A Casa Perfeita - Блейк Пирс 6 стр.


Nada como sushi de supermercado na segunda-feira à noite para fazer uma garota solteira se sentir especial na cidade grande.

O pensamento a fez rir brevemente antes de se lembrar de que seu pai assassino em série tinha recebido orientações para encontrar o apartamento dela. Talvez não tenha sido um roteiro completo. Mas a partir do que Crutchfield dissera, era o suficiente para ele mais cedo ou mais tarde encontrá-la. A grande questão era: quando seria esse ‘mais cedo ou mais tarde’?

*

Noventa minutos depois, Jessie estava socando um saco pesado, com suor escorrendo de seu corpo. Depois de terminar o sushi, ela se sentira inquieta e confinada e decidiu resolver suas frustrações de maneira construtiva na academia.

Ela nunca tinha sido muito viciada em fazer exercício físico. Mas, enquanto esteve na Academia Nacional ela chegou a uma descoberta inesperada. Quando ela treinava até a exaustão, não havia mais espaço dentro dela para a ansiedade e para o medo que tanto a consumiam no resto do tempo. Se ela soubesse disso há uma década, ela poderia ter salvado milhares de noites sem dormir, mesmo as noites cheias de pesadelos sem fim.

Também poderia tê-la salvado de algumas viagens para ver sua terapeuta, Dra. Janice Lemmon. Dra. Lemmon, uma renomada psicóloga forense, era uma das poucas pessoas que sabiam todos os detalhes sobre o passado de Jessie. Ela tinha sido um recurso inestimável nos últimos anos.

Mas ela estava atualmente em recuperação de um transplante de rim e não estaria disponível para sessões por mais algumas semanas. Jessie estava tentada a pensar que poderia dispensar completamente as visitas. Mas, embora pudesse ser mais barato seguir com a terapia de treino sozinha, ela sabia que certamente haveria momentos em que precisaria ver a médica no futuro.

Enquanto começava a desferir mais uma série de socos, ela lembrou como, antes de sua viagem para Quantico, muitas vezes acordava coberta de suor, respirando pesadamente, tentando lembrar-se que estava segura em Los Angeles e não de volta em uma pequena cabana no Missouri Ozarks, amarrada a uma cadeira, vendo o sangue pingar lentamente do corpo gelado de sua mãe morta.

Quem dera que isso tivesse sido apenas um sonho também. Mas tinha sido tudo real. Quando tinha apenas seis anos e o casamento de seus pais estava em ruínas, seu pai levara ela e sua mãe para aquela cabana remota. Enquanto estavam lá, ele revelou que vinha sequestrando, torturando e matando pessoas durante anos. E depois ele fez o mesmo com sua própria esposa, Carrie Thurman.

Enquanto ele prendia as mãos dela nas vigas do teto da cabana e a esfaqueava intermitentemente com uma faca, ele fez Jessie - então Jessica Thurman – assistir tudo. Ele amarrou os braços da criança em uma cadeira e colou as pálpebras dela com fita para os olhos ficarem abertos, e então rasgou o corpo da mãe em definitivo

Depois ele usou a mesma faca para cortar uma grande ferida na clavícula de sua filha, do ombro esquerdo até a base do pescoço. A seguir, ele simplesmente saiu da cabana. Três dias depois, quando estava hipotérmica e em estado de choque, Jessie foi descoberta por dois caçadores que estavam passando por ali.

Depois que ela se recuperou, ela contou à polícia e ao FBI a história. Mas a essa altura, seu pai já há muito que tinha ido embora e qualquer esperança de pegá-lo também já tinha sumido. Jessica foi colocada no programa de Proteção às Testemunhas em Las Cruces com a família Hunt. Jessica Thurman se tornou Jessie Hunt e uma nova vida começou.

Jessie enxotou aquelas lembranças de sua cabeça, trocando de socos para joelhadas, como se estivesse mirando na virilha de um agressor. Ela abraçou a dor que sentia no quadril ao desferir as joelhadas. A cada golpe, a imagem da pele pálida e sem vida de sua mãe desaparecia um pouco mais.

Então, outra lembrança surgiu em sua cabeça, a de seu ex-marido, Kyle, atacando-a em sua própria casa, tentando matá-la e acusá-la pelo assassinato da amante dele. Ela quase podia sentir o ferro do atiçador de lareira que ele encravou no lado esquerdo do abdômen dela.

A dor física daquele momento foi tão grande quanto a humilhação que ela ainda sentia por ter passado uma década envolvida com um sociopata sem nunca ter percebido isso. Ela era, afinal, supostamente especialista em identificar esse tipo de pessoas.

Jessie trocou os golpes de novo, na esperança de afastar a vergonha de sua mente com uma série de cotoveladas para o saco, perto de onde o queixo de um assaltante estaria. Seus ombros estavam começando a gritar, mas ela continuou a esmurrar o saco, sabendo que sua mente logo estaria cansada demais para ficar angustiada.

Essa era a parte de si mesma que ela não esperava ter descoberto no FBI - a durona físicamente forte. Apesar da apreensão normal que sentiu ao chegar lá no curso, ela suspeitava que se sairia bem na parte acadêmica das coisas. Ela tinha acabado de passar os três anos anteriores num ambiente similar, imersa em psicologia criminal.

E ela estava certa. As classes em lei, ciência forense, e terrorismo tinham sido fáceis. Mesmo o seminário de ciência comportamental, no qual os instrutores eram como heróis para ela e ela pensou que ficaria nervosa, decorreu naturalmente. Foi mesmo nas aulas de condicionamento físico e no treinamento de defesa pessoal onde ela mais se surpreendeu consigo mesma.

Seus instrutores haviam mostrado a ela que, com um metro e setenta e sete de altura e sessenta e cinco quilos, ela tinha o tamanho físico para lidar com a maioria dos criminosos se estivesse adequadamente preparada. Ela provavelmente nunca teria as mesmas habilidades de combate um-contra-um de um veterano das Forças Especiais, como Kat Gentry tinha. Mas ela deixou o programa confiante de que poderia se defender na maioria das situações.

Jessie tirou as luvas e foi para a esteira. Olhando para o relógio, ela viu que estava se aproximando das oito da noite. Ela decidiu que uma corrida de oito quilômetros deveria cansá-la o suficiente para deixá-la dormir sem sonhos essa noite. Essa era uma prioridade, já que ela iria voltar ao trabalho amanhã, onde sabia que todos os seus colegas iriam incomodá-la bastante, esperando que ela fosse agora algum tipo de super-heroína do FBI.

Ela estabeleceu o tempo em quarenta minutos, colocando pressão sobre si mesma para completar os oito quilômetros em um ritmo de cinco minutos por quilômetro. Então ela aumentou o volume dos fones de ouvido. Quando os primeiros segundos de ‘Killer’ de Seal começaram a tocar, sua mente ficou em branco, concentrando-se apenas na tarefa à sua frente. Ela estava completamente alheia ao título da música ou quaisquer memórias pessoais que isso poderia evocar. Havia apenas a batida e as pernas trotando em harmonia com ela. Era o mais próximo de paz que Jessie Hunt conseguia.

CAPÍTULO OITO

Eliza Longworth se apressou até à porta da frente de Penny o mais rápido que pôde. Eram quase 8 da manhã, hora em que normalmente a instrutora de ioga aparecia.

Tinha sido uma noite em grande parte sem dormir. Só na primeira luz da manhã ela sentiu que sabia o caminho que precisava seguir. Assim que Eliza tomou uma decisão, ela sentiu um peso sair dos ombros dela.

Ela tinha mandado uma mensagem a Penny para dizer que a longa noite tinha lhe dado tempo suficiente para pensar e reconsiderar se ela tinha sido muito apressada em terminar a amizade delas. Elas deviam fazer a aula de ioga. E depois, quando a instrutora, Beth, fosse embora, elas poderiam tentar encontrar uma maneira de resolver as coisas.

Penny não tinha respondido, mas isso não impedira que Eliza fosse até lá de qualquer maneira. Assim que ela chegou à porta da frente, viu Beth dirigindo pela estrada residencial sinuosa e acenou para ela.

“Penny!”, ela gritou quando bateu na porta. “Beth já chegou. Ainda estamos combinadas para a ioga?”

Não houve resposta, então ela apertou a campainha e balançou os braços na frente da câmera.

“Penny, posso entrar? Devemos conversar por um segundo antes que Beth chegue.”

Continuou sem haver resposta e Beth estava a uns cem metros ao fundo da rua, então ela decidiu entrar. Ela sabia onde a chave secreta era mantida, mas tentou abrir a porta assim mesmo. Não estava trancada. Ela entrou, deixando a porta aberta para Beth.

“Penny”, ela gritou, “você deixou a porta destrancada. Beth já está estacionando. Você recebeu minha mensagem? Podemos conversar em particular por um minuto antes de começarmos?”

Ela entrou no saguão de entrada e esperou. Permanecia sem resposta. Ela foi até à sala de estar onde elas geralmente faziam as sessões de ioga. Estava vazia também. Ela estava prestes a ir até à cozinha quando Beth entrou.

“Senhoras, estou aqui!”, ela gritou da porta da frente.

“Oi, Beth”, disse Eliza, virando-se para cumprimentá-la. “A porta estava destrancada, mas Penny não está respondendo. Eu não tenho certeza do que está acontecendo. Talvez ela tenha dormido demais ou esteja no banheiro ou algo assim. Eu posso verificar lá em cima se você quiser pegar algo para beber. Tenho certeza que vai ser apenas um minuto.”

“Não há problema”, disse Beth. “Meu cliente das nove e meia cancelou, então não estou com pressa. Diga a ela para não se apressar.”

“Ok”, disse Eliza enquanto começava a subir as escadas. “Apenas nos dê um minuto.”

Ela estava a meio caminho do primeiro lance de escadas quando se perguntou se não deveria ter pegado o elevador. O quarto principal ficava no terceiro andar e ela não estava entusiasmada com a caminhada. Antes que ela pudesse reconsiderar seriamente, ela ouviu um grito lá embaixo.

“O que está acontecendo?”, ela gritou enquanto se virava e corria de volta para baixo.

“Depressa!”, Beth gritou. “Ai meu Deus, depressa!”

Sua voz vinha da cozinha. Eliza começou a correr quando chegou lá em baixo, atravessando a sala e dobrando a esquina.

No chão da cozinha de cerâmica espanhola, deitada em uma enorme piscina de sangue, estava Penny. Seus olhos estavam congelados em terror, seu corpo contorcido em um horrível espasmo de morte.

Eliza apressou-se em direção à sua mais antiga e querida amiga, escorregando no líquido espesso quando se aproximou. Seu pé escorregou e ela caiu com força no chão, todo o seu corpo espirrando sobre o sangue.

Tentando não vomitar, ela se arrastou e colocou as mãos no peito de Penny. Mesmo com roupas, ela estava fria. Apesar disso, Eliza sacudiu-a, como se isso pudesse acordá-la.

“Penny”, ela implorou, “acorde.”

Sua amiga não respondeu. Eliza olhou para Beth.

“Você sabe fazer respiração boca a boca?”, ela perguntou.

“Não”, a mulher mais jovem disse com uma voz trêmula, sacudindo a cabeça. “Mas acho que é tarde demais.”

Ignorando o comentário, Eliza tentou se lembrar da aula de primeiros socorros que havia frequentado anos atrás. Tinha sido voltada para tratar crianças, mas os mesmos princípios deviam ser aplicados nessa situação. Ela abriu a boca de Penny, inclinou a cabeça para trás, apertou o nariz dela e soprou com força para dentro da boca da amiga.

Então ela montou sobre a cintura de Penny, colocou uma mão em cima da outra com as palmas das mãos para baixo e começou a bombear sobre o esterno de Penny. Ela fez isso uma segunda vez e depois uma terceira, tentando entrar em algum tipo de ritmo.

“Oh Deus”, ela ouviu Beth murmurar e olhou para cima para ver o que estava acontecendo.

“O que está acontecendo?”, ela exigiu duramente.

“Quando você bombeia, o sangue escorre do peito dela.”

Eliza olhou para baixo. Era verdade. Cada compressão causava um pequeno vazamento de sangue do que pareciam ser grandes cortes na cavidade torácica de Penny. Ela olhou para cima novamente.

“Ligue para o 911!”, ela gritou, embora soubesse que seria inútil.

*

Jessie, que se sentia inesperadamente nervosa, chegou cedo ao trabalho.

Com todas as precauções extras de segurança que tinha, decidira partir vinte minutos antes para seu primeiro dia de trabalho em três meses, para ter certeza de que chegaria às nove da manhã, o horário que o capitão Decker lhe dissera para aparecer. Mas ela devia estar a ficar melhor em passar por todas as curvas e escadas ocultas no seu prédio, porque não demorou tanto tempo quanto pensava para chegar à Delegacia Central.

Enquanto caminhava do estacionamento para a entrada principal da delegacia, seus olhos se moviam para frente e para trás, procurando por algo fora do comum. Mas então ela se lembrou da promessa que tinha feito para si mesma antes de adormecer na noite passada. Ela não permitiria que a ameaça de seu pai a consumisse.

Ela não fazia ideia de quão vagas ou específicas tinham sido as informações que Bolton Crutchfield passara para o pai dela. Ela não podia sequer ter a certeza de que Crutchfield estava dizendo a verdade. Independentemente disso, já não havia mais muita coisa que ela pudesse fazer a esse respeito, além daquilo que ela já estava fazendo. Kat Gentry estava verificando os videos das visitas de Crutchfield. O apartamento onde vivia era basicamente um bunker. Ela iria receber sua arma oficial hoje. Além disso, ela precisava viver a vida. Caso contrário, ficaria louca.

Ela voltou para o principal escritório da delegacia, apreensiva com a recepção que receberia depois de tanto tempo. Além disso, quando ela tinha estado aqui pela última vez, ela era apenas uma consultora interina e junior de perfis criminais.

Agora, a etiqueta de ‘interina’ havia desaparecido e, embora tecnicamente ainda fosse consultora, ela era paga pelo Departamento de Polícia de Los Angeles e recebia todos os benefícios correspondentes. Isso incluía seguro de saúde, do qual, se a experiência recente fosse um exemplo, ela precisaria muito.

Quando ela entrou na grande área de trabalho central, composta por dezenas de mesas, separadas por nada mais do que quadros de cortiça, ela inspirou e esperou. Mas não aconteceu nada. Ninguém disse nada.

Na verdade, ninguém pareceu nem notar sua chegada. Algumas cabeças estavam baixas, estudando arquivos de casos. Outros colegas estavam presos às pessoas do outro lado da mesa, na maioria dos casos testemunhas ou suspeitos algemados.

Ela se sentiu um pouco desanimada. Mas mais que isso, ela se sentiu boba.

O que eu estava esperando - um desfile?

Não é como se ela tivesse ganho o mítico Prêmio Nobel de resolução de crimes. Ela foi para uma academia de treinamento do FBI por dois meses e meio. Era bem legal. Mas ninguém ia explodir em aplausos para ela.

Ela caminhou em silêncio pelo labirinto de mesas, passando pelos detetives com quem trabalhara anteriormente. Callum Reid, com quarenta e poucos anos, levantou os olhos do arquivo que estava lendo. Quando ele acenou para ela, seus óculos quase caíram de sua testa, onde eles estavam apoiados.

Alan Trembley, de vinte e poucos anos, com seus cachos loiros bagunçados como de costume, também usava óculos, mas os dele estavam na ponta do nariz enquanto ele questionava um homem mais velho que parecia estar bêbado. Ele nem percebeu Jessie quando ela passou por ele.

Ela chegou à sua mesa, que estava embaraçosamente arrumada, jogou a jaqueta e a bolsa e sentou-se. Ao fazê-lo, viu Garland Moses saindo devagar da sala de descanso, com o café na mão, enquanto subia as escadas para o escritório do segundo andar, que era essencialmente um pequeno armário de vassouras.

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