Custo: 1000 créditos
— Podes explicar? — viro-me para a raposa que me parece completamente descontraída com esta informação. Ela aponta primeiro para a opção mais barata.
— Esta é a opção criada pelo Sistema que pode ser adquirida por qualquer ser que faça parte do mesmo. Contudo, como foi desenvolvida para ser utilizada por todos os habitantes do Sistema, não há garantia da assimilação do conhecimento e, em casos extremos, pode causar danos. Em todos os casos, exceto nos mais extremos, apenas a informação mais básica é transmitida.
— A segunda opção foi desenvolvida especificamente por um dos nossos artesãos para garantir que ocorrerá a assimilação completa do conhecimento. Defendemos o produto a 100% e este tem sido particularmente bem-sucedido no seu mundo. Alguns indivíduos dotados têm sido capazes de obter um nível base de habilidades mais elevado ao comprarem este produto.
— Qual é a probabilidade de um humano normal obter a habilidade? — aponto para a habilidade do Sistema.
— 32%.
— E eu?
— 98%.
— Foi o que pensei — digo e deslizo a janela da habilidade do Sistema para esta se juntar à do tratamento de genoma. A Nível 7, a minha inteligência é muito superior à da média humana, apesar de nunca ter sido considerado burro. Volto para as janelas de compra para analisar o último artigo específico.
Guia do Thrasher para Sobreviver ao Apocalipse na Terra
Este guia implementa informações básicas sobre o Sistema, o apocalipse atual e planos futuros. Estão incluídas explicações de habilidades comuns, magia, tecnologia, pontos de segurança, a Loja e mais.
Custo: 50 créditos
Olho desconfiado para isto e crio uma segunda secção para os “talvez”. Tenho a sensação de que o Ali tem mais informações do que um guia de 50 créditos, mas não custa nada perguntar. A seguir, a minha classe:
— Lista de informação disponível sobre a Guarda de Honra de Erethran.
Aparece uma lista gigante a detalhar o treino, a história, os costumes, as táticas de batalha, o equipamento, a atual estrutura organizacional e mais da Guarda de Honra, a maioria dentro dos 20/50 créditos, por isso, compro tudo. Curiosamente, até há informações sobre missões secretas e escondidas disponíveis, mas evito comprar essas. Calculo que a Guarda fique furiosa comigo de qualquer maneira, não preciso que se armem em arrogantes só porque comprei informações internas ao Sistema.
Passo às habilidades Básicas. Observo a vasta variedade de habilidades por momentos e, depois, reduzo-as apenas a habilidades de combate, por agora. Estão lá as mais vulgares como Desarmado, Lâminas, Armas, Armas de Haste, Arco e Flecha, Espingardas, Pistolas e outras. Podia aprender a conduzir um tanque, se quisesse! Uma parte de mim ri-se da ideia, mas ponho-a de lado logo a seguir. Para começar, acho que não havia um único tanque em Yukon, nem antes do apocalipse. Agora, seria apenas uma carcaça de metal.
Não, é melhor focar-me naquilo de que preciso. Agarro nas habilidades de combate desarmado, adicionando-as ao monte “comprar” e, depois, adiciono as de espingardas e pistolas, juntamente com as de lâminas, ao monte “talvez”. Tenho de saber que tipo de armas vou comprar antes de decidir isto.
Puxo a seleção de habilidades de classe e estremeço. Até a habilidade de classe mais barata começa nas dezenas de milhares de créditos e não me parecem ser assim tão boas. Tenho mesmo de equilibrar o meu desejo de ter uma habilidade fixe com o facto de precisar de armas, transporte e habilidades. Ainda assim, destaco algumas e atiro-as para a coluna de “comprar”.
Faço um sorriso forçado, acabo o café e, depois, abano o copo vazio à raposa, enquanto abro as barras de chocolate. Pois... Uma pesquisa rápida revela uma série de opções de barras de chocolate e delicio-me, pegando numa pilha de chocolates suíços. Pronto, próximo! Ter uma arma seria fantástico, mas tenho de me lembrar de que preciso de dinheiro para uma armadura e um modo de transporte. São apenas mais ou menos 160 quilómetros até Whitehorse mas, a pé, demoraria umas quantas semanas. Isto sem contar com os vários monstros que devem aparecer pelo caminho.
É melhor descobrir primeiro os custos do transporte. A lista que surge faz-me retrair. Até a mota mais básica custa umas centenas de créditos e um automóvel é mais de 10 000 créditos, com requisitos de abastecimento de gasolina. Qualquer coisa mais avançada e os preços dão um salto ainda maior, mas, olhando de relance para os detalhes, percebo o motivo. Muitos dos veículos mais avançados abastecem-se diretamente do Mana recolhido. A armadura também deve ser cara. Na verdade, deve ser mais cara do que qualquer arma que compre, se a própria história da humanidade servir de exemplo.
Franzo a testa, chateado, a olhar para os veículos. Deve haver alguma maneira de fazer isto.
***
— Onde raio te meteste? É bom que não tenhas comprado nada! — O Ali dá um encontrão na porta, desesperado, à minha procura, finalmente lembrando-se de que não estava sozinho. Ele apressa-se a vir ter comigo e aponta-me um dedo chateado: —Distraí-me durante um segundo!
Reviro os olhos, com os pés no ar, e olho para as janelas que flutuam à minha frente, em toda a sua glória azul. Um pensamento e elas minimizam-se antes de o Ali as conseguir ler e puxo uma janela nova.
— Para com isso. Já arranjei algo melhor — aponto para a janela e ele olha para ela de forma acusadora.
Companheiro IA Classe Lambda de Sexta Geração
Resultado da combinação de uma classe de IA Delta e Épsilon, este Companheiro Classe Lambda de Sexta Geração ainda está na sua infância. Contudo, com o seu código base, espera-se que processe níveis significativos de dados e que consiga operar até três máquinas de classificação D ou uma máquina de classificação C.
Classificação: C
Requer: Hardware mínimo de classificação D para instalação
A ler furiosamente, os olhos do Ali arregalaram-se e ele diz logo a seguir: — Tu, tu... Tu ias substituir-me por um monte de código! — ele grita a última parte e a sua cara fica completamente vermelha. — Sua bola de carne ingrata, seu verme inútil comedor de carne e amante de ovelhas...
Ele para de falar quando eu me dobro de tanto rir. Primeiro, tento controlar-me, mas quando ele para de refilar, caio da cadeira e continuo a rir. Sempre que penso que tenho as emoções controladas, volto a olhar para a cara de sofrimento do Ali e volto a desmanchar-me a rir. Até a raposa está ligeiramente divertida, pela forma como a sua cauda se mexe.
Não sei quanto tempo demoro a controlar as emoções, mas é um bom bocado. Quando o faço, aponto um dedo ao Ali:
— Que belo Companheiro me saíste, estes aldrabões quase me engaram.
O Ali semicerra os olhos e suspira, invocando a nave espacial. Quando olha para ela, a janela pisca conforme ele lê mais detalhes e resmunga:
— Sim, é uma porcaria. Está três gerações desatualizada, os mísseis não estão incluídos, não tem armadura e trocaram o disco espacial original por um monte de porcaria que pode ou não levar-te para o hiperespaço e, certamente, terias de a reabastecer a cada salto. Eles nem sequer a abasteceram.
A raposa está quieta, com um sorriso que não convence ninguém, enquanto falamos. Estes tipos não têm vergonha. É por isso que tenho todo o gosto em deixar o Ali regatear e deixá-los na penúria.
— Muito bem, já chega de brincadeiras. Como te saíste? — faço um gesto para o sítio de onde ele veio.
—Vim buscar-te — murmura o Ali, antes de me responder. — Bastante bem. A bolsa da salamandra foi a primeira a vir da Terra, por isso, recebeste um bónus e deram-nos 23 187 créditos. O couro de ogre foi bastante barato, exceto o das crianças. Essas são especiais por serem mais moles.
Ele cala-se quando eu levanto uma mão, não preciso da lista detalhada dos seus feitos. Ele resmunga durante um bocado sobre crianças ingratas, antes de responder:
— 38 632 créditos por tudo.
— Isso dá 250 632 créditos, certo? E, corrige-me se estiver errado, mas podemos comprar e aplicá-los conforme precisemos, certo?
— Sim…
— Boa. Eis o que estou a pensar — gesticulo para as janelas acabadas de abrir, preparando-me para discutir com o Espírito.
***
— Podes parar a qualquer altura, jeitoso — diz o Ali, enquanto olho para o meu reflexo. Faço-lhe um sorriso maldoso, toco no capacete novamente e faço-o voltar a ser um aro de metal à volta do meu pescoço. O fato de apenas uma peça que tenho vestido é todo preto e não deixa nada à imaginação. Mas não faz mal, porque também é uma armadura.
Para variar, sou mesmo jeitoso. O tratamento de genoma parece ter-me feito, entre outras coisas, mais bonito. O meu queixo está mais definido, os meus traços mais simétricos e alongados, misturando as minhas origens chinesas com outras raças. Pareço mais o Keanu Reeves do que eu mesmo, em alguns aspetos. Mantive algumas coisas, como o meu cabelo e olhos pretos, mas houve pequenas mudanças adicionais pelo meu corpo todo, incluindo uns dez centímetros extra na minha altura e uma quantidade significante de músculo. Linhas que se começaram a notar nos últimos anos, pequenas o suficiente para eu ser o único a reparar, desapareceram, o que me rejuvenesceu uma década e me fez voltar a parecer ter 20 e poucos anos. As modificações faciais são particularmente desconcertantes, mas, felizmente, pareço ter-me adaptado relativamente bem, subconscientemente, a todas as alterações. Creio que o treino de resistência mental incluído na minha classe me está a ajudar. Isso ou o Sistema está a alterar a minha mente para eu poder seguir com a minha vida.
Surpreendentemente, além das alterações à superfície, não sinto uma grande diferença no desempenho do meu corpo. Quando o mencionei ao Ali, ele explicou que é um efeito secundário do meu nível e da minha classe. Como já atingi o pico da genética humana há muito tempo, o tratamento de genoma só pode fazer pequenos ajustes adicionais. Algo sobre criar fibras musculares mais densas, um nível mais elevado de glóbulos vermelhos, um aumento da matéria cinzenta, entre outros. Desliguei durante grande parte da explicação.
Basicamente, foquei-me nas modificações a nível psicológico. Como parte do tratamento de genoma, parece que era necessário um fluxo de químicos que me deixou mais estável, com as emoções um pouco mais sob controlo. Ainda há restos de raiva e culpa por ter sobrevivido, mas, por agora, estou outra vez funcional, sem o profundo desequilíbrio químico neurológico que tinha. Ao ver que a minha resistência mental estava a lidar com as minhas alterações físicas exteriores com compostura, questiono-me o quão perto estaria de perder a cabeça, se não tivesse a minha classe. Para um antigo funcionário de escritório, já me tinha escondido, corrido e matado bastante, durante a última semana.
Não interessa, ainda aqui estou e os “se” são infinitos. As coisas são como são. Ainda assim, estou curioso por ver o que mudou no meu quadro de estatísticas.
Atributos não atribuídos:
12 Pontos de estatística
Gostarias de atribuir estes atributos? (S/N)
— A tua mãe não te disse para não lhe mexeres tanto? — protesta o Ali e eu volto ao presente, parando de coçar a cabeça. Nem sequer fiquei com uma cicatriz. Mas, se me concentrar, consigo sentir a ligação neurológica instalada na minha mente a ativar-se. Era quase capaz de jurar que o sinto no cérebro, mas sei que isso é puramente psicossomático. Volto a invocar a janela com os detalhes da ligação.
Ligação Neurológica Nível IV
A ligação neurológica consegue suportar até cinco conexões.
Conexões atuais: Veículo Blindado Pessoal Omnitron III Categoria II
Software Instalado: Firewall Rich’lki Categoria IV, Controlador Omnitron III Categoria IV
Faço a janela desaparecer e aproximo-me do meu Veículo Blindado Pessoal (VBP), tocando no guiador. O VBP parece uma mota de estrada com esteroides na sua configuração, completamente preta com placas blindadas revestidas e elegantes. Mas isso não é tudo. Com apenas um pensamento, o VBP pode desmontar-se e unir-se a mim, funcionando como uma armadura. Isso mesmo, tenho uma mota mecha. Quase compensa todas as porcarias estúpidas e de loucos pelas quais passei. Quase.
Não consigo evitar voltar a invocar os detalhes da mecha, só para me vangloriar um bocadinho.
Veículo Blindado Pessoal Omnitron III Categoria II (Sabre)
Núcleo: Motor Mana Omnitron Categoria II
Processador: Processador Categoria D com Núcleo Xylik
Classificação da Armadura: Nível IV
Pontos Fortes: 4 (1 utilizado em integrador do Manipulador de Física Quântica)
Pontos Fracos: 3 (1 utilizado em ligação neurológica)
Requer: Ligação neurológica para configuração avançada
Capacidade da Bateria: 120/120
Atributos Extra: + 20 Força; + 7 Agilidade; + 10 Perceção
O Ali chegou a ser útil. Trabalhou comigo para ajustarmos a minha escolha inicial da versão Ares deste produto para o Omnitron. O Omnitron tem mais armamento e é blindado, mas tem um motor a Mana mais pequeno. Portanto, seguindo a sugestão do Ali, sacrificámos o armamento instalado e a armadura mais eficaz por um motor a Mana melhorado. Como resultado, ficou apenas a base do produto, sem nenhum apetrecho, mas este pode ser bastante melhorado e tem uma recarga muito mais rápida.
Para diminuir os custos, também escolhemos uma armadura ablativa. Segundo o funcionamento das armaduras neste novo mundo, podia escolher entre uma armadura super resistente que partiria se fosse atingida ou uma armadura ablativa que vai ficando amolgada, mas que pode ser usada mesmo depois de sofrer danos. Claro que a armadura de Nível IV continuava a ser extremamente forte para os padrões pré-Terra. Aliás, a maioria dos monstros que enfrentei diretamente mal lhe conseguiriam fazer um arranhão. Obviamente, não estou a contar com a salamandra, pois nunca lutei contra ela, apenas corri bastante.
A única melhoria que comprámos para a mota foi o integrador para o MFQ, que, por si só, tinha custado um quarto do preço da Sabre. Sim, dei-lhe um nome. Julguem-me. Diria que fiquei surpreendido com o quão dispendiosa a melhoria foi, mas, tendo em conta que o MFQ foi ridiculamente útil, estava disposto a pagar.
No entanto, ficámos com fundos bastante reduzidos para a minha arma pessoal. Acabámos por nos contentar com duas armas diferentes. A primeira estava presa à Sabre através de um coldre acessível, com algumas modificações pequenas. À primeira vista, parecia uma espingarda de caça semiautomática normal, com uma coronha de madeira falsa, apenas tinha uma coronha um pouco mais volumosa do que o normal. Claro que não era bem assim:
Espingarda Ferlix de Raio Tipo II (Modificada)
Danos Base: 38
Capacidade da Bateria: 21/21
Velocidade de Recarga: 1 por hora por UMG (atualmente 12)
Tive de chatear o Ali para que me explicasse a velocidade de recarga e ele acabou por mencionar demasiados detalhes, até usou gráficos e tabelas com mapas do sistema solar e da galáxia. Verdade seja dita, desliguei passados cinco minutos. Resume-se tudo a isto: o Conselho Galáctico instituiu uma série de medidas tendo em conta a “base” de Mana disponível no ambiente que rodeia a capital. Este é uma única Unidade de Mana Galáctico ou UMG. Todos os motores a Mana eram classificados com base na sua capacidade de absorver e carregar uma bateria de Mana com apenas uma UMG. Contudo, nos Mundos Masmorra e em zonas com níveis mais elevados, a velocidade de recarga aumenta, uma vez que há mais UMG. As baterias de Mana podem ser recarregadas diretamente, mas é preciso ter um conjunto de competências especializadas, pois uma bateria de Mana mal recarregada pode explodir.