Um Reinado de Rainhas - Морган Райс 4 стр.


Bowyer de repente ergue o machado, levantando-o bem acima de sua cabeça.

Alistair fecha os olhos, sabendo que dentro de poucos instantes, ela não faria mais parte daquele mundo.

De olhos fechados, ela sente o tempo se desacelerar. Imagens passam diante de seus olhos. Ela vê a primeira vez que havia conhecido Erec, ainda no Anel, no castelo do Duque, quando ela ainda era uma criada e havia se apaixonado por ele à primeira vista. Ela sente todo seu amor por ele – um amor que ela ainda sente até hoje, ardendo com a mesma intensidade dentro dela. Ela vê seu irmão Thorgrin, vê seu rosto e, por alguma razão, não o vê no Anel ou na Corte do Rei, e sim em uma terra distante, em um oceano distante, vivendo em exílio. Acima de tudo, ela vê sua mãe. Ela a vê na beira de um precipício, diante de seu castelo, bem acima de um oceano e na frente de uma passarela. Ela vê sua mãe de braços abertos e sorrindo para ela.

"Minha filha," ela diz.

"Mãe," Alistair fala, "em breve estarei com você."

Mas para sua surpresa, sua mãe balança lentamente a cabeça.

"Sua hora ainda não chegou," ela responde. "Seu destino nessa terra ainda não se completou. Você ainda tem um grande destino diante de você."

"Mas como, mãe?" ela pergunta. "Como posso sobreviver?"

"Você é muito maior do que essa terra," sua mãe responde. "Essa lâmina, esse metal da morte, faz parte dessa terra. Suas amarras são parte dessa terra. Essas são limitações mundanas. Elas são limitações apenas se você acreditar nelas, se você permitir que elas tenham poder sobre você. Você é espírito, luz e energia. É nisso que reside o seu verdadeiro poder. Você está acima de tudo isso. Você está se permitindo ser contida por limitações físicas. Seu problema não é um problema de força, e sim de confiança e fé. Falta-lhe confiança em si mesma. Qual a força da sua fé?”

Enquanto Alistair continua ali ajoelhada, tremendo de olhos fechados, a pergunta de sua mãe ressoa em sua mente.

Qual a força da sua fé?”

Alistair deixa de resistir, se esquece de suas amarras e se entrega nas mãos de sua fé. Ela começa a abrir mão de sua confiança nas restrições físicas daquele mundo, e passa a ter fé no poder supremo – no poder supremo que rege todas as coisas que existem no mundo. Um poder havia criado aquele mundo, e ela sabe disso. Um poder havia criado tudo aquilo, e é com esse poder que ela deve se alinhar.

Ao fazer isso, dentro de uma fração de segundo, Alistair sente um calor repentino atravessar todo o seu corpo. Ela se sente pegando fogo – maior do que tudo ao seu redor. Alistair sente chamas emanando das palmas de suas mãos, sente sua mente zumbindo e um grande calor surgindo em sua testa, entre seus olhos. Ela se sente mais forte do que todos à sua volta, mais forte do que suas amarras e mais forte do que qualquer coisa material.

Alistair abre os olhos, e à medida que o tempo volta a passar na velocidade normal, ela olha pra frente e vê Bowyer baixando o machado com uma careta no rosto.

Com um único movimento, Alistair se vira e ergue um braço, e desta vez suas amarras se partem como se fossem gravetos. Com o mesmo gesto, na velocidade de um raio, ela se levanta e ergue uma mão na direção de Bowyer, e quando ele abaixa seu machado a coisa mais surpreendente acontece: o machado se dissolve. Ele se transforma em cinzas e pó e cai em uma pilha aos pés dela.

Bowyer golpeia sem nada nas mãos e cai de joelhos no chão.

Alistair se vira e seus olhos são atraídos para uma espada na cintura de um soldado do lado oposto da clareira. Ela estica o outro braço, e com a palma da mão estendida ordena que a espada venha até ela; ao fazer isso, a espada sai da bainha do soldado e atravessa o ar, indo direto para a mão dela.

Com um movimento rápido, Alistair pega a espada na mão, gira o corpo e a ergue no alto, dando um golpe certeiro na parte de trás do pescoço exposto de Bowyer.

A multidão fica chocada ao ouvir o som de metal cortando o pescoço dele – e ao ver Bowyer, decapitado, cair no chão sem vida.

Ele fica no caído ali, morto, no exato local onde momentos antes ele pretendia matar Alistair.

Um grito irrompe no meio da multidão, e Alistair vê Dauphine se soltar das mãos do soldado, arrancar uma adaga de sua cintura e cortar o seu pescoço. Com o mesmo movimento, ela dá uma volta e corta as cordas de Strom. Strom imediatamente estica o braço e agarra uma espada na cintura de um dos soldados, e então gira o corpo e mata três dos homens de Bowyer antes que eles tenham tempo de reagir.

Com a morte de Bowyer, há alguns momentos de hesitação, pois a multidão obviamente não sabe o que fazer a seguir. Mais gritos são ouvidos no meio da multidão, pois sua morte claramente havia encorajado aqueles que tinham se juntado a ele com relutância. Eles começam a reavaliar suas alianças, especialmente quando dezenas de homens leais à Erec abandonam suas posições e passam para o lado de Strom, lutando lado a lado contra os soldados leais à Bowyer.

A batalha rapidamente muda a favor dos homens de Erec à medida que, um homem de cada vez, alianças são formadas; os homens de Bowyer, desprevenidos, se viram e fogem pelo platô na direção das montanhas rochosas. Strom e seus homens os seguem de perto.

Alistair continua parada ali com a espada na mão, e observa enquanto uma grande batalha acontece ao longo de todo o campo; gritos e alarmes são ouvidos à medida que toda a ilha parece se mobilizar, aproximando-se para se juntar à luta em ambos os lados da batalha. O som das armaduras e os gritos de morte dos homens preenchem o ar da manhã, e Alistair sabe que uma guerra civil acaba de começar.

Ela ergue sua espada e, com o sol refletindo sobre ela, Alistair sabe que havia sido salva pela graça divina. Ela se sente renascida – mais poderosa do que nunca e sabe que seu destino espera por ela. Alistair se sente otimista. Os homens de Bowyer seriam mortos, ela sabe disso. A justiça prevaleceria. Erec viveria. Eles se casariam. E logo, ela seria a Rainha das Ilhas do Sul.

CAPÍTULO SEIS

Darius corre pela trilha de terra que parte de sua vila seguindo as pegadas em direção a Volúsia com o coração determinado a salvar Loti e a assassinar os homens que a tinham levado. Ele corre com uma espada – uma espada de verdade - feita de metal verdadeiro – e é a primeira vez que ele segura metal de verdade nas mãos em toda a sua vida. Apenas esse fato, ele sabe, é o suficiente para que ele – e toda a sua vila, sejam mortos. O metal é um tabu – até mesmo seu pai e seu avô têm pavor de possuí-lo – e Darius sabe que ele havia atravessado uma linha da qual não existe mais volta.

Mas ele não se importa mais. A injustiça de sua vida tinha ido longe demais. Com o sequestro de Loti, ele não se importa com mais nada a não ser resgatá-la. Ele mal tinha tido a chance de conhecê-la, mas ao mesmo tempo é como se ela sempre tivesse sido sua. Uma coisa é ele ser levado como um escravo, mas deixar que ela seja levada é demais para ele. Ele não pode permitir que isso aconteça e ainda se considerar um homem. Ele é apenas um garoto, ele sabe, mas também está se tornando um homem. E ele sabe que são decisões como essa – uma decisão difícil que ninguém está disposto a tomar – que definem quem são os homens de verdade.

Darius corre sozinho pela trilha com o suor ardendo em seus olhos e respirando com dificuldade – um homem disposto a enfrentar um exército e uma cidade inteira. Não existe alternativa, ele precisa encontrar Loti e levá-la de volta, ou morrer tentando. Ele sabe que se fracassar – ou até mesmo se tiver êxito – toda a sua vila, sua família inteira e todo o seu povo sofrerão as consequências. Se ele parar para pensar sobre isso, ele pode até mesmo desistir de tudo aquilo e voltar atrás.

Mas ele é motivado por algo mais forte que seu próprio instinto de sobrevivência, algo mais importante que a preservação de sua família e de seu povo. Ele é motivado por uma sede de justiça. Pela sede de liberdade. Por um desejo de se livrar de seus opressores e se tornar livre, mesmo que seja apenas por um momento em sua vida. Se não por ele mesmo, que seja por Loti e pela liberdade dela.

Darius é motivado por suas emoções, e não por um pensamento racional. Aquele é o amor da sua vida lá fora, e ele já tinha sofrido demais nas mãos do Império. Fossem quais fossem as consequências, ele já não se importa. Ele precisa mostrar a eles que existe um homem entre o seu povo – mesmo que seja apenas um homem e mesmo que ele seja apenas um garoto – que não suporta mais se submeter aquele tratamento.

Darius corre sem parar pelas curvas do caminho conhecido, passando diante de campos familiares em direção ao território Volusiano. Ele sabe que ser encontrado ali, tão perto de Volúsia, já seria o suficiente para que ele fosse condenado à morte. Ele segue pela trilha, dobrando sua velocidade e, vendo as pegadas das zertas próximas umas das outras, percebe que eles estão se movendo devagar. Se ele fosse rápido o bastante, ele sabe que poderia alcançá-los.

Darius chega ao topo de uma colina e, ofegante, finalmente vê na distância o que ele está procurando: a cem metros de distância, ele vê Loti presa pelo pescoço com uma corrente de dez metros amarrada em uma das zertas.  O capataz do Império que havia levado Loti segue montado na zerta de costas para ela, e ao seu lado, caminhando perto deles, há mais dois soldados do Império vestindo a armadura preta e dourada, que brilha sob a luz do sol. Eles são duas vezes maiores que Darius – guerreiros formidáveis, homens com as mais impressionantes armas e zertas sob o seu comando. Darius sabe que seria preciso um exército de escravos para subjugá-los.

Mas Darius não permite que o medo o desanime. Tudo o que ele tem para seguir em frente é a força de seu espírito e sua forte determinação, e ele sabe que precisa encontrar um meio de fazer com que aquilo seja o bastante.

Darius continua correndo e se aproxima da caravana desavisada, e logo chega perto de Loti e ergue a sua espada; ela olha para trás com uma expressão de surpresa no rosto ao mesmo tempo em que ele abaixa a espada e acerta as correntes que a prendem à zerta.

Loti grita e salta para trás assustada, e Darius arrebenta as correntes, libertando-a enquanto o som distinto de metal corta o ar. Ela fica parada – livre, com as algemas ainda em volta de seu pescoço e a corrente pendurada na frente de seu peito.

Darius se vira e vê um olhar de igual perplexidade no rosto do capataz do Império, que observa tudo montado em sua cela na zerta. Os soldados que caminham ao seu lado também param, chocados ao verem Darius.

Darius fica ali com os braços tremendo e segurando a espada de aço diante dele, determinado a não demonstrar medo enquanto fica entre eles e Loti.

"Ela não pertence a vocês," Darius grita com a voz trêmula. "Ela é uma mulher livre. Somos todos livres!"

Os soldados olham para o capataz.

"Garoto," ele fala para Darius, "você acaba de cometer o maior erro de sua vida."

Ele faz um gesto para os soldados, que erguem suas espadas e partem para cima de Darius.

Darius continua segurando a espada com mãos trêmulas sem recuar e, ao fazer isso, sente a presença de todos os seus ancestrais. Ele sente a presença de todos os escravos que haviam sido mortos observando-o de algum lugar, dando-lhe forças para resistir, e começa a sentir um forte calor crescendo dentro dele.

Darius sente seu poder oculto começando a despertar, querendo ser invocado. Mas ele não quer fazer isso. Ele deseja lutar homem contra homem, ganhando deles como qualquer outro homem faria; usando todo o treinamento que havia recebido junto com seus companheiros. Ele quer ganhar como um homem, lutar como um homem com armas de verdade e derrotá-los num confronto de acordo com as regras deles. Ele sempre havia sido mais rápido que os garotos mais velhos, com suas espadas longas de madeira e seus corpos musculosos – mesmo contra garotos com o dobro de seu tamanho. Ele continua firme no lugar, e se prepara à medida que os soldados avançam em sua direção.

"Loti!" ele grita sem olhar para ela, "CORRA! Volte para a vila!"

"NÃO!" ela responde.

Darius sabe que precisa fazer alguma coisa; ele não pode simplesmente ficar ali esperando que eles o alcancem. Ele sabe que precisa surpreendê-los, fazendo algo que eles não possam prever.

Darius de repente ataca, escolhendo um dos soldados e correndo na direção dele. Eles se encontram no meio da trilha de terra, e Darius solta um grande grito de batalha. O soldado golpeia com a espada na direção da cabeça de Darius, mas Darius ergue sua espada e bloqueia o golpe, e suas espadas soltam faíscas ao se encontrarem; aquele é o primeiro impacto de metal contra metal que Darius havia sentido. A lâmina é mais pesada do que ele havia pensado, o golpe do soldado mais forte do que ela tinha previsto, e ele sente a vibração – sente todo o seu braço tremendo, do seu cotovelo até seu ombro. Aquilo tudo o pega desprevenido.

O soldado rapidamente dá outro golpe, tentando acertar Darius pelo lado, mas Darius se vira e bloqueia o golpe mais uma vez. Aquilo não é como duelar com seus irmãos; Darius tem a sensação de estar se movendo mais devagar do que o normal, e começa a sentir o peso da espada. Ele precisa de mais tempo para se acostumar com tudo aquilo. É como se o soldado estivesse se movendo duas vezes mais rápido do que ele.

O soldado dá mais um golpe, e Darius percebe que não será possível enfrentá-lo golpe a golpe, e que terá que recorrer à suas outras habilidades.

Darius dá um passo para o lado, desviando do golpe ao invés de tentar bloqueá-lo, e então bate com o cotovelo no pescoço do soldado. O golpe acerta em cheio e o homem engasga e cambaleia para trás, levando a mão ao pescoço. Darius ergue o punho de sua espada e bate com força nas costas expostas do soldado, derrubando-o de cara no chão.

Ao mesmo tempo, o outro soldado o ataca, e Darius vira e ergue sua espada, bloqueando o golpe que o soldado dá na direção de seu rosto. Mas o soldado continua avançando, derrubando Darius com força no chão.

Darius sente suas costelas sendo esmagadas pelo soldado que cai em cima dele, ambos deitados no chão no meio de uma nuvem de poeira. O soldado deixa sua espada de lado e leva as mãos ao rosto de Darius, tentando arrancar seus olhos.

Darius segura os pulsos do homem, impedindo-o de feri-lo, mas perdendo sua força a cada minuto. Ele sabe que precisa agir rápido.

Darius ergue um joelho e gira o corpo, conseguindo virar o homem de lado. Com o mesmo movimento, ele estica o braço e extrai uma longa adaga que o soldado carrega no cinturão – e rapidamente a enfia no peito do homem ao mesmo tempo em que os dois rolam no chão de terra.

O soldado grita e Darius continua deitado em cima dele, e vê o homem morrer diante de seus olhos.  Darius fica ali, paralisado – chocado. Aquela é a primeira vez que ele mata um homem. Aquela tinha sido uma experiência surreal, e Darius se sente vitorioso e triste ao mesmo tempo.

Darius ouve um grito atrás dele e, saindo de seu devaneio, se vira para encarar o soldado que ele havia derrubado no chão e que agora está em pé e correndo na direção dele. O soldado ergue a espada e dá um golpe no rumo da cabeça de Darius.

Darius espera – concentrado, e então desvia no último segundo e o soldado passa tropeçando por ele.

Darius se abaixa, retira a adaga do peito do soldado morto e se vira, e quando o soldado volta a atacá-lo, Darius – de joelhos, se inclina e arremessa a adaga.

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