Despedaçadas - Блейк Пирс 4 стр.


Riley viu de imediato que a notícia das mortes recentes já se espalhava, apesar do nome desta última vítima ainda não ser conhecido. Mas viu que o nome da vítima anterior era Fern Bruder, uma mulher de vinte e cinco anos cujo corpo decapitado fora encontrado numa linha perto de Allardt, Indiana.

Riley não conseguiu encontrar muitas mais informações online sobre os homicídios. Se a polícia tinha suspeitos ou tinha conhecimento de alguma motivação, essa informação ainda não era do conhecimento público – o que era uma coisa positiva.

Ainda assim, era frustrante não poder saber mais naquele momento.

Com tão pouco em que trabalhar em relação ao caso, Riley deu por si a pensar nos acontecimentos daquele dia. Ainda sentia a emoção da perda de Liam – apesar de perceber…

“Perda” não era a palavra mais correta.

Não, ela e a família tinham feito o melhor por aquele rapaz. E agora as coisas tinham-se resolvido da melhor forma e Liam estava ao cuidado de pessoas que o amariam e tomariam bem conta dele.

Ainda assim, Riley interrogou-se…

Porque é que sinto isto como uma perda?

Riley também tinha sentimentos contraditórios acerca da compra da arma para April e de levá-la à carreira de tiro. A demonstração de maturidade de April deixara Riley orgulhosa, assim como a sua boa pontaria. Riley também ficou profundamente sensibilizada pelo facto da filha querer seguir as suas pisadas.

E no entanto… Riley não consegui evitar lembrar-se…

Estou a caminho de ver um corpo decapitado.

Toda a sua carreira era uma longa fiada de horrores. Era esta a vida que queria para April?

Não depende de mim, Lembrou Riley a si própria. Depende dela.

Riley também sentiu a estranheza daquela conversa telefónica com Jenn ainda há pouco. Tanto ficara por dizer e Riley não fazia ideia do que se passaria naquele preciso momento entre Jenn e a Tia Cora. E claro, agora não era o momento para falar sobre isso – não com Bill ali sentado com elas.

Riley não conseguia evitar pensar…

Teria Jenn razão? Deveria entregar o distintivo?

Estaria Riley a fazer um favor à jovem agente ao encorajá-la para permanecer no FBI?

E estaria Jenn no melhor momento para se envolver num novo caso?

Riley olhou para Jenn, sentada em frente ao computador.

Jenn parecia completamente focada naquele momento – mais do que Riley, pelo menos.

Os pensamentos de Riley foram interrompidos pela voz de Bill.

“Atadas a linhas ferroviárias. Quase parece…”

Riley viu que Bill estava a olhar para o seu computador.

Fez uma pausa, mas Jenn concluiu o seu pensamento.

“Parece um daqueles filmes mudos, não é? Sim, eu estava a pensar no mesmo.”

Bill abanou a cabeça.

“Não sei… não paro de pensar num vilão de bigode e chapéu alto a prender a jovem dama à linha do comboio até que um herói corajoso aparece e a salva. Não é sempre isso o que acontece nos filmes mudos?”

Jenn apontou para o ecrã do computador.

Disse, “Na verdade, não é bem assim. Estive a fazer alguma pesquisa sobre isso. Não haja dúvidas de que é um cliché. E toda a gente parece pensar que o viu, como se fosse uma espécie de lenda urbana. Mas parece que nunca apareceu realmente nos filmes mudos.”

Jenn virou o seu computador para que Bill e Riley pudessem ver.

Disse, “O primeiro exemplo de ficção de um vilão a amarrar alguém a uma linha de comboio parece ter aparecido muito antes dos filmes sequer existirem, numa peça de 1867 chamada Under the Gaslight. Só que – vejam isto! – o vilão amarrou um homem à linha e a protagonista teve que o salvar. O mesmo tipo de coisa aconteceu num conto e em algumas outras peças daquele tempo.”

Riley percebeu que Jenn estava realmente entusiasmada com que acabara de descobrir.

Jenn prosseguiu, “No que diz respeito a filmes antigos, há duas comédias mudas nas quais isto acontece – uma dama indefesa é amarrada à linha por um terrível vilão e é salva pelo atraente herói. Mas era para as pessoas se rirem, tal como os desenhos animados de sábado de manhã.”

Os olhos de Bill demonstravam interesse.

“Paródias de algo que não era real,” Disse ele.

“Exatamente,” Disse Jenn.

Bill abanou a cabeça.

Disse, “Mas as locomotivas a vapor faziam parte da vida quotidiana nessa altura – refiro-me às primeiras décadas do século XX. Não houve filmes mudos que retratassem alguém em perigo de ser atropelado por um comboio?”

“Claro,” Disse Jenn. “Às vezes uma personagem era empurrada ou caía nas linhas e talvez caísse inconsciente quando um comboio estava a vir. Mas não é o mesmo cenário, pois não? Para além disso, tal como naquela antiga peça, a personagem do filme em perigo era geralmente um homem que tinha que ser salvo por uma heroína!”

Agora o interesse de Riley estava no auge. Ela sabia que Jenn não estava a perder o seu tempo ao procurar aquele tipo de coisa. Eles precisavam de descobrir o que movia o assassino. Parte disso passava por compreender todos os precedentes culturais de quaisquer cenários com que poderiam lidar – mesmo aqueles que fossem ficcionais.

Ou neste caso, inexistentes, Pensou Riley.

Tudo o que pudesse ter influenciado o assassino tinha interesse.

Pensou por um momento, depois perguntou a Jenn, “Isto quer dizer que nunca ocorreram casos reais de pessoas assassinadas dessa forma?”

“Na verdade, já aconteceu na vida real,” Disse Jenn, apontando para a informação correspondente no seu computador. “Entre 1874 e 1910, pelo menos seis pessoas foram mortas dessa forma. Não consigo encontrar muitos exemplos desde essa época, exceto um muito recente. Em França, um homem amarrou a sua mulher a um carril no dia do seu aniversário. Depois colocou-se à frente do comboio que se aproximava a alta velocidade e morreu juntamente com ela – um homicídio-suicídio. De resto, parece ser uma forma rara de se matar alguém. E nenhuma desses homicídios foi em série.”

Jenn virou o computador novamente para ela e calou-se.

Riley ficou a pensar no que Jenn acabara de dizer…

“… uma forma rara de se matar alguém.”

Riley pensou…

Rara, mas não inédita.

Deu por si a pensar – será que os homicídios que ocorreram entre 1874 e 1910 tinham sido inspirados naquelas antigas peças nas quais as personagens eram atadas a carris? Riley tinha conhecimento de situações em a vida imitava a arte de forma horrível – nas quais os assassinos eram inspirados por telenovelas ou filmes ou jogos de vídeo.

Talvez as coisas não tivessem mudado muito.

Talvez as pessoas não tenham mudado muito.

E o assassino que tentavam apanhar?

Parecia ridículo imaginar que estivessem a perseguir um psicopata que estivesse a imitar um vilão melodramático de bigode que nunca existira, nem sequer nos filmes.

Mas o que estaria a mover este assassino?

A situação era demasiado clara e familiar. Riley e os colegas teriam que responder a essa questão ou mais pessoas seriam mortas.

Riley ficou a observar Jenn a trabalhar no seu computador. Era uma postura encorajadora. De momento, Jenn parecia ter sacudido as suas ansiedades em relação à misteriosa “Tia Cora”.

Mas quanto tempo duraria? Questionou-se Riley.

De qualquer das formas, ver Jenn tão concentrada na pesquisa lembrou a Riley que deveria estar a fazer o mesmo. Nunca trabalhara num caso que envolvesse comboios anteriormente e tinha muito a aprender. Retomou o trabalho no computador.

*

Tal como Meredith tinha dito, Riley e os colegas foram recebidos na pista em O’Hare por dois polícias ferroviários. Todos se apresentaram e Riley e os colegas entraram no seu veículo.

“É melhor despacharmo-nos,” Disse o polícia que se sentara no lugar ao lado do condutor. "Os manda-chuvas ferroviários estão a pressionar o chefe para se remover o corpo dos carris.”

Bill perguntou, “Quanto tempo demoramos até lá?”

O polícia que estava a conduzir disse, “Geralmente uma hora, mas não vamos demorar tanto tempo.”

Ligou as luzes e sirenes, e o carro começou a avançar no meio do trânsito do fim de tarde. Foi uma viagem tensa, caótica e veloz que os levou até à cidade de Barnwell, Illinois. Depois, atravessaram uma passagem de nível.

O polícia que seguia ao lado do condutor apontou.

“Parece que o assassino saiu da estrada junto aos carris num veículo todo-o-terreno. Conduziu ao longo dos carris até chegar ao local onde perpetrou o crime.”

Dali a pouco estacionaram junto a uma zona florestal. Outro veículo da polícia já lá estava estacionado, assim como a carrinha do médico-legista.

A vegetação não era muito densa. Os polícias conduziram Riley e os colegas até aos carris que se encontravam a curta distância.

Só nessa altura surgiu a cena do crime.

Riley engoliu em seco ao contemplar a cena.

De repente, tinham desaparecido as imagens de vilões de bigode e damas em perigo.

Ali estava a realidade – e era demasiado horrível.

CAPÍTULO CINCO

Riley ficou a olhar para o corpo nos carris por um longo momento. Já vira corpos esmagados de várias formas horríficas. Ainda assim, esta vítima apresentava um espetáculo singularmente chocante. A mulher fora decapitada pelas rodas do comboio, uma decapitação que se assemelhava à lâmina de uma guilhotina.

Riley ficou surpreendida pelo facto de o corpo sem cabeça da mulher parecer ileso. A vítima estava firmemente amarrada com fita adesiva, braços e mãos atados de lado e tornozelos juntos. Vestido no que fora um fato atraente, o corpo estava torcido numa posição desesperada. No local onde o pescoço estava cortado, havia sangue espalhado nas pedras esmagadas, na madeira e nos carris. A cabeça tinha sido atirada uns dois metros pelo aterro ao longo da linha. Os olhos e boca da mulher estavam abertos numa expressão de frio horror.

Riley viu várias pessoas a observarem o corpo, algums envergando uniformes, outras não. Riley calculou que eram um misto de polícias locais e polícias dos caminhos-de-ferro. Um homem de uniforme dirigiu-se a Riley e aos seus colegas.

Disse, “Presumo que sejam do FBI. Eu sou Jude Cullen, Chefe da Polícia dos Caminhos-de-Ferro da região de Chicago – chamam-me ‘Bull’ Cullen.”.

Parecia ter orgulho naquela alcunha. Pela pesquisa que fizera, Riley sabia que “Bull” era o calão para um polícia de caminho-de-ferro. Na verdade, na organização da polícia dos caminhos-de-ferro possuíam os títulos de Agente e Agente Especial como no FBI. Este, no entanto, parecia preferir o termo mais genérico.

“A ideia de vocês virem até cá foi minha,” Continuou Cullen. “Espero que a viagem valha a pena. Quanto mais depressa tirarmos o corpo daqui, melhor.”

Enquanto Riley e os colegas se apresentavam, ela observou Cullen com atenção. Ele parecia muito jovem e tinha uma compleição física extremamente musculada com os braços a sobressaírem debaixo da manga curta do uniforme e a camisa bem esticada no peito.

A alcunha “Bull” adequava-se, pensou Riley. Mas Riley nunca se sentia atraída por homens que passavam horas a fio no ginásio para ficarem com aquele aspeto.

Ela questionou-se como é que um homem tão musculado como Bull Cullen tinha tempo para fazer outras coisas. Então reparou que não usava aliança. Partiu do princípio de que a sua vida devia resumir-se ao trabalho e ao ginásio.

Parecia ser boa pessoa e não estar particularmente chocado pela natureza invulgarmente terrível da cena do crime. É claro que já lá se encontrava há algumas horas – o tempo suficiente para se acostumar àquilo. Ainda assim, o homem pareceu a Riley bastante vão e superficial.

Riley perguntou-lhe, “Já identificaram a vítima?”

Bull Cullen anuiu.

“Sim, chama-se Reese Fischer, trinta e cinco anos. Vivia aqui perto em Barnwell onde trabalhava como bibliotecária. Era casada com um quiroprático.”

Riley olhou para os carris. Aquele pedaço era uma curva, por isso não conseguia ver a grande distância em qualquer das direções.

“Onde está o comboio que a atropelou?” Perguntou a Cullen.

Cullen apontou e disse, “Encontra-se a cerca de meio quilómetro daqui, no lugar exato onde parou.”

Riley reparou num homem obeso de uniforme negro ajoelhado ao lado do corpo.

“É o médico-legista?” Perguntou a Cullen.

“Sim, deixe-me apresentar-lhe. Este é o médico-legista de Barnwell, Corey Hammond.”

Riley ajoelhou-se ao lado do homem. Pressentiu que, em contraste com Cullen, Hammond ainda lutava para conter o choque. A respiração era dificultosa – em parte devido ao peso, mas também, suspeitava Riley, devido à repugnância e ao horror. Era mais que certo que nunca tinha visto nada semelhante na sua jurisdição.

“O que nos pode dizer até ao momento?” Perguntou Riley ao médico-legista.

“Não há sinal de abuso sexual,” Disse Hammond. “É consistente com a autópsia do outro médico-legista da vítima de há quatro dias encontrada perto de Allardt.”

Hammond apontou para pedaços esmagados de fita adesiva prateada em redor do pescoço e ombros da mulher.

“O assassino amarrou-lhe as mãos e os pés, depois amarrou-lhe o pescoço ao carril e imobilizou-lhe os ombros. Ela deve ter lutado muito para se tentar libertar. Mas não tinha a mínima hipótese.”

Riley virou-se para Cullen e perguntou, “A boca não estava amordaçada. Alguém a terá ouvido a gritar?”

“Não nos parece,” Disse Cullen, apontando na direção de umas árvores. “Há algumas casas por ali, mas estão fora de alcance auditivo. Dois dos meus homens andaram de porta em porta a perguntar se alguém tinha ouvido alguma coisa. Ninguém ouviu nada. Souberam do ocorrido na televisão ou na internet. Foi-lhes dito para ficarem longe daqui. Até agora, ainda não tivemos qualquer problema com mirones.”

Bill perguntou, “Parecia que alguma coisa lhe tinha sido roubada?”

Cullen encolheu os ombros.

“Não nos parece. Encontrámos a carteira aqui ao lado dela e ainda tinha lá dentro cartão de identificação, dinheiro e cartões de crédito. Ah, e um telemóvel.”

Riley estudou o corpo, tentando imaginar como é que o assassino tinha conseguido colocar a vítima naquela posição. Às vezes conseguia sentir o assassino de forma poderosa simplesmente observando o que a rodeava numa cena de crime. Por vezes quase parecia que conseguia penetrar os seus pensamentos, saber o que lhe ia na mente ao cometer o crime.

Mas não agora.

Estava tudo um pouco confuso por ali com todas aquelas pessoas presentes.

Ela disse, “Ele deve tê-la subjugado de alguma forma antes de a amarrar desta forma. E o outro corpo, a vítima morta anteriormente? O médico-legista local encontrou drogas no sistema?”

“A corrente sanguínea acusou flunitrazepan,” Informou Hammond.

Riley olhou para os colegas. Ela sabia o que era flunitrazepan e sabia que também Bill e Jenn tinham conhecimento do que se tratava. O nome mais conhecido era Rohypnol e era conhecida como sendo uma droga de violação. Era ilegal, mas muito fácil de comprar nas ruas.

E sem dúvida que teria subjugado a vítima, tornando-a indefesa, embora talvez não totalmente inconsciente. Riley sabia que o flunitrazepan tinha um efeito amnésico assim que passasse o efeito. Estremeceu ao perceber…

O efeito pode ter passado aqui – mesmo antes de morrer.

Se fosse esse o caso, a pobre mulher não faria ideia como ou porquê uma coisa tão terrível lhe estava a acontecer.

Bill coçou o queixo ao olhar para o corpo.

Disse, “Então talvez isto tenha começado com um encontro com o assassino a deitar a droga na bebida num bar ou numa festa ou qualquer coisa do género.”

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