Ellington foi direto para eles e Mackenzie o seguiu. Nenhum dos agentes ficou de pé mas o mais velho estendeu sua mão para Ellington enquanto se aproximavam da mesa.
“Agentes Heideman e Thorsson, estou certo?” Perguntou Ellington.
“Quase,” o homem mais velho disse. “Sou Thorsson, e meu parceiro aqui é Heideman.”
“Prazer em conhecê-lo,” disse Ellington. “Eu sou o Agente Especial Ellington e esta é minha parceira, a Agente White.”
Todos eles apertaram as mãos de uma forma que havia se tornado quase entediante para Mackenzie, desde que ela se juntou à agência. Foi quase como uma formalidade, uma coisa estranha que precisava ser feita, para se ter acesso à tarefa. Ela reparou que quando Heideman apertou a mão dela, seu aperto foi fraco e suado. Ele não parecia nervoso, mas talvez um pouco tímido ou introvertido.
“Então, o quão longe estão as cenas do crime?” Perguntou Ellington.
“A mais próxima está a cerca de uma hora de distância,” disse Thorsson. “As outras estão todas dentro de dez ou quinze minutos uma da outra.”
“Houve quaisquer atualizações desde cedo?” Perguntou Mackenzie.
“Zero,” disse Thorsson. “Essa é uma das razões pelas quais nós chamamos vocês. Esse cara levou três mulheres até agora e não temos uma única pista. A situação é tão ruim que o estado está considerando o uso de câmeras ao longo da rodovia. O obstáculo, porém, é que você não pode realmente manter mais de 120 km de estrada secundárias sob a vigilância de câmeras.”
“Bem, você tecnicamente poderia,” disse Heideman. “Mas isso se resume à uma tonelada de câmeras e muita grana envolvida. Então, algumas pessoas da categoria estadual verão isso apenas como um último esforço.”
“Podemos ir em frente e ver a primeira cena, então?” Perguntou Ellington.
“Claro,” Disse Thorsson. “Vocês precisam de Hotéis e coisas assim, em primeiro lugar?”
“Não,” disse Mackenzie. “Vamos começar a trabalhar agora. Se vocês estão dizendo que há uma parte grande da estrada que precisa de cobertura, não podemos perder tempo.”
Enquanto Thorsson e Heideman ficaram de pé, Ellington olhou para ela de um jeito peculiar. Ela não podia dizer se ele estava impressionado com a sua dedicação para irem até a primeira cena o mais rápido possível ou se ele achou divertido ela não deixar ele tomar toda liderança neste caso. O que ela esperava que ele não suspeitasse era que a ideia de ir para algum lugar como um hotel com Ellington a fazia sentir muitas emoções ao mesmo tempo.
Eles deixaram a Starbucks em uma espécie de fila única. Mackenzie ficou ligeiramente tocada quando Ellington esperou por ela, certificando-se de que ela não fosse a última da fila.
“Você sabe,” Thorsson disse, olhando por cima do ombro, “Estou contente por vocês quererem chegar lá imediatamente. Há uma energia ruim por aí sobre essa coisa toda. Você pode sentir isso quando conversa com a polícia local, e está começando a passar para nós, também.”
“Que tipo de vibração?” Perguntou Mackenzie.
Thorsson e Heideman trocaram um olhar de mau agouro entre eles antes que os ombros de Thorsson caíssem um pouco, e ele respondeu: “Como se simplesmente nada poderá ser feito. Eu nunca vi nada parecido. Não há uma única pista. O cara é como um fantasma.”
“Bem, espero que possamos ajudar com isso,” disse Ellington.
“Espero que sim,” disse Thorsson. “Porque a partir de agora, o sentimento geral entre todos os que trabalham neste caso é que nós nunca conseguiremos encontrar esse cara.”
CAPÍTULO TRÊS
Mackenzie ficou bastante surpresa ao ver que o escritório local tinha oferecido para Thorsson e Heideman um carro Suburban. Após o seu calhambeque e os veículos modelo aluguel que com os quais ela ficou ao longo dos últimos meses, ela sentiu como se estivesse viajando em grande estilo enquanto estava sentada atrás com Ellington. Quando eles chegaram na primeira cena uma hora e dez minutos mais tarde, ela estava quase contente por estar fora dele, no entanto. Ela não estava acostumada a essas comodidades agradáveis no seu cargo e isso a fez se sentir um pouco desconfortável.
Thorsson estacionou ao longo da State Route 14, uma estrada de duas pistas que serpenteava através das florestas da área rural de Iowa. A estrada era cercada por árvores de ambos os lados. Durante as poucas milhas por onde passaram na estrada, Mackenzie viu algumas pequenas estradas de terra que pareciam ter sido esquecidas, costuradas por um cabo fino e postes de cada lado do caminho. Com exceção dos pequenos intervalos, não havia nada mais do que árvores.
Thorsson e Heideman os levaram a alguns policiais locais que acenaram por mera formalidade quando eles passaram. Mais à frente, na frente de dois carros da polícia que estavam estacionados, estava um pequeno carro Subaru vermelho. Os dois pneus laterais dianteiros estavam completamente murchos.
“Como é a força policial por aqui?” Perguntou Mackenzie.
“Pequena,” disse Thorsson. “A cidade mais próxima daqui é um pequeno lugar chamado Bent Creek. População de cerca de novecentos habitantes. A força policial é composta por um xerife—que está lá com outros caras—dois deputados e sete oficiais. Eles tiveram alguns problemas com o pessoal de Des Moines, mas quando aparecemos, eles recuaram. É um problema do FBI agora. Esse tipo de coisa.”
Então, eles estão contentes de estarmos aqui, em outras palavras?’ Perguntou Ellington.
“Oh, absolutamente,” disse Thorsson.
Eles se aproximaram do carro e o cercaram por um momento. Mackenzie deu uma olhada para trás, para ver os oficiais. Apenas um deles parecia legitimamente interessado no que os agentes do FBI estavam fazendo. Para ela, tudo bem. Ela já teve intromissão suficiente de policiais de cidades pequenas que fazem as coisas se tornarem mais difíceis do que são. Seria bom trabalhar sem ter que ficar cheia de cuidados em torno das sensibilidades e egos do DP local.
“O carro já foi inspecionada à procura de impressões?” Perguntou Mackenzie.
“Sim, hoje mais cedo,” disse Heideman. “Fique à vontade”.
Mackenzie abriu a porta do lado do passageiro. Uma breve olhada ao redor lhe disse que enquanto o veículo poderia ter sido inspecionado à procura de impressões, nada tinha sido ainda removido e marcado como prova. Um telefone celular ainda estava no banco do passageiro. Uma caixa de chicletes estava no topo de algumas peças dispersas de papel dobradas na parte central do carro.
“Este é o carro da escritora, correto?” Perguntou Mackenzie.
“É,” disse Thorsson. “Delores Manning.”
Mackenzie continuou verificando o carro. Ela encontrou os óculos de sol de Manning, um caderno de endereços quase vazio, algumas cópias de The Tin House espalhadas no banco de trás e mudas de roupa aqui e ali. No porta-malas havia apenas uma caixa de livros. Havia dezoito cópias de um livro chamado Love Blocked, escrito por Delores Manning.
“Tudo aqui foi inspecionado?” Perguntou Mackenzie.
“Não, acho que não,” disse Heideman. “É apenas uma caixa de livros, certo?”
“Sim, mas alguns estão em falta.”
“Ela vinha de uma sessão de autógrafos,” disse Thorsson. “As chances são muito boas de que ela tenha vendido alguns ou dado.”
Não valia a pena discutir sobre isso, ela o ignorou. Ainda assim, Mackenzie folheou dois dos livros. Ambos haviam sido assinados por Manning na página de título.
Ela colocou os livros de volta na caixa e, em seguida, começou a estudar a estrada. Ela caminhou ao longo da borda da estrada, procurando por algo que pudesse ter furado os pneus. Ela olhou para Ellington e ficou satisfeita ao ver que ele já estava analisando os pneus. De onde estava, ela podia ver os pedaços brilhantes de vidro ainda saindo dos pneus.
Havia mais daquele vidro na estrada adiante. O pouco de luz solar que conseguia romper os galhos das árvores sobre a cabeça deles ricocheteava de uma forma que estava estranhamente bonita. Ela caminhou até ele e agachou-se para ver melhor.
Era óbvio que o vidro tinha sido colocado lá intencionalmente. Ele estava localizado principalmente perto das linhas amarelas no centro da estrada. Estava espalhado aqui e ali, como areia, mas de forma espaçada para garantir que qualquer pessoa dirigindo ao longo da rodovia passasse diretamente sobre ele. Alguns fragmentos maiores permaneceram na estrada; o carro tinha aparentemente desviado desses, já que eles não tinham sido moídos em migalhas. Ela pegou um desses pedaços maiores e o analisou.
O vidro estava escuro, à primeira vista, mas quando Mackenzie deu uma olhada mais atenta, ela viu que tinha sido pintado de preto. Para impedir o brilho dos faróis que se aproximavam, pensou. Alguém dirigindo à noite veria o vidro com seus faróis… Mas não se ele estivesse pintado de preto.
Ela selecionou alguns pedaços e arranhou os maiores com a unha. O vidro tinha duas cores diferentes; a maioria era vidro claro, mas alguns tinham uma coloração ligeiramente verde. Era muito grosso para ser de uma garrafa de água ou pote comum. Ele tinha a espessura de algo feito por um oleiro. Alguns pareciam facilmente ter uma polegada e meia de largura, mesmo depois de quebrados e, em seguida, esmagados pelo carro de Delores Manning.
“Qualquer um percebe que este vidro foi pintado com spray?” Ela perguntou.
Ao longo da lateral da estrada, os oficiais estavam olhando um para o outro como se estivessem confusos. Mesmo Thorsson e Heideman deram um ao outro um olhar interrogativo.
“Isso é um não,” disse Thorsson.
“Será que nada disso foi recolhido e analisado ainda?” Perguntou Mackenzie.
“Recolhido, sim,” disse Thorsson. “Analisado, não. Mas há uma equipe nisso agora. Devemos ter algum resultado em poucas horas. Eu acho que eles finalmente falaríam para nós sobre a tinta spray.”
“E esse vidro não estava em nenhuma das outras cenas, certo?”
“Isso mesmo.’
Mackenzie ficou de pé, olhando para o vidro enquanto começava a imaginar o tipo de suspeito que estavam procurando.
Nenhum vidro nas cenas anteriores, pensou. Isso significa que o suspeito fez isso propositalmente com esta mulher. Por quê? Talvez os dois primeiros desaparecimentos foram apenas coincidência. Talvez estavam apenas no lugar certo no momento certo. E se esse foi o caso, ele é definitivamente um local—um assassino rural, não urbano. Mas ele é inteligente e calculista. Ele não está fazendo isso sem planejamento.
Ellington se aproximou dela e analisou o vidro. Sem olhar para ela, ele perguntou: “Alguma ideia inicial?”
“Algumas”
“Quais?”
“Ele é um cara do meio rural, como pensávamos. Eu também acho que este caso foi planejado. Os pneus furados… Ele fez isso de propósito. Se o vidro não estava presente nas outras cenas, ele fez isso só desta vez. Isso me faz pensar que ele não tinha o controle da situação nos outros dois casos. Foi apenas sorte de parte dele. Mas este… Este demandou trabalho.”
“Você acha que vale a pena falar com a família?’ Perguntou Ellington.
Ela não podia dizer se ele estava interrogando-a de uma maneira estranha, como Bryers tinha feito uma vez, ou se ele estava genuinamente interessado em sua metodologia e abordagem.
“Pode ser a maneira mais rápida de obter quaisquer respostas por agora,” disse ela. “Mesmo se não der em nada, é uma tarefa concluída.”
“Isso soa robótico,” Ellington disse com um sorriso.
Ignorando-o, Mackenzie voltou para o carro, onde Thorsson e Heideman estavam observando os dois.
“Sabemos onde Delores Manning vive?” Ela perguntou.
“Bem, ela vive em Buffalo, Nova York,” disse Thorsson. “Mas ela tem família perto de Sigourney.”
“Fica em Iowa, também, certo?”
“Fica, disse Thorsson. “Sua mãe vive a cerca de dez minutos da cidade. O pai é falecido. Ninguém informou-os sobre o seu desaparecimento ainda. Pelo que podemos dizer, ela só está desaparecida há vinte e seis horas ou algo assim. E enquanto não podemos confirmar isso é inevitável se perguntar se ela fez uma visita a sua família enquanto estava por perto, por causa de sua sessão de autógrafos em Cedar Rapids.”
“Eu acho que eles provavelmente seriam informados,” disse Mackenzie.
“Também acho,” Ellington disse, se juntando a eles.
“Seja o meu convidado, então,” Thorsson riu. “Sigourney fica a de cerca de uma hora e quinze minutos daqui. Gostaríamos muito de embarcar nessa com vocês,” ele acrescentou sarcasticamente,” mas isso não faz parte do combinado.”
Quando ele disse isso, um dos policiais se juntaram a eles. O crachá que ele usava indicava que ele era o xerife da área.
“Você precisa de nós em alguma coisa?” Perguntou.
“Não,” disse Ellington. “Talvez apenas o nome de um hotel decente por aqui.”
“Há apenas um em Bent Creek,” disse o xerife. “Então esse é o único que eu posso realmente recomendar.”
“Bem, então, parece que vamos aceitar a sua recomendação. E nós também precisaremos de um carro alugado em Bent Creek.”
“Eu posso ver isso,” disse o xerife, encerrando o assunto.
Com uma ligeira sensação de se sentir deslocada, Mackenzie voltou para o Suburban e pegou o seu lugar no banco de trás. Com os outros três agentes no carro, Mackenzie começou a pensar sobre essas pequenas passagens de terra fora da State Route 14. De quem era aquela propriedade? Para onde é que as passagens levam?
Enquanto se dirigiam para Bent Creek, as estradas do país parecia apresentar mais e mais perguntas na mente de Mackenzie… servil, mas muito imediato. Ela agrupou todas elas quando pensou sobre o vidro quebrado na estrada. Tentou imaginar alguém pintando o vidro com a clara intenção de furar os pneus do carro de alguém.
Isso mostrava mais do que apenas intenção. Isso indicava um planejamento cuidadoso e conhecimento do fluxo de tráfego ao longo da State Route 14 naquela hora da noite.
Nosso cara é inteligente de um jeito perigoso, ela pensou. Ele também é um planejador e parece procurar apenas mulheres.
Ela começou a juntar as peças do perfil do suspeito e imediatamente começou a sentir uma sensação de pressão… Uma necessidade de se mover rapidamente. Ela sentiu que ele estava em algum lugar dentro deste pequeno buraco rural de árvores e estradas sinuosas, quebrando mais vidros, pulverizando-os com tinta spray.
E planejamento para capturar outra vítima.
CAPÍTULO QUATRO
Delores Manning estava pensando em sua mãe quando abriu os olhos. Sua mãe vivia em uma área casas móveis, rural e grotesca, fora de Sigourney. A mulher era muito orgulhosa, muito teimosa. O plano de Delores era visitar sua mãe após os autógrafos em Cedar Rapids.
Tendo assinado um contrato de três livros com sua editora atual, Delores tinha feito um cheque de US$ 7.000, esperando que sua mãe o aceitaria e o usaria com sabedoria. Talvez fosse esnobe, mas Delores estava envergonhada por sua mãe ter que depender da assistência social, ter que usar vale-refeição para comprar mantimentos. Tinha sido assim desde que o seu pai morreu—
Os pensamentos nebulosos sobre sua mãe adormeceram assim que os seus olhos começaram a se acostumar com a escuridão em que ela se encontrava. Ela estava sentada com as costas pressionadas contra algo muito duro e quase frio ao toque. Lentamente, ela se levantou. Quando conseguiu, ela bateu a cabeça em algo que parecia exatamente com a superfície sobre a qual ela apoiou as costas.
Confusa, ela estendeu a mão e não pôde estender muito os braços. Quando o pânico começou a crescer, os olhos dela perceberam que havia pequenas tiras de luz caindo na escuridão. Diretamente na frente dela havia três tiras retangulares de luz. As tiras serviram para lhe dar uma ideia de qual era a situação.