Uma Forja de Valentia - Морган Райс 4 стр.


"Eu não vou deixar que morras", respondeu a mãe. "O meu amor por ti é mais forte do que o destino."

De repente, a sua mãe desapareceu.

No seu lugar estava um lindo rapaz, que olhava para ela com uns olhos cinza brilhantes, cabelos longos e lisos, hipnotizando-a. Ela podia sentir o amor no seu olhar.

"Eu, também, não te vou deixar morrer, Kyra", ele ecoou.

Ele inclinou-se, colocou a palma da sua mão no estômago dela, no mesmo sítio onde a sua mãe tinha posto. Ela sentiu uma onda de calor ainda mais intensa a passar-lhe pelo corpo. Viu uma luz branca e sentiu calor a agitar-se dentro dela. Ao voltar a ela, mal conseguia respirar.

"Quem és tu?", perguntou ela, quase a sussurrar.

Afogando-se no calor e na luz, ela não conseguia evitar fechar os olhos.

Quem és tu?, ecoou na sua mente.

Kyra abriu os olhos devagar, sentindo uma intensa onda de paz, de calma. Ela olhou para todos os lados, na expectativa de ainda estar no oceano, para ver a água, o céu.

Em vez disso, ela ouviu o som omnipresente de insetos. Virou-se, confusa, percebendo que estava na floresta. Estava deitada numa clareira e sentia calor intenso a irradiar do seu estômago, onde havia sido esfaqueada. Olhou para baixo e viu uma única mão lá. Era uma bela mão pálida, que tocava no seu estômago, como no seu sonho. Estonteada, ela olhou para cima e viu aqueles belos olhos cinzentos a olhar para ela, tão intensos, que pareciam estar a brilhar.

Kyle.

Ele ajoelhou-se ao lado dela, com uma mão na sua testa. Quando ele lhe tocou, Kyra sentiu lentamente a sua ferida a ser curada, sentiu-se lentamente voltar a este mundo, como se ele desejasse que ela voltasse. Teria ela efetivamente visitado a sua mãe? Teria sido real? Ela sentiu como se tivesse sido suposto ela morrer, mas, de alguma forma, o seu destino tinha sido alterado. Era como se a sua mãe tivesse intervindo. E Kyle. O amor deles tinha-a trazido de volta. Isso e, como a sua mãe lhe havia dito, a sua própria coragem.

Kyra lambeu os lábios, fraca demais para se sentar. Ela queria agradecer a Kyle, mas a sua garganta estava muito seca e as palavras não saíam.

"Shh", disse ele, vendo o seu esforço, inclinando-se e beijando-lhe a testa.

"Eu morri?", conseguiu finalmente perguntar.

Após um longo silêncio, ele respondeu, com uma voz suave, mas, ainda assim, poderosa.

"Tu voltaste", disse ele. "Eu não te deixaria ir."

Era uma sensação estranha; olhando-o nos olhos, ela sentia como se o conhecesse desde sempre. Ela estendeu a mão e agarrou o seu pulso, apertando-o, tão grata. Havia tanta coisa que ela lhe queria dizer. Ela queria perguntar-lhe porque é que ele arriscaria a sua vida por ela; porque é que ele se importava tanto com ela; porque é que ele se sacrificaria para a trazer de volta. Ela sentiu que ele tinha, de facto, feito um grande sacrifício por ela, um sacrifício que, de certa forma, iria magoá-lo.

Acima de tudo, ela queria que ele soubesse o que ela estava a sentir agora.

Amo-te, ela queria dizer.

Mas as palavras não saíam. Em vez disso, uma onda de exaustão tomou conta dela e, quando os seus olhos se fecharam, ela não teve escolha senão sucumbir. Ela sentiu-se a cair num sono cada vez mais profundo, com o mundo a passar por ela. Ela perguntou-se se estaria a morrer novamente. Teria ela sido trazida de volta apenas por um momento? Teria ela estado de volta uma última vez apenas para dizer adeus a Kyle?

E, ao cair finalmente num sono profundo, ela podia jurar ter ouvido algumas últimas palavras antes de adormecer de vez;

"Eu amo-te também."

CAPÍTULO CINCO

O bebé dragão voava em agonia. Cada bater das asas era um esforço, lutando para se manter no ar. Ele voava há horas sobre o campo de Escalon, sentindo-se perdido e sozinho neste mundo cruel onde tinha nascido. Passavam-lhe pela mente imagens do seu pai moribundo, estendido, com os seus grandes olhos a fecharem-se, sendo esfaqueado até a morte por todos aqueles soldados humanos. O seu pai, que ele nunca tinha tido a oportunidade de conhecer, com exceção daquele momento específico da batalha gloriosa; o seu pai, que havia morrido a salvá-lo.

O bebé dragão sentiu a morte do seu pai como se fosse a sua própria. A cada bater de asas, sentia-se mais sobrecarregado pela culpa. Se não fosse por ele, o seu pai podia agora estar vivo.

O dragão voou, destroçado com tristeza e remorso pela ideia de que nunca teria a hipótese de conhecer o seu pai, para lhe agradecer pelo seu ato altruísta de valentia, por salvar a sua vida. Uma parte dele também já não queria viver.

A outra parte, porém, a arder em raiva, estava desesperada para matar os seres humanos, para vingar o seu pai e destruir a terra por baixo dele. Ele não sabia onde estava, mas sentiu intuitivamente que estava a oceanos de distância da sua terra natal. Uma espécie de instinto levava-o a voltar para casa; no entanto, ele não sabia onde era a sua casa.

O bebé voou sem rumo, tão perdido no mundo, a expelir chamas sobre as copas das árvores, sobre qualquer coisa que conseguisse encontrar. Rapidamente, ele ficou sem fogo, começando logo a perder altitude, a cada bater das duas asas. Ele tentou subir, mas descobriu, em pânico, que já não tinha forças. Tentou evitar uma copa de árvore, mas as suas asas já não o conseguiam levantar e ele foi diretamente embater nela, em sofrimento com todas as velhas feridas que não se tinham curado.

Em agonia, ele saltou e continuou a voar, com a sua elevação continuamente a diminuir à medida que ele perdia força. Pingava sangue, que caia como gotas de chuva. Estava fraco da fome, das suas feridas, dos milhares de lanças que lhe haviam espetado. Ele queria continuar a voar, para encontrar um alvo para a destruição, mas sentiu os seus olhos a fecharem-se, demasiado pesados para ele agora. Sentia-se a entrar e a sair da consciência.

O dragão sabia que estava a morrer. De certa forma, era um alívio; em breve, ele iria juntar-se ao seu pai.

Ele despertou com o som do crepitar das folhas e dos galhos a partirem-se e, ao sentir-se esmagado nas copas das árvores, finalmente abriu os olhos. A sua visão estava obscurecida num mundo de verde. Não mais capaz de se controlar, sentiu-se a cair, agarrou-se aos ramos e, de cada vez que o fazia, magoava-se mais.

Por fim, abruptamente, ficou preso entre os ramos no alto de uma árvore, muito fraco para lutar. Ficou ali pendurado, imóvel, com demasiadas dores para se conseguir mover, cada respiração a doer-lhe mais do que a próxima. Ele tinha a certeza de que ia morrer ali em cima, emaranhado nas árvores.

De repente, um dos ramos cedeu, ouvindo-se um grande estalo. O dragão caiu. Caiu de ramo em ramo, partindo-os, caindo uns bons cinquenta pés, até, finalmente, cair no chão.

Ficou ali, sentindo todas as suas costelas a estalar, expelindo sangue. Bateu uma asa lentamente, mas não conseguiu fazer muito mais.

Ao sentir a força da vida a ir-se embora, parecia-lhe injusto, prematuro. Sabia que tinha um destino, mas não conseguia entender qual era. Parecia ser curto e cruel, nascido neste mundo só para testemunhar a morte do seu pai e depois para morrer ele próprio. Talvez isso fosse o que era a vida: cruel e injusta.

Ao sentir os seus olhos a fecharem-se pela última vez, o dragão tinha a sua mente preenchida com um pensamento final: Pai, espera por mim. Eu vou ver-te em breve.

CAPÍTULO SEIS

Alec no convés observava o mar, agarrando a amurada do lustroso navio preto, como vinha a fazer há vários dias. Observava as ondas gigantes a rebentarem e a recuarem, erguendo o seu pequeno veleiro. Via a espuma a separar-se por baixo do porão, enquanto cortavam a água a uma velocidade à qual ele nunca antes tinha navegado. O navio deles inclinou-se e as velas ficaram rígidas com o vento, com os vendavais fortes e constantes. Alec estudava o navio com os olhos de um artesão, questionando-se sobre de que seria feito este navio; claramente era feito de um material não comum, elegante, que ele nunca antes tinha encontrado, o que lhes permitia manter a velocidade durante todo o dia e noite e manobrar no escuro para além da frota Pandesiana, para lá do Mar do Arrependimento e na direção do Mar de Lágrimas.

Ao refletir, Alec lembrou-se do quão angustiante esta jornada tinha sido, uma viagem através dos dias e das noites, nunca baixando as velas, as longas noites no mar negro repleto de sons hostis, do ranger do navio e de criaturas exóticas agitadas a pular. Mais do que uma vez ele tinha acordado com uma cobra brilhante a tentar embarcar no barco e o homem com quem navegava a pontapeá-la com a sua bota.

Mais misterioso que tudo, mais misterioso do que qualquer exótica vida marinha, era Sovos, o homem ao leme do navio. Este homem que tinha procurado Alec fora na forja, que o havia trazido para este navio, que estava a levá-lo para algum lugar remoto. Alec não sabia se havia de ser louco e confiar naquele homem. Até agora, pelo menos, Sovos já o tinha salvado. Alec recordava-se, olhando de volta para a cidade de Ur quando estavam longe no mar, sentindo-se angustiado, sentindo-se impotente, ao testemunhar a frota Pandesiana a aproximar-se. Do horizonte, ele tinha visto as balas de canhão a romperem pelo ar, tinha ouvido o barulho distante, tinha visto a derrocada dos grandes edifícios, edifícios estes onde ele próprio tinha estado apenas algumas horas antes. Ele havia tentado sair do navio, para ajudá-los a todos, mas nesse momento, eles já estavam demasiado longe. Insistiu para que Sovos voltasse para trás, mas os seus apelos caíram em ouvidos de mercador.

Os olhos de Alec encheram-se de lágrimas ao pensar em todos os seus amigos que lá tinham ficado, especialmente Marco e Dierdre. Fechou os olhos e tentou, sem sucesso, afastar esse pensamento. O seu peito apertou-se ao sentir que os tinha desapontado.

A única coisa que fazia Alec continuar, que o abanava do seu desânimo, era sentir que ele era necessário noutros lugares, como Sovos tinha insistido; que ele tinha um destino certo, que ele poderia usá-lo para ajudar a destruir os Pandesianos noutro lugar. Afinal, como Sovos havia dito, ter morrido lá atrás com o resto deles não teria ajudado ninguém. Ainda assim, ele esperava e orava para que Marco e Dierdre tivessem sobrevivido e que ele ainda pudesse voltar a tempo para se reunir com eles.

Muito curioso para saber para onde se dirigiam, Alec tinha inundado Sovos com perguntas, mas este tinha permanecido teimosamente em silêncio, sempre no leme noite e dia, de costas para Alec. Ele nem sequer, tanto quanto Alec sabia, havia dormido ou comido. Apenas ficava ali a olhar o mar com as suas botas de couro altas e casaco de couro preto, com as suas sedas escarlates drapeadas sobre o seu ombro, vestindo uma capa com a sua curiosa insígnia. Com a sua curta barba castanha e olhos verdes brilhantes, que olhavam para as ondas como se fossem só um, o mistério em torno dele aprofundava-se.

Alec olhava admirado para o fora do comum Mar das Lágrimas, com a sua cor de água clara, sentindo-se tomado por uma urgência em saber para onde estava a ser levado. Incapaz de suportar o silêncio por mais tempo, ele virou-se para Sovos, desesperado por respostas.

"Porquê eu?", perguntou Alec, quebrando o silêncio, tentando mais uma vez e desta vez determinado a obter uma resposta. "Porquê escolher-me de entre toda aquela cidade? Porque é que eu era o único destinado a sobreviver? Poderias ter salvado uma centena de pessoas mais importantes do que eu."

Alec esperou, mas Sovos permaneceu em silêncio, de costas para ele, estudando o mar.

Alec decidiu ir por outro caminho.

"Para onde é que estamos a ir?", perguntou, ainda assim, mais uma vez. "E como é que este navio é capaz de navegar tão rápido? Do que é que é feito?"

Alec observava as costas do homem. Passaram-se minutos.

Finalmente, o homem abanou a cabeça, ainda de costas.

"Estás a ir para onde estás destinado a ir, para onde estás destinado a estar. Eu escolhi-te a ti porque nós precisamos de ti e de mais nenhum."

Alec indagava-se.

"Precisam de mim para quê?", pressionou Alec.

"Para destruir a Pandesia."

"Porquê eu?", perguntou Alec. "Como é que posso eventualmente ajudar?"

"Tudo ficará claro quando chegarmos", respondeu Sovos.

"Chegarmos onde?", pressionou Alec, frustrado. "Os meus amigos estão em Escalon. As pessoas que eu amo. Uma miúda."

"Eu sinto muito", suspirou Sovos, "mas ninguém é deixado lá trás. Tudo o que tu em tempos conheceste e amaste foi-se."

Seguiu-se um longo silêncio e, no meio do assobio do vento, Alec rezou para que ele estivesse errado – apesar de, no fundo, ele sentir que ele estava certo. Como é que a vida podia mudar tão rapidamente?, questionava-se.

"No entanto, estás vivo", continuou Sovos, "e isso é um presente muito precioso. Não o desperdices. Podes ajudar muitos outros, se passares no teste. "

Alec franziu a testa.

"Que teste?", perguntou.

Sovos finalmente virou-se e olhou para ele com um olhar penetrante.

"Se fores o tal", disse ele, "a nossa causa vai cair nos teus ombros; se não fores, não teremos nenhuma função para ti".

Alec tentou entender.

"Estamos a navegar há dias e ainda não chegámos a lado nenhum", Alec observou. "Cada vez mais em alto mar. Eu já nem consigo ver Escalon."

O homem sorriu.

"E onde achas que estamos a ir?", perguntou.

Alec encolheu os ombros.

"Parece que navegamos para nordeste. Talvez algures na direção de Marda."

Alec estudou o horizonte, exasperado.

Finalmente, Sovos respondeu.

"Como estás errado, meu jovem", respondeu ele. "Completamente errado, na verdade."

Sovos voltou-se para o elmo e uma forte rajada de vento levantou-se. O barco encaminhou-se para os carneirinhos do oceano. Alec olhar para além dele e, ao faze-lo, pela primeira vez, ele ficou surpreendido ao vislumbrar algo no horizonte.

Ele correu para a frente, cheio de emoção e agarrou a amurada.

Ao longe, surgia lentamente uma massa de terra, que apenas começava a tomar forma. A terra parecia brilhar, como se fosse feita de diamantes. Alec levantou a mão para os olhos, espreitando, imaginando o que poderia ser. Que ilha poderia existir ali no meio do nada? Ele deu voltas à sua cabeça, não se conseguindo lembrar de nenhuma terra nos mapas. Seria algum país do qual ele nunca tinha ouvido falar?

"O que é?", perguntou Alec apressadamente, olhando fixamente para lá, em antecipação.

Sovos virou-se e, pela primeira vez desde que Alec o conhecera, ele sorriu largamente.

"Bem-vindo, meu amigo", disse ele, "às Ilhas Perdidas."

CAPÍTULO SETE

Aidan ficou confinado a um poste, incapaz de se mover, enquanto observava o seu pai, ajoelhando-se a alguns passos diante dele, ladeado por soldados Pandesianos. Ali estavam, de espadas levantadas, segurando-as por cima da sua cabeça.

"NÃO!", gritou Aidan.

Ele tentou libertar-se, para avançar e poupar o seu pai. No entanto, independentemente de quanto tentasse, ele não se conseguia mover, com as cordas a afundarem-se nos seus pulsos e tornozelos. Ele foi forçado a assistir quando o seu pai se ajoelhou ali, com os olhos cheios de lágrimas, a olhar para ele a pedir ajuda.

"Aidan!", gritou o seu pai, estendendo-lhe a mão.

"Pai!", gritou-lhe Aidan também.

As lâminas desceram e, um momento depois, o rosto de Aidan ficou salpicado de sangue quando eles cortaram a cabeça do seu pai.

"NÃO!", gritou Aidan, sentindo a sua própria vida a desmoronar-se dentro dele, sentindo-se a afundar dentro de um buraco negro.

Aidan despertou com um sobressalto, ofegante, coberto de um suor frio. Ele sentou-se na escuridão, lutando para perceber onde estava.

"Pai!", gritou Aidan, ainda meio a dormir, à procura dele, ainda sentindo a urgência de salvá-lo.

Ele olhou ao redor, sentiu algo no seu rosto e cabelo, por todo o corpo e percebeu que era difícil respirar. Estendeu a mão, puxou algo leve e longo da sua cara e percebeu que estava deitado num monte de feno, quase enterrado nele. Rapidamente sacudiu tudo enquanto se sentava.

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