Quase Ausente - Блейк Пирс 2 стр.


Maureen pareceu satisfeita, mas as próximas perguntas eram mais difíceis.

– O que você fará caso as crianças mintam para você? Por exemplo, se disserem que têm permissão para fazer algo que os pais proibiram?

– Eu diria que não é permitido, e os contaria o motivo, se eu soubesse. Sugeriria que falássemos com os pais juntos e discutíssemos as regras como uma família, para ajudá-los a entender por que isso é importante – Cassie sentiu como se estivesse andando na corda bamba, esperando que suas respostas fossem aceitáveis.

– Como você reagiria, Cassie, se testemunhasse uma briga doméstica? Morando na casa de uma família, haverá momentos em que as pessoas não se dão bem.

Cassie fechou os olhos por um momento, afastando as memórias desencadeadas pelas palavras de Maureen. Gritos, vidros quebrando, os vizinhos berrando com raiva. Uma cadeira firmada sob a maçaneta da porta de seu quarto, a única proteção frágil que ela podia encontrar.

Mas quando estava prestes a falar que se trancaria com as crianças em um cômodo seguro e ligaria para a polícia imediatamente, percebeu que Maureen não podia estar se referindo a este tipo de briga. Por que estaria? Ela obviamente estava pensando em uma discussão, em palavras vociferadas em irritação ou berradas em raiva; atrito temporário ao invés de destruição terminal.

– Eu tentaria manter as crianças fora do alcance – ela disse, escolhendo suas palavras cuidadosamente. – Eu respeitaria a privacidade dos pais, ficando bem longe. Afinal de contas, brigas fazem parte da vida e uma au pair não tem o direito de tomar partido ou se envolver.

Agora, finalmente, ela ganhou um sorriso.

– Uma boa resposta – Maureen disse. Ela checou o computador novamente e assentiu, como se confirmando uma decisão que tinha tomado.

– Só tem uma possibilidade aqui que eu poderia te oferecer. Uma posição com uma família francesa – ela disse, e o coração de Cassie saltou, apenas para se espatifar quando Maureen adicionou – A última au pair foi embora inesperadamente depois de um mês e eles tiveram dificuldades em encontrar uma substituta.

Cassie mordeu o lábio. Se a au pair se demitiu ou fora demitida, ela não sabia, mas não podia admitir que o mesmo acontecesse com ela. Com a taxa da agência e a passagem aérea, estava arando todas as suas economias nessa empreitada. Não importa como, teria que fazer dar certo.

Maureen adicionou. – Eles são uma família rica com uma bela casa. Não é na cidade. É uma mansão no campo, em uma grande propriedade. Tem um pomar e um pequeno vinhedo – não comercial – e também cavalos, embora conhecimento equestre não seja uma exigência do trabalho. No entanto, você terá a oportunidade de aprender a montar quando estiver lá, se quiser.

– Eu adoraria – Cassie disse. O apelo do interior francês, e a promessa de cavalos, faziam o risco parecer valer ainda mais a pena. E uma família rica certamente significava melhor segurança no emprego. Talvez a última au pair não estivesse disposta a tentar.

Maureen ajustou os óculos antes de tomar nota no formulário de Cassie.

– Agora, devo enfatizar que nem todas as famílias são fáceis de trabalhar. Algumas são muito desafiadoras, outras são sinceramente difíceis. O sucesso do trabalho repousará nos seus ombros.

– Farei o meu melhor para ser bem sucedida.

– Desistir de uma atribuição antes do seu ano acabar é inaceitável. Vai incorrer em uma taxa de cancelamento substancial e você nunca mais trabalhará conosco. Os detalhes estão estipulados no contrato – Maureen bateu sua caneta na página.

– Não posso imaginar isso acontecendo – Cassie respondeu, com determinação.

– Bom. Então, o último ponto que temos que discutir é o prazo.

– Sim. Em quanto tempo posso ir? – Cassie perguntou, sua ansiedade inundando outra vez enquanto ela imaginava por quanto tempo ela ainda precisaria se esquivar.

– Geralmente leva cerca de seis semanas, mas a solicitação dessa família é muito urgente, então vamos acelerar. Se as coisas se moverem conforme o esperado, você vai voar para lá dentro de uma semana. Isso é aceitável?

– É, é perfeito – ela gaguejou. – Por favor, eu aceito a posição. Farei o que for preciso para dar certo, e não vou te decepcionar.

A mulher a encarou de volta longamente, como se a avaliasse uma última vez.

– Não decepcione – ela disse.

CAPÍTULO DOIS

Aeroportos eram só despedidas, Cassie pensou. Partidas apressadas, o ambiente impessoal roubando as palavras que você realmente queria dizer e o tempo para dizê-las corretamente.

Ela insistiu para que a amiga que havia dado a ela uma carona até o aeroporto apenas a deixasse lá ao invés de entrar com ela. Um abraço antes de pular para fora do carro era mais rápido e fácil. Melhor do que café caro e conversas desconfortáveis que iam secando conforme a hora da partida chegava. Afinal, ela viajaria sozinha, deixando todos que conhecia para trás. Fazia sentido começar a jornada mais cedo do que mais tarde.

Ao empurrar o carrinho de bagagens para o terminal, sentia uma sensação de alívio pelas metas que tinha realizado até agora. Ela tinha conseguido o trabalho – a meta mais importante de todas. Tinha pagado o voo e a taxa da agência, seu visto tinha sido acelerado, e estava no check-in a tempo. Seus pertences tinham sido empacotados conforme a lista fornecida – estava grata pela mochila azul-claro com o logo da “Maureen Au Pairs” que recebera, pois não haveria espaço em sua mala para todas as suas roupas.

De agora até quando pousasse em Paris, estava certa de que tudo correria suavemente.

Então, ela parou, seu coração martelando, quando o viu.

Ele estava de pé próximo à entrada do terminal, com as costas na parede e os polegares enganchados nos bolsos da jaqueta de couro que ela lhe dera. Sua altura, seu cabelo escuro e espetado, e seu maxilar agressivo o tornavam fácil de localizar enquanto sondava a multidão.

Zane.

Ele deve ter descoberto que ela partiria nesse horário. Ela tinha ouvido de vários amigos que ele tinha ligado, perguntando onde ela estava e checando a história da Flórida. Zane podia ser manipulador, e nem todos sabiam da situação dela. Algum inocente deve ter contado a verdade.

Antes que ele pudesse olhar em sua direção, ela girou o carrinho, puxando o capuz de seu agasalho sobre a cabeça, escondendo seus ondulados cabelos castanho-avermelhados. Ela apressou-se para o outro lado, conduzindo o carrinho para trás de um pilar, fora da vista dele.

O balcão de check-in da Air France estava na outra extremidade do terminal. Não havia um modo de passar por ele sem que ele a visse.

Pense, Cassie, ela disse a si mesma. No passado, Zane havia a elogiado por sua habilidade de elaborar planos rápidos em situações complicadas. – Você tem raciocínio rápido – ele tinha dito. Aquilo havia sido no início do relacionamento deles. No fim, ele estava acusando-a amargamente de ser sorrateira e dissimulada, espertinha demais para o próprio bem.

Hora de ser espertinha demais, então. Ela tomou uma respiração funda, esperando por ideias. Zane estava de pé perto da entrada do terminal. Por quê? Teria sido mais fácil esperar ao lado do balcão de check-in, onde ele teria certeza de detectá-la. Então, isso significava que ele não sabia com qual companhia ela voaria. De quem quer que ele tenha recebido a informação, a pessoa também não sabia, ou não tinha dito. Se ela pudesse encontrar outro caminho até o balcão, poderia ser capaz de fazer o check-in antes de ele procurá-la.

Cassie descarregou sua bagagem, colocando a mochila pesada nos ombros e arrastando sua mala atrás de si. Havia uma escada rolante na entrada do prédio – passara por ela no caminho. Se subisse até o andar de cima, esperava encontrar outra descendo, ou um elevador, do outro lado.

Abandonando o carrinho de bagagem, apressou-se de volta pelo caminho que tinha feito e subiu a escada rolante. A que ficava do outro lado estava quebrada, então ela desceu pelos degraus íngremes, arrastando sua mala pesada atrás de si. O balcão de check-in da Air France estava a uma curta distância, mas, para seu desânimo, já havia uma fila longa e vagarosa.

Puxando o capuz cinza mais para frente, juntou-se à fila, pegou um livro de sua bolsa e começou a ler. Não estava absorvendo as palavras e o capuz estava a sufocando. Queria arrancá-lo, refrescar a transpiração em seu pescoço. No entanto, não podia arriscar, não quando seu cabelo brilhante se tornaria instantaneamente visível. Melhor continuar escondida.

Mas, então, uma mão firme bateu no ombro dela.

Ela virou-se, arquejando, e se viu encarando os olhos surpresos de uma loira alta que tinha mais ou menos a sua idade.

– Desculpe te assustar – ela disse. – Sou Jess. Notei sua mochila e pensei que deveria falar oi.

– Ah. Sim. Maureen Au Pairs.

– Você está voando para uma atribuição? – Jess perguntou.

– Estou.

– Eu também. Quer ver se a companhia consegue assentos juntos? Podemos solicitar no check-in.

Enquanto Jess conversava sobre o clima na França, Cassie olhou com nervosismo pelo terminal. Sabia que Zane não desistiria facilmente – não depois de ter dirigido até aqui. Ele iria querer algo dela – um pedido de desculpas, um compromisso. Ele a forçaria a ir com ele tomar um “drink de despedida” e começaria uma briga. Ele não se importaria se ela chegasse à França com novos machucados... Ou perdesse seu voo de vez.

E, então, ela o viu. Ele vinha em sua direção, a alguns guichês de distância, sondando cada fila cuidadosamente enquanto procurava.

Ela olhou para o outro lado rapidamente, para o caso de ele sentir seu olhar fixo. Com uma centelha de esperança, viu que elas tinham alcançado o começo da fila.

– Senhora, você vai precisar tirar isso – a funcionária do check-in disse, apontando para o capuz de Cassie.

Consentindo relutantemente, ela o empurrou para trás.

– Ei, Cass! – ela ouviu Zane gritar as palavras.

Cassie congelou, sabendo que responder significaria um desastre.

Desajeitada e nervosa, deixou cair seu passaporte e tateou por ele, sua mochila pesada inclinando-se sobre sua cabeça.

Outro grito, e dessa vez ela olhou para trás.

Ele a viu e abriu caminho pela fila, cotovelando as pessoas para os lados. Os passageiros estavam irritados; ela podia ouvir vozes elevadas. Zane estava causando uma comoção.

– Gostaríamos de sentar juntas, se possível – Jess disse à funcionária, e Cassie mordeu o lábio com o atraso adicional.

Zane gritou novamente, e ela se deu conta com uma sensação de mal estar que ele a alcançaria em alguns momentos. Ele ligaria seu charme e imploraria por uma chance de conversar, assegurando a Cassie que levaria apenas um minuto para dizer o que precisava em particular. Seu objetivo, ela sabia por experiência, seria deixá-la afastada e sozinha. E, então, o charme desapareceria.

– Quem é esse cara? – Jess perguntou com curiosidade. – Ele está procurando você?

– Ele é meu ex-namorado – Cassie murmurou. – Estou tentando evitá-lo. Eu não quero que ele cause problemas antes de eu partir.

– Mas ele já está causando problemas! – Jess rodopiou, irada. – Segurança! – ela gritou. – Ajudem! Alguém pare aquele homem.

Galvanizado pelos clamores de Jess, um dos passageiros agarrou a jaqueta de Zane enquanto ele passava. Ele escorregou nos azulejos, braços se agitando, derrubando um dos postes ao cair.

– Segurem-no! – Jess apelou. – Segurança, rápido!

Com uma onda de alívio, Cassie viu que a segurança tinha, de fato, sido alertada. Dois policiais aeroportuários se apressavam para a fila. Eles chegariam a tempo, antes que Zane pudesse chegar até ela, ou sequer fugir.

– Vim dizer adeus à minha namorada, policiais – Zane tagarelou, mas suas tentativas de charme foram desperdiçadas com a dupla. – Cassie – ele chamou enquanto o policial mais alto agarrava seu braço. – Au revoir.

Relutantemente, ela se virou para encará-lo.

– Au revoir. Não é adeus – ele gritou conforme os policiais marchavam com ele para longe. – Vou te ver de novo. Mais cedo do que você pensa. Melhor tomar cuidado.

Ela reconheceu o aviso nas últimas palavras de Zane – mas, por agora, eram ameaças vazias.

– Muito obrigada – ela disse a Jess, completamente tomada por gratidão pela ação corajosa.

– Eu também tive um namorado tóxico – Jess simpatizou. – Sei como eles podem ser possessivos, grudam como maldito velcro. Foi um prazer poder detê-lo.

– Vamos passar pelo controle de passaporte antes que ele consiga voltar. Eu te devo uma bebida. O que você gostaria – café, cerveja ou vinho?

– Vinho, com certeza – Jess disse enquanto atravessavam os portões.

*

– Então, para onde você vai, na França? – Cassie perguntou depois de pedirem o vinho.

– Dessa vez, vou para uma família em Versalhes. Perto de onde fica o palácio, acredito. Espero ter a chance de visitá-lo quando tiver um dia de folga.

– Você disse “dessa vez”? Já esteve em uma atribuição antes?

– Estive, mas não deu certo – Jess derrubou um cubo de gelo em seu copo. – A família era terrível. Na realidade, por conta deles fiquei convencida em não usar a Maureen Au Pairs nunca mais. Fui com uma agência diferente dessa vez. Mas não se preocupe – ela adicionou, apressada. – Tenho certeza que você vai estar bem. Maureen deve ter alguns clientes bons em seus registros.

A boca de Cassie parecia repentinamente seca. Ela tomou um grande gole de vinho.

– Pensei que ela tivesse boa reputação. Quer dizer, o slogan dela é “A Agência Europeia Número Um”.

Jess riu. – Bem, isso é apenas marketing. Outras pessoas me disseram o contrário.

– O que aconteceu com você? – Cassie perguntou. – Por favor, me conte.

– Bem, a atribuição parecia legal, apesar de algumas perguntas na entrevista de Maureen terem me preocupado. Foram tão estranhas que comecei a me perguntar se haviam problemas com a família, porque nenhum dos meus amigos au pairs tiveram perguntas similares durante a entrevista deles. E quando eu cheguei... Bem, a situação não era conforme o anunciado.

– Por que não? – Cassie sentia-se fria por dentro. Achara as perguntas de Maureen estranhas também. Presumira na hora que todos os candidatos respondessem às mesmas questões; que era um teste de suas habilidades. E talvez fosse... Mas não pelas razões que imaginou.

– A família era muito tóxica – Jess disse. – Eles eram desrespeitosos e me rebaixavam. O trabalho que eu tinha que fazer estava fora do escopo do emprego; eles não se importavam e se recusavam a mudar. E quando eu disse que ia embora, foi quando realmente virou uma zona de guerra.

Cassie mordeu o lábio. Ela tinha tido aquela experiência na infância. Lembrava-se das vozes elevadas atrás de portas fechadas, discussões murmuradas no carro, uma sensação de tensão em uma corda-bamba. Sempre tinha se perguntado o que sua mãe – tão quieta, subjugada, abatida – poderia possivelmente ter encontrado para discutir com seu pai bombástico e agressivo. Foi só após a morte de sua mãe em um acidente de carro que ela tinha percebido que as brigas eram para manter a paz, lidar com a situação, protegendo Cassie e sua irmã da agressão que acendia de forma imprevisível e sem um bom motivo. Sem a presença de sua mãe, o conflito fervilhante tinha entrado em ebulição, virando uma guerra completa.

Ela havia imaginado que um dos benefícios de ser uma au pair seria poder se tornar parte da família feliz que ela nunca tivera. Agora, temia que o oposto fosse verdade. Nunca fora capaz de manter a paz no lar. Seria capaz de lidar com uma situação volátil, como sua mãe fizera?

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