Para Sempre, com Você - Софи Лав 2 стр.


Emily não tinha certeza de como agir. Hesitante, pegou a outra mão da garotinha e ficou feliz e aliviada ao ver que Chantelle não se afastou ou puxou a mão. Ao invés, afrouxou um pouco o aperto no braço do pai.

De mãos dadas, os três subiram os degraus do terraço até a porta da frente e Emily abriu para que entrassem.

Chantelle ficou parada no batente, como se não soubesse se pertencia a um lugar assim. Olhou para Daniel, em busca de encorajamento. Ele sorriu e assentiu. Hesitante, a menina entrou na casa e Emily sentiu o coração balançar com a emoção. Lutou para não chorar.

Imediatamente, Emily teve a sensação de que Chantelle estava impressionada pela casa. Olhou ao redor, para a grande e larga escadaria com seu balaústre polido e carpete creme, para a luminária e a mesa da recepção, uma antiguidade comprada na loja de Rico. Parecia impressionada até pelos quadros e fotografias do corredor. Parecia uma criança entrando na casa do Papai Noel pela primeira vez.

Emily a levou para a sala de estar e Chantelle perdeu o fôlego ao ver o piano.

“Pode tocar se quiser”, Emily encorajou-a.

Chantelle não precisou ouvir duas vezes. Foi direto até o piano antigo, que ficava perto do janelão da sala, e começou a apertar as teclas.

Emily sorriu para Daniel. “Eu me pergunto se temos uma futura musicista nas mãos”.

Daniel observava Chantelle quase com um olhar de curiosidade, como se não pudesse acreditar que ela existia. Emily se perguntava se ele tinha tido algum contato com crianças antes. Ela havia cuidado das sobrinhas de Ben em várias ocasiões, então, tinha algum conhecimento. Daniel, por outro lado, parecia completamente perdido.

Nesse momento, Chantelle parou de tocar. O som incongruente que ela tirou do piano alertou os cães de que havia gente em casa, e começaram a latir na área de serviço.

“Gosta de cachorro?” Emily perguntou a Chantelle, decidindo que tinha que tomar a dianteira.

Chantelle assentiu com gosto.

“Eu tenho dois”, Emily continuou. “Chuva é o filhote e Mogsy é sua mãe. Quer conhecê-los?”

O sorriso de Chantelle ficou maior.

Enquanto Emily a levava pelo corredor, sentiu a mão de Daniel sem seu braço.

“É uma boa ideia?” perguntou, num sussurro, enquanto iam até a cozinha. “Não vão assustá-la? Ou morder?”

“É claro que não”, Emily tranquilizou-o.

“Mas ouvimos falar de cães devorando crianças o tempo todo”, ele murmurou.

Emily revirou os olhos. “São Mogsy e Chuva, lembra? São os cães mais tolinhos e bobalhões do mundo”.

Chegaram na cozinha e Emily apontou a área de serviço para Chantelle. No instante em que abriu a porta, viu os cães pulando e latindo para eles. Daniel ficou muito tenso ao ver Chuva correr em círculos ao redor de Chantelle, enquanto Mogsy punha as patinhas no suéter dela e tentava lambê-la. Mas Chantelle estava se divertindo como nunca. Ela se dissolveu numa nuvem de risadas felizes.

Os olhos de Daniel se abriram de surpresa. Emily soube instintivamente que era a primeira vez que ele ouvia a filha expressar tanta felicidade.

“Acho que gostam de você”, Emily disse para a menina, sorrindo. “Podemos brincar com eles lá fora, se quiser”.

Chantelle levantou para ela os imensos olhos azuis. Parecia tão feliz quanto uma criança no Natal.

“Verdade?” balbuciou. “Posso?”

Emily assentiu. “Claro”. Ela deu à menina alguns brinquedos de cachorro. “Vou observar vocês da janela”.

Abriu a porta dos fundos que levava ao quintal e os cães saíram correndo. Chantelle hesitou por um momento, insegura quanto a sair sozinha, em dar seu primeiro pequeno passo de independência. Mas, finalmente, encontrou sua autofiança, deu um passo para fora e jogou uma bola para os cães pegarem.

Quando Emily voltou para a cozinha, Daniel estava preparando uma garrafa de café fresco.

“Está tudo bem?” perguntou, gentil.

Daniel assentiu. “Não estou acostumado a isso. Minha maior preocupação é que ela se machuque. Queria envolvê-la em um escudo protetor macio como algodão”.

“É claro que sim”, Emily replicou. “Mas precisa deixá-la ter um pouco de independência”.

Daniel suspirou. “Como pode ficar tão à vontade com tudo isso?”

Emily deu de ombros. “Não acho que estou. Estou apenas improvisando. Ela está perfeitamente segura lá fora, desde que fiquemos de olho”.

Ela se encostou na pia da cozinha e olhou pela grande janela que dava para o quintal, onde Chantelle corria, os cães perseguindo-a, animados. Mas, enquanto observava, ficou subitmente surpresa pela semelhança de Chantelle com Charlotte, quando tinha a mesma idade. As semelhanças eram inquietantes, quase sobrenaturais. A visão fez com que outra das lembranças perdidas de Emily viesse à tona. Havia tido várias dessas lembranças espontâneas desde que se mudara para Sunset Harbor, e apesar da maneira abrupta como surgiam a deixar perplexa, ela valorizava cada uma. Eram como peças de um quebra-cabeça, ajudando-a a criar uma imagem de seu pai e da vida que tinham antes do desaparecimento dele.

Dessa vez, Emily lembrou quando teve uma febre terrível, talvez por causa de um resfriado. Só estavam os três novamente em casa, porque a mamãe não quis passar o feriadão em Sunset Harbor, então, seu pai estava dando tudo de si para cuidar dela. Lembrou-se de que um dos amigos do pai havia trazido seus cães, e que Charlotte podia brincar com eles, mas Emily estava doente demais e teve que ficar dentro da casa. Ela ficou tão chateada por não poder brincar com os cães que seu pai a havia levantado até a altura da janela – a janela da cozinha pela qual estava olhando agora – para assistir.

Emily se afastou da janela e perdeu o ar. Percebeu que estava chorando enquanto observava Chantelle se metamorfosear em Charlotte. Não pela primeira vez, teve uma forte sensação de que o espírito de Charlotte estava se comunicando com ela, de que estava de algum modo viva dentro de Chantelle e dando a Emily um sinal.

Nesse momento, Daniel aproximou-se e a envolveu nos braços. Ele era uma distração bem-vinda, então, ela reclinou a cabeça até descansar em seu peito.

“O que houve?” ele perguntou gentilmente, com uma voz que tentava acalmá-la.

Deve ter visto as lágrimas. Emily balançou a cabeça. Não queria falar com Daniel sobre o flashback, ou como sentia que o espírito de Charlotte parecia estar em Chantelle; não sabia como ele iria reagir.

“É só uma lembrança”, ela disse.

Daniel a abraçou mais forte, ninando-a de um lado para o outro. Como ele lidava com Emily nesses momentos estranhos parecia tão diferente da maneira como ele tratava Chantelle. Ele se sentia à vontade com Emily, e ela notava o quanto ficava mais confiante com ela, em comparação com sua filha. Havia se apoiado nele tantas vezes. Agora, era a vez dela ser alguém em quem ele podia se apoiar.

“Tudo isso é um pouco intenso demais, não é?” ela disse, por fim, virando para olhar para ele.

Daniel assentiu, com uma expressão angustiada. “Nem sei por onde começar. Preciso matriculá-la na escola, para começar. O segundo semestre começa na quarta-feira. Então, tenho que preparar um quarto para ela”.

“Você vai destruir suas costas se continuar dormindo nquele sofá dobrável”, Emily concordou. Então, teve uma inspiração. “Mude-se para cá”.

Daniel hesitou por um momento. “Não está falando sério. Está tão ocupada que não tem como acomodar nós dois”.

“Quero que vocês se mudem”, Emily insistiu. “Quero que Chantelle tenha espaço e o seu próprio quarto”.

“Não precisa fazer isso”, Daniel disse, ainda resistente.

“E você não precisa ficar sozinho. Estou aqui para você. Faz muito mais sentido do que ver vocês dois apertados na antiga garagem”. Ela o abraçou mais.

“Mas não pode se dar ao luxo de desistir de um dos quartos de hóspedes, pode?”

Emily sorriu. “Lembra-se de quando falamos sobre transformar a antiga garagem em um chalé, separado da pousada? Bem, agora não seria o momento perfeito? Chantelle pode ficar com o quarto ao lado da suíte, perto de nós. Pode ter sua própria chave, por segurança. Então, você pode reformar a antiga garagem a tempo para o feriado de Ação de Graças. Tenho certeza que atrairá muitos hóspedes”.

Daniel olhou para Emily com uma expressão séria. Ela não sabia de onde vinha a resistência dele. A ideia de morar com ela era tão terrível que preferia ficar naquela antiga garagem apertada?

Mas, por fim, ele assentiu. “Você está certa. A antiga garagem não é o melhor para uma criança”.

“Você vai se mudar para a minha casa?” Emily disse, levantando as sobrancelhas, animada.

Daniel sorriu. “Sim”.

Emily jogou os braços ao redor do namorado e sentiu que ele apertou ainda mais o abraço.

“Mas juro encontrar uma maneira de ganhar dinheiro, para poder nos sustentar”, Daniel disse.

“Pensaremos nisso em outra hora”, Emily disse. Estava feliz demais para pensar em detalhes. Tudo o que importava naquele momento era que Daniel iria morar com ela, e que tinham uma criança para amar e cuidar. Eles seriam uma família e Emily não podia estar mais feliz.

Então, sentiu seu hálito morno enquanto ele sussurrava em seu ouvido. “Obrigado. Do fundo do meu coração. Obrigado”.

*

“Então, você gostaria que este fosse seu quarto?” Emily perguntou.

Estava de pé com Chantelle na porta de um dos quartos mais adoráveis de toda a pousada. Daniel estava logo atrás delas.

Emily observou Chantelle se encantar com o quarto. A menina largou a mão de Emily e caminhou lentamente pelo cômodo, cuidadosa, como se não quisesse quebrar ou tirar nada do lugar. Foi até a grande cama com seus lençois limpos, carmim, e tocou-os com os dedos, levemente. Então, foi até a janela e olhou pelos jardins até o mar, cintilante, acima dos topos das árvores. Emily e Daniel observavam com a respiração suspensa enquanto a garotinha caminhava em silêncio pelo quarto, pegando suavemente o abajur e então devolvendo-o, e em seguida espiando dentro dos guarda-roupas vazios.

“O que acha?” Emily perguntou. “Podemos pintar as paredes se não gosta delas brancas. Mudar as cortinas. Pendurar algumas fotos suas”.

Chantelle se virou. “Adorei, do jeito que está. Posso mesmo ter um quarto?”

Emily sentiu Daniel ficar tenso atrás dela. Soube imediatamente o que estava pensando: que Chantelle, aos seis anos, nunca teve seu próprio quarto; que a vida que teve até agora tinha sido cheia de dificuldades e marcada pela negligência.

“Claro que pode”, Emily disse, sorrindo. “Porque não traz suas coisas para cá? Então, vai começar a sentir que realmente é seu quarto”.

Chantelle concordou e foram todos juntos pegar as coisas dela, na antiga garagem. Mas ao chegarem lá, Emily ficou chocada ao descobrir que a menina havia trazido apenas uma mera mochila.

“Onde estão as coisas dela?” perguntou a Daniel discretamente, enquanto voltavam para a casa.

“É tudo o que havia lá”, Daniel replicou. “Ela não tinha quase nada na casa do tio de Sheila. Perguntei e me disse que havia deixado tudo para trás quando foram despejadas”.

Emily ficou sem palavras. Partia seu coração pensar sobre as coisas terríveis pelas quais Chantelle passou em sua curta vida. Mais do que qualquer outra coisa, queria garantir que a menininha agora teria a chance de florescer e deixar o passado para trás. Emily esperava que, com amor, paciência e estabilidade, Chantelle poderia se recuperar do terrível começo em sua vida.

No novo quarto de Chantelle, Emily pendurou as poucas roupas que ela tinha nos cabides. Só havia dois pares de jeans, cinco camisetas e três suéteres. Não tinha meias suficientes para uma semana inteira.

A menina ajudou a arrumar suas calcinhas nas gavetas da cômoda. “Estou muito feliz por ter pais agora”, Chantelle disse.

Emily se sentou na ponta da cama, disposta a encorajá-la a se abrir. “Fico feliz em ter uma menininha adorável como você para passearmos juntas”.

A criança corou. “Quer mesmo passear comigo?”

“É claro!” Emily disse, um pouco surpresa. “Mal posso esperar para levá-la até a praia, passear de barco, brincar de jogos e jogarmos bola juntas”.

“Minha mãe nunca quis brincar comigo”, Chantelle disse, com uma voz tímida.

Emily sentiu o coração apertar. “Sinto muito ouvir isso”, ela disse, tentando não deixar a dor em seu coração transparecer na voz. “Bem, poderá brincar de muitas coisas agora. O que gostaria de fazer?”

Chantelle apenas deu de ombros, e ocorreu a Emily que sua criação havia sido tão sufocante que nem podia pensar em coisas divertidas para fazer.

“Aonde o papai foi?” ela perguntou.

Emily olhou sobre o ombro e viu que Daniel havia desaparecido. Ela, também, ficou preocupada.

“Provavelmente só foi pegar mais café”, Emily replicou. “Ei, tenho uma ideia. Por que não vamos até o sótão trazer alguns ursinhos de pelúcia para seu quarto?”

Ela havia cuidadosamente empacotado e guardado todos os seus brinquedos antigos, e também os de Charlotte, retirados do quarto interditado após a morte da irmã. Chantelle estava numa idade próxima à delas quando o quarto foi fechado, então, muitos dos brinquedos seriam adequados para ela.

O rosto de Chantelle se iluminou. “Você tem ursos de pelúcia no sótão?”

Emily assentiu. “E bonecas. Estão todos fazendo um piquenique, mas tenho certeza de que vão gostar de mais uma convidada. Vamos, vou mostrar o caminho”.

Emily levou a garotinha até o terceiro andar e então pelo corredor. Puxou a escada do sótão. Chantelle olhou para cima timidamente.

“Quer que eu vá primeiro?” Emily perguntou. “Para garantir que não há aranhas?”

Chantelle sacudiu a cabeça. “Não tenho medo de aranha”. Parecia orgulhosa de si.

Elas subiram juntas e Emily mostrou-lhe a caixa de brinquedos. “Pode pegar o que quiser daqui”.

“O papai vai vir brincar?” Chantelle perguntou.

Emily também queria Daniel por perto. Não tinha certeza para onde ele tinha ido, ou por que havia sumido. “Vou perguntar a ele. Você ficará bem aqui por um momento, não é, já que não tem medo de aranhas?”

Chantelle assentiu e Emily deixou a menina brincando. Desceu pelo terceiro e segundo andares procurando Daniel, e depois foi até o térreo. Encontrou-o na cozinha, parado ao lado da cafeteira, sem se mexer.

“Você está bem?” Emily perguntou.

Daniel se virou, surpreso. “Desculpe. Desci para pegar café e fiquei assoberbado demais com tudo”. Ele olhou para Emily e franziu o cenho. “Não sei como fazer isso. Ser pai. É confuso demais para mim.”

Emily se aproximou e acariciou seu braço. “Vamos descobrir juntos”.

“Só ouvi-la falar acaba comigo. Queria ter estado lá para ela. Protegido-a de Sheila”.

Emily envolveu-o nos braços. “Não pode olhar para trás e se preocupar com o passado. Tudo o que podemos fazer agora é dar nosso melhor para ajudá-la. Vai ser ótimo, prometo. Você vai ser um pai maravilhoso”.

Ainda podia sentir um pouco de resistência em Daniel. Queria desesperadamente que ele relaxasse, que aceitasse seu abraço e se sentisse confortado, mas algo o detia.

“Ela já está começando a fazer perguntas”, ele disse. “Me perguntou por que nunca enviei cartões de aniversário para ela. Não sabia o que dizer. O que posso dizer a uma criança de seis anos, de modo que entenda?”

“Acho que só temos que ser sinceros”, Emily disse. “Segredos nunca ajudaram ninguém”.

Pensou na dureza de suas palavras. Seu pai havia mantido segredos durante toda a sua vida. Emily só havia descoberto a ponta do iceberg desde que chegara na casa.

Então, Chantelle entou correndo na cozinha. Estava segurando um grande panda de pelúcia nos braços. Era quase tão grande quanto ela.

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