Assim que chegou sua vez, Riario apresentou obsequioso o agradável convidado à mulher:
Sua Excelência Tristano di Ginni, aquele em quem Sua Santidade põe Sua total confiança e graça disse, como se quisesse sublinhar que era daquele homem que dependia o sucesso da próxima empreitada e o destino de sua família.
Uma extraordinária fama o precede, senhor enfatizou Catarina, voltando-se de imediato ao convidado.
Extraordinária é a confecção de seu magnífico pingente gravado a cinzel com a excelente técnica dos mestres franceses de fusão de cera persa, senhora respondeu logo o jovem diplomata, encarando o longo pescoço e levantando a mirada aos olhos, profundos, orgulhosos por pertencer a uma estirpe de gloriosos guerreiros, mas ao mesmo tempo taciturnos, conformados portais de uma alma insatisfeita, fiéis indicadores da típica infelicidade da alegria de fachada.
Tristano foi capturado por esses olhos, não se desligou deles nem um momento durante toda a noite e, aproveitando a ausência temporária do marido, entretido do lado de fora por cardeais e políticos, ousou convidar a senhora a uma basse dance.
Ela, desde Milão, costumava praticar diversas atividades, mesmo as consideradas inconvenientes para seu sexo e sua categoria: era uma hábil caçadora, tinha verdadeira paixão pelas armas e uma forte inclinação ao comando, herdada de sua mãe, além de amar entregar-se a experimentos de botânica e alquimia. Era aventureira e amava os aventureiros.
Embora todo o salão prestasse atenção, não pôde recusar.
Adoro a escultura grega de Policleto e Fídias. E a senhora? perguntou Tristano enquanto os passos de dança permitiam que a boca dele se aproximasse do ouvido dela.
Sim, é sublime. Adoro-a também eu respondeu Catarina sorrindo.
Nunca viu a coleção de arte do palácio Orsini? Há corpos hercúleos de mármore inestimáveis acrescentou o audaz cavaleiro.
Oh. fingiu admirar-se e inquietar-se a nobre. imagino O senhor também precisa ver os retratos de meu Melozzo, que guardo com zelo em meu palácio replicou voluptuosa, antes que a música os separasse.
Durante o resto da noite, a refinada dona da casa ignorou as atenções do jovem sedutor, que, ao contrário, não via ou sentia nada além do brilho e o odor daquela pele que acabara de tocar.
A ceia terminou e, um após o outro, os comensais abandonaram o exitoso banquete.
Tristano já estava no pátio quando um pajem se aproximou com um bilhete dobrado
"As obras de meu Melozzo estão no salão do piso nobre".
E assim como não pôde recusar o convite do filho do papa, não podia de forma alguma recusar o de sua estimada nora. Voltou para dentro e seguiu o empregado até o piso superior, onde esperou impaciente o momento em que poderia finalmente desatar aqueles longos cabelos louros, sob os quais descobriu a intensidade dos lábios, escarlates como as feridas das inúmeras misérias humanas.
Catarina tinha uma psique complexa e a complexidade da psique de uma mulher um bom sedutor sabe observar melhor em duas circunstâncias: no jogo e entre os lençóis.
Até a aurora do novo dia, não se poupou, nem mesmo quando confidenciou a Tristano, entre lágrimas, as violências sofridas desde criança.
Às vezes os segredos só podem ser confiados a um estranho disse.
Logo depois, começou sua comovente narrativa:
Não era eu a esposa prometida a Girolamo Riario: estava tudo acertado para que fosse minha prima Costanza, à época com onze anos de idade, quem se uniria diante de Deus àquele animal raivoso. Na véspera do casamento, porém, minha tia Gabriela Gonzaga exigiu que a consumação da legítima união apenas acontecesse após três anos, ao chegar a idade legal da pequena Costanza. Diante de tais condições, Girolamo, furioso, anulou o matrimônio e ameaçou terríveis repercussões contra toda a família pela grave humilhação sofrida. Foi assim que, como se faz com um anel danificado, meus pais substituíram-me pela prima recusada, consentindo a todas as exigências do despótico esposo. Eu tinha apenas dez anos.
Tristano, chocado, apenas a abraçou com força e enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto.
VI
O cerco de Otranto
Ahmed Paxá e a liga contra os turcosDepois de alguns dias, arranjados os últimos detalhes, o incansável mandatário pontifício partiu para Nápoles.
Acompanhando-o na secreta missão estava o valente Pietro, plenamente recuperado e ansioso para ver a cidade partenopeia de que seu pai lhe havia tanto falado quando era jovem.
Para Tristano, não era a primeira vez e, após as insistências um tanto impertinentes de seu servente, começou a contar dos ocorridos de quase três anos antes:
Eu estava tão animado e curioso quanto você agora. Pense, eu só conhecia Nápoles por um velho mapa beneditino desenhado para mim pelo meu falecido avô, para mostrar onde minha mãe havia prestado serviço à corte quando jovem. Acompanhei o Frade Roberto, meu mestre e guia, que à época era conhecido como Frade Roberto Caracciolo da Lecce, até a maravilhosa capela real de Nápoles, e juntos advertimos o rei Fernando de Aragão do iminente perigo turco nas costas orientais.
Uma enfática carta do Grão-Mestre dos Cavaleiros Hospitalários havia informado o pontífice sobre a tentativa da República de Veneza de pressionar os otomanos a realizar uma expedição contra a península italiana, mais especificamente no Reino de Nápoles. Obviamente, isso, causava indizíveis preocupações não apenas aos aragoneses, mas a todo o cristianismo.
No entanto, Ferrante (nome que os súditos davam ao rei Fernando), não apenas se manteve alheio aos avisos sobre os turcos, mas logo ordenou, irresponsavelmente, a remoção de 200 cavaleiros de infantaria de Otranto para lançá-los contra Florença.
Assim, o grão-vizir Ahmed Paxá, depois de uma tentativa frustrada de tomar a Ordem dos Cavaleiros de São João de Jerusalém, aportou sem problemas com sua frota na costa de Brindisi, voltando sua atenção para a cidade de Otranto. Logo enviou seu mandatário àqueles brancos muros, garantindo a vida do povo de Otranto em troca da imediata rendição incondicional. O povo, no entanto, não apenas recusou as condições do mensageiro turco, mas desastrosamente o mataram, provocando a previsível ira do feroz Ahmed Paxá.
No verão, os turcos irromperam na cidade como feras sedentas de sangue e em poucos minutos destruíram tudo que se opunha a eles.
A catedral foi o único refúgio para mulheres, crianças, velhos, homens com deficiências, moradores aterrorizados, o último bastião onde se proteger quando todas as outras defesas haviam caído: os homens reforçaram os portões, as mulheres, com os filhos nos braços, em fila ao longo da cosmogônica árvore da vida, pediam aos religiosos a última comunhão e, como os primeiros cristãos, exaltavam a Deus com um triste canto litúrgico à espera do martírio; a cavalaria arrombou o portão, os demônios lançaram-se, viraram-se contra a multidão sem fazer qualquer distinção; o arcebispo ordenou em vão que os infiéis parassem, mas foi ignorado, ferozmente golpeado e decapitado junto com os seus; nem mulheres ou crianças foram poupadas daquela cega fúria homicida. Mulheres nobres saqueadas e desnudadas, as mais jovens estupradas repetidamente na presença dos próprios pais e maridos amarrados pelo pescoço, mortas antes na honra e na alma que no corpo. Da catedral, a mais cruel e hedionda violência espalhou-se por toda a cidade. Num primeiro momento, oitocentos homens conseguiram fugir para uma colina, mas mesmo eles foram presos pelo exército do bárbaro chefe e passados um a um pelo fio da cimitarra. A população foi abominavelmente exterminada: dos cinco mil habitantes, ao fim do dia contavam-se apenas algumas dezenas, poupados sob a condição de converter-se ao Corão e pagar a incrível quantia de trezentos ducados de ouro.
Apenas quando essas execráveis notícias chegaram à corte, Ferrante compreendeu o enorme erro que cometeu e decidiu confiar a reconquista daquelas terras a seu filho Afonso.
Paternalmente, o Santo Padre escreveu a todas as senhorias da Itália, pedindo-lhes que botassem as rivalidades internas de lado para formar uma frente única contra a ameaça otomana e, em troca, concedeu aos aderentes da liga cristã a indulgência plenária. Dada a gravidade da situação, a Cúria disponibilizou 100.000 ducados para a construção de uma frota de 25 galés e o equipamento de 4.000 soldados de infantaria.
Ao apelo de Sisto IV responderam, além do rei de Nápoles, o rei da Hungria, os duques de Milão e Ferrara, as Repúblicas de Gênova e Florença. Como era previsto, nenhum apoio chegou de Veneza, que no ano anterior havia firmado um tratado de paz com os turcos e não podia permitir-se parar mais uma vez as rotas comerciais com o oriente.
Apesar da tardia, mas imponente mobilização cristã, os otomanos não apenas conseguiram manter sob seu controle a Terra de Otranto e parte da Terra de Bari e Basilicata, mas estavam prestes a voltar seu exército para o norte sobre a Capitanata, e para o oeste sobre Nápoles.
Foi graças a nossa diplomacia que se conseguiu interceptar uma mensagem de Maomé II na Anatólia; oportunamente modificada e acondicionada, entregamos a Ahmed Paxá por um espião nosso. O capitão turco mordeu a isca: com dois terços de seu exército, deixou Otranto temporariamente e embarcou para Valona; durante a travessia, foi cercado pelas naves da liga cristã e finalmente, depois de meses de conquistas e vitórias, sofreu uma derrota devastadora, pesadíssima, tão grande que foi obrigado a fugir em uma pequena embarcação na Albânia.
A notícia da vitória naval e, ainda mais, da terrível fuga do chefe bárbaro, reergueu a moral dos napolitanos e seus aliados o duque Afonso conseguiu reorganizar um discreto exército de mercenários apoiados também pelos outros senhores católicos, que agora viam a reconquista de Otranto e da Apúlia como uma possibilidade. A Espanha enviou 20 naves, e a Hungria, 500 soldados escolhidos.
Foi um dos mais imponentes cercos navais que a História registra: o colossal cerco de Otranto.
Enquanto Tristano falava, os cavalos começavam a cansar-se e precisavam de água limpa. Ele olhou em volta e parou a épica narrativa.
Pietro estava como sempre encantado e mudo, sonhador como as crianças que ouvem pela primeira vez os poemas homéricos e virgilianos.
E depois? O que aconteceu? Como acabou, senhor?
Bem, o resto é bastante recente: depois da morte de Maomé II, o novo sultão proibiu Ahmed Paxá de retornar à Itália. No fim do verão do ano seguinte, esgotados pela fome, a sede e a peste, os otomanos renderam-se, e os aragoneses finalmente retomaram controle da cidade. Segundo alguns, o famigerado líder turco está preso, outros dizem que foi executado por seus próprios soldados em Edirne. O quam cito transit gloria mundi, concluiu Tristano.
Como, excelência?
Nada, Pietro, nada. Apressemos o passo. Os fartos e hirtos seios da sereia Partenope nos esperam.
Acariciando o cavalo, apressou o passo, deixando para trás um Pietro ainda mais confuso.
VII
Dom Ferrante e os porquês de Nápoles
A emboscada e a criadaDepois de dois dias, chegaram a uma ensolarada e atarefada capital, bem no meio de um colorido mercado que vendia qualquer coisa que se pudesse conceber: frutas sobre móveis, peixes em cordas de cânhamo, da música à esculturas, de doces a animais, de relíquias a prostitutas.
Quem faz uma viagem a Nápoles deve estar preparado para conhecer pelo menos 3 divindades: a massa, a muçarela e os strufolis disse Tristano brincalhão a seu companheiro.
Espero conhecê-las todas logo, senhor retrucou Pietro.
Deixaram os cavalos em um pequeno estábulo e seguiram a pé pelos becos, por onde se articulava aquela confusa exposição de rua.
Mas logo os forasteiros perceberam que estavam sendo seguidos. Tentaram então confundir-se com a multidão, entre as tendas dos bancos, abrindo caminho entre os mercadores, mas aquele sujeito parecia conhecer aquele ambiente melhor que qualquer outro e não tinha nenhum problema em segui-los de perto. Pietro decidiu então confrontá-lo; gesticulou a Tristano que se desviasse por uma viela secundária e, assim que o homem dobrou a esquina, sacou sua espada, tentando dissuadi-lo.
A ele juntaram-se logo outros dois, muito bem equipados.
Cinicamente ameaçadores, começaram a aproximar-se, abaixando-se e curvando-se como leões sobre a presa. Depois de algumas voltas ao redor de Pietro, começou a luta: o de veste escura adornada com penas lançou um ataque duplo sobre Pietro, da direita e do alto, e de chofre avançou com o sabre na altura da cintura, fazendo aquele recuar. O outro usava um gibão vibrante com adorno octogonal de preciosos lápis-lazúli incrustados. Virando-se, levantou a espada ao céu, convidando Tristano a fazer o mesmo; lançou então a espada na direção do punhal de Tristano, que prontamente deteve o golpe, contra-atacando com sua espada e um chute na perna do adversário. Enquanto isso, o terceiro homem, de calças listradas, sacou uma espada e começou a ajudar o primeiro, alternando-se com este contra o espadachim bolonhês; lançou a espada na altura da cabeça, que Pietro bloqueou levantando o braço e invertendo a espada com a lâmina para baixo; depois, fez um amplo arco no ar e respondeu ao golpe, forçando o adversário a mudar de posição.
Enquanto o ar aquecia com as faíscas das lâminas e o estrondo dos punhais, eles entravam sem perceber nas escuras vielas da cidade velha.
Pietro fez um recuo sábio e deu um pequeno passo adiante com uma ameaça de investida; após outro vacilo falso, partiu para o ataque decidido: rapidamente, avançou com a espada de baixo para cima e, com um magistral jogo de punho, deu um golpe da direita para a esquerda, forçando o valentão a abrir o braço e deixar seu peito desprotegido; bloqueando então a lâmina com o escudo, afundou inexorável a arma no peito.
No outro fronte, Tristano estava em sérias dificuldades, enfrentando um adversário bem treinado, ágil, que avançava com o joelho esquerdo golpeando com a mão direita e vice versa, simulando rotações com o corpo, mudando com agilidade ritmo e guarda, na busca de qualquer incerteza na vacilante defesa do diplomata. Pietro tentou prestar-lhe socorro, e o teria feito se também não estivesse ocupado com seu osso duro de roer.
Caíram de repente na cabeça dos napolitanos enormes lençóis brancos remendados e chumbados nas pontas; ficaram presos neles por alguns instantes. O assobio de um malandro indicou a Tristano e seu ajudante uma via de fuga e, quando os valentões conseguiram soltar-se, a portinhola de uma cantina subterrânea já havia engolido os forasteiros, dando-lhes segurança por algum tempo.
Cessado o perigo, puderam finalmente retornar ao beco, que no meio-tempo se encheu de alguns pobres coitados, mas não viram nem puderam agradecer os meninos de rua a quem provavelmente deviam a vida; haviam desaparecido, assim como o saco de dinheiro do bravo Pietro!
Enfim, depois de espontâneos e justos palavrões, os dois riram-se e, ao meio dia, chegaram ao Castel Nuovo.
Foram logo recebidos com os maiores cumprimentos do velho soberano, que, embora indisposto com o papa, conservava por Tristano um particular senso de reconhecimento e uma consideração que ia além das respectivas funções públicas: provavelmente via nele o amigo Latino.
Foi na verdade o cardeal Orsini, então legado apostólico a latere, que, dado o boletim de investidura concedido pelo papa Pio II e apoiado pelo cardeal Trevisan, pelo arcebiso de Nazaré em Barletta, Giacomo de Aurilia, pelo arcebipso de Taranto e de muitos outros prelados, em 4 de fevereiro de 1459 d.C., com uma extravagante cerimônia na praça diante do castelo de Barletta, coroou Fernando I de Nápoles, abençoando-o no triplo título de rei da Sicília, de Jerusalém e da Hungria. O episódio e os acontecimentos dos dias seguintes à coroação foram registrados por Latino naquela página de diário estranhamente arrancada e misteriosamente desaparecida do arquivo pessoal do cardeal.