A Fábrica Mágica - Морган Райс 3 стр.


E foi quando ele os viu. No momento em que estava passando para seu estado de devaneio, notou duas pessoas de pé ao lado da árvore. Uma mulher e um homem que se pareciam muito com ele, como se pudessem ser confundidos com seus pais. Eles pareciam gentis e sorriram para ele enquanto seguravam as mãos um do outro.

Oliver afastou-se da janela, assustado. Pela primeira vez, percebeu que não se parecia nem com seu pai, nem com sua mãe. Ambos tinham cabelos escuros e olhos azuis, assim como Chris. Oliver, por outro lado, era a combinação, mais rara, de cabelos loiros e olhos castanhos.

De repente, ele se perguntou que talvez seus pais não fossem seus pais. Talvez por isso parecessem odiá-lo tanto? Ele olhou pela janela, mas o casal já tinha ido embora. Era apenas sua imaginação. Mas pareciam tão reais. E tão familiares.

Estou sonhando acordado, Oliver concluiu.

Sentou-se contra a parede fria, enfiando-se no canto que agora era seu novo quarto, puxando as cobertas sobre si. Abraçou os joelhos junto ao peito, bem apertado, e sentiu uma repentina sensação estranha, um momento de percepção, de clareza: de que tudo estava prestes a mudar.

CAPÍTULO DOIS

Oliver acordou sentindo-se ansioso. Seu corpo inteiro doía depois de dormir no chão duro. Os cobertores não eram grossos o suficiente para evitar que o frio penetrasse em seus ossos. Ficou surpreso por ter dormido, considerando que era seu primeiro dia de aula.

A casa estava muito silenciosa. Só ele havia acordado. Oliver percebeu que acordou mais cedo do que precisava, graças à suave luz do sol que entrava pela janela.

Levantou-se e espiou pela janela. O vento havia causado estragos durante a noite, derrubando cercas e caixas de correio e espalhando o lixo pelas calçadas. Oliver olhou para a árvore torta e espigada onde tinha visto o simpático casal na noite passada. O homem e a mulher que pareciam com ele e que o fizeram se perguntar se talvez os Blues não eram seus pais biológicos. Mas balançou a cabeça. Era apenas um desejo seu, raciocinou. Qualquer um que tivesse Chris Blue como seu irmão mais velho sonharia em não ter ligação nenhuma com ele!

Sabendo que tinha um pouco de tempo antes de sua família acordar, Oliver saiu da janela e foi até sua mala. Ele a abriu e viu todas as engrenagens, fios, alavancas e botões que havia coletado para suas invenções. Sorriu enquanto olhava para a armadilha de estilingue que usou contra Chris ontem. Mas era apenas uma das muitas invenções de Oliver e não era a mais importante, nem de longe. Sua maior invenção era algo um pouco mais complexo e muito mais importante: ele estava tentando inventar uma maneira de se tornar invisível.

Teoricamente, isso era possível. Havia lido tudo a respeito. Na verdade, eram necessários apenas dois componentes para tornar um objeto invisível. O primeiro era curvar a luz em torno do objeto, para que ele não pudesse projetar uma sombra, semelhante à forma como a água da piscina curvava a luz e fazia com que os nadadores parecessem estranhamente atarracados. O segundo componente necessário para a invisibilidade envolvia eliminar o reflexo do objeto.

Parecia bastante simples no papel, mas Oliver sabia que ninguém tinha conseguido ainda, e por uma boa razão. Mas isso não iria impedi-lo de tentar. Ele precisava desta invenção para escapar de sua vida miserável, e não importava o tempo necessário para chegar lá.

Enfiou a mão no estojo e tirou todos os pedaços de tecido que havia coletado em busca de algo com propriedades refrativas negativas. Infelizmente, ainda não havia encontrado o tecido certo. Então, tirou todas as bobinas de arame fino de que precisava para fazer micro-ondas eletromagnéticas e dobrar a luz artificialmente. Infelizmente, nenhum deles era fino o bastante. Para funcionar, as bobinas precisariam ter menos de quarenta nanômetros, o que era um tamanho tão pequeno que era impossível para a mente humana compreender. Mas Oliver sabia que alguém, em algum lugar, algum dia, teria uma máquina para fazer bobinas finas o suficiente, e um tecido refrativo o bastante.

Nesse momento, do andar de cima, Oliver ouviu o despertador de seus pais tocar. Ele rapidamente guardou seus pertences, sabendo muito bem que eles iriam acordar Chris em seguida, e se o irmão descobrisse o que ele estava tentando fazer, destruiria todo o seu trabalho.

O estômago de Oliver roncou, lembrando-o de que as ameaças de Chris estavam prestes a começar de novo, e que era melhor comer um pouco antes que tudo começasse.

Ele passou pela mesa de jantar ainda quebrada e foi até a cozinha. A maioria dos armários estava vazia. A família ainda não tinha tido tempo de fazer compras para a casa nova. Mas Oliver encontrou uma caixa de cereal que havia vindo com a mudança, e havia leite fresco na geladeira, então ele rapidamente preparou uma tigela de cereal e engoliu tudo. Bem na hora. Alguns momentos depois, seus pais entraram na cozinha.

"Quer café?" a mãe perguntou ao seu pai, com os olhos inchados e o cabelo desgrenhado.

O pai apenas grunhiu um sim. Ele olhou para a mesa quebrada e, com um suspiro, pegou uma fita adesiva. Começou a remendar a perna da mesa, a contragosto.

"É aquela cama", ele murmurou, enquanto trabalhava. "É bamba. E o colchão não é macio". Ele esfregou as costas, para enfatizar seu argumento.

Oliver sentiu uma onda de raiva. Pelo menos seu pai dormiu em uma cama! Ele teve que dormir em cobertores em um canto da sala! A injustiça o magoou.

"Não sei como vou passar um dia inteiro no call center", acrescentou a mãe de Oliver, tomando café. Então, colocou sua caneca na mesa, agora provisoriamente consertada.

"Você tem um novo emprego, mãe?" Oliver perguntou.

Mudar de casa o tempo todo tornava impossível para os pais manter o emprego em tempo integral. As coisas em casa eram sempre mais difíceis quando estavam desempregados. Mas, se mamãe estava trabalhando, isso significava comida melhor, roupas melhores e dinheiro para comprar mais engenhocas para suas invenções.

"Sim", disse ela, deixando escapar um sorriso tenso. "Eu e o papai. Mas são longas horas. Hoje é dia de treinamento, mas depois disso, ficaremos com o último turno. Por isso, não estaremos aqui quando voltarem do colécio. Mas Chris vai ficar de olho em você, então não se preocupe".

Oliver sentiu o estômago revirar. Ele preferia que Chris não estivesse na equação. Era perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo.

Como se convocado pela menção de seu nome, Chris entrou na cozinha. Ele era o único Blue que parecia revigorado esta manhã. Espreguiçou-se e soltou um bocejo teatral, fazendo a camisa subir por cima de sua barriga redonda e rosada.

"Bom dia, minha família maravilhosa", disse ele, com seu sorriso sarcástico. Passou um braço ao redor de Oliver, puxando-o para um tipo de abraço habilmente mascarado como afeto fraternal. "Como vai você, fracote? Animado com o primeiro dia de aula?"

Oliver mal podia respirar, Chris estava apertando muito. Como sempre, seus pais pareciam alheios ao bullying.

"Mal posso... esperar..." ele conseguiu dizer.

Chris o soltou e se sentou à mesa, em frente ao pai.

Mamãe veio do balcão com um prato de torradas com manteiga. Ela o colocou no centro da mesa. Papai pegou uma fatia. Então Chris se inclinou para a frente e pegou o resto, sem deixar nada para Oliver.

"Ei!" Oliver gritou. "Você viu aquilo?"

Mamãe olhou para o prato vazio e soltou um de seus suspiros exasperados. Olhou para o pai como se esperasse que ele dissesse alguma coisa. Mas o homem apenas deu de ombros.

Oliver cerrou os punhos. Era tão injusto. Se ele não tivesse previsto algo assim, teria perdido outra refeição, graças a Chris. Ficou furioso por nenhum de seus pais nunca defendê-lo, ou pelo menos notar quantas vezes ele tinha que ficar sem as coisas por causa de Chris.

"Vocês dois vão andando juntos até a escola?" A mãe perguntou, claramente tentando mudar de assunto.

"Não posso", disse Chris com a boca cheia. A manteiga escorreu pelo queixo dele. "Se eu for visto com um nerd, nunca farei amigos".

Papai levantou a cabeça. Por um segundo, parecia que ele estava prestes a dizer alguma coisa a Chris, e castigá-lo por xingar Oliver. Mas então ele claramente decidiu o contrário, porque apenas suspirou, cansado, e voltou os olhos novamente para a mesa.

Oliver rangeu os dentes, tentando manter sua crescente fúria sob controle.

"Por mim, tudo bem", ele sussurrou, olhando para Chris. "Prefiro mesmo manter distância de você".

Chris soltou uma gargalhada rancorosa.

"Meninos..." Mamãe avisou, com uma voz muito mansa.

Chris cerrou o punho para Oliver, indicando claramente que se vingaria mais tarde.

Depois do café da manhã, a família rapidamente se arrumou e saiu de casa.

Oliver viu seus pais entrarem em seu carro surrado e partirem. Então Chris se afastou sem dizer mais nada, com as mãos nos bolsos e uma expressão carrancuda no rosto. Oliver sabia o quanto era importante para Chris deixar imediatamente claro que ele não deveria ser incomodado. Era sua armadura, a maneira como ele lidava com o primeiro dia em um novo colégio seis semanas após o início do ano letivo. Mas Oliver era muito magro e muito baixinho para tentar cultivar tal imagem. Sua aparência só o fazia se destacar ainda mais.

Chris caminhou rapidamente, sumindo de vista, deixando Oliver sozinho para caminhar pelas ruas desconhecidas. Não foi a caminhada mais agradável da sua vida. O bairro era difícil, com muitos cachorros raivosos latindo atrás de cercas fechadas com correntes, e carros barulhentos e desordeiros percorrendo as estradas esburacadas, sem se importar com as crianças que atravessavam.

Quando o Colégio Campbell apareceu à sua frente, Oliver sentiu um arrepio. Era um prédio horrível, feito com tijolos cinzentos, completamente quadrado e com uma fachada desgastada pelo tempo. Não havia nem grama para se sentar, apenas uma grande quadra de asfalto com aros de basquete quebrados dos dois lados. Crianças se empurravam, lutando pela bola. E o barulho! Era ensurdecedor, e tinha de tudo, de brigas a cantorias, de gritos a conversas.

Oliver queria se virar e voltar correndo pelo mesmo caminho pelo qual tinha vindo. Mas engoliu o medo e caminhou, de cabeça baixa e com as mãos nos bolsos, atravessando o parquinho e passando pelas grandes portas de vidro.

Os corredores da Campbell Junior eram escuros. Cheiravam a água sanitária, apesar de parecerem que não tinham sido limpos há uma década. Oliver viu uma placa indicando a recepção e a seguiu, sabendo que ele teria que pedir informações a alguém. Quando chegou no balcão, havia uma mulher muito entediada, com expressão raivosa, digitando num computador com longas unhas vermelhas.

"Com licença", disse Oliver.

Ela não respondeu. Ele pigarreou e tentou de novo, um pouco mais alto.

"Desculpe. Eu sou um novo aluno, hoje é meu primeiro dia".

Finalmente, ela desviou os olhos do computador e olhou para Oliver. Apertou os olhos. "Aluno novo?" perguntou, com um olhar de suspeita. "Estamos em outubro".

"Eu sei", Oliver respondeu. Ela não precisava lembrar. "Minha família acabou de se mudar para cá. Eu sou Oliver Blue".

Ela o observou em silêncio por um longo momento. Então, sem dizer nada, voltou sua atenção para o computador e começou a digitar. Suas longas unhas se chocavam contra as teclas.

"Blue", ela disse. "Blue. Blue. Blue. Ah, achei. Christopher John Blue. Oitava série".

"Ah, não, este é meu irmão", Oliver respondeu. "Eu sou Oliver. Oliver Blue".

"Não estou achando nenhum Oliver", ela respondeu, indiferente.

"Bem... mas aqui estou eu", Oliver disse, com um sorriso sem graça. "Eu devo estar na lista. Em algum lugar".

A recepcionista parecia não estar nem aí. Todo aquele drama não lhe incomodava nem um pouco. Ela digitou de novo, e depois suspirou longamente.

"Ok. Achei. Oliver Blue. Sexta série. Então, se virou na cadeira giratória e jogou uma pasta na mesa. "Aqui estão sua agenda, mapa do colégio, contatos úteis, etc. Você encontrará tudo aqui". Bateu preguiçosamente com uma de suas unhas vermelhas brilhantes. "Sua primeira aula é inglês".

"Que bom", disse Oliver, pegando a pasta e colocando-a debaixo do braço. "Eu sou fluente".

Ele sorriu para indicar que havia feito uma piada. Os lábios da recepcionista repuxaram um pouco para o lado, quase imperceptivelmente, numa expressão que poderia indicar ao menos remotamente algum sinal de diversão. Percebendo que não havia mais nada a ser dito entre eles, e sentindo que a recepcionista gostaria muito que ele saísse, Oliver saiu da recepção segurando sua pasta.

Quando chegou no corredor, ele a abriu e começou a estudar o mapa, procurando a sala de inglês e sua primeira aula. Era no terceiro andar, então Oliver seguiu na direção da escada.

Na sala, o empurra-empurra das crianças parecia ainda maior. Oliver se viu no meio de um mar de corpos, sendo empurrado escada acima pela multidão e não por vontade própria. Teve que lutar contra o enxame de alunos para entrar no terceiro andar.

Ofegante, chegou no corredor do terceiro andar. Aquela não era uma experiência que ele queria repetir várias vezes ao dia!

Usando seu mapa, Oliver logo encontrou a sala de aula de inglês. Espiou pela janelinha quadrada da porta. A sala já estava meio cheia de estudantes. Sentiu o estômago revirar de angústia ao pensar em conhecer pessoas novas, em ser visto, julgado e avaliado. Ele girou a maçaneta da porta e entrou.

É claro que ele tinha razão de ter medo. Já havia passado por aqui o suficiente para saber que todos olhariam para ele, curiosos sobre o garoto novato. Oliver havia tido essa sensação mais vezes do que se lembrava. Tentou não encontrar os olhos de ninguém.

"Quem é você?", disse uma voz áspera.

Oliver girou e viu o professor, um homem velho com cabelos extremamente brancos, olhando para ele de sua mesa.

"Eu sou Oliver. Oliver Blue. Eu sou novato".

O professor franziu a testa. Seus olhos redondos eram negros e desconfiados. Ele observou Oliver por um tempo desconfortavelmente longo. Claro, isso só aumentou o seu estresse, porque agora mais colegas estavam prestando atenção nele, enquanto outros alunos continuavam a chegar. Um público cada vez maior o observava com curiosidade, como se ele fosse algum tipo de espetáculo de circo.

"Eu não sabia que chegaria mais um", disse o professor, finalmente, com ar de desdém. "Deveriam ter me informado". Suspirou, cansado, fazendo Oliver se lembrar de seu pai. "Escolha um lugar para sentar, então".

Oliver correu para uma carteira sobressalente, sentindo os olhos de todos fixos nele. Tentou se tornar o menor possível, o mais invisível possível. Mas é claro que ele se destacava dentre todos, por mais que tentasse se esconder. Afinal, era o garoto novato.

Quando todos estavam sentados, o professor começou.

"Vamos continuar de onde paramos na última aula", disse ele. "Estávamos falando de regras gramaticais. Alguém pode explicar ao Oscar do que se trata?"

Todos começaram a rir de seu erro.

Oliver sentiu a garganta apertar ainda mais. "Hum, desculpe interromper, mas meu nome é Oliver, não Oscar".

A expressão do professor mudou no mesmo instante. Oliver percebeu imediatamente que ele não era o tipo de homem que gostava de ser corrigido.

"Eu vivi 66 anos com o nome Sr. Portendorfer", disse o professor, franzindo o cenho, "e aprendi a superar as pessoas que pronunciam meu nome errado. Profendoffer. Portenworten. Eu já ouvi de tudo. Então, sugiro que você, Oscar, se preocupe menos com a pronúncia correta do seu nome!"

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