O Segredo Do Relojoeiro - Jack Benton 4 стр.


"Sinto muito."

"Deve sentir mesmo. Agora, saia dessa cerca viva de uma vez. O direito de circular pode protegê-lo no caminho, mas essa cerca viva é parte da minha propriedade e, ao subir nela, você está cometendo uma invasão. Você sabe que pode ser multado em até cinco mil libras por invasão de propriedade, não é?"

Em um momento de urgência relacionado a um caso anterior, Slim certa vez vasculhou um guia para iniciantes das leis do Reino Unido e não se lembrava de nada disso, mas mencionar isso não resultaria em nada. Ele estendeu as mãos, deu a ela seu sorriso mais apologético e disse: "Eu não queria fazer nenhum mal."

"A fazenda Worth não é uma atração turística!"

A mulher cravou sua bengala no chão para dar ênfase, espirrando lama nas botas já encharcadas de Slim. Ele considerou outro protesto, mas decidiu não se dar o trabalho. Ela não tinha percebido a câmera, então era melhor ele fugir enquanto podia.

"É melhor eu ir para casa," disse ele, recuando pelo caminho enquanto ela balançava a bengala na direção dele. "Peço desculpas novamente. Não queria incomodar."

"Vá embora!"

Slim foi embora tropeçando. Uma vez entre as árvores na parte de trás do gramado, ele arriscou uma olhada para trás. A Sra. Tinton havia subido o caminho até a escadaria, mas lá ela reassumiu sua posição de sentinela, apoiando-se na bengala com as duas mãos como um soldado faria com um rifle.

Apenas a rota mais longa por trás da fazenda o levaria de volta à estrada sem passar por ela. O caminho seguia por uma margem estreita e traiçoeira com uma queda íngreme no riacho. A sebe alta que cercava a fazenda oferecia apenas alguns punhados de amoreiras para sustentá-lo, enquanto uma fileira de árvores plantadas no lado da fazenda projetava uma teia confusa de sombras no solo irregular. Em alguns lugares, o riacho tinha levado parte da estrada, e uma seção da sebe perto do canto sudeste era sustentada por um muro de pedra mais novo, sugerindo que o mesmo já havia sido escavado e demolido.

As primeiras gotas de chuva começaram a tamborilar ao seu redor enquanto o caminho se abria para outro campo. De dentro de um conservatório pitoresco com um prato de bolinhos ou até mesmo uma garrafa de uísque à sua frente, teria sido um som romântico e bem-vindo. Agora, porém, lembrava Slim da longa viagem de bicicleta de volta a Penleven. Ele se perguntou se não era hora de abandonar Cornwall e voltar para o interior, mas não conseguia enfrentar o incômodo de caçar um apartamento ou as tentações que o estresse poderia trazer. Em vez disso, ele olhou furioso para o céu turvo e saiu de baixo da última cobertura de árvores entrando na chuva.

Ao voltar para a hospedaria uma hora depois, a Sra. Greyson repreendeu-o por sujar o capacho com lama, mas por outro lado parecia satisfeita em vê-lo de volta antes de escurecer. Em seu quarto, ele comeu batatas fritas e chocolate enquanto carregava suas fotos em seu laptop. Ele não esperava encontrar muita coisa digna de nota, mas quando ampliou a imagem da pequena construção de tijolos, algumas coisas chamaram sua atenção.

Dentro das janelas de cada lado pareciam haver grades, enquanto a porta era adornada por um cadeado pesado.

9


O desaparecimento de Amos Birch provou ser muito monótono para causar qualquer rebuliço na internet. Através de uma extensa varredura e um pouco de trabalho para separar os sites de fãs e especulações das fontes confiáveis, Slim foi capaz de determinar a data exata como sendo 2 de maio de 1996, uma quinta-feira, vinte e um anos e dez meses atrás. De acordo com os registros meteorológicos, esteve nublado durante a manhã com uma garoa ligeira por volta das quatro horas.

O único artigo detalhado sobre o desaparecimento em si estava em um blog para entusiastas de relógios, um post no estilo "onde estão agora" sobre relojoeiros amadores que cobria pouca coisa que Slim já não soubesse. Na noite de quinta-feira, 2 de maio de 1996, Amos Birch jantou com sua esposa e filha, depois se retirou para sua oficina para continuar trabalhando em seu último relógio. Ele nunca mais foi visto.

A especulação variava de assassinato a fuga. Ele tinha 53 anos na época e dividia a casa da família com sua esposa, Mary, então com 47, e sua filha, Celia, com 19. Uma investigação policial ocorreu, envolvendo uma extensa busca em Bodmin Moor, mas chegou à conclusão, na ausência de evidências que sugerissem o contrário, que Amos Birch simplesmente resolveu fugir de sua própria vida. A oficina foi deixada destrancada, e apenas suas botas de caminhada e jaqueta haviam desaparecido. Ele não havia levado nenhum documento consigo, e sua carteira foi encontrada mais tarde em uma gaveta da cozinha. No entanto, uma vez que se acreditava que ele vendia muitos de seus relógios em dinheiro vivo para colecionadores locais, a ausência de quaisquer saques em caixas eletrônicos nos dias seguintes significava que ele provavelmente tinha dinheiro com ele, e que mais tarde criou uma nova identidade.

O artigo não tinha mais detalhes dignos de nota, mas a última linha chamou a atenção de Slim.

Parecia que Birch simplesmente se levantara e saíra pela porta, levando seu último relógio consigo.

Não havia nada que sugerisse que o autor sabia sobre o relógio. Em nenhum outro lugar havia menção de um relógio que ficou inacabado na oficina, então poderia ter sido uma linha de imaginação fantasiosa.

Seria o último relógio o que Slim descobrira na charneca?

Geoff Bunce concordara com a avaliação de Slim de que o relógio estava inacabado. E se o último relógio de Amos Birch agora estivesse debaixo da cama de Slim?

Slim se levantou, sentindo-se repentinamente nervoso. Ele andou pela sala algumas vezes. Não havia como saber as circunstâncias do desaparecimento de Amos, mas Slim não tinha ficado quieto sobre o que havia encontrado. E se Amos tivesse escondido o relógio por um motivo específico?

E se alguém estivesse atrás dele? Teria Amos desaparecido, levando o relógio com ele, para escondê-lo de alguém?

Slim tirou a cadeira de debaixo da pequena escrivaninha da sala, e então inclinou-a e acomodou-a sob a maçaneta da porta. Ele não havia considerado que a ausência de uma tranca pudesse ser problema, mas o seguro morreu de velho.

Ele se perguntou se deveria dizer algo para a Sra. Greyson, mas achou melhor não. Era provável que ele apenas a preocupasse e, de qualquer modo, seria ele a pessoa procurada, não ela.

A menos, é claro, que Amos tivesse sido assassinado. Bodmin Moor e adjacências foram supostamente áreas de mineração no passado, e o solo estava cheio de poços antigos, muitos dos quais não eram mapeados ou identificados. Quão difícil teria sido descartar o corpo de Amos onde ninguém jamais o encontraria?

10


No café da manhã do dia seguinte, Slim julgou que a Sra. Greyson estava de bom humor, então ele a chamou. Com seu chamado, o assobio que vinha da cozinha como o canto de um pássaro envelhecido mas alegre, morreu abruptamente, e ela pisou forte, torcendo o avental como se para lembrar Slim do inconveniente que ele ousara causar.

"Senhor. Hardy... espero que tudo esteja de seu agrado."

Ele sorriu, cutucando o prato com o garfo. "É claro. Esses ovos me lembram minha falecida mãe e as delícias culinárias que eu experimentava diariamente.

"Senhor. Hardy... espero que tudo esteja de seu agrado."

Ele sorriu, cutucando o prato com o garfo. "É claro. Esses ovos me lembram minha falecida mãe e as delícias culinárias que eu experimentava diariamente.

"Isso é... bom. Como posso ajudá-lo hoje?"

"Ontem, fui a Trelee. Eu me perdi um pouco nas charnecas, mas uma senhora teve a gentileza de me oferecer instruções. Queria enviar-lhe uma nota de agradecimento, mas receio ter esquecido o nome dela."

"E como você acha que eu saberia?"

"Ela disse que morava na antiga casa de Amos Birch. Fazenda Worth. Suponho que você não saiba o nome dos novos proprietários?"

"Nem tão novos; eles estão lá há doze anos."

Slim conteve o sorriso, mas acenou com a cabeça para encorajar mais comentários.

"Tinton," disse a Sra. Greyson. "Maggie Tinton. Só posso dizer que você deve ter pego ela em um bom dia. Uma velha tão azeda quanto se pode encontrar por aqui. E aposto que você estava pensando que eu era ruim."

O sorriso de Slim estava começando a doer em seu rosto.

"O marido dela, Trevor, é bem mais agradável. Costumava beber no Crown até... bem, já faz um tempo."

"Até o que?"

A Sra. Greyson desenrolou seu avental, tirou-o e, em seguida, franziu a testa como se Slim estivesse pedindo a ela para cruzar um limite moral.

"Houve boatos... as pessoas disseram que eles tiveram uma participação nisso."

"Nisso o que?"

"No desaparecimento de Amos." Antes que Slim pudesse responder, ela acrescentou: "O que é ridículo, é claro. Os Tintons vieram de Londres. Eles não podiam ter sabido nada sobre Amos. Afinal, Mary morou lá por uma década após o desaparecimento de Amos. Os Tintons só aproveitaram uma pechincha."

"As pessoas realmente acham que eles têm alguma coisa a ver com isso?"

"Claro que não. Era apenas um boato bobo, mas os dois se ofenderam e, depois disso, se isolaram da comunidade local."

"Parece que você os conhece bem."

"Eu costumava jogar bridge no Legion Hall com Maggie, mas ela parou de vir e nunca mais voltou."

"É quase como uma admissão de culpa."

"Eles ficaram ofendidos, só isso," disse ela. "Eles se mudaram para cá para viverem a aposentadoria no estilo de vida rural que se vê na televisão. Acho que eles imaginaram uma comunidade de aldeões simplórios esperando de braços abertos para levá-los às festas da aldeia e cafés da manhã. Quando não conseguiram o que queriam, desistiram."

"Mas não tem como eles terem algo a ver com o desaparecimento de Amos Birch?"

A Sra. Greyson balançou a cabeça. "Absolutamente impossível."

"Então o que você acha que aconteceu?"

A Sra. Greyson revirou os olhos. "Achei que estávamos falando sobre a Sra. Tinton?"

"Você deve pensar sobre isso. Parece que você os conhecia."

A Sra. Greyson encolheu os ombros e suspirou. "Ele fugiu da família. O que há para saber? Amos tinha muito dinheiro guardado e muitas vezes saía em viagens de negócios, convenções de relógios e tudo mais. Quer minha opinião? Ele teve alguma meretriz no exterior e fugiu para ficar com ela."

"Não teria sido mais fácil simplesmente se divorciar de Mary?"

A Sra. Greyson torceu seu avental novamente. "Não tenho tempo para isso," disse ela. Ao se virar e dirigir-se à cozinha, ela acrescentou: "Aproveite sua caminhada hoje, Sr. Hardy."

Slim ficou olhando ela partir, carrancudo. Ele não iria arrancar mais nada dela, ele tinha certeza, mas com a menção de outra mulher, suas bochechas tinham adquirido uma tonalidade avermelhada que definitivamente não existia antes.

11


Visitar a biblioteca local mais próxima significava voltar a Tavistock. Slim se viu sozinho em uma sala de arquivos, debruçado sobre enormes arquivos de antigos jornais locais, desbotados pelo tempo.

Cada arquivo continha os artigos semanais de um ano. Como ele esperaria de um jornal de cidade pequena dominado por anúncios de agentes imobiliários locais e locadoras de máquinas agrícolas, houve pouco sensacionalismo nas breves reportagens sobre o desaparecimento de Amos Birch. Relojoeiro local desaparece sob circunstâncias misteriosas dizia o título de um, antes de continuar com uma reportagem tão branda que era quase uma contradição com seu título, focando na história de Amos como um artesão de rara habilidade e um fazendeiro local respeitado, mas deixando de fora qualquer vestígio de especulação.

Ele encontrou a reportagem mais interessante em um arquivo de um jornal chamado Tribuna de Tavistock:

"Fazendeiro local e relojoeiro renomado, Amos Birch (53), está desaparecido desde a noite de quinta-feira, 2 de maio, conforme reportado à polícia por sua esposa, Mary (47). Bem conhecido nacional e internacionalmente por seus intrincados relógios feitos à mão, acredita-se que Amos pode ter se perdido durante um passeio noturno por Bodmin Moor. Ele era considerado de bom juízo e não tinha problemas de saúde, mas, segundo sua esposa, estava cada vez mais agitado na semana que antecedeu seu desaparecimento. A família solicita que qualquer informação sobre o desaparecimento de Amos seja passada para a Polícia de Devon e Cornwall."

Slim leu o artigo algumas vezes, então franziu a testa. Agitado? Poderia significar qualquer coisa, mas sugeria que Amos estava ciente de que algo poderia estar prestes a acontecer. Isso significava que ele havia planejado fugir ou que algo aconteceu com ele?

Lembrando-se de uma citação que um antigo colega militar lhe dissera sobre como as pistas para um crime costumam ser colocadas muito antes do crime em si, ele voltou algumas semanas, examinando as páginas de notícias em busca de qualquer coisa relacionada a Amos Birch. Exceto por uma coluna de cinco centímetros de mais de um mês antes do desaparecimento, que reconhecia a homenagem de uma associação nacional de relojoeiros concedida a Amos, não havia nada.

Quando deu a hora do almoço, seus olhos doíam de tanto ler artigos borrados pelo tempo, então ele se realocou para um café próximo para se recuperar. Lá ele ligou para Kay, mas seu amigo tradutor ainda não tinha informações sobre o conteúdo da carta.

A mente que ele havia dedicado à investigação particular alguns anos depois de sua dispensa desonrosa do serviço militar estava começando a girar com ideias fantasiosas. Ninguém deixa um relacionamento estável sem motivo de repente. Ou a pessoa estava correndo para alguma coisa ou de alguma coisa.

As possibilidades eram infinitas. O mais óbvio seria ele estar fugindo para uma amante, ou de um cliente insatisfeito ou um concorrente. Sem conhecer bem o próprio Amos, era difícil fazer julgamentos. Pelas conversas de Slim até agora, o relojoeiro tinha sido uma figura obscura na comunidade, a própria obscuridade de sua profissão trazia consigo um rótulo de mistério. Até mesmo o caminho que descia até a fazenda Worth e as sebes altas que a cercavam davam à família Birch um ar de reclusão, que os Tintons tinham continuado.

O café tinha um telefone público. Slim pegou uma lista telefônica de uma prateleira ao lado e voltou para sua mesa. Havia algumas dúzias de Birches listados, mas nenhum com C.

Slim estava voltando para o ponto de ônibus quando ouviu alguém gritando atrás dele. Algo em sua urgência o fez se virar e ele viu Geoff Bunce acenando para ele do outro lado da rua. Slim esperou enquanto o homem atravessava.

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