O Último Lugar No Hindenburg - Franco Susana 2 стр.


Ele olhou nos olhos dela por um momento. “E-eu sou…” A sua voz, normalmente firme e segura de si, fraquejou e falhou. Ele recomeçou. "Eu sou o D-Donovan."

A mulher olhou para a sua mão estendida e deu um passo para o lado, apontando para que ele entrasse.

Arrogante, pensou.Estaatitude só lhe rendeu o dobro dos meus honorários habituais.

Ele já tinha lidado com a sua espécie antes - arrogante e presunçosa por ela ser uma das pessoas bonitas.

Temos pena.

Na sala da frente, ele olhou em volta para os móveis espartanos.

A mulher — tinha cerca de vinte anos — estava diante dele, de braços cruzados.

"Podemos começar?" ele perguntou.

Ela acenou com a cabeça e caminhou em direção a um corredor, à sua esquerda.

Ele encolheu os ombros e seguiu-a.

Eles foram para uma sala com a porta aberta. Lá dentro estava um velhote sentado num cadeirãocom mau aspeto que mais parecia ter vindo dos anos 1930, tal como a casa e o próprio homem. Tinha alguns fios de cabelo grisalhos puxados para trás sobre as orelhas, e os seus olhos eram da cor de umas calças de ganga desgastadas. Uns suspensórios verde-claros sobre uma camisa branca de mangas compridas estavam presos à cintura das suas calças caqui.

O velhote viu Donovan encaminhar-se para o lado da cadeira.

"Sou o Donovan." Ele ofereceu a sua mão.

O homem olhou para a mão de Donovan, depois olhou para a jovem com uma expressão interrogativa.

Não me digas que ele também é arrogante. O que se passa com estas pessoas?

Ele colocou a pasta no chão.

Os olhos do homem seguiram os seus movimentos.

"Ele não é cego," disse Donovan à mulher.

Ela olhou do velho para ele. "Ele não é cego."

"Você não é cego," disse Donovan.

Ela parecia perplexa. "Você não é cego."

"Ok," disse Donovan, "ninguém é cego."

"Ninguém é cego."

Sinto que estou a falar com um papagaio. Mais uma tentativa, e depois estou fora deste manicómio.

“Você ligou-me,” disse ele à jovem.

Ela assentiu com a cabeça.

"Porque..."

Ela foi até uma escrivaninha antiga, pegou numa pilha de papéis e trouxe-os de volta. Estendeu-os a Donovan.

Ele pegou neles e olhou para o de cima. Era uma cópia fototática desbotada de um Corpo de Fuzileiros DD-214 dos E.U.A, em dispensa militar. Tinha 'William S. Martin' e o seu número de unidade militar. Donovan passou para a próxima página e examinou o conteúdo. Um item chamou a sua atenção. Data de Nascimento: 13 de agosto de 1925.

"Uau!" Donovan sussurrou. "Senhor," ele leu o nome no topo da página, "Martin, quantos anos você tem?"

O Sr. Martin endireitou os ombros magros e cruzou os braços sobre o peito. “William S. Martin, Soldado de Primeira Classe, um oito cinco seis nove quatro oito oito.”

“Aqui diz que você nasceu a 13 de agosto de mil novecentos e vinte e cinco. Pode isto estar correto?"

O velhote olhou para Donovan por um momento. “William S. Martin, Soldado de Primeira Classe, um oito cinco seis nove quatro oito oito.”

“Sim,” disse Donovan, “nome, posto e número de série. Já percebi. Se esta data de nascimento estiver correta, você tem noventa e três anos.”

O Sr. Martin limitou-se a olhar para ele.

“Esta dispensa é datada do primeiro de dezembro de mil novecentos e quarenta e cinco. Então você serviu na Segunda Guerra Mundial?”

“William S. Martin, Soldado de Primeira Classe, um oito cinco seis nove quatro oito oito.”

Donovan falou com a mulher. “Porque ele continua a dar o seu nome, posição e número de série?”

“Ele fazer mesmo comigo. Mesmo quando lhe perguntar um pouco zangada, ele dizer esse nome por duas semanas ou mais. Não ter mais nada a dizer."

Donovan ficou quase tão surpreso com o discurso da mulher como com o velho a repetir a mesma informação indefinidamente. Ela falava um inglês mau, mas não era como se a sua língua nativa fosse alguma outra língua, porque ela não tinha sotaque estrangeiro. Apenas parecia que ela não sabia como ordenar as palavras corretamente.

Então, ela afinal não é perfeita.

A jovem estendeu a mão para a pilha de papéis, folheou algumas páginas, puxou uma carta e colocou-a no topo da pilha.

Donovan leu em voz alta:

Departamento de Assuntos de Veteranos

5000 Woodland Ave

Filadélfia, PA 19144

24 de março de 2014

Sr. William S. Martin

1267 Bradley Street

Avondale PA 19311

Caro Sr. Martin,

Fomos informados da sua situação de falecimento a 4 de junho de 1988. Por meio deste, suspendemos os seus pagamentos de indemnização por invalidez a partir desta data e exigimos ainda o reembolso de indemnizações anteriores de 5 de junho de 1988 até à presente data no valor de $745.108,54 a serem pagos ao Departamento de Assuntos de Veteranos.

Se este valor não for pago imediatamente, retiraremos da sua indemnização mensal por invalidez no valor de $20.780,80 por mês até que o valor total seja pago.

Atenciosamente,

Sr. Andrew J. Tankers,

Assistente Administrativo da Diretora, Sra. Karen Crabtree.

Os AV servem aqueles que serviram o nosso país.

Donovan virou a carta para capturar a luz de uma janela próxima. Ele semicerrou os olhos para a assinatura. Sim, estava realmente assinado com tinta, não pré-impresso.

Bem, Sr. Andrew J. Tankers, como pretende reter $20.780,80 dos 'pagamentos mensais descontinuados' do Sr. Martin? Principalmente porque acha que ele morreu em 1988?

Donovan olhou para a jovem. “Estas pessoas nunca leem as cartas que assinam?”

Ela deu de ombros.

"O que quer que eu faça?" Donovan perguntou.

“Não podemos receber esse dinheiro agora, pelo menos nos últimos dois meses.”

"Sim, vejo que eles pararam o seu... ele é seu avô?"

"Bisavô."

“Eles suspenderam os pagamentos do seu bisavô porque pensam que ele faleceu.”

"Ele não morreu."

“Vejo que não, mas quando um computador do governo pensa que você está morta, é quase impossível convencê-lo do contrário.”

"Como podem fazer isto?"

"Você tem que levar o Sr.Martin... tem uma cadeira de rodas?"

Ela abanou a cabeça.

"Vai ter que arranjar uma cadeira de rodas e levar o senhor Martin... tem um automóvel?"

Ela abanou a cabeça.

"Então terá que chamar um táxi e levar o Sr. Martin até aos escritórios dos AV, e ele pode dar-lhes o seu nome, posto…"

“Onde há essa coisa de rodas?”

Donovan olhou para a porta. "A sua mãe está?"

"Não ter mãe."

"O seu pai?"

"Ambos morrer, só um, apenas avô e Sandia."

"Onde está a Sandia?"

Ela franziu a testa. "Estou aqui."

"Você é a Sandia?"

Ela acenou com a cabeça. “Até há duas semanas, o avô fazia esta coisa, essa coisa, trazia comida para casa, pagava a luz, pagava água, também cuidar de mim. Mas agora eu só posso esforçar-me para cuidar avô e todas as outras coisas sem dinheiro.”

Donovan ficou quieto por um momento. Em que me havia metido desta vez?

"Porque me ligou?"

"Eu encontrar você no livro amarelo."

"Deixe-me ver."

Ela saiu da sala e voltou com as páginas amarelas. Abriu o livro numa página com o canto dobrado para baixo. “Aqui estar seu número.”

Ele olhou para o anúncio. 'Advogado de Indemnização por Invalidez. Milton S. McGuire. Podemos curar os seus difíceis desentendimentos sobre deficiência. 555-2116. '

"Hmm…" Donovan pegou no livro e folheou algumas páginas. “Aqui está o meu anúncio; 'Tradução de Braille para cegos. Donovan O'Fallon. 555-2161.'” Mostrou a ela. "Você transpôs os dois últimos dígitos e apanhou-me a mim em vez do advogado."

Sandia olhou para o anúncio e ele percebeu que ela não tinha entendido o que tinha acontecido.

“Eu traduzo textos impressos para Braille e também faço outras coisas.”

Sandia olhou para ele, encarando-o por um longo tempo. "Então você não vai ajudar-me?"

A cor dos seus olhos era algo entre o azul de um lago alpino e o céu azul numa doce manhã de verão.

"Lamento," disse Donovan. "Não há nada que eu possa fazer."

Ela esperou um pouco, como se tentasse entender algo. "Está bem então." Ela abriu caminho para a porta da frente.

Na varanda, ele olhou nos seus olhos preocupados por um momento. "Adeus, Sandia."

"Adeus, Donovan O'Fallon."

Ela deu um passo para trás, deixando a porta fechar em câmara lenta, aparentemente por sua própria vontade, terminando com um eclipse suave de visão.

Donovan olhou para a tinta lascada e ferrugem escamosa onde a sua imagem estava. Uma vaga sensação de perda trouxe algo do fundo da sua mente.

Após um momento, ele começou a descer o passeio.

Uma senhora trabalhava no seu canteiro de flores ao lado.

“Olá,” ele disse enquanto atravessava o quintal cheio de mato em direção a ela.

Ela olhou-o criticamente e olhou para a casa que ele acabara de deixar. "Ora viva."

“Conhece as pessoas que moram aqui?”

"Quer dizer a retardada e o velhote?"

"Não acho que ela seja retardada."

“Oh? Falou com ela?"

“Sim.”

"E não acha que ela tem uns parafusos a menos?"

"Ela tem algum tipo de problema da fala."

“É assim que lhe chamam hoje em dia? O velho ainda está vivo?"

"Sim, ele está bem."

“Ninguém o vê há meses. Julgámos que morrera e que a retardada o enfiara no congelador.” Ela riu como uma hiena.

Outra pessoa riu — um velho que surgiu atrás de uma fileira de azáleas, como uma caixa de surpresas grisalha. Talvez fosse o marido da mulher.

“No congelador!” Zurrava como um idiota.

Talvez alguém devesse enfiar-vos aos dois num zoológico.

Donovan virou-se e foi para o carro. Ligou o motor do seu Buick vermelho e cremebrilhante e puxou o cinto de segurança sob o seu colo, encaixando-o na ranhura. Olhou pelo espelho retrovisor para ver duas meninas aos pulos no passeio. Tinham riscado quadrados tortos no cimento e agora pulavam entusiasmadas e risonhas. À sua frente, um homem enorme e suado, sem camisa e com calções muito apertados, cortava a relva.

Donovan olhou de volta para a casa de Sandia, onde a grama alta se transformava em sementes e as roseiras esguias caíam no chão.

"Caramba," sussurrou e desligou o motor.

Capítulo Três

Período: 1623 AEC, no mar do Pacífico Sul

Akela estava deitado de bruços no cordame entre os cascos da sua canoa dupla de dezasseis metros. Os seus dedos deslizaram na água enquanto observava as ondas do Pacífico Sul.

Mais duas canoas duplas formavam esta frota de migração. A segunda era pilotada pelo amigo de Akela, Lolani, enquanto a terceira era comandada por Kalei. Os três homens foram escolhidos propositadamente pelos chefes Babatana por não serem parentes de sangue uns dos outros. Nem as suas esposas.

Através de incontáveis gerações, os polinésios aprenderam que as novas colónias provavelmente morreriam se os adultos fossem parentes próximos uns dos outros. Também sabiam que um único casal não poderia produzir uma população sustentável. Com dois ou três casais, ainda era duvidoso, por isso enviavam sempre pelo menos quarenta pessoas nessa viagem, para garantir o sucesso de uma nova colónia.

"Tevita," disse Karika para a filha de cinco anos, "leva este kahala ao teu pai."

A menina riu, pegou no pedaço de peixe fresco e correu pela plataforma e ao longo da canoa em direção à proa. Não tinha medo de cair no mar. E se por acaso caísse, nadaria até uma corda que a ajudasse a levantar-se ou procuraria alguém que lhe estendesse a mão para tirá-la da água.

“Pai,” disse Tevita, “tenho uma coisa para ti.”

"Ah," disse Akela, "como sabias que estava cheio de fome?" Pegou no filete de kahala cru, mergulhou-o no mar e partiu-o em dois, passando metade à filha.

Mastigaram em silêncio enquanto observavam as águas diante de si.

Akela foi eleito chefe da expedição devido às suas habilidades de navegação. Já dera mostras do seu valor em várias viagens longas.

As três canoas foram cortadas de árvores kauri encontradas na sua ilha natal, Lauru. Cada nave carregava duas velas triangulares feitas de folhas de pandano trançadas.

Os cascos duplos das canoas eram amarrados com um par de vigas de quatro metros e meio decoradas com tábuas de teca. Carregavam 54 adultos e crianças, além de cães, porcos e galinhas, com fruta-de-pão em vasos, coco, inhame, jambo, cana-de-açúcar e plantas de pandano.

Além das pessoas e dos animais, um fregata enjaulado - uma fragata

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Numa das canoas, cinco mulheres estavam sentadas de pernas cruzadas sob um teto de folhas de palmeira. Conversavam sobre a viagem e como seria a sua nova casa enquanto limpavam os peixes que haviam pescado.

O peixe cru não só lhes fornecia sustento, como também lhes fornecia o líquido que os seus corpos ansiavam. Usavam as cabeças e entranhas como isca para apanhar mais peixes e talvez uma saborosa tartaruga marinha.

Tinham anzóis feitos de osso de cão e linha de pesca tecida com coco, as fibras da casca do coco.

Complementavam a sua dieta de peixe cru com carne seca, fruta-de-pão, coco e inhame.

"Karika," disse HiwaLani enquanto cortava ao meio uma fruta-de-pão com a sua faca de basalto, "se houver pessoas na nova ilha, será que gostarão de nós?" A lâmina lascada da sua faca de basalto preto era afiada o suficiente para cortar a casca de um coco ou a parte traseira de um porco recém-morto.

Karika olhou para a adolescente. "Provavelmente não. Todas as ilhas estão superlotadas. Se encontrarmos pessoas lá, Akela vai trocar por alimentos frescos e guiar-nos a outra ilha."

Na proa da canoa, Akela estudou a sua cartolina, que parecia um brinquedo de criança; lascas de madeira amarradas com pedaços de fibra para formar um retângulo áspero. No entanto, era, na verdade, uma carta náutica que mostrava os quatro tipos de ondas do oceano encontradas no sul do Pacífico. Minúsculas conchas presas ao mapa marcavam as localizações de ilhas conhecidas.

Usando os seus conhecimentos das ondas do oceano, dos ventos sazonais e da posição das estrelas, os polinésios atravessaram grande parte do vasto oceano.

Akela olhou para Metoa por cima do ombro, que se sentou na popa do casco esquerdo, segurando o remo na água. Akela apontou para o nordeste, ligeiramente à direita da sua atual direção.

Metoa acenou com a cabeça e mudou o remo para ajustar o curso.

Os outros dois barcos, atrás, à esquerda e à direita da esteira da canoa líder, mudaram o curso para seguir Akela.

“Se a nova ilha não estiver superpovoada,” disse HiwaLani, “pode ser que nos recebam com ahima'a.

Karika cortou a cabeça de um pargo vermelho. "Um banquete?" Ela riu. "Sim, e serve-nos para o prato principal."

As outras mulheres também riram, mas HiwaLani não. “Canibais? Como aqueles selvagens em NukuHiva?”

"Quem sabe." Karika esventrou o pargo e despejou as entranhas numa meia cabaça. “Sabe-se lá o mal que se esconde em algumas dessas ilhas remotas.”

HiwaLani fatiou a fruta-de-pão. "Espero que haja jovens amistosos escondidos por lá."

“HiwaLani,” disse Karika, “temos quatro jovens solteirões aqui nos nossos barcos."

HiwaLani jogou os seus longos cabelos negros para trás sobre o seu ombro nu. “São muito imaturos. Prefiro casar com um canibal.”

"Olha ali." Karika apontou a faca para o oeste, onde uma linha de nuvens de tempestade pairava sobre o mar azul.

"Bem," disse HiwaLani, "pelo menos teremos água fresca esta noite." Ela levantou-se e atirou a fruta-de-pão aos porcos famintos.

“Sim.” Karika olhou para o cordame dianteiro, onde o seu marido e a sua filha estiveram poucos minutos antes. "Parece que sim."

Akela ficou na proa do casco esquerdo, protegendo os olhos com a mão, observando as trovoadas.

A pequena Tevita, a seu lado, imitava o pai.

Durante as ocasionais rajadas de chuva, as mulheres moldavam a palha do seu telhado num funil para canalizar a água da chuva em cascas de coco. Quando cheios, tapavam-nos com rolhas de madeira e colocavam-nos no fundo das canoas.

Antes de iniciarem a viagem, as mulheres haviam feito um furo em cada um dos cinquenta cocos frescos, drenado o líquido para ser guardado para cozinhar e colocado os cocos em vários formigueiros. Em poucos dias, as formigas fizeram o seu trabalho de limpar o caroço de dentro dos cocos, deixando recipientes limpos e resistentes para o armazenamento de água potável.

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