A outra pessoa era um homem mais velho alto e de aspeto vigoroso que usava uniforme. Riley reconheceu-o de imediato. Era o chefe da polícia de Lanton, Allan Hintz. Riley reparou que a agente Frisbie não pareceu surpreendida em vê-lo ali – mas também não parecia estar agradada.
Com as mãos nas ancas, ele disse a Frisbie, “Não se importa de nos dizer porque é que nos está a fazer esperar, Frisbie?”
A agente Frisbie lançou-lhe um olhar de mal disfarçado desdém. Era óbvio para Riley que a sua relação de trabalho era tensa.
“Fico feliz por ver que alguém o tirou da cama, senhor,” Ripostou a agente Frisbie.
O chefe Hintz emudeceu.
Tentando parecer tão autoritário como o chefe da polícia, o Reitor Trusler avançou e falou com Hintz de forma brusca.
“Allan, não gosto da forma como você e o seu pessoal estão a lidar com isto. Estes pobres miúdos já estão suficientemente aterrorizados. O que é que se passa – dizer-lhes para não se mexerem e não falarem, sem qualquer explicação? Alguns deles apenas querem regressar aos quartos e dormir. Alguns querem deixar Lanton e ir para junto das famílias durante algum tempo – e quem os pode censurar? Alguns até se perguntam se precisam de contratar advogados. É altura de lhes dizerem o que querem deles. Com certeza que nenhum dos nossos alunos é suspeito.”
Enquanto o reitor prosseguia o seu discurso inflamado, Riley questionava-se como é que ele tinha tanta certeza de que o assassino não estava ali mesmo no corredor. Custava-lhe acreditar que alguma das raparigas pudesse cometer um crime tão horrendo. Mas e os rapazes? E aquele Harry Rampling? Nem ele, nem qualquer dos outros rapazes parecia ter acabado de cortar a garganta a uma rapariga. Mas talvez depois de um duche e uma rápida muda de roupa… ?
Calma, Disse Riley a si própria. Não te deixes levar pela tua imaginação.
Mas se não era um aluno, então quem poderia ter estado no quarto de Rhea?
Riley lutou novamente para se lembrar se tinha visto mais alguém com Rhea no Centaur’s Den. A Rhea tinha dançado com alguém? Tinha tomado um copo com alguém? Mas Riley não se recordava de nada.
De qualquer das formas, aquelas perguntas pareciam não ter grande importância. O chefe Hintz não ouvia nada do que o Reitor Trusler estava a dizer. A agente Frisbie estava a falar com ele e a mostrar-lhe as notas que tirara na conversa que tivera com Riley.
Quando terminou, Hintz disse ao grupo, “Ok, ouçam todos. Quero que cinco de vocês venham até à sala comum.”
Referiu os nomes que Riley tinha dado à agente Frisbie, incluindo o dela.
Depois ele disse, “Os outros podem ir para os quartos. Rapazes, isso significa voltarem para o vosso piso. Toda a gente fique nos quartos durante a noite. Não saiam do edifício até vos ser dada autoriazação. E não pensem em deixar o campus nos próximos tempos. O mais certo é termos perguntas a colocar a muitos de vocês.”
Virou-se para o reitor e disse, “Certifique-se que todos os alunos do edifício recebem a mesma mensagem.”
O reitor estava desolado, mas conseguiu assentir. No corredor ouviam-se sussurros de insatisfação à medida que as raparigas dispersavam obedientemente em direção aos seus quartos e os rapazes voltavam para o seu piso.
O chefe Hintz e os agentes Frisbie e White conduziram Riley e as suas quatro amigas pelo corredor. Pelo caminho, Riley não conseguiu evitar olhar para o quarto de Rhea. Viu o agente Steele a vasculhar o seu interior. Não conseguiu ver a cama onde encontrara Rhea, mas tinha a certeza de que o seu corpo ainda ali estava.
De alguma forma, não parecia certo.
Quanto tempo demorarão até a removerem dali? Interrogou-se. Esperava que ao menos tivessem coberto o corpo, escondendo a horrível garganta esfacelada e os olhos abertos. Mas supôs que os investigadores teriam coisas mais importantes a fazer. E talvez estivessem todos habituados a ver coisas semelhantes.
Ela tinha a certeza de que nunca esqueceria a visão de Rhea morta e daquela poça de sangue no chão.
Riley e as outras dirigiram-se para a agradavelmente mobilidada sala comum e sentaram-se em várias cadeiras e sofás.
O chefe Hintz disse, “Eu e a agente Frisbie vamos falar com cada uma de vocês individualmente. Enquanto o fazemos, não quero que as outras falem umas com as outras. Nem uma palavra. Perceberam?”
Sem sequer olharem umas para as outras, as raparigas anuíram nervosamente.
“E por agora, não usem os telefones,” Acrescentou Hintz.
Todas assentiram novamente e ali ficaram a olhar para as mãos, para o chão ou para o espaço.
Hintz e Frisbie conduziram Heather até à cozinha adjacente enquanto o agente White vigiava relaxadamente Riley, Trudy, Cassie e Gina.
Alguns momentos depois, Trudy quebrou o silêncio. “Riley, mas que raio… ?”
White interrompeu, “Fica calada. Ordens do chefe.”
Seguiu-se o silêncio novamente, mas Riley percebeu que Trudy, Cassie e Gina estavam a olhar para ela. Riley virou o rosto.
Elas pensam que eu tenho culpa por estarem aqui, Apercebeu-se.
Então pensou – talvez seja verdade, talvez ela não tivesse dado os seus nomes. Mas o que é que ele podia ter feito? Mentir a uma agente da polícia? Ainda assim, Riley não suportava a desconfiança com que as amigas a encaravam. E não podia censurá-las por isso.
Afinal de contas, em que tipo de sarilhos é que estamos metidas? Pensou. Só por sairmos juntas?
Riley estava especialmente preocupada com Heather que ainda estava na cozinha a responder a perguntas. A pobre rapariga era particularmente próxima da companheira de quarto, Rhea. É claro que aquilo era um pesadelo para toda a gente, mas Riley nem conseguia imaginar quão duro estaria a ser para Heather.
Dali a nada, ouviram a voz do reitor a gaguejar desconfortavelmente no sistema sonoro do dormitório.
“Daqui fala o Reitor Trusler. Eu… eu tenho a certeza de que todos vocês já sabem que aconteceu algo terrível no piso das raparigas. Têm ordens do chefe da polícia Hintz para ficarem nos vossos quartos esta noite e não saírem do dormitório. Um agente da polícia ou um responsável do campus pode ir ao vosso quarto para falar com vocês. Respondam a todas as perguntas colocadas. Por agora, não planeiem sair do campus amanhã. Receberão mais informações em breve.”
Riley lembrou-se de algo que o chefe dissera…
“O mais certo é termos perguntas a colocar a muitos de vocês.”
Riley e as outras quatro raparigas eram as primeiras.
Começava a fazer sentido para ela. No final de contas, tinham estado com Rhea pouco antes da sua morte. Mas o que é que Hintz pensaria que elas sabiam?
O que é que ele pensa que eu possa saber? Interrogou-se.
Riley não fazia ideia.
Por fim, Heather saiu da cozinha acompanhada pela agente Frisbie. Heather parecia pálida e doente, como se estivesse prestes a vomitar novamente. Riley questionou-se – onde é que Heather ia passar a noite? Não podia voltar para o quarto que partilhara com Rhea.
Como se tivesse ouvido os pensamentos de Riley, a agente Frisbie disse, “A Heather vai passar o resto da noite no quarto do AR.”
Heather saiu abalada da sala comum. Riley ficou feliz por ver que a assistente residente fora ter com ela à entrada.
A agente Frisbie chamou Gina para entrar na cozinha onde Hintz estava à espera. Gina levantou-se e seguiu a mulher, deixando Riley, Trudy e Cassie envoltas num silêncio desconfortável. Parecia a Riley que o tempo tinha abrandado enquanto esperavam.
Por fim, Gina regressou. Sem dizer uma palavra às outras, atravessou a sala comum e saiu. Então a agente Frisbie chamou Cassie que foi até à cozinha.
Agora só restavam Riley e Trudy. Enquanto esperavam, Trudy não parava de lançar olhares zangados e de reprovação a Riley que gostava de poder explicar o que dissera na breve conversa que tivera com a agente Frisbie. Ela limitara-se a responder a uma pergunta simples. Não acusara ninguém de nada.
Mas o agente White ainda estava atento a elas e Riley não pode dizer nada.
Por fim, Cassie saiu da cozinha e voltou para o seu quarto, e Trudy foi a próxima a ser chamada.
Agora Riley estava sozinha com o agente White, sentindo-se isolada e com medo.
Sem nada com que se distrair, continuava a lembrar-se do corpo de Rhea, dos seus olhos abertos e da poça de sangue. Agora aquelas imagens estavam misturadas com memórias da sua própria mãe morta – há tanto tempo, mas ainda assim tão vívido na sua mente.
Como é que algo assim poderia estar a acontecer ali naquele momento no dormitório de uma faculdade?
Isto não pode estar a acontecer, Pensou.
Com certeza que não estava ali sentada a preparar-se para responder a perguntas cujas respostas não sabia.
Com certeza que uma das suas melhores amigas não tinha acabado de ser selvaticamente assassinada.
Já quase se convencera da irrealidade do momento quando a agente Frisbie saiu com Trudy da cozinha. Com uma expressão soturna, Trudy saiu da sala comum sem sequer olhar para Riley.
A agente Frisbie fez um gesto com a cabeça e Riley levantou-se e seguiu-a até à cozinha.
Isto não pode estar a acontecer, Continuava a dizer a si própria.
CAPÍTULO QUATRO
Riley sentou-se à mesa na cozinha, de frente para o chefe Hintz. Durante um momento, o chefe limitou-se a olhá-la, segurando no lápis sobre um bloco de notas. Riley interrogou-se se era suposto dizer alguma coisa.
Olhou para cima e viu que a agente Frisbie se tinha encostado a uma bancada. A mulher ostentava uma expressão amarga no rosto, como se não estivesse muito satisfeita com as entrevistas. Riley questionou-se se Frisbie estaria aborrecida com as respostas das raparigas ou com a forma como o chefe fazia as perguntas.
Por fim, o chefe disse, “Antes de mais nada, alguma vez a vítima lhe deu a entender que temia pela vida?”
Riley ficou impressionada com a palavra…
Vítima.
Porque é que ele não se limitava a tratá-la por Rhea?
Mas ela tinha que responder àquela pergunta.
Tentou recordar-se de conversas recentes, mas apenas se lembrou de conversas sem grande importância como aquela que tinham tido sobre a toma da pílula.
“Não,” Respondeu Riley.
“Alguém lhe desejava mal? Alguém se aborreceu com ela recentemente?”
A simples ideia parecia estranha a Riley. A Rhea era – tinha sido – tão agradável e amigável que Riley não conseguia imaginar que alguém pudesse ficar zangado com ela por mais de alguns minutos.
Mas pensou…
Será que me escapou alguma coisa?
E será que as outras raparigas tinham contado algo a Hintz que Riley desconhecia?
“Não,” Disse Riley. “Que eu saiba, ela dava-se bem com toda a gente.”
Hintz fez uma pequena pausa.
Então disse, “Diz-nos o que é que aconteceu quando tu e as tuas amigas chegaram ao Centaur’s Den.”
Riley foi inundada por uma imensidão de sensações – Rhea e Trudy a empurrarem-na para dentro do recinto onde pairava um nevoeiro denso de fumo de tabaco e a música ensurdecedora…
Teria que falar nesses pormenores?
Não, com certeza que Hintz apenas queria saber os factos simples.
Ela disse, “A Cassie, a Heather e a Gina foram diretamente para o bar. A Trudy queria que eu dançasse com ela e com a Rhea.”
Hintz revia as notas que tirara durante as entrevistas às outras raparigas que lhe tinham contado o que sabiam das ações de Riley, incluindo o facto de que Riley as deixara para ir para a parte inferior do estabelecimento.
“Mas não dançou com elas,” Disse ele.
“Não,” Afirmou Riley.
“Porque não?”
Riley ficou assustada. Porque é que a sua relutância em dançar era importante?
Então reparou que a agente Frisbie lhe lançava um olhar de apoio e abanava a cabeça. Parecia óbvio agora que a mulher considerava Hintz um parvalhão, mas nada podia fazer contra isso.
Riley disse lenta e cuidadosamente, “Eu simplesmente… bem, não estava com grande espírito de festa. Tentara estudar, mas a Rhea e a Trudy praticamente arrastaram-me para lá. Por isso comprei um copo de vinho e fui para o piso inferior.”
“Sozinha?” Perguntou Hintz.
“Sim, sozinha. Sentei-me numa mesa sozinha.”
Hintz percorreu as suas notas.
“Então não falou com mais ninguém enquanto esteve no Centaur’s Den?”
Riley pensou durante um momento e depois disse, “Bem, o Harry Rampling veio à minha mesa…”
Hintz sorriu ligeiramente ao ouvir o nome de Harry. Riley percebeu que, tal como a maioria da comunidade, o chefe tinha o quarterback em alta consideração.
Ele perguntou, “Ele sentou-se contigo?”
“Não,” Disse Riley. “Eu sacudi-o.”
Hintz mostrou-se incrédulo, aparentemente aborrecido com o facto de qualquer rapariga ter o fraco julgamento de rejeitar um verdadeitro herói como Harry Rampling. Riley começava a sentir-se um pouco exasperada. O que é que Hintz tinha a ver com as suas preferências? Em que é que isso estava relacionado com o que tinha acontecido a Rhea?
Hintz perguntou, “Falaste com mais alguém?”
Riley engoliu em seco.
Sim, ela tinha falado com outra pessoa.
Mas iria ela dar chatices àquele rapaz ao mencioná-lo?
Ela disse, “Hmm… um aluno de direito veio até à minha mesa. Sentou-se comigo e falámos durante um bocado.”
“E depois?” Perguntou Hintz.
Riley encolheu os ombros.
“Ele disse que tinha que estudar e foi-se embora.”
Hintz apontava algumas notas.
“Como é que ele se chamava?” Perguntou.
Riley disse, “Ouça, não sei porque é que ele é importante. Era apenas mais um rapaz no Centaur’s Den. Não há qualquer motivo para pensar… “
“Responde à minha pergunta.”
Riley engoliu em seco e disse, “Ryan Paige.”
“Já o tinhas encontrado?”
“Não.”
“Sabes onde é que ele vive?”
“Não.”
Riley ficou momentaneamente contente por Ryan se ter mantido tão misterioso, não lhe dando nem a morada, nem o número de telefone. Não sabia porque é que devia responder a perguntas sobre ele e não o queria meter em sarilhos. Quase parecia estúpido Hintz estar a pressioná-la sobre aquilo. E Riley percebeu pela forma como a agente Frisbie revirou os olhos que ela era da mesma opinião.
Hintz bateu com a borracha do lápis na mesa e perguntou, “Viste a Rhea Thorson com alguém em particular no Centaur’s Den? Quero dizer, para além das amigas com quem foi?”
Riley começava a sentir-se mais frustrada do que nervosa.
Será que Hintz não percebia nada do que ela acabara de dizer?
“Não,” Disse ela. “Como eu disse, fiquei sozinha. Depois disso não voltei a ver a Rhea.”
Hintz continuou a bater com a borracha e a olhar para as suas notas.
Perguntou, “O nome Rory Burdon diz-te alguma coisa?”
Riley pensou rapidamente.
Rory…
Sim, o primeiro nome era de alguma forma familiar.
Ela disse, “A Rhea parecia estar interessada nele. Via-a dançar com ele algumas vezes no Centaur’s Den.”
“Mas não esta noite?”
Riley conteve um suspiro. Ela queria dizer…
Quantas vezes é que tenho que lhe dizer que não voltei a ver a Rhea?
Mas em vez disso, disse simplesmente, “Não.”
Calculou que o Rory lá devia ter estado também e que as outras raparigas tinham dito a Hintz que tinham visto a Rhea com ele.
“O que é que sabes sobre ele?” Perguntou Hintz.
Riley fez uma pausa. O pouco que sabia parecia demasiado trivial para referir. Rory era um rapaz esquisito, alto, magro, com óculos de lentes grossas e todas as raparigas, exceto Riley, gozavam com a Rhea por estar interessada nele.
Ela disse, “Não muito, exceto que vive algures fora do campus.”
Apercebeu-se de que Hintz olhava novamente para ela, como se estivesse à espera que ela dissesse algo mais.
Será que o Hintz o considera um suspeito? Interrogou-se.
Riley tinha a certeza de que o chefe estava enganado se suspeitava de Rory. O rapaz era tímido e carinhoso, nada agressivo.
Riley ia dizê-lo a Hintz, mas o chefe da polícia olhou para os papéis à sua frente e continuou a fazer perguntas.