Robert Johnson Filho Do Diabo - Patrizia Barrera 3 стр.


Portanto, musicalmente falando, assistimos a um verdadeiro desdobramento de Robert Johnson: dum lado um artista capaz de tocar qualquer coisa se lhe pedisse em qualquer estilo, uma capacidade típica dos ramblers que deviam adaptar-se aos variegados gostos dos clientes dos bares; do outro um artista que deixava voar os dedos na guitarra tocando o blues de costas...

No primeiro caso existe certamente a aquisição de um método que, se para Son House e outros músicos de raça era inato, em Johnson era fruto de uma dedicação constante e disciplinado; no segundo existe pelo contrário o sentimento de libertação do blues, que vem por conseguinte executado segundo a própria natureza esquerdina e que vem mantida oculta aos outros, por motivos que dissemos.

De outra parte, que Johnson fosse um dissociado e um alienado é amplamente documentado: Shines relata como o amigo fosse afável e gentil com o público e violento e brigão em privado, sobretudo com as mulheres que maltrata, espanca e abandona.

Muitas vezes desaparecia precisamente no momento em que estávamos a tocar e me deixava sozinho narra Shine ficava fora alguns dias sem dar notícias suas, depois voltava como se nada fosse. Eu sabia que amava arranjar sarilhos, aldrabar as mulheres casadas e mais de uma vez meteu-se em pancadaria com os seus maridos. Algumas vezes foi posto na prisão durante algumas noites por bebedeira molesta e brigas. No inicio era bonito viajar com ele, subir e descer nos comboios, tocar em toda a parte onde tivéssemos vontade. Johnson era amado pela gente, pois que sabia satisfazê-la em tudo e por tudo. Mas quando começou a meter-se com as mulheres mudou. Afogava a sua raiva em qualquer mulher que lhe chegasse ao alcance, batia nela até a morte e depois vinha tocar comigo.

Dizia para mim Ah espancar uma mulher deixa sentir-me melhor! e na verdade quase todas as canções que ele escrevia falavam de mulheres. A um certo ponto a convivência com ele tornou-se impossível e nos separamos.


Um maduro Johnny Shine, anos depois da morte de Johnson que toca as canções do amigo.

Em 1936 Johnson estava a ser afligido pelo anseio de gravar as suas canções e entrar no mercado discográfico. Dedicou-se muito, por isso, para ser recebido por HC Speir, um talent - scout branco que tomava conta de uma loja de discos em Mississípi e que já tinha descoberto grandes talentos como Charlie Patton, Skip James, Tommy Johnson e Son House. No que se diz, Speir reconheceu em pouco tempo as capacidades de Johnson mas, por uma antipatia de impacto, preferiu passá-lo ao Ernie Oertle, um outro TC que se ofereceu de levá-lo a S. António em Novembro de 36 para fazer uma sessão de experiencia.

Isto acontece sala 414 do Gunter Hotel, onde a Brunswick Record tinha instalado um estúdio de gravação ambulante, como se usava na época.

Juntamente a Johnson, efectivamente, havia uma multidão de músicos apanhados aqui e acolá no delta, Mexicanos acima de tudo e até a Wagon Gang Chuck, um grupo musical muito solicitado naquele período nos bares do Delta. Aqui Johnson, como relata Oertle, gravou acocorado e de costas, tanto que esforcei-me muito para posicionar os microfones.

Todavia Oertle não se encantou assim tanto: estava habituado às manias dos Bluesman e aos seus rituais e pensou que Johnson estivesse simplesmente procurando o ângulo de carga, isto é o modo melhor para tirar o som.

Nesta primeira sessão foram gravadas, entre outras, l COME ON INTO MY KITCHEN, KINDHEARTHED WOMAN, CROSSROAD BLUES e TERRAPLANE BLUES, a única cujo Johnson escutou a gravação e que veio a ser um grande sucesso, vendendo na primeira semana muito bem 5000 cópias, um verdadeiro recorde para a época!

Nesta primeira experiencia de ensaio encontramos um ciclo de canções concretamente ligadas ao Sul rural, visceral e de impacto consideradas desde sempre e mais verdadeira expressão do melancólico Johnson. Entre esta distingue-se Kindhearted Woman pela sua complexidade e por uma maior pesquisa do som; a letra é precisamente muito mais articulada que as outras e não é por acaso que durante anos, juntamente com a Crossroads blues, veio a ser quase uma insígnia distintiva do artista.

Uma segunda sessão foi feita em 1937 directamente em Dallas no Vitagraph Building situado na 508 Park Avenue, onde a Brunswick Record tinha o seu Quartel-general.

29 Canções no seu todo, mais alguns ensaios inacabados e umas gravações descartadas, para um conjunto de 41 gravações. Um número exíguo de trechos que todavia constituem um precioso património para a musica mundial.

De todas as formas, aquele de Robert Johnson foi um sucesso POSTUMO. Embora apreciado como músico, as suas capacidades de inovação não foram bem compreendidas na época e não foi certamente a sua prematura morte a relegá-lo num repentino esquecimento que o ocultará à crítica durante aproximadamente trinta anos. Em 1938, período do seu máximo sucesso, se perguntarem a qualquer um na rua Quem é Robert Johnson? Não saberia responder; porém saberia descrever para vocês quantos cabelos tinha na cabeça Son House. Todavia o seu nome começava a ganhar espaço entre os experimentados do sector visto que mesmo naquele ano o celebre John Hammond, produtor da Columbia Records, o tinha contratado para a primeira edição do pois famosíssimo Da Spiritual ao Swing até à Carnegie Hall de New York, como para dizer a consagração oficial do jovem Johnson! Imaginem que, quando se soube da sua morte, com Big Bill Broonzy que o substituía no palco, foram observados dois minutos de silêncio e feitas tocar duas das suas últimas gravações, entre uma enchente chocada e em lágrimas.

Apenas se tivesse resistido e não deixar-se matar por únicos outros dois meses, naquela noite Johnson teria desfrutado o seu merecido sucesso!


Eis a capa do disco do famoso evento cujo Johnson não pôde participar é notável a lista incrível de nomes de grandes ilustres.

Como se explica então esta sua escassa popularidade entre a gente comum?

Robert Johnson na verdade NÃO FOI POR VENTURA famoso em vida, e a sua produção aparece irrisória relativamente àquela dos outros Bluesman da época. Mas chegou ao auge, e pode-se dizer que foi redescoberto, nos anos 60 com a nova geração dos artistas Rock, em particular graças a uma colectânea editada Paramount chamada KING of the Delta Blues Singer, que teve literalmente muita procura, tanto que foi reeditada em 1969 e por fim em 1970. Artistas como Eric Clapton e os Cream contribuíram claramente para o renascimento da sua estrela, gravando uma nova versão de Crossoroads Blues, para não falar dos Rolling Stones que perderam o juízo com a sua versão de Love in Vain e Stop Breakin Down Blues.

Mas na verdade um tempo antes artistas menos notáveis tinham tentado de imortalizar Johnson.

Em 1951 Elmore James tinha gravado uma sua (especialíssima) versão de I Believe I dust my broom, que não teve o merecido sucesso, enquanto a já celebríssima Sweet Home Chicago tinha-se tornado o estandarte de muitíssimos Bluesman de excepção, primeiro entre muitos Muddy Waters, que por sua vez teria influenciado os Beatles.

Na verdade, Johnson encarnava uma realidade actualíssima durante os primeiros anos 60 Americanos: a imagem de um anti-herói danado, maldito e obcecado pelo demónio que canta o Blues quadrando-o a partir do interior se bem que harmonizava-se com a natureza revolucionaria da nova geração Americana. Ele nas suas canções grita literalmente a dor existencial de uma sociedade que não encontra mais dentro de si próprio, pontos de referência eficazes e que, com a espasmódica angustia, lança-se para um futuro obscuro e denso de incógnitas.

Se queremos, a produção de Johnson está repleta de mulher, álcool e violência, exactamente como na mais pura tradição blues. Contudo nas suas letras percebe-se o seu forte desgosto por aquilo que ele mesmo narra e do qual não é totalmente orgulhoso. O seu ritmo obsessivo de boogie (estilo de jazz/dança) recém-nascido, a sua voz estridente e nasal, a pausa entre as palavras, a utilização das micro tonalidades e as letras articuladas onde destaca a sua devastação moral, o seu sentir-se um bastardo sem pátria seguido pelos demónios do remorso, efectuaram uma mudança de grande impacto nos músicos da época, afectados pela mesma doença.

Nascidos numa década de bem-estar e saudáveis princípios familiares, os rapazes dos anos 60 sentem-se esmagados por uma sociedade onde a tradição tem o sabor de uniformidade e onde o conceito de Pátria vai demasiadamente de braço dado com a palavra GUERRA. Foi depois o campo de Vietname e a rotura que consegue dar a eles a voz certa; entretanto o mundo exige uma mudança e isso acontece, como regra, através da música. Nasce portanto a geração ROCK.


Fortemente influenciados pelo blues, os Rolling Stones pois tornaram-se ícones vivos de viver o Rock. Os seus concertos entre os anos 60/70 eram recheados de droga, álcool e rituais obscuros. Frequentemente foram protagonistas de rituais pseudo - satânicos e diz-se que foram espectadores impassíveis também de verdadeiros homicídios executados nos seus espectáculos por grupos perturbados.

Ser Rock, na América daquele tempo, equivale a quebrar com os esquemas, refutar a tradição, pôr em discussão as convenções e aspirar a uma sociedade de verdadeira agressão, onde os conceitos da Humanidade e Progresso não sejam palavras escritas no papel. É indicativo portanto, e mesmo natural, que Johnson com a sua música maldita e as suas inovações estilísticas, que pretendiam fazer da guitarra a verdadeira voz da alma, viessem utilizadas como ponto de partida para a construção deste novo mundo. Ainda mais o Satânico Artista, com os seus trechos delirantes e evocativos, as letras onde se auto-define danado, o seu evidente desprezo pelas mulheres e a descrição até bastante particularizada de um estilo de vida degradado e inclinado ao vicio, NÃO PODE não ser um ícone ideal para uma geração que faz da sua atitude de rotura um estilo de vida. E depois, a famosa tríade droga sexo e rock´n roll sobre a qual assentou-se toda uma geração de jovens Americanos entre os anos 60 e 70 não tira disso uma grande lição da Johnsoniana conduta álcool mulheres e Blues?

Nefastamente, posso sugerir que talvés não é tudo ouro o que brilha. Uma das características que tornaram Johnson célebre e lhe deram sempiterna memória foi o seu ritmo exuberante e eclético, muito diferente daquele dos Bluesman do Delta dos anos 30.

Para dar-vos uma ideia, quando Keith Richards escutou pela primeira vez uma das suas gravações, questionou-se: mas quem é o outro guitarrista que toca com ele? uma vez que não se apercebera que Johnson estava sozinho. Isto porque todo trecho mantinha desde o inicio até ao fim um ritmo articulado e veloz, e a voz dissonante e nasal de Johnson tinha o sabor de um verdadeiro grito.

Todavia existem declarações autenticas do Director Executivo da Sony, Berhil Cohen Porter, que venceu um Grammy em 1991 pela reedição das obras de Johnson, relativamente à possibilidade que as

gravações de 1936/1937 pudessem ter sido tornadas mais rápidas, um hábito típico da dupla Okeh /Vacalion, que amavam fazer caprichos semelhantes.

Em 2010 foi John Wilde, no famoso empório musical THE GUARDIAN, a sublinhar que as gravações de Johnson tivessem sido intencionalmente aceleradas para conferir um toque de modernidade ao conjunto.

Difícil dizer realmente em que pé estão as coisas, já que as matrizes originais das 78 rotações de então não existem mais. Mas se isso fosse verdade a música de Robert Johnson, definido o AVÔ DO ROCK, viria talvez reinterpretada.


Comparaçao entre a foto achada em Ebay (a sn) e aquela conclamada de Johnson. São notáveis as enormes diferenças entre as duas. Embora as analises computorizadas sobre a anatomia facial de Johnson tenham confirmado com segurança que ambas as fotos retratam o artista, fica por esclarecer O QUE pudera nele modificar em tão breve tempo a expressão e o somatismo do rosto. Talves... o pacto com o diabo?

Na verdade ele entrou na ROCK N ROLL HALL OF FAME com quatro canções de estreia NÃO Blues mas Rock.De facto com Sweet Home Chicago e Cross Roads Blues de 1936, e Hellhound on my Trail e Love in Vain de 1937.Do outro lado, sem a sua lenda, talvés HOJE o universo da música Rock não seria o mesmo, vista a sua influência sobre os monstros sagrados como Eric Clapton que começou a carreira exactamente na esteira das músicas do maestro; ou os Led Zeppelin que o homenagearam com o fantástico TRAVELING RIVERSIDE BLUES, onde as referencias à música e às letras das canções de Johnson perdem o seu tempo! Em suma, a partir de Jeremy Spencer ao Fletwood Mac e ao Peter Green, América e Inglaterra apertaram-se a mão para consagrar Johnson Maestro Espiritual da nova Era.

O que é seguro. É que Robert Johnson não desfrutou por acaso o seu sucesso e que teve uma morte prematura e sombria. Nem o local da sua sepultura é oficilmente notável e isso alimentou durante anos a lenda de que talvés nunca tenha existido. Mas a mim os mistérios não agradam e procurei descobri-los.


Eis aqui o que descobri para voces...

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