Para Todo o Sempre - Софи Лав 2 стр.


Emily balançou a cabeça. “Preciso estar aqui quando o Sr. Kapowski voltar”.

“Ele não precisa de babá”.

Emily mordeu o lábio. Estava nervosa em relação ao seu primeiro hóspede e desesperada para fazer um bom trabalho. Se não pudesse fazer isto funcionar, teria que voltar a Nova York com o rabo entre as pernas, provavelmente para dormir no sofá de Amy, ou, pior, no quarto sobressalente de sua mãe.

“Mas e se ele precisar de alguma coisa. Mais travesseiros? Ou...”

“... de mais bananas?” Daniel interrompeu, com um sorriso.

Emily suspirou, derrotada. Daniel tinha razão. O Sr. Kapowski não esperava que ela o estivesse aguardando como uma escrava. Provavelmente preferia que não interferisse muito. Afinal, estava de férias. A maioria das pessoas quer um pouco de paz e tranquilidade.

“Vamos”, Daniel insistiu. “Vai ser divertido”.

“Certo”, Emily disse, cedendo. “Eu vou”.

*

Para todo lado que Emily se voltasse, via bandeiras americanas. Sua visão se tornou um caleidoscópio de estrelas e listras de perder o fôlego. Havia bandeiras penduradas na janela de todas as lojas, e fileiras de bandeirolas indo de poste em poste. Havia até algumas presas atrás dos bancos. E isso não era nada comparado ao número de bandeiras nas mãos dos transeuntes. Todo mundo que caminhava pela calçada parecia ter uma.

“Papai”, Emily disse, levantando os olhos para seu pai. “Posso ter uma bandeira também?”

O homem alto sorriu para ela. “É claro que pode, Emily Jane”.

“E eu, e eu!” uma vozinha apareceu.

Emily se virou para ver a irmã, Charlotte, com um lenço roxo enrolado no pescoço, que contrastava com suas botas de joaninha. Ela era muito pequena ainda, e quase não conseguia manter o equilíbrio ao caminhar.

Seguiram seu pai, ambas segurando forte uma de suas mãos, para atravessar a rua e entrar numa lojinha que vendia pickles caseiros e conservas em potes.

“Ora, olá, Roy”. A senhora atrás do balcão falou. Então, ela sorriu para as duas meninas. “Vieram passar o feriado?”

“Nenhum lugar do mundo comemora o Memorial Day como Sunset Harbor”, seu pai replicou, com sua simpatia natural. “Duas bandeiras para as meninas, por favor, Karen”.

A mulher pegou algumas bandeiras atrás do balcão. Por que não três?” ela disse. “Não esqueça de você!”

“Por que não quatro?” Emily disse. “Não deveríamos esquecer a mamãe também”.

Roy travou os dentes, e Emily soube na hora que havia dito algo errado. A mamãe não queria uma bandeira. A mamãe nem tinha vindo com eles para a viagem de fim de semana até Sunset Harbor. Eram apenas os três. Novamente. Parecia ser apenas os três mais e mais frequentemente nos últimos tempos.

“Duas bastam”, seu pai respondeu, um pouco tenso. “É só para as crianças mesmo”.

A mulher atrás do balcão deu uma bandeira para cada menina, sua simpatia substituída por um certo constrangimento ao perceber que, acidentalmente, havia ultrapassado alguma linha invisível, tácita.

Emily observou seu pai pagar a mulher e agradecê-la, percebendo como seu sorriso estava forçado agora, como sua postura estava mais rígida. Ela queria não ter falado nada sobre a mamãe. Olhou para a bandeira em sua mão enluvada, subitamente menos inclinada a celebrar.

Emily engoliu em seco, voltando ao presente, na rua principal de Sunset Harbor com Daniel. Ela balançou a cabeça, afastando as lembranças rodopiantes. Essa não era a primeira vez em que vivenciava uma súbita volta de uma lembrança perdida, um flashback, mas a experiência ainda mexia profundamente com ela.

“Você está bem?” Daniel disse, tocando de leve seu braço, com a expressão preocupada.

“Sim”, Emily replicou, mas sua voz parecia surpresa. Tentou sorrir, mas conseguiu apenas levantar um pouco os cantos da boca. Não havia contado a Daniel sobre como suas lembranças de infância estavam voltando em fragmentos; não queria assustá-lo.

Determinada a não permitir que lembranças intrusivas arruinassem seu dia, Emily mergulhou na festa. Muitos anos haviam se passado desde a última vez em que esteve aqui, mas ela ainda ficava impressionada com o espetáculo. Era maravilhoso ver como a pequena cidade adorava celebrar. Uma das coisas que mais lhe encantava em Sunset Harbor eram suas tradições. Tinha a impressão de que o Memorial Day iria se tornar outro feriado favorito.

“Oi, Emily!” Raj Patel gritou do outro lado da rua. Ele estava caminhando com a esposa, a Drª Sunita Patel, duas pessoas que Emily agora considerava amigas.

Emily acenou para eles e então disse a Daniel, “Ah, veja. Lá estão Birk e Bertha. E ali está a bebê Katy no carrinho, com Jason e Vanessa?” Ela apontou para o dono do posto de gasolina e sua esposa, portadora de necessidades especiais. Ao lado deles, estava o filho, o bombeiro que havia salvado a cozinha de Emily das chamas. Ele e sua mulher recentemente tiveram sua primeira filha, uma menina chamada Katy, e levaram um do filhotinhos de Emily como presente para ela. “Vamos lá falar com eles”, Emily disse.

“Daqui a pouco”, Daniel disse, tocando nela com o ombro. “O desfile está vindo”.

Emily olhou para o início da rua, enquanto a banda marcial da escola local se alinhava, pronta para começar o desfile. O tambor começou a bater e foi rapidamente seguido pelo som dos instrumentos de sopro, tocando “When the Saints Go Marching In”. Emily observava, extasiada, a banda passar. Atrás dela, havia animadoras de torcida em roupas vermelhas, brancas e azuis combinando. Elas davam saltos no ar e chutes bem altos enquanto caminhavam.

Em seguida, veio uma tropa de crianças do jardim da infância com os rostos pintados, bochechudas e angelicais. Emily sentiu um leve aperto no peito ao observá-los. Ter filhos nunca havia sido uma prioridade para ela – não tinha pressa em se tornar mãe, considerando quão abismal seu relacionamento com sua própria mãe era – mas, agora, vendo as crianças no desfile, Emily percebeu que algo havia mudado dentro de si. Havia um novo desejo lá, um pequeno anseio tomando forma. Olhou para Daniel e se perguntou se era algo que ele também sentia, se a visão daqueles pequenos adoráveis o fazia sentir do mesmo modo. Como sempre, sua expressão era impossível de ler.

O desfile continuava. Em seguida, veio um grupo de mulheres que pareciam duronas, da equipe de roller derby local, pulando e correndo com seus patins, seguidas por dois pernas-de-pau e um grande carro alegórico carregando uma réplica em papel-mâché da estátua de Abraham Lincoln.

“Emily, Daniel”, disse uma voz atrás deles. Era o prefeito Hansen, acompanhadao por sua assessora, Marcella, que parecia bastante aborrecida. “Estão gostando da nossa festa?” Perguntou o prefeito. “Pelo que me lembro, não é a primeira vez que participam, mas talvez seja a primeira vez da qual se lembrarão”.

Ele sorriu inocentemente, mas Emily estremeceu. Mas tentou agir de maneira calma e alegre.

“Tem razão. Infelizmente, não me lembro de vir aqui quando cirança, mas certamente estou gostando agora. E quanto a você, Marcella?” acrescentou, tentando desviar a atenção de si mesma. “É a primeira vez que participa?”

Marcella assentiu uma única vez, de maneira final e eficiente, e então voltou os olhos para sua prancheta.

“Não ligue para ela”. O prefeito Hansen disse, rindo. “É viciada em trabalho”.

Marcella levantou os olhos apenas por um breve instante, mas longo o bastante para Emily ler a frustração em seu olhar. Claramente, sentia-se frustrada com a atitude relaxada do prefeito. Emily sentia empatia por Marcella. Era exatamente assim há meros seis meses; séria demais, estressada demais, movida por pouco mais do que cafeína e pelo medo de fracassar. Olhar para Marcella era como segurar um espelho em frente ao seu eu mais jovem. A única esperança de Emily para ela era que aprendesse a relaxar, que Sunset Harbor lhe ajudasse a curar, ainda que apenas um pouco, a fonte de suas feridas internas.

“Enfim”, o prefeito Hansen disse, “de volta ao trabalho. Tenho algumas medalhas a conceder, não é, Marcella? A cerimônia de premiação da corrida do ovo na colher, ou algo assim”.

“A Olimpíada para Menores de Cinco Anos”, Marcella disse, com um suspiro.

“Essa mesmo”, o prefeito Hanson replicou, e os dois desapareceram na multidão.

Daniel sorriu. “É impossível não se apaixonar por esta cidade maluca”, ele disse, passando o braço ao redor de Emily.

Ela se aconchegou nele, sentindo-se segura e protegida. Juntos, assistiram a uma fila de Conga passar, acenando para seus amigos que dançavam: Cynthia, da livraria, com seu cabelo laranja vivo e roupas berrantes, Charles e Barbara Bradshaw, da peixaria, e Parker, do hortifruti orgânico.

Foi então que Emily identificou alguém no meio da multidão que fez seu sangue gelar. Vestido com calças de golfe xadrez e com um suéter verde lima que mal cobria sua barriga saliente, estava Trevor Mann.

“Não olhe agora”, ela murmurou, agarrando a mão de Daniel em busca de apoio. “Mas o Sr. Vizinho Sarcástico chegou na festa”.

Daniel, é claro, olhou imediatamente. Como se tivesse algum tipo de sexto sentido, Trevor notou no ato. Então, olhou para ambos, seus olhos escuros instantaneamente brilhando de malícia.

Emily sorriu. “Eu lhe disse para não olhar!” ela repreendeu Daniel enquanto Trevor caminhava até eles.

“Sabe, existe uma lei não-escrita”, Daniel sussurrou de volta, “que diz que se você diz 'não olhe agora' para alguém, a pessoa vai olhar”.

Era tarde demais para escapar. Trevor Mann já havia chegado até eles, emergindo da multidão como uma terrível besta bigoduda.

“Ah, não”, Emily disse, gemendo.

“Emily”, Trevor disse, com uma voz de falsete, “vocês não se esqueceram daqueles impostos atrasados que devem pela casa, não? Porque eu, certamente, não esqueci”.

“O prefeito prorrogou o prazo”, Emily replicou. “Você estava na reunião, Trevor, fico surpresa por não ter ouvido”.

“Não ligo para o que o prefeito disse, não depende dele. Depende do banco. E entrei em contato com eles para contar sobre sua ocupação ilegal da casa e do negócio ilegal que está operando nela agora”.

“Você é um idiota”, Daniel disse, endireitando os ombros para proteger Emily.

“Deixe para lá”, ela disse, descansando a mão no seu braço. A última coisa de que precisava agora era que Daniel perdesse a cabeça.

Trevor sorriu. “A prorrogação do prefeito Hansen não vai durar para sempre e com certeza não se sustenta legalmente. E farei tudo em meu poder para garantir que sua pousada afunde e nunca mais volte à superfície”.

CAPÍTULO TRÊS

Emily observou Trevor se afastar em meio à turba de gente.

Assim que sumiu de vista, Daniel se voltou para Emily, com uma expressão preocupada. “Você está bem?”

Emily não aguentou. Afundou em seu peito largo, pressionando o rosto na camiseta dele. “O que vou fazer?” falou, angustiada. “Os impostos vão arruinar minha pousada antes mesmo de começar”.

“De jeito nenhum”, Daniel disse. “Não vou deixar isso acontecer. Trevor Mann nunca demonstrou nenhum interesse em sua propriedade até você aparecer e transformar a casa em algo desejável. Ele está apenas com inveja do quanto sua casa está melhor que a dele”.

Emily tentou rir com a piada, mas só conseguiu dar um riso fraco. A ideia de deixar Daniel e voltar para Nova York como um fracasso pesava muito em sua mente.

“Mas ele está certo”, Emily disse. “Esta pousada nunca vai dar certo”.

“Não fale assim”, Daniel disse. “Vai ficar tudo bem. Eu acredito em você”.

“Acredita?” Emily disse. “Porque eu mesma quase não acredito em mim”.

“Bem, talvez agora seja a hora de começar”.

Emily olhou nos olhos de Daniel. Sua expressão sincera a fez sentir como se realmente pudesse fazer isso.

“Ei”, Daniel disse, seus olhos subitamente brilhando, como os de uma criança levada. “Quero lhe mostrar algo”.

Daniel não parecia desencorajado pela tristeza dela. Pegou sua mão e a puxou pela multidão, indo na direção da marina. Juntos, foram até as docas.

“Tcha-ran!” exclamou, apontando para o barco lindamente restaurado balançando na água.

A última vez que Emily havia visto o barco, quase não estava em condições de navegar. Agora, brilhava como novo.

“Não posso acreditar”, murmurou. “Você consertou?”

Daniel assentiu. “Sim. Custou muito suor e trabalho”.

“Imagino”, Emily disse.

Ela lembrou como Daniel havia lhe dito que encontrara algum tipo de barreira mental quanto à restauração do barco, que não sabia por que, mas não conseguia trabalhar nele.Vê-lo como novo agora deixava Emily muito orgulhosa, não apenas porque estava muito bem restaurado, mas também por Daniel ter conseguido lidar com as questões internas que o estavam impedindo. Sorriu para ele, sentindo um raio de felicidade iluminá-la por dentro.

Mas, ao mesmo tempo, também se sentia triste, porque ali estava mais um meio de transporte que poderia levá-lo para longe dela. De seus longos passeios de moto pelo alto dos penhascos, até suas voltas pelas cidades vizinhas dirigindo a caminhonete, Daniel estava sempre em movimento. Que ele queria ver e explorar o mundo era evidente para ela, não restavam dúvidas. Sabia que, cedo ou tarde, Daniel precisaria deixar Sunset Harbor. Se ela partiria com ele quando chegasse a hora era algo que Emily ainda não tinha decidido.

Daniel tocou-a de leve. “Preciso lhe agradecer”.

“Pelo quê?” Emily disse.

“Pelo motor”.

Emily havia comprado o novo motor, como agradecimento por toda a ajuda que havia lhe dado para deixar a pousada pronta, assim como numa tentativa de encorajá-lo a restaurar o barco.

“Sem problema”, Emily disse, perguntando-se agora se o presente havia sido como um tiro pela culatra para ela. Se, ao restaurar o barco, teria sido dada a partida para o desejo de Daniel ir embora.

“Então”, Daniel disse, apontando para o barco, “como agradecimento, acho que deveria me acompanhar em sua primeira viagem”.

“Ah!” Emily disse, atônita com a proposta. “Quer passear de barco? Agora?” Ela não quis parecer tão chocada.

“A não ser que você não queira”, Daniel disse, coçando o queixo, um pouco sem graça. “Achei que podíamos ter um encontro”.

“Sim, claro”, Emily disse.

Daniel saltou para dentro do barco e estendeu-lhe a mão. Emily a pegou e se deixou guiar até embaixo. A embarcação balançou sob eles, oscilante.

Daniel ligou o motor e o barco partiu do porto. Eles cruzaram o oceano cintilante sob o sol. Emily respirou profundamente o ar marinho, observando Daniel manejar o barco pela água. Ele estava tão à vontade dirigindo o barco, assim como sua moto parecia se tornar uma extensão do seu corpo. Daniel era o tipo de homem que parecia adequado ao movimento perpétuo, e enquanto olhava para ele agora, Emily via como ficava feliz e cheio de vida ao partir em busca de aventura.

O pensamento a deixou ainda mais melancólica. O desejo de Daniel de explorar o mundo era mais que apenas um sonho; era uma necessidade. Não havia como ele permanecer em Sunset Harbor por mais tempo. Ela também ainda não tinha decidido por quanto tempo ficaria. Talvez, o relacionamento deles estivesse condenado. Talvez, fosse sempre algo fugaz, um momento perfeito, parado no tempo. A ideia fez o estômago de Emily revirar de desespero.

“O que foi?” Daniel perguntou. “Não está enjoada, está?”

“Talvez, um pouco”, Emily mentiu.

“Calma, estamos quase lá”, acrescentou, apontando para a frente.

Emily levantou os olhos e viu que estavam indo na direção de uma ilha minúscula na qual havia pouco mais que algumas árvores e um farol abandonado. Emily se endireitou, subitamente surpresa.

“AI, MEU DEUS!”, gritou.

“O que foi?” Daniel perguntou, em pânico.

“Meu pai tem um quadro desta ilha em nossa casa em Nova York!”

“Tem certeza?”

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