Quase Ausente - Блейк Пирс 4 стр.


Cassie cobriu a boca com as mãos, horrorizada, enquanto o vaso balançava em seu pedestal, em seguida se espatifando no chão, estilhaçado. Cacos de vidro coloridos espirraram por todo o assoalho de madeira escura.

O choque silencioso foi quebrado pelo berro furioso de Pierre.

– Marc! Devolva a boneca para Ella.

Arrastando os pés, seu lábio inferior protuberante, Marc deu passos cuidadosos em meio aos destroços. Com relutância, entregou a boneca a Pierre, que a passou para Ella. Os soluços diminuíram conforme a menina alisava o cabelo da boneca.

– Aquele vaso era arte de vidro Durand – Margot silvou para o garoto. – Antiguidade. Insubstituível. Você tem algum respeito pelas posses do seu pai?

Um silêncio carrancudo foi a única resposta.

– Onde está Antoinette? – Pierre perguntou, soando frustrado.

Margot olhou para cima e, seguindo seu olhar, Cassie viu uma garota magra de cabelos escuros no topo das escadas—ela parecia a mais velha dos três, com diferença de alguns anos. Vestida com elegância em um vestido perfeitamente engomado, ela esperou com uma das mãos no corrimão até ter toda a atenção da família. Então, de queixo erguido, ela desceu.

Ansiosa para causar uma boa impressão, Cassie limpou a garganta e fez uma tentativa de saudação amigável.

– Olá, crianças. Meu nome é Cassie. Estou tão feliz de estar aqui, e feliz por cuidar de vocês.

Ella sorriu de volta, tímida. Marc encarou o chão de forma implacável. E Antoinette a encarou por um longo tempo, desafiando-a. Depois, sem uma palavra, deu as costas a ela.

– Com licença, Papai – ela disse a Pierre. – Tenho lição de casa para acabar antes de dormir.

– É claro – Pierre disse, e Antoinette marchou para o andar de cima novamente.

Cassie sentiu seu rosto arder de vergonha com o desdém deliberado. Perguntou-se se deveria dizer algo, fazer graça com a situação ou tentar dar desculpas para o comportamento rude de Antoinette, mas não conseguiu pensar nas palavras adequadas.

Margot murmurou, furiosa. – Eu te disse, Pierre. O humor da adolescência já está começando – e Cassie percebeu não ter sido a única que Antoinette havia ignorado.

– Pelo menos ela está fazendo a lição de casa, apesar de ninguém a ajudar - Pierre rebateu. – Ella, Marc, por que não se apresentam apropriadamente para Cassie?

Houve um curto silêncio. Claramente, as apresentações não aconteceriam sem relutância. Mas talvez ela pudesse aliviar a tensão com algumas perguntas.

– Bem, Marc, sei seu nome, mas gostaria de descobrir quantos anos você tem – ela disse.

– Tenho oito anos – ele resmungou.

Olhando entre ele e Pierre, ela definitivamente podia ver a semelhança de família. O cabelo rebelde, o queixo forte, os brilhantes olhos azuis. Até a forma como franziam a testa era similar. As outras filhas também eram morenas, mas Ella e Antoinette tinham feições mais delicadas.

– E Ella, qual sua idade?

– Quase seis – a pequena garota anunciou com orgulho. – Meu aniversário é no dia depois do Natal.

– É um dia bom para fazer aniversário. Espero que isso signifique que você ganhe um monte de presentes a mais.

Ella sorriu, surpresa, como se esta fosse uma vantagem que ainda não tinha considerado.

– Antoinette é a mais velha de todos. Ela tem doze anos – ela disse.

Pierre bateu as palmas. – Certo, hora de ir para a cama agora. Margot, você pode mostrar a casa à Cassie depois de colocar as crianças na cama. Ela precisa saber se virar por aí. Seja rápida. Temos que sair às sete.

– Ainda preciso terminar de me arrumar – Margot respondeu em tom ácido. – Você pode pôr as crianças na cama e chamar o mordomo para limpar essa bagunça. Mostrarei a casa à Cassie.

Pierre puxou uma respiração irritada antes de olhar para Cassie e apertar os lábios. Ela supunha que sua presença tinha o feito engolir suas palavras.

– Para cima e para a cama – ele disse, e as duas crianças o seguiram relutantemente pela escadaria. Ela alegrou-se em ver Ella virando-se e acenando para ela.

– Venha comigo, Cassie – Margot ordenou.

Cassie seguiu Margot pela porta da esquerda, encontrando-se em um salão formal com extraordinários móveis requintados e tapeçarias revestindo as paredes. O cômodo era enorme e frio; não havia fogo aceso na lareira maciça.

– Este salão é raramente usado e as crianças não tem permissão para ficar aqui. A sala de jantar principal está adiante. As mesmas regras se aplicam.

Cassie perguntou-se com que frequência a mesa de jantar de mogno era utilizada – parecia imaculada, original, e ela contou dezesseis cadeiras de encosto alto. Três outros vasos, parecidos com o que Marc havia quebrado antes, estavam no escuro aparador polido. Ela não conseguia imaginar conversas alegres à mesa do jantar neste espaço austero e silencioso.

Como seria crescer em uma casa assim, onde áreas inteiras estavam fora dos limites por causa de mobília que poderia ser danificada? Ela imaginou que isso pudesse fazer uma criança sentir ser menos importante do que os móveis.

– Aqui chamamos de Sala Azul. – Era uma pequena sala de estar com papéis de parede azul-marinho e grandes portas francesas. Cassie imaginou que abrissem para um pátio ou jardim, mas estava totalmente escuro e tudo que ela podia ver eram as luzes difusas do cômodo refletidas no vidro. Desejou que a casa tivesse lâmpadas de maior potência – todos os cômodos eram mal iluminados, com sombras à espreita nos cantos.

Uma escultura chamou sua atenção... O suporte da estátua de mármore tinha sido quebrado, então ela estava deitada de rosto para cima sobre a mesa. Sua feição era inexpressiva e imóvel, como se a pedra cobrisse o rosto de uma pessoa morta. Seus membros eram robustos, esculpidos de forma rude. Cassie teve calafrios, afastando o olhar da visão arrepiante.

– Essa é uma de nossas peças mais valiosas – Margot a informou. – Marc a derrubou na semana passada. Vamos mandar restaurar em breve.

Cassie pensou na energia destrutiva do garoto e na forma como ele batera o ombro contra o vaso mais cedo. A ação havia sido totalmente acidental? Ou houvera um desejo subliminar de estilhaçar o vidro, de ser notado em um mundo onde as posses pareciam ser a prioridade?

Margot guiou-a de volta pelo caminho que tinham vindo. – Os cômodos naquela passagem ficam trancados. A cozinha é por aqui, à direita, e adiante ficam os alojamentos dos criados. Há uma pequena sala de estar à esquerda, e um espaço onde jantamos em família.

No caminho de volta, passaram por um mordomo em um uniforme de cor cinza que carregava vassoura, pá e escova. Ele deu passagem a elas, mas Margot não manifestou nenhum reconhecimento.

A ala oeste era uma imagem espelhada da leste. Cômodos enormes e sombrios com mobília requintada e obras de arte. Vazios e silenciosos. Cassie estremeceu, ansiando por uma luz com brilho de lar ou o som familiar de uma televisão, se é que algo assim existia nesta casa. Ela seguiu Margot para o segundo andar pela magnífica escadaria.

– A ala dos hóspedes. – Três quartos intocados, com camas de dossel, eram separados por duas espaçosas salas de estar. Os quartos eram tão alinhados e formais quanto quartos de hotéis, e as colchas pareciam ter sido engomadas para permanecerem retas.

– E a ala da família.

Cassie iluminou-se, feliz por finalmente chegar à parte da casa onde as pessoas moravam.

– O berçário.

Para sua confusão, era outro quarto vazio, ocupado só por um berço de barras altas dos lados.

– E aqui, os quartos das crianças. Nossa suíte é no final dessa passagem, virando o corredor.

Três portas fechadas consecutivas. A voz de Margot baixou e Cassie supôs que ela não quisesse entrar para olhar as crianças – nem mesmo para dizer boa noite.

– Este é o quarto de Antoinette, este de Marc, e o mais próximo do nosso é o da Ella. Seu quarto é de frente com o de Antoinette.

A porta estava aberta e duas empregadas estavam ocupadas arrumando a cama. O quarto era enorme e frio. Era mobiliado com duas poltronas, uma mesa e um grande guarda-roupa de madeira. Pesadas cortinas vermelhas cobriam a janela. Sua mala tinha sido colocada ao pé da cama.

– Você vai ouvir as crianças se eles chorarem ou chamarem. Por favor, cuide deles. Amanhã, precisam estar vestidos e prontos às oito. Eles sairão ao ar livre, então escolha roupas quentes.

– Farei isso, mas... – Cassie reuniu sua coragem. – Será que eu poderia jantar, por favor? Não comi nada desde o jantar no avião ontem à noite.

Margot encarou-a, perplexa, depois balançou a cabeça.

– As crianças comeram mais cedo porque estamos de saída. A cozinha está fechada agora. O café da manhã será servido a partir das sete, amanhã. Pode esperar até lá?

– Eu... Eu acho que sim – ela estava passando mal de fome; os doces proibidos em sua mala, que seriam para as crianças, de repente tornaram-se uma tentação irresistível.

– E eu preciso enviar um e-mail para a agência informando que estou aqui. Seria possível pegar a senha do Wi-Fi? Meu telefone não tem sinal.

Agora Margot estava sem expressão. – Não temos Wi-Fi e não há sinal de celular aqui. Só um telefone fixo no escritório de Pierre. Para mandar um e-mail, tem que ir até a cidade.

Sem aguardar a resposta de Cassie, ela deu as costas e foi para o quarto principal.

As empregadas partiram, deixando a cama de Cassie em um frio estado de perfeição.

Ela fechou a porta.

Jamais tinha sonhado que ficaria com saudades de casa, mas naquele momento ela ansiava por uma voz amigável, o burburinho da televisão, a confusão de uma geladeira cheia. Louças na pia, brinquedos no chão, vídeos do Youtube nos telefones. O caos alegre de uma família normal – a vida à qual ela havia esperado se tornar parte.

Em vez disso, sentia já ter se enredado em um conflito amargo e complicado. Nunca poderia ter esperado tornar-se amiga instantânea destas crianças – não com a dinâmica familiar que havia se desenrolado até então. Esse lugar era um campo de batalha – e mesmo que ela encontrasse uma aliada na pequena Ella, temia já ter encontrado uma inimiga em Antoinette.

A luz do teto, que havia estado tremeluzente, de repente falhou. Cassie tateou em sua mala por seu telefone, desfazendo as malas da melhor forma que pôde com o feixe de luz da lanterna, em seguida plugando-o na única tomada visível, do lado oposto do quarto, cambaleando no escuro até sua cama.

Com frio, apreensiva e com fome, subiu para o meio dos lençóis gelados e os puxou até o queixo. Tinha esperado sentir-se mais esperançosa e positiva depois de conhecer a família, mas ao invés disso encontrava-se duvidando de sua capacidade de lidar com eles, temendo o que o dia seguinte traria.

CAPÍTULO QUATRO

A estátua estava parada na soleira da porta de Cassie, emoldurada pela escuridão.

Seus olhos sem vida abriram-se e sua boca se partiu conforme se movia em direção a ela. As finas rachaduras ao redor de seus lábios se alargaram e, em seguida, seu rosto todo começou a desintegrar. Fragmentos de mármore choveram e sacudiram no chão.

– Não – Cassie sussurrou, mas descobriu que não conseguia se mexer. Estava presa na cama, seus membros congelados apesar de sua mente implorar para que ela escapasse.

A estátua veio até ela, braços esticados, lascas de pedra cascateando de seus membros. Começou a gritar, um som agudo e fino, e conforme a estátua gritava Cassie viu o que estava sendo exposto debaixo da casca de mármore.

O rosto de sua irmã. Gelado, cinzento, morto.

– Não, não, não – Cassie berrou, e seu próprio choro a acordou.

O quarto estava um breu; ela estava enrolada em uma bola, tremendo. Sentou-se, em pânico, tateando por um interruptor que não estava lá.

Seu pior medo... O que tentara tanto suprimir durante o dia, mas que encontrava o caminho até seus pesadelos. Era o medo que Jacqui estivesse morta. Por que por qual outra razão sua irmã deixaria de se comunicar com ela? Por que não haveria cartas, ligações ou contato dela por anos?

Tremendo de frio e de medo, Cassie percebeu que o barulho das pedras em seu sonho havia se tornado o som da chuva, rajadas de vento martelando contra o vidro da janela. E, acima da chuva, ela ouviu outro som. Uma das crianças estava gritando.

“Você vai ouvir as crianças se eles chorarem ou chamarem. Por favor, cuide deles.”

Cassie sentia-se confusa e desorientada. Desejava poder acender uma luz ao lado da cama e tomar alguns minutos para se acalmar. O sonho fora tão vívido que ela ainda sentia-se trancada dentro dele. Mas os gritos deviam ter começado enquanto ela ainda dormia – na realidade, podiam ter causado o pesadelo. Precisavam dela urgentemente, e ela precisava se apressar.

Empurrou o edredom, descobrindo que a cortina não havia sido fechada corretamente. A chuva tinha entrado pela abertura, trazida pelo vento, e a parte inferior de seu cobertor estava encharcada. Ela saiu da cama em meio à escuridão e atravessou o quarto, na direção que esperava que estivesse seu telefone.

Uma mancha de água no chão havia transformado o piso em gelo. Ela derrapou, perdendo o equilíbrio e aterrissando de costas com um baque dolorido. Sua cabeça bateu na estrutura da cama e sua visão explodiu em estrelas.

– Droga – sussurrou, levantando devagar com as mãos e joelhos, esperando que as dores em sua cabeça e a tontura diminuíssem.

Ela engatinhou pelo piso e tateou por seu telefone, esperando que ele tivesse escapado da enchente. Para o seu alívio, esse lado do quarto estava seco. Ela ligou a lanterna, esforçando-se dolorosamente para ficar de pé. Sua cabeça latejava e sua blusa estava encharcada. Ela arrancou-a e rapidamente vestiu a primeira roupa que encontrou – uma calça de moletom e uma blusa cinza. Descalça, saiu do quarto, apressada.

Reluziu a lanterna nas paredes, mas não havia interruptores por perto. Cuidadosamente, seguiu o feixe de luz no sentido do barulho, em direção à suíte dos Dubois. O quarto mais próximo ao deles seria o de Ella.

Cassie bateu na porta rapidamente e entrou.

Felizmente, fez-se a luz, enfim. No brilho da luminária de teto, ela podia ver a única cama ao lado da janela, onde Ella havia chutado seu cobertor para longe. Gritando e berrando enquanto dormia, ela lutava contra os demônios em seus sonhos.

– Ella, acorde!

Fechando a porta, Cassie correu até ela e sentou-se na beira da cama, agarrando os ombros da menina adormecida de forma gentil, sentindo-os curvados e estremecendo. Seus cabelos escuros estavam emaranhados, sua blusa de pijama amontoada. Ela havia chutado o cobertor azul para os pés da cama; devia estar com frio.

– Acorde, está tudo bem. Você só está tendo um sonho ruim.

– Eles estão vindo me pegar! – Ella soluçou, lutando para sair do alcance dela. – Estão vindo, estão esperando na porta!

Cassie segurou-a com firmeza e ajeitou-a em uma posição sentada, arrastando um travesseiro atrás dela enquanto alisava sua blusa amarrotada. Ella estava tremendo de medo. O modo como se referia a “eles” fez Cassie se perguntar se este seria um pesadelo recorrente. O que estava acontecendo na vida de Ella para acarretar um terror tão vívido em seus sonhos? A jovem menina estava completamente traumatizada e Cassie não tinha ideia da melhor forma de acalmá-la. Tinha vagas memórias de Jacqui, sua irmã, brandindo uma vassoura contra um armário para afugentar um monstro imaginário. Mas aquele terror tinha raízes na realidade. Os pesadelos tinham começado depois de Cassie se esconder no armário durante uma das bebedeiras enfurecidas de seu pai.

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