Agora e Para Sempre - Софи Лав 4 стр.


A rispidez de Emily deu lugar ao constrangimento. Ela corou.

“Você não conseguiu fazer a caldeira funcionar, não foi?” Daniel replicou. Havia um sorriso irônico em seus lábios que fez Emily perceber que ele estava se divertindo um pouco com a sua situação.

“Eu só não tive a chance ainda”, ela replicou, arrogante, tentando manter as aparências.

“Quer que eu mostre como?” ele perguntou, quase preguiçosamente, como se fazer isso não fosse problema algum.

“Faria isso?” Emily perguntou, um pouco chocada e confusa por ele oferecer ajuda.

Ele deu mais um passo e pisou sobre o capacho. Flocos de neve esvoaçaram de sua jaqueta, criando uma mini nevasca no hall de entrada.

“Prefiro fazer isso eu mesmo ao invés de ver você quebrar algo”, ele falou, à guisa de explicação, enquanto dava de ombros, mostrando indiferença.

Emily notou que a neve caindo do lado de fora havia se transformado numa nevasca. Mesmo que não quisesse admitir, ela estava imensamente grata por Daniel ter aparecido naquele momento. Se não, provavelmente congelaria até morrer durante a noite.

Ela fechou a porta e os dois caminharam pelo corredor até a porta que levava até o porão. Daniel veio preparado. Ele puxou uma lanterna, iluminando um caminho pela escada, indo para baixo. Emily o seguiu, um pouco assustada pela escuridão e teias de aranha enquanto descia para dentro da escuridão. Quando era criança, ela morria de medo do porão e raramente se aventurava lá embaixo. O lugar era estava tomado pelo maquinário antigo e equipamentos que mantinham a casa funcionando. A visão de tudo aquilo lhe oprimiu, e ela se perguntou mais uma vez se vir até aqui havia sido um erro.

Felizmente, Daniel deu partida na caldeira em questão de segundos, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Emily não pôde evitar se sentir um pouco sem graça pelo fato de precisar da ajuda de um homem, quando havia vindo até aqui, em primeiro lugar, para reconquistar sua independência. Ela percebeu então que, apesar da sensualidade rústica de Daniel e de sua inegável atração por ele, era preciso que ele fosse embora imediatamente. Ela não poderia embarcar numa jornada de auto-conhecimento com ele na casa. Tê-lo por perto no terreno já era ruim o suficiente.

Após terminar de ligar a caldeira, eles saíram do porão. Emily estava aliviada por estar fora daquele lugar úmido e mofado e voltar para a parte principal da casa. Ela seguiu Daniel enquanto ele descia pelo corredor e entrava na área de serviço, na parte de trás da cozinha. Imediatamente, começou a drenar os canos.

“Você está preparada para manter a casa aquecida durante todo o inverno todo?” ele perguntou a ela, enquanto mexia nos canos embaixo da bancada. “Porque, caso contrário, eles congelarão”.

“Só vou ficar durante o final de semana”, Emily replicou.

Daniel saiu de baixo do balcão e se sentou, seu cabelo despenteado e molhado, colado ao rosto. “Você não devia mexer numa casa velha como esta”, ele disse, balançando a cabeça.

Mas ainda assim, ele conseguiu resolver o problema da água.

“Então, onde está o aquecimento?” Emily perguntou, ao perceber que ele havia terminado. Ainda estava muito frio, apesar da caldeira estar ligada e dos canos estarem desobstruídos. Ela esfregou seus braços, tentando estimular a circulação.

Daniel riu, limpando suas mãos sujas numa toalha. “Não começa a funcionar milagrosamente, sabe? Você precisa ligar para a entrega de óleo. Tudo o que pude fazer foi dar a partida no negócio”.

Emily suspirou, frustrada. Então, Daniel não era bem o Cavaleiro num Cavalo Branco que ela pensou que era.

“Tome”, Daniel disse, dando a ela um cartão. “É o número de Eric. Ele fará a entrega”.

“Obrigada”, ela murmurou. “Mas parece que não tenho sinal aqui”.

Ela pensou no seu celular, nas barras vazias e se lembrou de quão completamente sozinha ela realmente estava.

“Há um orelhão no início da rua”, Daniel disse. “Mas eu não arriscaria ir lá no meio de uma nevasca. E, de toda forma, eles estão fechados agora”.

“É claro”, Emily balbuciou, sentindo-se frustrada e completamente perdida.

Daniel deve ter notado que Emily estava desanimada e abatida. “Posso acender a lareira para você”, ele ofereceu, apontando a sala de estar com a cabeça. Suas sobrancelhas se levantaram com a expectativa, quase timidamente, fazendo-o parecer um garoto.

Emily queria protestar, dizer a ele para deixá-la sozinha na casa gelada, porque era o mínimo que ela merecia, mas algo a fez hesitar. Talvez fosse porque ter Daniel na casa a fizesse sentir menos solitária, menos isolada da civilização. Ela achava que não conseguiria sinal de celular, nem poderia falar com Amy, e enfrentar sua primeira noite sozinha na casa fria e escura era desanimadora.

Daniel deve ter entendido sua hesitação, porque ele saiu do cômodo antes que ela tivesse a chance de abrir a boca e dizer alguma coisa.

Ela o seguiu, silenciosamente grata por ele pode ler a solidão em seus olhos e ter se oferecido para ficar, mesmo sob o pretexto de acender a lareira. Ela encontrou Daniel na sala de estar, ocupado em criar uma boa pilha de lenha, carvão e toras dentro da lareira. Imediatamente, ela foi tomada pela lembrança de seu pai, agachado, habilmente acendendo o fogo, dedicando tanto cuidado e tempo quanto um artista faria com sua grande obra de arte. Emily o havia observado acender o fogo milhares de vezes, e sempre adorou. Ela achava fogueiras hipnóticas e passava horas deitada no tapete diante do fogo, observando as chamas alaranjadas e vermelhas dançando, ficando lá por tanto tempo que o calor chegava a fazer seu rosto arder.

A emoção começou a subir pela garganta de Emily, ameaçando sufocá-la. Pensar em seu pai, ver a lembrança tão clara em sua mente, fez lágrimas há muito reprimidas encherem seus olhos. Ela não queria chorar na frente de Daniel, não queria parecer uma donzela patética, desesperada. Então, abafou as emoções dentro de si e caminhou com determinação até a sala.

“Na verdade, eu sei como acender a lareira”, ela disse a Daniel.

“Ah, você sabe?” Daniel replicou, olhando para ela com uma sobrancelha levantada. “Fique à vontade”. Ele lhe estendeu os fósforos.

Emily pegou-os rapidamente das mãos de Daniel e ligou um deles, a luz da pequena flama laranja tremulando em seus dedos. A verdade era que ela havia apenas observado seu pai acender a lareira; ela mesma nunca tinha realmente acendido uma, na realidade. Mas Emily podia ver tão vividamente em sua memória como fazer isso que se sentiu confiante em sua própria habilidade. Então, ajoelhou-se e tocou fogo nos gravetos que Daniel havia colocado no fundo da lareira. Em questão de segundos, o fogo subiu, fazendo um som alto e ao mesmo tempo abafado, mais familiar, reconfortante e nostálgico para ela que qualquer outra coisa presente na grande casa. Ela se sentiu muito orgulhosa de si mesma quando as chamas começaram a crescer. Mas ao invés de subir para a chaminé, a fumaça negra começou a fazer redemoinhos dentro da sala.

“MERDA!” Emily gritou enquanto nuvens de fumaça se elevavam ao seu redor.

Daniel começou a rir. “Pensei que você tinha dito que sabia como acender uma lareira”, ele disse, abrindo o cano do exaustor. A nuvem de fumaça foi imediatamente sugada para cima, pela chaminé. “Ta-dá!”, ele acrescentou, com um sorriso.

Quando a fumaça ao redor deles diminuiu, Emily lhe deu um olhar de desagrado, orgulhosa demais para agradecê-lo pela ajuda de que ela tão evidentemente precisava. Mas sentiu alívio por finalmente estar aquecida. Ela sentiu sua circulação voltar à ativa, e o calor retornou ao seu nariz e aos dedos de seus pés. Seus dedos rígidos se tornaram mais flexíveis.

À luz da lareira, a sala de estar estava banhada por uma luminosidade suave, alaranjada. Emily finalmente podia ver toda a mobília antiga com a qual seu pai havia enchido a casa. Ela olhou ao seu redor, notando os móveis velhos, abandonados. A estante de livros alta em um canto, que já esteve cheia dos livros que ela lia em seus intermináveis dias de verão, agora só exibia poucos volumes. E havia o antigo piano de cauda perto da janela. Sem dúvida, estava desafinado agora, mas houve um tempo em que seu pai tocava música para ela e ela o acompanhava, cantando. Seu pai tinha tanto orgulho da casa, e vê-la agora, na luz que revelava seu estado descuidado, a aborrecia.

Os dois sofás estavam cobertos com lençóis brancos. Emily pensou em removê-los, mas sabia que iria formar uma nuvem de poeira. Depois da nuvem de fumaça, ela não estava certa se seus pulmões poderiam suportar isso. E, de toda forma, Daniel parecia muito confortável sentado no chão perto da lareira. Assim, ela simplesmente se sentou ao lado dele.

“Então”, Daniel falou, aquecendo as mãos perto do fogo. “Conseguimos algum calor para você, pelo menos. Mas não há eletricidade na casa e acho que você não pensou em pôr uma lanterna ou vela naquela mala”.

Emily balançou a cabeça. Sua mala estava cheia de coisas frívolas, não tinha nada de útil, nada de que ela realmente precisaria para se virar na casa.

“Papai costumava ter sempre velas e fósforos”, ela disse. “Ele estava sempre preparado. Eu acho que esperei que ainda houvesse um armário inteiro cheio dessas coisas, mas, após vinte anos…”

Ela se calou, subitamente ciente de ter articulado uma lembrança de seu pai em voz alta. Não era algo que fazia frequentemente; em geral, mantinha seus sentimentos sobre ele bem escondidos dentro de si. A facilidade com a qual ela havia falado a chocou.

“Podemos apenas ficar aqui, então”, Daniel disse de maneira gentil, como se percebesse que Emily estava revivendo alguma lembrança dolorosa. “Com o fogo, há luz bastante para enxergar. Quer um pouco de chá?”

Emily franziu o cenho. “Chá? Como exatamente você vai preparar, sem eletricidade?”

Daniel sorriu, como se aceitando algum tipo de desafio. “Observe e aprenda”.

Ele se levantou e desapareceu da grande sala de estar, voltando alguns minutos depois com uma pequena panela redonda que parecia um caldeirão.

“O que você tem aí?” Emily perguntou, curiosa.

“Ah, você está prestes a beber o melhor chá de sua vida”, ele disse, colocando o caldeirão sobre as chamas. “Você nunca bebeu chá de verdade até provar o chá que é fervido no fogo”.

Emily o observava, a maneira como a luz do fogo dançava em seus traços fisionômicos, acentuando-os de uma maneira que o tornava ainda mais bonito. A forma como ele estava tão focado em sua tarefa aumentava a atração que ela sentiu. Emily não podia deixar de se maravilhar com seu senso prático, sua desenvoltura.

“Tome”, ele disse, dando a ela uma xícara e tirando-a de seus devaneios. Ele observou cheio de expectativa enquanto ela dava o primeiro gole.

“Ah, está bom mesmo”, Emily disse, aliviada, pelo menos, por estar banindo o frio de seus ossos.

Daniel começou a rir.

“O que foi?” Emily o desafiou.

“Ainda não havia visto você sorrir, é só isso”, ele respondeu.

Emily desviou o olhar, sentindo-se subitamente tímida. Daniel era tão diferente de Ben quanto um homem podia ser, e ainda assim sua atração por ele era poderosa. Talvez, em outro local, outra época, ela cedesse ao seu desejo. Ela não esteve com mais ninguém a não ser Ben por sete anos, afinal, e merecia um pouco de atenção, de aventura.

Mas agora não era o momento certo. Não com tudo o que estava acontecendo, com sua vida num completo caos, e com as lembranças de seu pai rodopiando em sua cabeça. Ela sentia que, para qualquer lugar para onde olhava, podia ver as sombras dele; sentado no sofá com uma Emily criança abraçada ao seu lado, lendo em voz alta para ela; irrompendo pela porta sorrindo de orelha a orelha após descobrir alguma antiguidade preciosa no mercado de pulgas, e então passando horas cuidadosamente limpando-a, restaurando-a para recuperar seu antigo esplendor. Onde estavam todas as antiguidades agora? Todas as estatuetas e obras de arte, a louça comemorativa e os talheres da época da Guerra Civil? A casa não havia permanecido parada, congelada no tempo, como na memória dela. O tempo afetou a propriedade de uma maneira que ela não tinha sequer considerado.

Mais uma onda de pesar quebrou em cima de Emily quando ela olhou ao redor pela sala empoeirada, desarrumada, que já esteve cheia de vida e de risadas.

“Como este lugar ficou neste estado?” ela subitamente falou, incapaz de evitar o tom acusatório em sua voz. Ela franziu a testa. “Quero dizer, você deveria estar tomando conta dela, não devia?”

Daniel estremeceu, como que pego de surpresa pela súbita agressividade dela. Há apenas alguns instantes, eles tiveram um momento terno, doce. Segundos depois, ela estava lhe colocando numa posição difícil. Daniel olhou para ela com frieza. “Faço meu melhor. É uma casa grande. Sou só um”.

“Desculpe”, Emily disse, imediatamente voltando atrás, incomodada por ser a causa da expressão sombria de Daniel. “Não quis descontar em você. Só quero dizer...” Ela olhou para sua xícara e girou as folhas de chá. “Esta casa era como um lugar saído de um conto de fadas quando eu era criança. Era magnífica, sabe? Tão linda”. Ela levantou os olhos e viu que Daniel a observava atentamente. “É triste vê-la assim”.

“O que você esperava?” Daniel replicou. “Está abandonada há vinte anos”.

Emily desviou o olhar triste. “Eu sei. Acho que só queria imaginar que tinha estado parada no tempo”.

Parada no tempo, como a imagem que ela guardava do seu pai. Ele ainda tinha quarenta anos, nunca tendo envelhecido um dia sequer, parecendo idêntico à última vez em que esteve com ele. Mas seja lá onde ele estivesse, o tempo o afetou, assim como afetou a casa. A determinação de Emily de consertar a casa ao longo do final de semana cresceu ainda mais. Ela não queria mais nada a não ser restaurar o lugar, ainda que superficialmente, para que retornasse à sua antiga glória. Talvez, ao fazer isso, sentisse como trazer seu pai de volta para si. Ela poderia fazer isso em sua homenagem.

Emily bebeu o último gole de chá e pôs a xícara no chão. “Eu deveria ir me deitar”, ela disse. “Foi um dia longo”.

“É claro”, Daniel replicou, ficando de pé. Ele se movia rapidamente, quase dançando enquanto caminhava para fora da sala e pelo corredor em direção à porta da frente, deixando Emily para trás. “É só me chamar se tiver algum problema, certo?” ele acrescentou. “Estou na antiga garagem, ali atrás”.

“Não será necessário”, Emily disse, aborrecida. “Posso fazer tudo sozinha.”

Daniel abriu a porta da frente, deixando a neve gelada entrar em espirais dentro da casa. Ele se refugiou em sua jaqueta, e então olhou para trás sobre o ombro. “O orgulho não vai lhe levar muito longe neste lugar, Emily. Não há nada de errado em pedir ajuda”.

Ela quis gritar algo para ele, discutir, refutar sua afirmação de que ela era orgulhosa demais, mas ao invés apenas observou suas costas enquanto Daniel desaparecia no turbilhão de neve escura, incapaz de falar, sua língua completamente amarrada.

Emily fechou a porta, isolando-se do mundo externo e da fúria da nevasca. Agora, ela estava completamente sozinha. A luz da lareira acesa na sala de estar se espalhava pelo corredor, mas não era forte o bastante para alcançar as escadas. Ela olhou para a longa escada de madeira, como desaparecia na escuridão. A menos que estivesse preparada para dormir em um dos sofás empoeirados, teria que ter o sangue-frio de se aventurar no andar de cima e entrar na escuridão completa. Ela se sentiu como uma menina de novo, com medo de descer no porão escuro, inventando todos os tipos de monstros e demônios que estavam esperando-a lá embaixo para pegá-la. Só que agora ela era uma mulher adulta de 35 anos, assustada demais para subir as escadas, porque ela sabia que a visão do abandono era pior que qualquer monstro que sua mente pudesse criar.

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