Destinada - Морган Райс 5 стр.


Ainda assim, era o Grande Conselho de seu tempo, e tinha sempre morado ali, desde que o Partenon havia sido construído.  O prédio era na verdade uma parte deles, e nenhuma pessoa da raça deles, nem mesmo Kyle, ousaria contrariar seus julgamentos.  Seus poderes eram muito intensos, e os recursos disponíveis para eles, muito vastos.  Kyle talvez conseguisse matar um o dois deles, mas os exércitos que eles poderiam convocar, de todas as partes do mundo, eventualmente o alcançariam.

As centenas de vampiros na sala tinham vindo para testemunhar os julgamentos do Conselho, e para aguardar suas próprias audiências.  Eles sempre se alinhavam de maneira organizada ao redor do círculo, nas imediações, deixando o centro da sala completamente livre. Exceto por uma pessoa; a pessoa que precisava ficar perante eles aguardando o julgamento.

Nesse momento uma pobre alma, sozinha, tremendo de medo ao ficar diante deles, encarando seus capuzes impenetráveis, espera para ser julgada.  Kyle já tinha passado por isso, e sabe que não é uma situação agradável. Se eles não gostassem da questão com que você os tinha abordado, eles poderiam, por capricho, matá-lo bem ali.  Você nunca os procurava por besteiras – somente em casos de vida ou morte.

“Espere aqui,” Lore sussurra para Kyle, ao se enfiar no meio da multidão.  Kyle permanece afastado, assistindo à cena.

Enquanto Kyle observa, um juíz acena positivamente com a cabeça, discretamente, e dois soldados vampiros aparecem de cada lado. Cada um deles agarra um braço da pessoa que em frente ao Conselho.

“Não! NÃO!” grita ele.

Mas isso não resolve sua situação. Eles o arrastam, enquanto ele grita e reluta, sabendo que está sendo levado para sua morte, consciente de que nada que dissesse ou fizesse mudaria isso.  Ele deve ter pedido algo que o Conselho não aprovava, considera Kyle, enquanto os gritos do vampiro ecoam pelas paredes da câmara. Finalmente, uma porta se abre, ele é levado para fora. A porta se fecha atrás deles e a sala é tomada pelo silêncio mais uma vez.

Kyle pode sentir a tensão no ar, enquanto os vampiros se entreolham, temendo o momento da audiência.

Kyle vê Lore se aproximar de um assistente próximo ao Conselho, e sussurrar em seu ouvido.  O assistente, por sua vez, caminha até um juíz, se ajoelha, e cochicha em seu ouvido.

O juíz vira ligeiramente o rosto, e o homem aponta para Kyle. Mesmo a essa distância, Kyle sente o olhar penetrante do juíz, escondido sob o capuz. Kyle não consegue evitar um arrepio na espinha; ele finalmente se encontra na presença do verdadeiro mal.

O atendente assente, e Kyle sabe que esse é seu sinal.

Kyle abre caminho pela multidão, e se dirige até o centro da câmara vazia: Em pé no meio do grande círculo de vampiros – no lugar.  Ele sabe que se olhar pra cima, diretamente acima de sua cabeça há um buraco no teto, o óculo, aberto para o céu. Durante o dia, ele permite a entrada de raios de sol e, agora, durante o pôr do sol, a luz é escura, e muito fraca. A câmara está iluminada principalmente por tochas.

Kyle se ajoelha e se curva, esperando que o Conselho se dirija a ele, como dita a etiqueta vampira.

“Kyle do Coven Blacktide,” anuncia um juíz lentamente. “Você tem coragem em nos abordar sem ter sido anunciado. Se seu pedido não tiver nossa aprovação, você sabe que está sujeito à pena de morte.”

Não é uma pergunta; é um recado. Kyle sabe que haverá consequências, mas não teme o resultado.

“Estou ciente, meu mestre,” Kyle responde simplesmente, e espera.

Finalmente, após uma leve movimentação, ele ouve um novo pronunciamento: “Então fale logo. O quê deseja de nós?”.

“Venho de outra época, duzentos anos no futuro.”

Um murmúrio alto toma conta do lugar. Um assistente bate seu cajado três vezes no chão, e grita: “Silêncio!”.

Por fim, a sala de acalma novamente.

Kyle continua, “Eu não me dou muito bem com viagens no tempo, assim como a maioria de nós. Houve uma emergência. No futuro, na época em que vivo, haverá uma guerra – uma gloriosa guerra vampira. Ela começará em Nova Iorque e se espalhará a partir de lá. É o apocalipse com que sempre sonhamos; nossa raça sairá vitoriosa. Nós acabaremos com a raça humana e os escravizaremos. E vamos acabar também com os covens benevolentes, qualquer pessoa que ouse ficar em nosso caminho.”.

“Sei disso, pois sou o líder desta guerra.”

Há um novo murmúrio na sala, seguido pelas batidas do cajado.

“Mas minha guerra não está completa,” Kyle grita por cima do barulho. “Ainda há uma pedra em meu caminho, uma pessoa que pode colocar tudo que conquistamos a perder, arruinando este futuro glorioso para nossa raça. Ela vem de uma linhagem especial, e voltou no tempo, provavelmente para fugir de mim. E eu voltei para encontrá-la e matá-la de uma vez por todas. Até que eu faça isso, o futuro de todos nós é incerto.”.

“Estou diante de vocês hoje para pedir-lhes permissão para matá-la, aqui em sua área, e neste momento do tempo. Também gostaria de sua ajuda para encontrá-la.”

Kyle abaixa a cabeça e espera. Seu coração bate acelerado, enquanto ele aguarda a resposta dos juízes. Obviamente, seria do interesse deles ajudá-lo, e ele não consegue pensar em um único motivo para que negassem seu pedido.  Mas por outro lado, estas criaturas, com milhares de anos de vida – mais ainda do que ele, – eram completamente imprevisíveis. Ele nunca saberia quais interesses cada um deles poderia ter, e seus julgamentos sempre pareciam tão arbitrários quanto o vento.

Ele espera em meio ao silêncio.

Finalmente, o juíz se prepara para falar.

“Sabemos de quem você fala, é claro,” diz um juíz de voz grave. “Você fala sobre Caitlin, do chamado Coven Pollepel. Mas ela é, na verdade, de um coven diferente, muito mais poderoso. Sim, ela chegou a este momento do passado ontem, é claro que sabemos disso. E se quiséssemos matá-la, não acha que já teríamos feito isso?”

Kyle sabe que é melhor não responder; eles faziam questão de exibir orgulho, e Kyle deixaria que terminassem o pequeno discurso.

“Mas admiramos sua determinação, e sua futura guerra,” continua o juíz. “Sim, nós a admiramos muito.”

Outra vez, o silêncio toma conta do lugar por um instante.

“Deixaremos que a rastreie,” o juíz fala, “mas se encontrá-la, você não a matará. Você irá capturá-la viva, e trazê-la até nós. Gostaríamos muito de matá-la nós mesmos, e assistir enquanto ela morre lentamente: Ela será a candidata perfeita para Os Jogos.”

Kyle sente o ódio percorrer seu corpo. Os Jogos. Claro. Era só isso com que estes velhos vampiros doentes se preocupavam.  Eles convertiam o Coliseu em uma arena para suas brincadeiras, colocando vampiro contra vampiro, vampiro contra humano, vampiro contra monstros, – e adoravam assisti-los despedaçarem uns aos outros.  Isso era cruel e, ao seu modo, Kyle os admirava.

Mas não é o que ele tem em mente para Caitlin.  Ele a quer morta, e ponto final.  Não que ele se importasse em vê-la sendo torturado. Mas ele não quer perder tempo, não quer tentar a sorte.  Naturalmente, ninguém jamais havia sobrevivido aos Jogos. Mas ao mesmo tempo, ninguém podia prever o que poderia acontecer.

“Mas, caros mestres,” Kyle protesta, “Caitlin, como vocês mesmos disseram, vem de uma linhagem poderosa, e é muito mais perigosa e ardilosa do que mesmo vocês podem imaginar. Peço suas permissões para matá-la instantaneamente; há muita coisa em risco.”.

“Você ainda é jovem,” diz outro juíz, “portanto lhe perdoaremos questionar nosso julgamento. Qualquer outra pessoa já estaria morta.”.

Kyle abaixa a cabeça, percebendo que foi longe demais. Ninguém nunca discutia com os juízes.

“Ela está em Assis; é pra lá que você vai agora. Mas corra, e não demore muito. Agora que você tocou no assunto, mal podemos esperar para vê-la morrer diante de nossos olhos.”

Kyle começa a ir embora.

“E Kyle,” chama um dos juízes.

Ele se vira de novo.

O juíz líder remove o capuz, revelando o rosto mais grotesco que Kyle já tinha visto, coberto de caroços, rugas e verrugas. Ele abre a boca em um sorriso horroroso, mostrando dentes amarelos e afiados e olhos negros brilhantes. Ele força ainda mais o sorriso: “Da próxima vez que aparecer aqui sem ser anunciado, quem morre é você.”

CAPÍTULO SEIS

Caitlin sobrevoa a idílica região do interior da Úmbria, passando sobre montanhas e vales e observando a imensa paisagem sob a luz clara da manhã.  Ela voa sobre pequenas comunidades rurais, – pequenas cabanas de pedra, cercadas por centenas de metros de terra, com fumaça saindo pelas chaminés.

Enquanto ela voa para o Norte, a paisagem muda para as colinas e vales da Toscana.  Até onde ela pode ver há vinícolas, plantadas nas montanhas com seus trabalhadores já envolvidos com as plantas desde cedo.  A região é extremamente bonita, e uma parte de Caitlin gostaria de descer ali mesmo, fixar residência e criar um lar em uma das pequenas cabanas.

Mas ela tem um trabalho a fazer, e então continua, voando em direção ao norte.  Ela segura Rose com força, enrolada dentro de sua camisa.  Caitlin pode sentir que Veneza se aproxima, e sente-se atraída por ela como um ímã. Quanto mais perto ela chega, mais seu coração se acelera de ansiedade; ela já consegue sentir a presença de pessoas lá que ela um dia havia conhecido – ela só não sabe quem. Ela ainda não consegue distinguir se Caleb está lá, ou mesmo se ainda está vivo.

Caitlin sempre tinha sonhado em visitar Veneza. Ela já tinha visto fotos de seus canais, das gôndolas, e sempre tinha se imaginado visitando o lugar um dia, talvez com alguém de quem gostasse. Ela tinha até mesmo sonhado em ser pedida em casamento em uma daquelas gôndolas.  Mas ela nunca tinha imaginado isso.

Enquanto voa sem parar, Caitlin se dá conta de que a Veneza que visitaria agora, em 1790, provavelmente seria diferente das fotos que ela tinha visto no século XXI. Ela imagina que talvez fosse menor, menos desenvolvida e mais rural. Ela também imagina que também não seria muito lotada.

Mas ela logo se dá conta de que não poderia estar mais enganada.

Quando finalmente chega aos arredores de Veneza, ela fica chocada ao perceber que, mesmo de tão longe, a cidade abaixo dela se parece assustadoramente semelhante às fotos dos tempos modernos.  Ela reconhece a famosa arquitetura histórica do lugar, reconhece as pequenas pontes e as curvas e voltas dos canais.  De fato, ela fica chocada ao perceber que a Veneza de 1790 não é, pelo menos nas aparências, tão diferente da Veneza do século XXI.

Quanto mais ela pensa a respeito, mais tudo faz sentido.  A arquitetura de Veneza não tinha apenas 100 ou 200 anos: ela tinha centenas e centenas de anos.  Ela se lembra da aula de História, em uma de suas muitas escolas, sobre Veneza, sobre algumas de suas igrejas, construídas no século XII. Agora, ela gostaria de ter prestado mais atenção. A Veneza abaixo dela, uma massa de prédios amontoados, não é uma cidade nova.  Mesmo em 1790, a cidade já tinha centenas de anos de idade.

Caitlin se sente confortada por isso. Ela tinha imaginado que o ano de 1790 seria como um planeta diferente, e ela fica aliviada ao constatar que algumas coisas, na verdade, não tinham mudado tanto. Esta parece ser essencialmente a mesma cidade que ela teria visitado no século XXI. A única diferença que ela pode imediatamente identificar é que seus canais não possuem sequer um barco motorizado, obviamente. Não há lanchas, grandes balsas ou navios. Ao invés disso, os canais estão lotados de enormes barcos à vela, com mastros de muitos metros de altura.

Caitlin também se surpreende com a quantidade de gente. Ela mergulha mais baixo, apenas alguns metros acima da cidade, e pode ver que mesmo a esta hora, o começo da manhã, as ruas estão lotadas de gente. E os canais absolutamente congestionados pelo tráfego de barcos. Ela está chocada; a cidade é mais movimentada que o Times Square. Ela sempre havia imaginadp que voltar no tempo significaria encontrar menos pessoas, grupos menores – e imagina que estivesse errada a respeito disso, também.

Ao sobrevoa-la, circulando diversas vezes, o que mais a surpreende, na verdade, é que Veneza não é apenas uma cidade, uma ilha – ela se estende por diversas ilhas, dezenas de ilhas em todas as direções, cada uma com seus próprios prédios, sua pequena cidadezinha. A ilha em que Veneza se encontra claramente possui mais prédios, a maior concentração de pessoas. Mas as dezenas de outras ilhas parecem interligadas, como uma parte vital da cidade.

A outra coisa que a surpreende é a cor da água: um azul brilhante. É tão clara, tão surreal; o tipo de água que Caitlin esperaria encontrar em algum lugar do Caribe..

Ao circular sobre as ilhas repetidas vezes, tentando se orientar, descobrir onde pousar, Caitlin se arrepende de nunca tê-la visitado no século XXI. Bem, ao menos ela teria uma oportunidade agora.

Caitlin também se sente um pouco oprimida. O lugar é tão grande, tão extenso. Ela não faz ideia de onde descer, onde começar a procurar pelas pessoas que pode ter conhecido – se é que elas estavam ali. Ela tinha inocentemente imaginado que Veneza fosse menor, mais pitoresca. Mesmo a esta altura, ela já pode ver que poderia andar pela cidade por dias e não chegar de um lado a outro dela.

Ela se dá conta de que não teria um lugar em que pudesse descer de maneira imperceptível na ilha central de Veneza. Ela está muito lotada, e Caitlin não poderia se aproximar sem ser vista. Ela não quer chamar a atenção para si, – ela não faz ideia de quantos covens existem lá embaixo, se eram territorialistas ou não; não faz ideia se eles são bons ou ruins, ou se os humanos daqui, como os de Assis, estariam à procura de vampiros, se a caçariam. A última coisa que ela precisa é outro grupo atrás dela.

Caitlin decide descer no continente, distante da ilha. Ela vê dois grandes barcos, lotados de gente, que parecem estar se dirigindo ao continente, e decide que este seria seu ponto de partida. Ao menos o barco a levaria direto ao coração da cidade.

Caitlin aterrissa discretamente atrás de um monte de árvores, no continente, não muito longe dos barcos. Ela coloca Rose no chão, e ela imediatamente corre até uma moita para se aliviar. Quanto termina, Rose olha para Caitlin e dá um gemido. Caitlin pode ver em seus olhos que ela está com fome – e se identifica: ela também está.

O voo a tinha deixado cansa, e Caitlin percebe que não está totalmente recuperada ainda. Ela também se dá conta de que sente fome. Ela quer se alimentar, mas não de comida humana.

Ela olha à sua volta e não vê nenhum veado. Não há tempo para procurar, um apito soa do barco, e ela sente que é hora de partir. Rose e ela teriam que esperar, dar um jeito mais tarde.  Subitamente, Caitlin sente saudades de casa, sente falta da segurança e conforto de Pollepel, sente falta de estar ao lado de Caleb, e de seus ensinamentos sobre caça, suas instruções. Ao seu lado, Caitlin sempre havia sentido que tudo daria certo. Agora, sozinha, ela não tem tanta certeza.

*

Caitlin caminha, com Rose ao seu lado, até o barco mais próximo.  É um barco grande, com uma rampa de cordas levando até a costa, e ao olhar para cima, Caitlin vê que está cheio de gente. Os últimos passageiros estão subindo pela rampa, e Caitlin se apressa, com Rose, para alcançá-la antes que seja removida.

Mas ela é surpreendida por uma mão gorda que bate com força no peito dela, bloqueando sua passagem.

“Passagem,” a voz diz.

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