era acerca da honra, da coragem e da habilidade.

Назад Дальше